Sunday, November 09, 2008

DIRETO DO ARQUIVO


Remédio que é veneno


Pedro J. Bondaczuk


Há remédios que, se dados em doses inadequadas, ou para pacientes errados, acabam por produzir efeitos opostos aos que deles se esperam. Ou seja, ao invés de curar, matam o doente. Parece ser este o caso da “fórmula mágica” do Fundo Monetário Internacional para países do Terceiro Mundo, atolados em dívidas e que não têm condições de suportar (dadas as peculiaridades do seu contexto social) as fórmulas recessivas do FMI.
A explosão de descontentamento verificada na República Dominicana, no correr desta semana, que redundou na morte de pelo menos 54 pessoas, ferimentos em centenas, além de incontáveis prejuízos materiais, é um alerta do que pode vir a acontecer em outros países.
A Bolívia, por exemplo, vive um impasse, em virtude das medidas ditas saneadoras do Fundo. Venezuela, Colômbia, Peru, Argentina...É um rosário de países onde o remédio do FMI – na verdade uma cirurgia criogênica dos respectivos gastos públicos – traz, como conseqüência, a recessão, com a sua grave seqüela (principalmente em se tratando de Terceiro Mundo), qual seja, o desemprego.
Em sociedades nacionais cuja legislação social ainda tem cem anos de atraso em relação às potências econômicas (para estas, sim, o remédio do FMI é adequado), um pai de família perder o seu meio de subsistência é uma tragédia. Acentua sua desagregação individual, afeta seus laços sociais mais profundos (os com a sua própria família, a qual não tem meios de sustentar) e conduz o cidadão a um beco sem saída. Deixa-o, literalmente, acuado.
E, sob essas pressões, são imprevisíveis as reações das pessoas. Oxalá estejamos errados, mas se, porventura, o problema da dívida externa do Terceiro Mundo não for encarado por um prisma bem diverso do atual, manifestações como as ocorridas na República Dominicana, dias atrás, tornar-se-ão rotineiras em toda a América Latina, com saldo indesejável (se não trágico) quer para credores, quer para aqueles que devem.

(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 28 de abril de 1984)

1 comment:

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