Pedro J. Bondaczuk
O computador racionaliza e dá precisão a inúmeras tarefas do dia a dia. Sabendo utilizá-lo, ganhamos conhecimento, tempo e dinheiro. Mas há os que transformam as melhores invenções num mal. Usam essa máquina para fins nada louváveis, inclusive para crimes. Alguns chegam a abrir mão do raciocínio, substituindo-o por este “cérebro eletrônico”.
Melvin Konner faz esta constatação: “As mais acalentadoras diferenças entre os seres humanos e os animais (...) têm sido eliminadas: amor maternal, altruísmo, cooperação e sacrifício são vistos agora como meras adaptações – estratégias geneticamente programadas para a sobrevivência (...). Tudo que nos restou (...) é o pensamento racional. Somos animais, sim, mas animais pensantes e nenhuma outra configuração de matéria na Terra pode rivalizar conosco neste domínio. Agora, até mesmo o pensamento racional está sendo apoderado – inteiramente – pelos computadores”. O mal, porém, não está na máquina. Está em quem a utiliza inadequadamente.
Há, porém, um fosso intransponível entre o homem e os demais animais e qualquer “máquina de pensar” que seja, eventualmente, inventada: a capacidade não somente de gerar idéias (e, inclusive, de inventar computadores), como a de sentir e expressar racional e inteligivelmente seus sentimentos. O Homo Sapiens, portanto, jamais poderá ser igualado, quanto mais substituído por quem ou o que quer que seja.
O leitor pode, a esta altura, estar se perguntando: “Quem é este Melvin Konner para afirmar o que afirma com tanta convicção?”. Garanto que não se trata de um João Ninguém. Trata-se de um afamado médico e antropólogo norte-americano que há anos estuda o homem. E não somente se dedica a entender e explicar suas funções orgânicas, mas, sobretudo, debruça-se na pesquisa de seus comportamentos (individuais e em sociedade).
Professor da Emory University, popularizou, com seu colega de instituição Boyd Eaton, o conceito de “nutrição paleolítica”. Ou seja, a idéia que a alimentação do homem primitivo da Idade da Pedra – dieta altamente protéica e vitamínica, baseada no consumo de peixes, frutas, folhas, nozes e legumes diversos – favoreceu a evolução humana e, especificamente, o desenvolvimento de sua inteligência, sendo, portanto, saudável para proteger nossa saúde. Como se vê, trata-se de um pesquisador altamente gabaritado, que sabe o que diz.
Concordo que o computador seja uma das mais espetaculares criações da mente humana. Mas ela seria, provavelmente, inviável, sem invenção do zero, esta sim a mais revolucionária de todas. Sem ela, essa máquina fabulosa, de tamanha utilidade nos tempos atuais, não poderia funcionar com a eficiência que funciona, se é que sequer funcionasse.
A invenção do zero produziu resultados impressionantes, que quase nunca (ou nunca mesmo) nos damos conta quando estudamos História. Desconhece-se, ironicamente, o seu inventor. Uma pena! A simbolização do vazio, do nada, do que é inexistente, como se fosse um valor concreto, possibilitou, sobretudo, a estruturação da matemática, sem a qual não teríamos construções, máquinas, ciências, comércio e praticamente nada.
Como se vê, é nas coisas aparentemente ínfimas e triviais que a genialidade humana se manifesta em todo o seu esplendor. Raciocinamos por metáforas, por signos e por símbolos. Isso, animal algum teria condições de fazer. Aí está o verdadeiro fosso intransponível entre nós e as demais espécies conhecidas (já que não se sabe se há, ou não, vida inteligente fora da Terra, embora se intua que haja).
Não pense o leitor, porém, que estou sendo original nessa constatação. Não estou! Quem me fez refletir a respeito, foi Fernando Pessoa, esse indivíduo tão estranho e genial, que nos legou, além dos livros publicados postumamente (em vida, publicou apenas um), um baú repleto de papéis, com anotações de toda a sorte, que ainda não foram decodificadas por completo. Calcula-se que apenas um terço, se tanto, das observações que deixou para a posteridade, já foram catalogadas, e divulgadas, no ano do centenário do seu nascimento.
