Saturday, August 30, 2008

REFLEXÃO DO DIA


O poeta Emilsen Zorzi faz pitoresca (posto que pertinente) analogia das palavras triviais, aquele conjunto relativamente pequeno que usamos no cotidiano para nos comunicar, com produtos enlatados. Ou seja, os que consumimos e, depois de usados, nos descartamos. Não se referiu, claro, às palavras nobres, usadas pelos poetas para compor versos, ou pelos pensadores para registrar pérolas do pensamento, enfim, pelos que têm o que dizer e que mereça permanência. Há palavras cortantes, explosivas, destrutivas, das quais jamais deveríamos nos utilizar, mesmo que “enlatadas” e passivas de “descarte”. São tão ferinas, que seu invólucro chega a nos cortar a língua. Zorzi conclui da seguinte forma seu poema “Palavras-latas”: “Às vezes pronuncio palavras como latas!/abro-as no momento exato da necessidade do seu uso/e jogo-as fora depois,/cortam os meus lábios com a tampa serrada./e imediatamente cerro meus lábios”.

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