Sunday, May 31, 2009

DIRETO DO ARQUIVO


Malásia tem ingredientes para uma guerra civil


Pedro J. Bondaczuk


A Malásia, a exemplo de tantos Estados nacionais criados artificialmente, frutos da divisão aleatória do mundo pelos colonizadores, é uma colcha de retalhos étnica. Três grupos, porém, se destacam, compondo 92% dos seus pouco menos de 16 milhões de habitantes: os malaios (48%), os chineses (33%) e os indianos (11%).

O poder, desde a formação dessa federação, em 1957 (reformulada em 1966), está nas mãos dos nativos da Península, tidos no passado como terríveis guerreiros, que deram à Ásia os mais sanguinários e temíveis piratas que o continente já teve. Desde 1948, guerrilheiros comunistas lutam em busca do poder, embora em 1960 eles tivessem recebido um "xeque-mate" em suas pretensões, numa batalha decisiva, em que foram derrotados.

Se o domínio político é da etnia majoritária, o econômico não pertence a ela. Os descendentes dos imigrantes procedentes da China ocupam, virtualmente, todos os setores-chaves da economia da Malásia, por sinal, bastante próspera. Afinal, o país tem uma renda per capita anual de cerca de US$ 1.700 (pouca coisa abaixo da brasileira), um Produto Interno Bruto superior a US$ 25,5 bilhões, para uma dívida externa insignificante, de US$ 1,25 bilhão. É, também, o maior produtor mundial de óleos vegetais e de estanho, além de possuir refinarias, plantações de borracha e outras riquezas mais. Quase tudo em mãos dos chineses.

O atual primeiro-ministro, Mahatir Mohamad, quer reverter exatamente isso. Além do poder político, deseja também o domínio econômico para os "bumiputras", que é como a etnia majoritária é conhecida por ali. O outro lado, evidentemente, deseja tudo aos contrário. Quer fazer valer a força do seu extraordinário tino comercial para render dividendos em termos de conquista de posições de relevo na direção do país. O premier, no entanto, sofreu, recentemente, duros golpes em seu empenho. A Malásia é uma monarquia cujo trono é rotativo. A cada cinco anos, um novo rei é eleito, entre os sultões de seus nove sultanatos.

Na última escolha, feita em 1984, venceu o de Jahore, Tunku Mahmud Iskander ibn al-Marum. Acontece que ele é dos tais que não se contentam com o papel meramente protocolar do seu cargo. Deseja reinar absolutamente e vem avançando, desde então, em parcelas de poder do primeiro-ministro.

A oposição, dominada por chineses e indianos, está unida. Perfaz, portanto, 44% da população. Está aí um belo ingrediente para uma guerra civil, que mais cedo ou mais tarde, fatalmente, vai acabar acontecendo na Península Malaia. Não há como conciliar interesses tão antagônicos.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 29 de outubro de 1987).

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