Afluxo de capitais
Pedro J. Bondaczuk
A abertura política no Leste europeu, com a subseqüente reforma econômica, revertendo economias de planejamento centralizado para outras, de livre mercado, embora festejada em todas as partes, tende a ser perniciosa, no médio prazo, para vários países do Terceiro Mundo. É que os grandes detentores de capitais do Planeta (dos quais os terceiromundistas são, obviamente, muito carentes) passaram a redirecionar seus investimentos.
O volume maior de dinheiro disponível no sistema financeiro internacional vem tendo, de um ano para cá, duas direções diferentes, nenhuma delas interessantes para os dois continentes que mais necessitam dele: a África e a América Latina. Os preciosos (e desejáveis) dólares estão sendo carreados, por razões diferentes, para o Leste europeu e para a Ásia.
Os asiáticos vivem, na atualidade, salvo raras exceções (como Vietnã, Laos, Cambodja e Coréia do Norte), um “boom” desenvolvimentista poucas vezes visto em qualquer região ou época. Países como Formosa, Coréia do Sul, Malásia e Indonésia batem recordes sobre recordes de taxas anuais de crescimento econômico.
Como capital atrai capital, a área é a preferida dos que querem ver seu dinheiro multiplicado, rendendo lucros fantásticos, ao ser investido em negócios inteligentes e que beneficiem a todas as partes. Isto, evidentemente, não acontece na América Latina e na África, onde muitos empréstimos tomados no mercado financeiro internacional foram malbaratados, despendidos em inúteis elefantes brancos.
Quanto ao Leste europeu, é evidente que checos, poloneses, húngaros, búlgaros e alemães orientais, para não citar os soviéticos, têm pessoal tecnicamente preparado. Dispõem de mão-de-obra farta e altamente qualificada, além de um mercado potencial ávido por consumir.
Ou seja, contam com todos os ingredientes para proporcionar uma explosão de produção e, sobretudo, de produtividade. Certamente esses povos não irão jogar dinheiro pela janela, depois da experiência malfadada de quatro décadas de má-administração do Estado marxista.
Aliás, já se tornou até um axioma econômico, que dispensa, portanto, demonstração, a afirmação de que “o Estado é mau patrão”. O Leste europeu, certamente, aprendeu, e muito bem, o significado e as conseqüências da falta de competência administrativa e de visão de negócios de burocratas e de tecnocratas. Agora, vai apostar todas as suas fichas na iniciativa privada e isto requer capitais.
E onde ficará a América do Sul nisso tudo? O ex-subsecretário dos Estados Unidos para Assuntos Interamericanos, Elliot Abrams, respondeu, curto e grosso, em entrevista que concedeu ao jornal argentino “El Clarin”: “No esquecimento!”. Tempos muito duros, portanto, aguardam a maioria dos povos ao sul do equador.
(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 23 de junho de 1990).
Pedro J. Bondaczuk
A abertura política no Leste europeu, com a subseqüente reforma econômica, revertendo economias de planejamento centralizado para outras, de livre mercado, embora festejada em todas as partes, tende a ser perniciosa, no médio prazo, para vários países do Terceiro Mundo. É que os grandes detentores de capitais do Planeta (dos quais os terceiromundistas são, obviamente, muito carentes) passaram a redirecionar seus investimentos.
O volume maior de dinheiro disponível no sistema financeiro internacional vem tendo, de um ano para cá, duas direções diferentes, nenhuma delas interessantes para os dois continentes que mais necessitam dele: a África e a América Latina. Os preciosos (e desejáveis) dólares estão sendo carreados, por razões diferentes, para o Leste europeu e para a Ásia.
Os asiáticos vivem, na atualidade, salvo raras exceções (como Vietnã, Laos, Cambodja e Coréia do Norte), um “boom” desenvolvimentista poucas vezes visto em qualquer região ou época. Países como Formosa, Coréia do Sul, Malásia e Indonésia batem recordes sobre recordes de taxas anuais de crescimento econômico.
Como capital atrai capital, a área é a preferida dos que querem ver seu dinheiro multiplicado, rendendo lucros fantásticos, ao ser investido em negócios inteligentes e que beneficiem a todas as partes. Isto, evidentemente, não acontece na América Latina e na África, onde muitos empréstimos tomados no mercado financeiro internacional foram malbaratados, despendidos em inúteis elefantes brancos.
Quanto ao Leste europeu, é evidente que checos, poloneses, húngaros, búlgaros e alemães orientais, para não citar os soviéticos, têm pessoal tecnicamente preparado. Dispõem de mão-de-obra farta e altamente qualificada, além de um mercado potencial ávido por consumir.
Ou seja, contam com todos os ingredientes para proporcionar uma explosão de produção e, sobretudo, de produtividade. Certamente esses povos não irão jogar dinheiro pela janela, depois da experiência malfadada de quatro décadas de má-administração do Estado marxista.
Aliás, já se tornou até um axioma econômico, que dispensa, portanto, demonstração, a afirmação de que “o Estado é mau patrão”. O Leste europeu, certamente, aprendeu, e muito bem, o significado e as conseqüências da falta de competência administrativa e de visão de negócios de burocratas e de tecnocratas. Agora, vai apostar todas as suas fichas na iniciativa privada e isto requer capitais.
E onde ficará a América do Sul nisso tudo? O ex-subsecretário dos Estados Unidos para Assuntos Interamericanos, Elliot Abrams, respondeu, curto e grosso, em entrevista que concedeu ao jornal argentino “El Clarin”: “No esquecimento!”. Tempos muito duros, portanto, aguardam a maioria dos povos ao sul do equador.
(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 23 de junho de 1990).
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