Sunday, May 10, 2009

DIRETO DO ARQUIVO


Como pôr fim à carnificina?


Pedro J. Bondaczuk


A guerra civil do Líbano completa, hoje, 14 anos, sem nenhum sinal de que esteja próxima de acabar. O país está mais dividido do que nunca, em vias de se “estilhaçar” em dezenas de mini-Estados faccionais, sem condições de auto-sustentação, e numa área tão sensível do mundo, como é o Oriente Médio.

Atualmente, ninguém sabe, sequer, com que governo tratar quando precisa manter alguma espécie de contato com essa sociedade nacional que já chegou a ser chamada, num passado não muito remoto, de “pérola oriental”. De um lado, há um gabinete encabeçado pelo general cristão, Michel Aoun. De outro, o liderado pelo muçulmano Selim Hoss. Ambos sustentam sua legitimidade, diante da impossibilidade, em setembro do ano passado, do Parlamento libanês eleger o sucessor de Amin Gemayel na presidência.

O pior é que a luta se reacendeu, feroz e persistente, sem que ninguém consiga apartar os beligerantes. Os Estados Unidos já manifestaram a intenção de não interferir mais no conflito, após a amarga experiência vivida por seus soldados em 1983, com os ataques suicidas dos xiitas contra um seu quartel, responsáveis pela morte de centenas de seus fuzileiros.

A União Soviética, por seu turno, atua por “tabela”, através dos sírios, seus aliados. Estes, no entanto, ao invés de exercerem o papel de “água”, que possa apagar o ódio sectário, estão agindo como “combustível”, que torna a “fogueira” ainda maior.

Os homens enviados por Damasco a Beirute, em 1987, para pacificar o setor muçulmano da cidade, estão intervindo diretamente nos confrontos contra os milicianos cristãos. A França mandou dois navios de socorro ao Líbano, mas já deve estar até arrependida disso. Vem sendo acusada pelas facções islâmicas de estar prestando ajuda aos maronitas, mesmo com o desmentido solene do seu ministro de Defesa, que sustenta que o socorro humanitário que remeteu é destinado a todos os libaneses.

O Irã, de seu lado, aproveita para exportar seu radicalismo exacerbado, enviando para Beirute cerca de mil guardas revolucionários de elite, cuja capacidade teria sido sobejamente testada durante a recente guerra com o Iraque. Ninguém poderá acreditar, por mais ingênuo que seja, que a sua missão seja a de paz.

Como fazer para reconciliar esse povo, que outrora dava exemplos ao mundo de harmoniosa convivência entre crenças desiguais? Como evitar que o analista tenha que registrar novos aniversários desse conflito (somente nós, já estamos fazendo isto pela quinta vez)? Como restabelecer um equilíbrio, que nunca deveria ter sido rompido, em meio a tanto ódio e ressentimento? Como salvar o que ainda resta do outrora rico e aprazível Líbano?

(Artigo publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 13 de abril de 1989).

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