Benfazejo momento de distensão
Pedro J. Bondaczuk
O acordo para a eliminação de mísseis de pequena e curta distâncias dos arsenais das superpotências é um pequeno passo rumo a um mundo mais seguro e que possa ter ainda alguma esperança de sobrevivência. Diríamos, até, insignificante, quando visto em termos absolutos.
Afinal, ele prevê a destruição de somente 5% dos armamentos atômicos e apenas da União Soviética e dos Estados Unidos. Os 95% restantes continuarão pesando sobre a cabeça da humanidade como uma sinistra Espada de Damocles, suspensa por um fio, mais frágil do que o de cabelo.
Pode-se afirmar que as ogivas que serão destruídas são virtualmente aquelas fabricadas após a última reunião de cúpula entre o presidente Ronald Reagan e o líder Mikhail Gorbachev, em Reykjavik, em 10 e 11 de outubro de 1986. Obviamente não as mesmas, mas o equivalente a elas. Possivelmente elas estão sendo eliminadas por estarem já defasadas pelo avanço tecnológico da “arte de matar”.
Mas o pacto, então, não é importante? Não significa mais do que um grande show político dos líderes das superpotências, destinado a recompor o prestígio de ambos os mandatários junto aos seus respectivos públicos internos?
Do ponto de vista prático, sim. Mas do lado que se refere a um desarmamento do espírito, não. Afinal, os dois antagonistas, ao invés de estarem se hostilizando, trocando farpas pelas respectivas imprensas e se ameaçando reciprocamente, como vinham fazendo desde 1945, agora estão conversando. E estão felizes com isso. A prova foi o festival de sorrisos que caracterizou o dia de ontem, na Casa Branca e no Cremlin.
A crise pela qual o mundo passa, atualmente, é das mais graves de que se tem notícia, embora muitos procurem atenuar o que está acontecendo, para evitar novas inquietações populares. O “crash” do mês passado na bolsa de Nova York foi um sintoma disso.
A virtual falência do Leste europeu é outro. As condições de agora são muito parecidas com as que levaram a humanidade à loucura da Segunda Guerra Mundial. Falta, apenas, um paranóico, do tipo de Adolf Hitler, para apregoar qualquer besteira sobre superioridade racial ou império de mil anos para que tudo se precipite. Só que agora a coisa seria pavorosa, dantesca, apocalíptica.
O mundo não tem somente o 1,8 bilhão de habitantes desse período. Essa população apenas dois países, China e Índia, dispõem, somadas. São 5 bilhões que disputam, palmo a palmo, trabalho, moradia, educação, comida e um futuro. E temos as armas nucleares.
Não fosse a existência desse benfazejo espírito conciliador entre dois sistemas de vida tão antagônicos, como são o comunismo e o capitalismo, e a situação poderia ficar crítica e atingir as raias da loucura e do confronto final. E todos nós, com nossos sonhos, frustrações, temores, neuroses e grandezas, estaríamos condenados à extinção.
Bendito acordo, surgido numa hora tão aguda. Bem vindo espírito conciliador, que pode, quem sabe, nos dar ânimo para superar a crise. Quanto aos mísseis...
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 25 de novembro de 1987)
Pedro J. Bondaczuk
O acordo para a eliminação de mísseis de pequena e curta distâncias dos arsenais das superpotências é um pequeno passo rumo a um mundo mais seguro e que possa ter ainda alguma esperança de sobrevivência. Diríamos, até, insignificante, quando visto em termos absolutos.
Afinal, ele prevê a destruição de somente 5% dos armamentos atômicos e apenas da União Soviética e dos Estados Unidos. Os 95% restantes continuarão pesando sobre a cabeça da humanidade como uma sinistra Espada de Damocles, suspensa por um fio, mais frágil do que o de cabelo.
Pode-se afirmar que as ogivas que serão destruídas são virtualmente aquelas fabricadas após a última reunião de cúpula entre o presidente Ronald Reagan e o líder Mikhail Gorbachev, em Reykjavik, em 10 e 11 de outubro de 1986. Obviamente não as mesmas, mas o equivalente a elas. Possivelmente elas estão sendo eliminadas por estarem já defasadas pelo avanço tecnológico da “arte de matar”.
Mas o pacto, então, não é importante? Não significa mais do que um grande show político dos líderes das superpotências, destinado a recompor o prestígio de ambos os mandatários junto aos seus respectivos públicos internos?
Do ponto de vista prático, sim. Mas do lado que se refere a um desarmamento do espírito, não. Afinal, os dois antagonistas, ao invés de estarem se hostilizando, trocando farpas pelas respectivas imprensas e se ameaçando reciprocamente, como vinham fazendo desde 1945, agora estão conversando. E estão felizes com isso. A prova foi o festival de sorrisos que caracterizou o dia de ontem, na Casa Branca e no Cremlin.
A crise pela qual o mundo passa, atualmente, é das mais graves de que se tem notícia, embora muitos procurem atenuar o que está acontecendo, para evitar novas inquietações populares. O “crash” do mês passado na bolsa de Nova York foi um sintoma disso.
A virtual falência do Leste europeu é outro. As condições de agora são muito parecidas com as que levaram a humanidade à loucura da Segunda Guerra Mundial. Falta, apenas, um paranóico, do tipo de Adolf Hitler, para apregoar qualquer besteira sobre superioridade racial ou império de mil anos para que tudo se precipite. Só que agora a coisa seria pavorosa, dantesca, apocalíptica.
O mundo não tem somente o 1,8 bilhão de habitantes desse período. Essa população apenas dois países, China e Índia, dispõem, somadas. São 5 bilhões que disputam, palmo a palmo, trabalho, moradia, educação, comida e um futuro. E temos as armas nucleares.
Não fosse a existência desse benfazejo espírito conciliador entre dois sistemas de vida tão antagônicos, como são o comunismo e o capitalismo, e a situação poderia ficar crítica e atingir as raias da loucura e do confronto final. E todos nós, com nossos sonhos, frustrações, temores, neuroses e grandezas, estaríamos condenados à extinção.
Bendito acordo, surgido numa hora tão aguda. Bem vindo espírito conciliador, que pode, quem sabe, nos dar ânimo para superar a crise. Quanto aos mísseis...
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 25 de novembro de 1987)
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