Pedro J. Bondaczuk
A atual civilização tecnológica, originalmente ocidental, mas que, com o processo de globalização, se alastra, progressivamente pelo Oriente – inicialmente, Japão; depois, os chamados “Tigres Asiáticos” e agora, de forma avassaladora, o país mais populoso do mundo, a China, com seus mais de 1,4 bilhão de habitantes e o segundo mais povoado, a Índia, com mais de 1,1 bilhão – está com seus dias contados. Pode prevalecer por mais um par de anos ou, quando muito, por uma ou duas décadas. Mas fatalmente irá ruir, como tantas outras na história da humanidade já ruíram, sem deixar nenhuma saudade e, provavelmente, sequer vestígios.
Não se trata, aqui, de nenhuma profecia apocalíptica – até porque nunca tive vocação para profeta e minha educação, extremamente cartesiana, não me induz a arroubos místicos – mas, apenas, de raciocinar com lógica, baseado, exclusivamente em fatos. E estes me permitem extrapolações, com 80% ou mais de probabilidades de acerto, exercício que não é exclusivamente meu: qualquer pessoa bem-informada pode fazer sem grandes esforços.
A pergunta que não quer calar se refere ao que virá depois. Haverá algum? A humanidade conseguirá encontrar alternativas para eventual recomeço ou retroagirá à barbárie? Ou nem esse retrocesso lhe será possível e se destruirá, numa hecatombe termonuclear voluntária ou acidental, ou sufocada pelos gases que gerou (e continua gerando sem-cessar)? Ou esturricada pelo crescente calor gerado pelo progressivo efeito-estufa, em lenta e dolorosa agonia? A vida, inteligente ou não, será extinta, afinal, deste Planeta? Muitos acreditam que sim. Outros tantos (poucos) crêem, ainda, numa saída. A maioria esmagadora, no entanto, permanece passiva, sem sequer se dar conta da catástrofe que já está em andamento, prestes a se configurar.
A esse propósito, li, recentemente, revelador artigo de Afonso Cautela, intitulado “Recuar um passo para avançar vinte”, publicado em 22 de maio de 1971 na coluna “Futuro”, da publicação “O Século Ilustrado” de Lisboa. O articulista, sem negar a realidade (que na época em que escreveu o texto nem era tão dramática como agora), manifesta crença na capacidade humana de alterar paradigmas e de encontrar, portanto, saídas, mesmo à beira do abismo (crença com a qual comungo).
Inicia suas considerações assim: “Supõem alguns que falar do futuro é (apenas) prever, até às últimas conseqüências, o que vai ser esta civilização tecnológica (à qual por acaso pertencemos e é uma entre muitas das civilizações possíveis) e que nenhuma alternativa se apresenta, portanto, para substituir ou contrariar a lógica onde estamos embarcados, a ordem a que devemos obediência, a estrutura de que somos um mísero e intransponível parafuso. Como parafusos, nada nos pode tirar de onde estamos e há que seguir, na engrenagem, até à consumação dos anos, e – dizem os pessimistas – dos séculos”.
Não há exagero e nem generalização nessas colocações. Toda lógica indica nessa direção. Mas Cautela pondera: “Isto é acreditar que a Humanidade se resume à civilização tecnológica, a qual (afirma-se) dominará exclusivamente em todo o universo e por todos os séculos dos séculos vindouros. É acreditar também que nenhuma outra sociedade, diferente, surgiu ou surgirá e que se esta morrer às suas próprias mãos, tudo – através das galáxias – terminará com ela”.
Seria, assim, de fato? Nossa geração seria a última dessa aventura que, em termos cósmicos, é curtíssima, mas que pelos padrões humanos já é bastante vasta? A espécie estaria irremediavelmente condenada à autodestruição, sem nenhuma chance ou alternativa, e em curtíssimo prazo? Há indícios e mais indícios apontando, de fato, para essa aterradora perspectiva. O articulista, porém, rebate essa certeza que, para ele (e para mim também) não é tão certa assim.
Escreve: “Diga-se, no entanto, que uma tal crença é, além de pretensiosa, um tanto ridícula e abusiva. Pois não só está provado que todas as civilizações são mortais (teoria, como se sabe, eruditamente demonstrada por Arnold Toynbee) como virão sempre outras substituir as que morrem (ou suicidam? ). E que, se tudo indica estar a civilização dita ocidental no estertor, a caminho de um apocalipse termonuclear ou de uma asfixia por contaminação da biosfera, ou da loucura coletiva pelo congestionamento de estímulos, dados e signos que bombardeiam as meninges, muito provavelmente e mesmo ao nosso lado já estará a nascer outra civilização para substituir a ilustre moribunda”.
