Sunday, August 31, 2008

DIRETO DO ARQUIVO


Só educação pode livrar homem da catástrofe


Pedro J. Bondaczuk


O escritor H. G. Wells, com raro poder de síntese, resumiu em poucas palavras o drama que a humanidade representa no palco deste Planeta, há pelo menos sete mil anos de civilização, ao escrever: "A história humana é mais uma competição entre a educação e a catástrofe".

Trata-se de milenar disputa entre a força bruta e a razão. Enquanto através do raciocínio o homem avança alguns passos rumo ao entendimento de si próprio e do universo que o cerca, mediante a violência volta a retroceder.

A crônica dos povos é uma sucessão de ações antagônicas. É um construir e destruir que não acaba mais. Houvesse sido preservado tudo o que se elaborou em todos os tempos, não somente no terreno material, mas principalmente no espiritual, e a humanidade estaria agora num estágio evolutivo muito maior do que aquele em que se apresenta na atualidade.

Hoje, a palavra mágica, alçada à categoria de dogma, é "tecnologia", em detrimento, na maioria dos casos, da "cultura", que não deve ser confundida, como vem sendo, com entretenimento. Desde o aparecimento do Modernismo, nas artes, que virtualmente esgotou toda a imaginação dos artistas, não surgiu um único movimento cultural novo e consistente, quando a capacidade humana de criar é infinita.

O mesmo verifica-se no terreno político. Os dois sistemas surgidos um em oposição ao outro, capitalismo e comunismo, o primeiro como conseqüência da chamada Revolução Industrial do século XVIII e o segundo cerca de cem anos depois como reação aos desvios e contradições do primeiro, estão ambos colocados em xeque na atualidade.

Os dois fracassaram, por não terem passado pelas necessárias correções de rumo que os colocassem na trilha original e lhes devolvessem o objetivo primitivo, que era o de tornar o homem realizado e feliz. É verdade que a falência das sociedades comunistas do Leste europeu despertou um triunfalismo extemporâneo no outro lado. Porém, nem é preciso ser algum filósofo, economista ou sociólogo para intuir que o fracasso foi de ambos.

O jurista Geraldo de Camargo Vidigal destaca, em seu livro "Teoria Geral do Direito Econômico", editado na década de 60, portanto muito antes do surgimento da era Gorbachev e de sua "perestroika": "A injustiça crescente nos padrões de repartição social da riqueza e das rendas, os obstáculos opostos ao desenvolvimento da concorrência, a acumulação de poder monopolista, os processos circulares cumulativos, gerando, periodicamente, crises de estocagem e de desemprego, evidenciaram a insubsistência das afirmações liberais. O perecimento das possibilidades de eficiente comunicação das intenções de consumo ao aparelho produtor, a eliminação dos instrumentos que permitem aferir a eficiência produtiva, a destruição da criatividade social para a inovação econômica, as intoleráveis restrições à liberdade individual demonstraram a falsidade das suposições coletivistas".

Como sempre, a virtude deve estar no meio. Ou seja, na média entre os postulados de proteção social do socialismo e a liberdade de escolha, mediante a existência de um mercado absolutamente a salvo de manipulações e caracterizado pela total competição em pé de igualdade, do liberalismo.

É possível que o mundo esteja caminhando nessa direção, embora as evidências não indiquem isto. O processo de educação é, geralmente, confundido com a mera aquisição de conhecimentos legado pela sucessão de gerações.

É, todavia, muito mais profundo. Consiste, sobretudo, numa indução ao raciocínio. O homem contemporâneo está perdendo o saudável hábito de pensar, entregando essa tarefa às máquinas que ele próprio criou.

Ninguém condena um computador, que veio para ficar, enquanto substituto de tarefas específicas, que exigem precisão. Tais robôs, todavia, não "pensam". Não são capazes de encarar sozinhos, por não serem dotados de consciência, o "desafio e a reação", que na definição do reverendo Norman Vincent Peale caracterizam a vida.

"É aí que estão os maiores triunfos e realizações", arremata o clérigo. O homem não pode abrir mão, portanto, da educação, pois a opção é assustadora: é a catástrofe!!

(Artigo publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 24 de setembro de 1991).

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