Pedro J. Bondaczuk
A vida nas grandes cidades, mesmo para os que não conhecem outros lugares – que nasceram e cresceram nelas e nunca saíram dali – é tensa, estressante e difícil. Imaginem o tormento dos que nasceram, cresceram e foram criados em fazendas, sítios, chácaras etc. em contato com a natureza e gozando, entre outras coisas boas, do bem-vindo e providencial silêncio!
Trânsito complicado, poluição, violência e muito barulho são alguns dos principais inconvenientes dessas aglomerações urbanas surreais, algumas com populações equivalentes à de países (a Grande São Paulo tem o dobro de habitantes que Portugal e o mesmo número de moradores do Peru inteiro).
O excesso de ruído, porém, é o fator mais neurotizante e causa terríveis danos, não apenas psicológicos, mas também físicos. Várias pessoas dizem que “adoram” essa confusão. Seriam sinceras? Não sei! Tenho minhas dúvidas. Se adorarem, todavia, certamente é porque não conhecem outro tipo de vida, saudável, tranqüilo, pacato e, sobretudo, silencioso. E, afinal de contas, há gosto para tudo.
São carros que transitam com escapamentos abertos (engraçado, dizem que há fiscalização para averiguar a trafegabilidade dos veículos), buzinas de neuróticos irritados com a lentidão do tráfego, sirenes da polícia, bombeiros ou ambulâncias, é um inferno! Isso quando não há alguma obra nas vizinhanças da nossa casa ou prédio de apartamentos (o que é raro), com seus bate-estacas monótonos ou, pior, com as infernais e hiper-irritantes britadeiras.
Nas ruas de menor movimento, temos que suportar os caminhões de gás, com aquela musiquinha enjoada, de deixar qualquer pessoa equilibrada maluca! E o vozerio?! Principalmente em dia de grandes jogos na cidade, são torcedores que passam sob a nossa janela, aos berros, gritando refrões em louvor aos seus times ou provocações à torcida adversária. E o cidadão equilibrado, que pretenda dormir em paz, ou, pior, se for escritor ou jornalista, e queira fazer seus textos com atenção e concentração, não consegue. Só se colocar um chumaço de algodão nas duas orelhas. E mesmo assim...
O médico africano, Richard Abou, advertiu a respeito: “Dois em cada três homens vivem nas cidades, submetidos às piores pressões. Fala-se muito nos danos causados ao indivíduo pela fase aguda, perceptível, do barulho. Comprovamos, inclusive, que o metabolismo cerebral e cardíaco são afetados. Mas é preciso não esquecer que, mesmo na ausência de níveis sonoros elevados, há nas cidades um ‘fundo de ruídos’ que solapa a resistência do organismo e o torna vulnerável a doenças diversas”. E ainda assim...
Quando toco no assunto, meu interlocutor (seja quem for), invariavelmente me encara com aquele ar atrevido e idiota de “sabe tudo”, com um olhar irônico e galhofeiro e, mesmo que não fale, deixa implícito: “Pó, cara, você é caipira!”. Como se isso fosse o maior dos defeitos. Faz pose de moderninho, sem atentar que confunde modernidade com masoquismo.
Quando questiono essas pessoas e exijo objetividade nas opiniões, desfiam, diante dos meus ouvidos já atormentados por ruídos diversos, uma série de “vantagens” de se morar numa grande cidade, como: a profusão de cinemas, teatros, museus, livrarias, lojas etc.etc.etc. A maioria dessas facilidades, contudo, posso ter vivendo no campo, sem os tormentos dessas infernais Babéis.. Como? Através da TV a cabo, internet, dos DVDs etc.etc.etc. E eu é que sou atrasado, antiquado, basbaque, caipira ou coisa que o valha! Quanta gente de mau-gosto!
Há momentos na vida em que temos premente necessidade de isolamento. Em que temos que fugir do burburinho das grandes cidades, ruidosas, enfumaçadas, caóticas e violentas, malucas e todos os adjetivos negativos que se possam lembrar, para ordenarmos nossos pensamentos e sentimentos. Precisamos ficar sós para nos reorientar.
Mas ir para onde? Para o campo? Para uma praia deserta? Para o cume do Himalaia? Podem, até, ser bons lugares, mas nem sempre temos recursos, ou disposição, ou saúde, ou sei lá o quê, para essas estratégicas escapadas. Não há, contudo, melhor lugar para ir do que o nosso próprio interior. Lá, o barulho ou é abafado pelo dinamismo dos nossos pensamentos e sentimentos, ou sequer existe.
Quem desenvolve a capacidade de se abstrair e de estar consigo, embora no meio de uma grande multidão, leva imensa vantagem sobre quem não desenvolveu essa aptidão (a esmagadora maioria das pessoas, diga-se de passagem).
Essa fuga estratégica para o interior da própria mente, via de regra, nos liberta das tensões e medos e potencializa o amor que trazemos em nós. O poeta Hélio Soares Pereira conclui seu poema “Fugir” com estes versos: “Fugir para dentro de mim/é libertar-me em gestos crescentes/de amor e memória”.
De qualquer forma, sustento minha opinião sobre as grandes cidades. A continuar como está a vida dos que moram nessas Babéis contemporâneas, em duas ou três décadas, se tanto, teremos bilhões de pessoas surdas mundo afora. Ou, o que é mais provável, teremos multidões de incuráveis neuróticos subindo pelas paredes. Esperem para ver..