E estaria, mesmo, nascendo esse outro tipo de sociedade? Estaria, de fato, sendo moldada nova humanidade, consciente, sobretudo, da necessidade de respeito irrestrito às leis da natureza e com novos paradigmas, justos e solidários, de relacionamento entre pessoas e, por extensão, entre povos e nações? Se estiver, isso ocorre muito na surdina, sem alardes, divulgação e, principalmente, sem grandes indícios de que, de fato, esteja ocorrendo.
Cautela assinala: “Por isso é que se alguns esperam um apocalipse, outros esperam também uma nova utopia. Se muitos acreditam num fim, também já há muitos que estão trabalhando para um novo começo. Se há os que contestam e colocam em questão a civilização herdada, outros estão realizando a reviravolta pacífica para um outro padrão de existência, outro tipo de relações humanas, para uma cultura, enfim, radicalmente diversa da vigente que hoje vigora”.
A propósito, um dos meus livros de maior sucesso intitula-se “Por uma nova utopia”. Portanto, acredito nessa reviravolta. Mas para que ela se concretize, se imponha e nos salve a todos da barbárie ou, pior, da autodestruição, é indispensável que saia do mero terreno das idéias, das teorias e cogitações e comece a se impor, na forma de ação.
A atual crise econômica que afeta os Estados Unidos, cujas conseqüências são, ainda, imprevisíveis, é enfático sinal de alerta (mais um) de que as coisas estão erradas, erradíssimas, equivocadas, equivocadíssimas e de que, se os atuais rumos não forem dramaticamente mudados para melhor, a humanidade, que já está às portas do Apocalipse, se desintegrará, sem dúvida e perecerá, inexoravelmente. Basta, somente, definir de que forma se dará essa extinção. Se abruptamente, mediante uma hecatombe termonuclear. Ou se em lenta e dolorosa agonia. A decisão de reverter essa expectativa (ainda) está em nossas mãos. Mas até quando?
A atual civilização tecnológica, originalmente ocidental, mas que, com o processo de globalização, se alastra, progressivamente pelo Oriente – inicialmente, Japão; depois, os chamados “Tigres Asiáticos” e agora, de forma avassaladora, o país mais populoso do mundo, a China, com seus mais de 1,4 bilhão de habitantes e o segundo mais povoado, a Índia, com mais de 1,1 bilhão – está com seus dias contados. Pode prevalecer por mais um par de anos ou, quando muito, por uma ou duas décadas. Mas fatalmente irá ruir, como tantas outras na história da humanidade já ruíram, sem deixar nenhuma saudade e, provavelmente, sequer vestígios.
Não se trata, aqui, de nenhuma profecia apocalíptica – até porque nunca tive vocação para profeta e minha educação, extremamente cartesiana, não me induz a arroubos místicos – mas, apenas, de raciocinar com lógica, baseado, exclusivamente em fatos. E estes me permitem extrapolações, com 80% ou mais de probabilidades de acerto, exercício que não é exclusivamente meu: qualquer pessoa bem-informada pode fazer sem grandes esforços.
A pergunta que não quer calar se refere ao que virá depois. Haverá algum? A humanidade conseguirá encontrar alternativas para eventual recomeço ou retroagirá à barbárie? Ou nem esse retrocesso lhe será possível e se destruirá, numa hecatombe termonuclear voluntária ou acidental, ou sufocada pelos gases que gerou (e continua gerando sem-cessar)? Ou esturricada pelo crescente calor gerado pelo progressivo efeito-estufa, em lenta e dolorosa agonia? A vida, inteligente ou não, será extinta, afinal, deste Planeta? Muitos acreditam que sim. Outros tantos (poucos) crêem, ainda, numa saída. A maioria esmagadora, no entanto, permanece passiva, sem sequer se dar conta da catástrofe que já está em andamento, prestes a se configurar.
A esse propósito, li, recentemente, revelador artigo de Afonso Cautela, intitulado “Recuar um passo para avançar vinte”, publicado em 22 de maio de 1971 na coluna “Futuro”, da publicação “O Século Ilustrado” de Lisboa. O articulista, sem negar a realidade (que na época em que escreveu o texto nem era tão dramática como agora), manifesta crença na capacidade humana de alterar paradigmas e de encontrar, portanto, saídas, mesmo à beira do abismo (crença com a qual comungo).
