Pedro J. Bondaczuk
O universo é trágico ou cômico? É benigno ou maligno ao homem? A resposta mais convincente que encontrei para esta questão foi a dada por Carl Sagan, que o considera “indiferente” ao ser humano. Não foi nem criado para o usufruto dele e muito menos à sua revelia.
Se atentarmos bem, existe no universo um lado que pode ser considerado cômico. Para isso, todavia, temos que ter irrestrita confiança em nossas crenças, o que nem sempre (ou quase nunca) é possível. Por mais que afirmemos crer, de maneira absoluta, em alguma coisa, isso não é rigorosamente a expressão da verdade. Sempre nos resta uma pontinha de dúvida, por mínima que seja, o que é normal e até saudável.
Apesar de acharmos que já conhecemos muito, nosso conhecimento é irrisório diante do tanto de desconhecido que há. Teríamos que viver a eternidade para termos um conhecimento minimamente razoável e, mesmo assim, ainda teríamos muitíssimo a aprender.
A escritora norte-americana Flannery O’Connor – que foi considerada, enquanto viveu (morreu em 1964) uma das mais importantes vozes da literatura do seu país e que chegou a ser comparada ao russo Anton Chekov – escreveu, em seu livro “Mistery and manners” (um clássico contemporâneo nos Estados Unidos): “Somente tendo confiança em nossas crenças é que podemos perceber o lado cômico do universo”.
Já não diria tanto. Restringiria meu âmbito a esse pequeno planeta azul do Sistema Solar. Ou, para ser mais restrito ainda, enfocaria o comportamento humano, quer individualmente, quer, principalmente, em sociedade. Há muito mais de cômico do que de trágico nele. Descamba para o ridículo, por exemplo, a pose de determinadas pessoas, incapazes de serem autênticas nem com elas mesmas quanto mais face a quem quer que seja e que representam, permanentemente, um papel (e secundário) na comédia da vida, achando que ninguém percebe.
Destaque-se que o riso é santo remédio para nossos tormentos e males, principalmente os da alma, mas também os do corpo. A medicina, inclusive, já comprovou sua eficácia e incorporou-o ao seu arsenal de combate à dor. Trata-se de uma espécie de válvula de escape de tensões e frustrações.
Todavia, estranhamente, utilizamos pouco esse recurso com que a natureza nos dotou. Preferimos nos manter tensos e contraídos, com o cenho carregado, em vez de abrirmos um amplo sorriso desanuviador. Se rir já é muito bom, gargalhar, espontaneamente, com naturalidade, é muito melhor. E, convenhamos, não nos faltam situações, no dia a dia, propícias a uma boa gargalhada.
Encaramos tudo e todos com seriedade em demasia, esquecidos que a maior parte dos desejos e aborrecimentos que nos afetam e afligem não passa de grande ilusão. Victor Hugo chegou a comparar a gargalhada ao sol, “que varre o inverno do rosto humano”. É como um sopro sutil de uma brisa de primavera. E, o melhor: está sempre ao nosso alcance, para nos valermos dela quando quisermos.
Os “intelectuais” hoje em dia (salvo, claro, honrosas exceções), despendem seu tempo em longas e intermináveis viagens ao redor do próprio umbigo, inconscientes do seu papel social, julgando-se não apenas o centro do mundo, mas do próprio universo. Carecem de espontaneidade, que lhes daria um toque mais humano e tornaria mais verossímeis suas quase sempre áridas e pretensiosas arengas.
Deixaram morrer as utopias (o que é imperdoável) sem que colocassem nada de melhor em seu lugar. São arrogantes, ranzinzas, prepotentes e sumamente egoístas e, sobretudo, narcisistas, de um narcisismo doentio e ridículo. Apostam não somente no pessimismo (que chamam de “realismo” e têm o desplante de classificar quem não pensa como eles de “alienados), mas, sobretudo, no derrotismo.
São os arautos da catástrofe. Tanto que hoje em dia as utopias (que na verdade, embora fantasiosas, eram metas postas diante da humanidade, ousadas é verdade, mas que, se atingidas, mesmo que parcialmente, fariam do mundo um lugar decente para se viver) pelas distopias. Ou seja, pelo caos, pela paranóia, pela catástrofe, pelo fracasso, por um inferno criado pelo homem, que é muito pior do que aquele imaginado pelas religiões.
Falta-lhes, além da humildade, o bem-vindo senso de humor. São bem-informados, sem dúvida, até letrados, mas estão anos-luz de distância de serem sábios. Esses “intelectuais” se esquecem que chegaram à sua privilegiada condição não apenas por esforço próprio. São fruto do sacrifício de milhares, de milhões de pessoas humildes, que contribuíram com seus esforços para que chegassem a esse patamar.
É justo exigir-lhes, portanto, a contrapartida, que não dão. E se não a derem (como não estão dando), estarão cometendo o crime dos crimes: o da omissão. Não sabem atentar sequer para o lado cômico da própria conduta, quanto mais o da vida, do mundo e, por extensão, do universo. Por isso, meu objetivo é ser “bem-informado”, se possível, bastante letrado e, se as circunstâncias permitirem (quem sabe) sábio. Mas nunca esse tipo de “intelectual” que desdenha da capacidade humana de sorrir com alegria e descontração e, muito menos, de gargalhar.