A propósito de simbologia, Pessoa escreveu: “O zero é a maior metáfora. O infinito a maior analogia. A existência o maior símbolo”. Êta escritor genial! Por isso, quanto mais aprendo, mais respeito e valorizo o ser humano, sobretudo por seu inesgotável potencial.
Fala-se amiúde, notadamente nos meios políticos, e em especial em vésperas de eleições, na necessidade do respeito irrestrito aos direitos dos cidadãos. Concordo, mas apenas parcialmente, a esse propósito. Quem tem que ser respeitado é, sobretudo, o ser humano, não importa o que faça nem onde resida. Ninguém pode ser forçado a fazer o que não quer, em circunstância alguma, desde que isso não prejudique a ninguém.
Cada vez mais, o homem é encarado como um objeto, um robô manipulável, um títere e não como ser racional, detentor de necessidades, idéias e anseios próprios. A palavra “liberdade” há muito foi desvirtuada e é interpretada ao gosto e à feição dos detentores do poder.
Posso, por exemplo, ser um talentosíssimo artista, poeta, músico, pintor ou sabe-se-lá o quê, e não ser cidadão. Ou seja, posso viver no campo, ou em alguma montanha isolada e inacessível como um ermitão, ou em alguma ilha ou praia deserta, em que raras pessoas já puseram os pés, se assim me aprouver. Nem por isso, alguém, seja quem for, tem o direito de interferir em minha opção e de desrespeitar minha liberdade.
Esta deveria ser a lei das leis, a constituição natural das pessoas e povos. Não posso, pois, deixar de concordar (mais uma vez) com Fernando Pessoa quando escreve: “O homem está acima do cidadão. Não há Estado que valha Shakespeare”. E não somente o bardo inglês, mas Shelley, Milton, Bach, Beethoven, Mozart, Rembrandt, Van Gogh, o próprio Pessoa e tantos e tantos outros gênios, que foram e são os gigantes da espécie e, por que não, você, paciente e inteligente leitor.
O computador racionaliza e dá precisão a inúmeras tarefas do dia a dia. Sabendo utilizá-lo, ganhamos conhecimento, tempo e dinheiro. Mas há os que transformam as melhores invenções num mal. Usam essa máquina para fins nada louváveis, inclusive para crimes. Alguns chegam a abrir mão do raciocínio, substituindo-o por este “cérebro eletrônico”.
Melvin Konner faz esta constatação: “As mais acalentadoras diferenças entre os seres humanos e os animais (...) têm sido eliminadas: amor maternal, altruísmo, cooperação e sacrifício são vistos agora como meras adaptações – estratégias geneticamente programadas para a sobrevivência (...). Tudo que nos restou (...) é o pensamento racional. Somos animais, sim, mas animais pensantes e nenhuma outra configuração de matéria na Terra pode rivalizar conosco neste domínio. Agora, até mesmo o pensamento racional está sendo apoderado – inteiramente – pelos computadores”. O mal, porém, não está na máquina. Está em quem a utiliza inadequadamente.
Há, porém, um fosso intransponível entre o homem e os demais animais e qualquer “máquina de pensar” que seja, eventualmente, inventada: a capacidade não somente de gerar idéias (e, inclusive, de inventar computadores), como a de sentir e expressar racional e inteligivelmente seus sentimentos. O Homo Sapiens, portanto, jamais poderá ser igualado, quanto mais substituído por quem ou o que quer que seja.
O leitor pode, a esta altura, estar se perguntando: “Quem é este Melvin Konner para afirmar o que afirma com tanta convicção?”. Garanto que não se trata de um João Ninguém. Trata-se de um afamado médico e antropólogo norte-americano que há anos estuda o homem. E não somente se dedica a entender e explicar suas funções orgânicas, mas, sobretudo, debruça-se na pesquisa de seus comportamentos (individuais e em sociedade).
Professor da Emory University, popularizou, com seu colega de instituição Boyd Eaton, o conceito de “nutrição paleolítica”. Ou seja, a idéia que a alimentação do homem primitivo da Idade da Pedra – dieta altamente protéica e vitamínica, baseada no consumo de peixes, frutas, folhas, nozes e legumes diversos – favoreceu a evolução humana e, especificamente, o desenvolvimento de sua inteligência, sendo, portanto, saudável para proteger nossa saúde. Como se vê, trata-se de um pesquisador altamente gabaritado, que sabe o que diz.