A vida nas grandes cidades, mesmo para os que não conhecem outros lugares – que nasceram e cresceram nelas e nunca saíram dali – é tensa, estressante e difícil. Imaginem o tormento dos que nasceram, cresceram e foram criados em fazendas, sítios, chácaras etc. em contato com a natureza e gozando, entre outras coisas boas, do bem-vindo e providencial silêncio!
Trânsito complicado, poluição, violência e muito barulho são alguns dos principais inconvenientes dessas aglomerações urbanas surreais, algumas com populações equivalentes à de países (a Grande São Paulo tem o dobro de habitantes que Portugal e o mesmo número de moradores do Peru inteiro).
O excesso de ruído, porém, é o fator mais neurotizante e causa terríveis danos, não apenas psicológicos, mas também físicos. Várias pessoas dizem que “adoram” essa confusão. Seriam sinceras? Não sei! Tenho minhas dúvidas. Se adorarem, todavia, certamente é porque não conhecem outro tipo de vida, saudável, tranqüilo, pacato e, sobretudo, silencioso. E, afinal de contas, há gosto para tudo.
São carros que transitam com escapamentos abertos (engraçado, dizem que há fiscalização para averiguar a trafegabilidade dos veículos), buzinas de neuróticos irritados com a lentidão do tráfego, sirenes da polícia, bombeiros ou ambulâncias, é um inferno! Isso quando não há alguma obra nas vizinhanças da nossa casa ou prédio de apartamentos (o que é raro), com seus bate-estacas monótonos ou, pior, com as infernais e hiper-irritantes britadeiras.
Nas ruas de menor movimento, temos que suportar os caminhões de gás, com aquela musiquinha enjoada, de deixar qualquer pessoa equilibrada maluca! E o vozerio?! Principalmente em dia de grandes jogos na cidade, são torcedores que passam sob a nossa janela, aos berros, gritando refrões em louvor aos seus times ou provocações à torcida adversária. E o cidadão equilibrado, que pretenda dormir em paz, ou, pior, se for escritor ou jornalista, e queira fazer seus textos com atenção e concentração, não consegue. Só se colocar um chumaço de algodão nas duas orelhas. E mesmo assim...
O médico africano, Richard Abou, advertiu a respeito: “Dois em cada três homens vivem nas cidades, submetidos às piores pressões. Fala-se muito nos danos causados ao indivíduo pela fase aguda, perceptível, do barulho. Comprovamos, inclusive, que o metabolismo cerebral e cardíaco são afetados. Mas é preciso não esquecer que, mesmo na ausência de níveis sonoros elevados, há nas cidades um ‘fundo de ruídos’ que solapa a resistência do organismo e o torna vulnerável a doenças diversas”. E ainda assim...
Quando toco no assunto, meu interlocutor (seja quem for), invariavelmente me encara com aquele ar atrevido e idiota de “sabe tudo”, com um olhar irônico e galhofeiro e, mesmo que não fale, deixa implícito: “Pó, cara, você é caipira!”. Como se isso fosse o maior dos defeitos. Faz pose de moderninho, sem atentar que confunde modernidade com masoquismo.
Quando questiono essas pessoas e exijo objetividade nas opiniões, desfiam, diante dos meus ouvidos já atormentados por ruídos diversos, uma série de “vantagens” de se morar numa grande cidade, como: a profusão de cinemas, teatros, museus, livrarias, lojas etc.etc.etc. A maioria dessas facilidades, contudo, posso ter vivendo no campo, sem os tormentos dessas infernais Babéis.. Como? Através da TV a cabo, internet, dos DVDs etc.etc.etc. E eu é que sou atrasado, antiquado, basbaque, caipira ou coisa que o valha! Quanta gente de mau-gosto!
Há momentos na vida em que temos premente necessidade de isolamento. Em que temos que fugir do burburinho das grandes cidades, ruidosas, enfumaçadas, caóticas e violentas, malucas e todos os adjetivos negativos que se possam lembrar, para ordenarmos nossos pensamentos e sentimentos. Precisamos ficar sós para nos reorientar.
Mas ir para onde? Para o campo? Para uma praia deserta? Para o cume do Himalaia? Podem, até, ser bons lugares, mas nem sempre temos recursos, ou disposição, ou saúde, ou sei lá o quê, para essas estratégicas escapadas. Não há, contudo, melhor lugar para ir do que o nosso próprio interior. Lá, o barulho ou é abafado pelo dinamismo dos nossos pensamentos e sentimentos, ou sequer existe.
Quem desenvolve a capacidade de se abstrair e de estar consigo, embora no meio de uma grande multidão, leva imensa vantagem sobre quem não desenvolveu essa aptidão (a esmagadora maioria das pessoas, diga-se de passagem).
Essa fuga estratégica para o interior da própria mente, via de regra, nos liberta das tensões e medos e potencializa o amor que trazemos em nós. O poeta Hélio Soares Pereira conclui seu poema “Fugir” com estes versos: “Fugir para dentro de mim/é libertar-me em gestos crescentes/de amor e memória”.
De qualquer forma, sustento minha opinião sobre as grandes cidades. A continuar como está a vida dos que moram nessas Babéis contemporâneas, em duas ou três décadas, se tanto, teremos bilhões de pessoas surdas mundo afora. Ou, o que é mais provável, teremos multidões de incuráveis neuróticos subindo pelas paredes. Esperem para ver..
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