Pedro J. Bondaczuk
O dragão, ser mítico criado num tempo bastante remoto pela imaginação popular, teria a faculdade de expelir jatos de fogo pela boca. Claro que se trata de lenda e que jamais existiu ou poderia existir um animal assim. Em chinês, esse bicho imaginário leva o nome de long e, em japonês, de ryu. Mas o termo por nós utilizado deriva do grego “drakon”.
Na mitologia chinesa, o dragão foi um dos quatro animais sagrados convocados por Pan Ku, o deus criador, para participarem da criação do mundo. A ele teria cabido criar a energia do fogo, que destrói, mas permite o renascimento (transformação).
Seria, porém, possível o homem expelir chamas do seu corpo? Figurativamente, sim. Quem é dotado do dom do raciocínio, potencializado pela paixão, expele fogo pelos olhos. Ou seja, é convicto do que fala e do que faz e nunca se limita a pensar, mas age, com força, coragem e determinação. É a grande característica dos gigantes da espécie, dínamos do progresso e da civilização.
Muitas vezes nos afligimos pelo fato de não sermos conhecidos e, por conseqüência, das nossas obras e ações também não serem do conhecimento público e, portanto, não receberem a devida valorização. É, ressalte-se, atitude até normal, desde que não descambe para a obsessão.
Para que o que fizermos tenha utilidade, é preciso que os outros saibam da sua existência. Afinal, quem não divulga, se esconde. Quem não sabe que existem, não utiliza esse objeto ou essa idéia que produzimos, se forem desconhecidos, é óbvio.
Mais importante, porém, do que sermos conhecidos pelas pessoas, é conhecê-las. É saber das suas necessidades, aspirações, angústias e vulnerabilidades, até para que possamos lhes ser mais úteis e, quem sabe, providenciais. Esse é, aliás, um dos fundamentos da sabedoria.
Confúcio já dizia, na remota antiguidade, a esse propósito: “O sábio não se aflige por não ser conhecido dos homens; ele se aflige por não conhecê-los”. Divulguemos, pois, amplamente, tudo o que somos e fazemos. Mas não façamos disso uma obsessão. Sejamos obcecados, isso sim, por conhecer a fundo o maior número possível de pessoas, começando por nós próprios. Agindo assim, estaremos, com segurança, no caminho certo que conduz à sabedoria.
Qual será o legado que deixaremos aos que nos sobreviverem, aos jovens de amanhã, à posteridade, enfim, à humanidade? Um livro? Uma pintura? Um retrato? Um simples poema? Ou uma saudade? Bom seria se legássemos tudo isso e muito mais. Se deixássemos nosso sorriso de simpatia e otimismo para uns; um exemplo de bondade e de solidariedade para outros; um ensinamento valioso e indispensável para terceiros e vai por aí afora.
Um dia deixaremos de ser personagens dessa magnífica e às vezes perigosa aventura que é a vida. Retornaremos para o seio generoso da terra e voltaremos a ser o que sempre fomos – salvo num curtíssimo período em que amamos, odiamos, gozamos, sofremos, rimos e choramos – ou seja, “pó das estrelas”.
Muitas vezes nos esquecemos de como éramos num passado relativamente recente, na adolescência, por exemplo, quando tínhamos sonhos grandiosos, ideais ousados e projetos embora fantasiosos, que mostravam nosso vigor físico e intelectual.
Fisicamente, éramos belos e espiritualmente, éramos ingênuos, de uma ingenuidade sadia por sinal. Muito de tudo isso, não raro, acabou se perdendo no tempo, sem que nos déssemos conta. Subitamente, como num lampejo, nos lembramos de como éramos e constatamos que ainda somos os mesmos, do ponto de vista espiritual.
Claro que somos outros, bem diferentes, porém, no aspecto físico. Só nos damos conta disso quando encontramos alguma fotografia antiga, dos tempos da juventude. Mas o que é a aparência? Por que nos preocuparmos com ela?
Que bom seria se, ao chegarmos a uma idade avançada, pudéssemos contemplar a vida com o olhar da criança que um dia fomos: com inocência, esperança e assombro (positivo, claro). Evitaríamos inúmeros sofrimentos causados por uma visão distorcida que adquirimos das coisas, pessoas e, sobretudo, desta aventura magnífica, mágica e talvez única.
Carregamos nossa memória com “quinquilharias”, dogmas que não se sustentam, filosofias caducas e ambições inconseqüentes. Alguns, deixam de lado aquela veneração natural que tinham pela vida e há, até, os que por uma razão ou outra, tentam abreviá-la, quando não suprimi-la liminarmente. Podemos manter essa visão infantil até o último dos nossos dias, basta querer. Para isso, é indispensável cultivar um sadio e lógico senso de proporções..
Paulo Mendes Campos escreveu, na crônica “De um caderno: três escritores soviéticos”, publicada na revista Manchete, em 1967: “O dom do raciocínio quando misturado à dádiva da paixão faz com que as criaturas ponham fogo pelos olhos, como se uma coisa fizesse a outra arder indefinidamente. Lógica e paixão fazem um incêndio na alma. Pascal também devia botar fogo pelos olhos. E Spinoza”. E poderíamos aduzir uma lista enorme de figuras dotadas dessas características que se tornaram “imortais” na memória dos povos.