O universo é trágico ou cômico? É benigno ou maligno ao homem? A resposta mais convincente que encontrei para esta questão foi a dada por Carl Sagan, que o considera “indiferente” ao ser humano. Não foi nem criado para o usufruto dele e muito menos à sua revelia.
Se atentarmos bem, existe no universo um lado que pode ser considerado cômico. Para isso, todavia, temos que ter irrestrita confiança em nossas crenças, o que nem sempre (ou quase nunca) é possível. Por mais que afirmemos crer, de maneira absoluta, em alguma coisa, isso não é rigorosamente a expressão da verdade. Sempre nos resta uma pontinha de dúvida, por mínima que seja, o que é normal e até saudável.
Apesar de acharmos que já conhecemos muito, nosso conhecimento é irrisório diante do tanto de desconhecido que há. Teríamos que viver a eternidade para termos um conhecimento minimamente razoável e, mesmo assim, ainda teríamos muitíssimo a aprender.
A escritora norte-americana Flannery O’Connor – que foi considerada, enquanto viveu (morreu em 1964) uma das mais importantes vozes da literatura do seu país e que chegou a ser comparada ao russo Anton Chekov – escreveu, em seu livro “Mistery and manners” (um clássico contemporâneo nos Estados Unidos): “Somente tendo confiança em nossas crenças é que podemos perceber o lado cômico do universo”.
Já não diria tanto. Restringiria meu âmbito a esse pequeno planeta azul do Sistema Solar. Ou, para ser mais restrito ainda, enfocaria o comportamento humano, quer individualmente, quer, principalmente, em sociedade. Há muito mais de cômico do que de trágico nele. Descamba para o ridículo, por exemplo, a pose de determinadas pessoas, incapazes de serem autênticas nem com elas mesmas quanto mais face a quem quer que seja e que representam, permanentemente, um papel (e secundário) na comédia da vida, achando que ninguém percebe.
Destaque-se que o riso é santo remédio para nossos tormentos e males, principalmente os da alma, mas também os do corpo. A medicina, inclusive, já comprovou sua eficácia e incorporou-o ao seu arsenal de combate à dor. Trata-se de uma espécie de válvula de escape de tensões e frustrações.
Todavia, estranhamente, utilizamos pouco esse recurso com que a natureza nos dotou. Preferimos nos manter tensos e contraídos, com o cenho carregado, em vez de abrirmos um amplo sorriso desanuviador. Se rir já é muito bom, gargalhar, espontaneamente, com naturalidade, é muito melhor. E, convenhamos, não nos faltam situações, no dia a dia, propícias a uma boa gargalhada.
Encaramos tudo e todos com seriedade em demasia, esquecidos que a maior parte dos desejos e aborrecimentos que nos afetam e afligem não passa de grande ilusão. Victor Hugo chegou a comparar a gargalhada ao sol, “que varre o inverno do rosto humano”. É como um sopro sutil de uma brisa de primavera. E, o melhor: está sempre ao nosso alcance, para nos valermos dela quando quisermos.
Os “intelectuais” hoje em dia (salvo, claro, honrosas exceções), despendem seu tempo em longas e intermináveis viagens ao redor do próprio umbigo, inconscientes do seu papel social, julgando-se não apenas o centro do mundo, mas do próprio universo. Carecem de espontaneidade, que lhes daria um toque mais humano e tornaria mais verossímeis suas quase sempre áridas e pretensiosas arengas.
Deixaram morrer as utopias (o que é imperdoável) sem que colocassem nada de melhor em seu lugar. São arrogantes, ranzinzas, prepotentes e sumamente egoístas e, sobretudo, narcisistas, de um narcisismo doentio e ridículo. Apostam não somente no pessimismo (que chamam de “realismo” e têm o desplante de classificar quem não pensa como eles de “alienados), mas, sobretudo, no derrotismo.
São os arautos da catástrofe. Tanto que hoje em dia as utopias (que na verdade, embora fantasiosas, eram metas postas diante da humanidade, ousadas é verdade, mas que, se atingidas, mesmo que parcialmente, fariam do mundo um lugar decente para se viver) pelas distopias. Ou seja, pelo caos, pela paranóia, pela catástrofe, pelo fracasso, por um inferno criado pelo homem, que é muito pior do que aquele imaginado pelas religiões.
Falta-lhes, além da humildade, o bem-vindo senso de humor. São bem-informados, sem dúvida, até letrados, mas estão anos-luz de distância de serem sábios. Esses “intelectuais” se esquecem que chegaram à sua privilegiada condição não apenas por esforço próprio. São fruto do sacrifício de milhares, de milhões de pessoas humildes, que contribuíram com seus esforços para que chegassem a esse patamar.
É justo exigir-lhes, portanto, a contrapartida, que não dão. E se não a derem (como não estão dando), estarão cometendo o crime dos crimes: o da omissão. Não sabem atentar sequer para o lado cômico da própria conduta, quanto mais o da vida, do mundo e, por extensão, do universo. Por isso, meu objetivo é ser “bem-informado”, se possível, bastante letrado e, se as circunstâncias permitirem (quem sabe) sábio. Mas nunca esse tipo de “intelectual” que desdenha da capacidade humana de sorrir com alegria e descontração e, muito menos, de gargalhar.
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