Concordo que o computador seja uma das mais espetaculares criações da mente humana. Mas ela seria, provavelmente, inviável, sem invenção do zero, esta sim a mais revolucionária de todas. Sem ela, essa máquina fabulosa, de tamanha utilidade nos tempos atuais, não poderia funcionar com a eficiência que funciona, se é que sequer funcionasse.
A invenção do zero produziu resultados impressionantes, que quase nunca (ou nunca mesmo) nos damos conta quando estudamos História. Desconhece-se, ironicamente, o seu inventor. Uma pena! A simbolização do vazio, do nada, do que é inexistente, como se fosse um valor concreto, possibilitou, sobretudo, a estruturação da matemática, sem a qual não teríamos construções, máquinas, ciências, comércio e praticamente nada.
Como se vê, é nas coisas aparentemente ínfimas e triviais que a genialidade humana se manifesta em todo o seu esplendor. Raciocinamos por metáforas, por signos e por símbolos. Isso, animal algum teria condições de fazer. Aí está o verdadeiro fosso intransponível entre nós e as demais espécies conhecidas (já que não se sabe se há, ou não, vida inteligente fora da Terra, embora se intua que haja).
Não pense o leitor, porém, que estou sendo original nessa constatação. Não estou! Quem me fez refletir a respeito, foi Fernando Pessoa, esse indivíduo tão estranho e genial, que nos legou, além dos livros publicados postumamente (em vida, publicou apenas um), um baú repleto de papéis, com anotações de toda a sorte, que ainda não foram decodificadas por completo. Calcula-se que apenas um terço, se tanto, das observações que deixou para a posteridade, já foram catalogadas, e divulgadas, no ano do centenário do seu nascimento.
A propósito de simbologia, Pessoa escreveu: “O zero é a maior metáfora. O infinito a maior analogia. A existência o maior símbolo”. Êta escritor genial! Por isso, quanto mais aprendo, mais respeito e valorizo o ser humano, sobretudo por seu inesgotável potencial.
Fala-se amiúde, notadamente nos meios políticos, e em especial em vésperas de eleições, na necessidade do respeito irrestrito aos direitos dos cidadãos. Concordo, mas apenas parcialmente, a esse propósito. Quem tem que ser respeitado é, sobretudo, o ser humano, não importa o que faça nem onde resida. Ninguém pode ser forçado a fazer o que não quer, em circunstância alguma, desde que isso não prejudique a ninguém.
Cada vez mais, o homem é encarado como um objeto, um robô manipulável, um títere e não como ser racional, detentor de necessidades, idéias e anseios próprios. A palavra “liberdade” há muito foi desvirtuada e é interpretada ao gosto e à feição dos detentores do poder.
Posso, por exemplo, ser um talentosíssimo artista, poeta, músico, pintor ou sabe-se-lá o quê, e não ser cidadão. Ou seja, posso viver no campo, ou em alguma montanha isolada e inacessível como um ermitão, ou em alguma ilha ou praia deserta, em que raras pessoas já puseram os pés, se assim me aprouver. Nem por isso, alguém, seja quem for, tem o direito de interferir em minha opção e de desrespeitar minha liberdade.
Esta deveria ser a lei das leis, a constituição natural das pessoas e povos. Não posso, pois, deixar de concordar (mais uma vez) com Fernando Pessoa quando escreve: “O homem está acima do cidadão. Não há Estado que valha Shakespeare”. E não somente o bardo inglês, mas Shelley, Milton, Bach, Beethoven, Mozart, Rembrandt, Van Gogh, o próprio Pessoa e tantos e tantos outros gênios, que foram e são os gigantes da espécie e, por que não, você, paciente e inteligente leitor.
1 comment:
Excelente texto! Obrigada pela oportunidade de ler.
Pouco se fala ou se dá o mérito necessário a Melvin Konner e aqui você o expõe exatamente na questão mais importante para ele que é humanizar e vencer às tentações tecnológicas.
Peço autorização para indicar teu Blog no meu.
Aplausos!
Gilia
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