Inicia suas considerações assim: “Supõem alguns que falar do futuro é (apenas) prever, até às últimas conseqüências, o que vai ser esta civilização tecnológica (à qual por acaso pertencemos e é uma entre muitas das civilizações possíveis) e que nenhuma alternativa se apresenta, portanto, para substituir ou contrariar a lógica onde estamos embarcados, a ordem a que devemos obediência, a estrutura de que somos um mísero e intransponível parafuso. Como parafusos, nada nos pode tirar de onde estamos e há que seguir, na engrenagem, até à consumação dos anos, e – dizem os pessimistas – dos séculos”.
Não há exagero e nem generalização nessas colocações. Toda lógica indica nessa direção. Mas Cautela pondera: “Isto é acreditar que a Humanidade se resume à civilização tecnológica, a qual (afirma-se) dominará exclusivamente em todo o universo e por todos os séculos dos séculos vindouros. É acreditar também que nenhuma outra sociedade, diferente, surgiu ou surgirá e que se esta morrer às suas próprias mãos, tudo – através das galáxias – terminará com ela”.
Seria, assim, de fato? Nossa geração seria a última dessa aventura que, em termos cósmicos, é curtíssima, mas que pelos padrões humanos já é bastante vasta? A espécie estaria irremediavelmente condenada à autodestruição, sem nenhuma chance ou alternativa, e em curtíssimo prazo? Há indícios e mais indícios apontando, de fato, para essa aterradora perspectiva. O articulista, porém, rebate essa certeza que, para ele (e para mim também) não é tão certa assim.
Escreve: “Diga-se, no entanto, que uma tal crença é, além de pretensiosa, um tanto ridícula e abusiva. Pois não só está provado que todas as civilizações são mortais (teoria, como se sabe, eruditamente demonstrada por Arnold Toynbee) como virão sempre outras substituir as que morrem (ou suicidam? ). E que, se tudo indica estar a civilização dita ocidental no estertor, a caminho de um apocalipse termonuclear ou de uma asfixia por contaminação da biosfera, ou da loucura coletiva pelo congestionamento de estímulos, dados e signos que bombardeiam as meninges, muito provavelmente e mesmo ao nosso lado já estará a nascer outra civilização para substituir a ilustre moribunda”.
E estaria, mesmo, nascendo esse outro tipo de sociedade? Estaria, de fato, sendo moldada nova humanidade, consciente, sobretudo, da necessidade de respeito irrestrito às leis da natureza e com novos paradigmas, justos e solidários, de relacionamento entre pessoas e, por extensão, entre povos e nações? Se estiver, isso ocorre muito na surdina, sem alardes, divulgação e, principalmente, sem grandes indícios de que, de fato, esteja ocorrendo.
Cautela assinala: “Por isso é que se alguns esperam um apocalipse, outros esperam também uma nova utopia. Se muitos acreditam num fim, também já há muitos que estão trabalhando para um novo começo. Se há os que contestam e colocam em questão a civilização herdada, outros estão realizando a reviravolta pacífica para um outro padrão de existência, outro tipo de relações humanas, para uma cultura, enfim, radicalmente diversa da vigente que hoje vigora”.
A propósito, um dos meus livros de maior sucesso intitula-se “Por uma nova utopia”. Portanto, acredito nessa reviravolta. Mas para que ela se concretize, se imponha e nos salve a todos da barbárie ou, pior, da autodestruição, é indispensável que saia do mero terreno das idéias, das teorias e cogitações e comece a se impor, na forma de ação.
A atual crise econômica que afeta os Estados Unidos, cujas conseqüências são, ainda, imprevisíveis, é enfático sinal de alerta (mais um) de que as coisas estão erradas, erradíssimas, equivocadas, equivocadíssimas e de que, se os atuais rumos não forem dramaticamente mudados para melhor, a humanidade, que já está às portas do Apocalipse, se desintegrará, sem dúvida e perecerá, inexoravelmente. Basta, somente, definir de que forma se dará essa extinção. Se abruptamente, mediante uma hecatombe termonuclear. Ou se em lenta e dolorosa agonia. A decisão de reverter essa expectativa (ainda) está em nossas mãos. Mas até quando?
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