Que bom seria se resgatássemos os sonhos e ideais da juventude e lhes acrescentássemos o ingrediente dos conhecimentos e da experiência colhidos na maturidade! Que bom seria se voltássemos a encarar a vida com o olhar inocente e deslumbrado da criança que um dia fomos, sem abrirmos mão do acervo de cultura que colhemos no tempo! Que bom seria se, como Pascal, Spinoza, Mozart, Beethoven e milhares de tantos outras, fizéssemos nossas obras com lógica e paixão, com coração e razão e botássemos “fogo pelos olhos” até nosso derradeiro dia de vida!
O dragão, ser mítico criado num tempo bastante remoto pela imaginação popular, teria a faculdade de expelir jatos de fogo pela boca. Claro que se trata de lenda e que jamais existiu ou poderia existir um animal assim. Em chinês, esse bicho imaginário leva o nome de long e, em japonês, de ryu. Mas o termo por nós utilizado deriva do grego “drakon”.
Na mitologia chinesa, o dragão foi um dos quatro animais sagrados convocados por Pan Ku, o deus criador, para participarem da criação do mundo. A ele teria cabido criar a energia do fogo, que destrói, mas permite o renascimento (transformação).
Seria, porém, possível o homem expelir chamas do seu corpo? Figurativamente, sim. Quem é dotado do dom do raciocínio, potencializado pela paixão, expele fogo pelos olhos. Ou seja, é convicto do que fala e do que faz e nunca se limita a pensar, mas age, com força, coragem e determinação. É a grande característica dos gigantes da espécie, dínamos do progresso e da civilização.
Muitas vezes nos afligimos pelo fato de não sermos conhecidos e, por conseqüência, das nossas obras e ações também não serem do conhecimento público e, portanto, não receberem a devida valorização. É, ressalte-se, atitude até normal, desde que não descambe para a obsessão.
Para que o que fizermos tenha utilidade, é preciso que os outros saibam da sua existência. Afinal, quem não divulga, se esconde. Quem não sabe que existem, não utiliza esse objeto ou essa idéia que produzimos, se forem desconhecidos, é óbvio.
Mais importante, porém, do que sermos conhecidos pelas pessoas, é conhecê-las. É saber das suas necessidades, aspirações, angústias e vulnerabilidades, até para que possamos lhes ser mais úteis e, quem sabe, providenciais. Esse é, aliás, um dos fundamentos da sabedoria.
Confúcio já dizia, na remota antiguidade, a esse propósito: “O sábio não se aflige por não ser conhecido dos homens; ele se aflige por não conhecê-los”. Divulguemos, pois, amplamente, tudo o que somos e fazemos. Mas não façamos disso uma obsessão. Sejamos obcecados, isso sim, por conhecer a fundo o maior número possível de pessoas, começando por nós próprios. Agindo assim, estaremos, com segurança, no caminho certo que conduz à sabedoria.
Qual será o legado que deixaremos aos que nos sobreviverem, aos jovens de amanhã, à posteridade, enfim, à humanidade? Um livro? Uma pintura? Um retrato? Um simples poema? Ou uma saudade? Bom seria se legássemos tudo isso e muito mais. Se deixássemos nosso sorriso de simpatia e otimismo para uns; um exemplo de bondade e de solidariedade para outros; um ensinamento valioso e indispensável para terceiros e vai por aí afora.
Um dia deixaremos de ser personagens dessa magnífica e às vezes perigosa aventura que é a vida. Retornaremos para o seio generoso da terra e voltaremos a ser o que sempre fomos – salvo num curtíssimo período em que amamos, odiamos, gozamos, sofremos, rimos e choramos – ou seja, “pó das estrelas”.
Muitas vezes nos esquecemos de como éramos num passado relativamente recente, na adolescência, por exemplo, quando tínhamos sonhos grandiosos, ideais ousados e projetos embora fantasiosos, que mostravam nosso vigor físico e intelectual.
Fisicamente, éramos belos e espiritualmente, éramos ingênuos, de uma ingenuidade sadia por sinal. Muito de tudo isso, não raro, acabou se perdendo no tempo, sem que nos déssemos conta. Subitamente, como num lampejo, nos lembramos de como éramos e constatamos que ainda somos os mesmos, do ponto de vista espiritual.
Claro que somos outros, bem diferentes, porém, no aspecto físico. Só nos damos conta disso quando encontramos alguma fotografia antiga, dos tempos da juventude. Mas o que é a aparência? Por que nos preocuparmos com ela?
Que bom seria se, ao chegarmos a uma idade avançada, pudéssemos contemplar a vida com o olhar da criança que um dia fomos: com inocência, esperança e assombro (positivo, claro). Evitaríamos inúmeros sofrimentos causados por uma visão distorcida que adquirimos das coisas, pessoas e, sobretudo, desta aventura magnífica, mágica e talvez única.
Carregamos nossa memória com “quinquilharias”, dogmas que não se sustentam, filosofias caducas e ambições inconseqüentes. Alguns, deixam de lado aquela veneração natural que tinham pela vida e há, até, os que por uma razão ou outra, tentam abreviá-la, quando não suprimi-la liminarmente. Podemos manter essa visão infantil até o último dos nossos dias, basta querer. Para isso, é indispensável cultivar um sadio e lógico senso de proporções..
Paulo Mendes Campos escreveu, na crônica “De um caderno: três escritores soviéticos”, publicada na revista Manchete, em 1967: “O dom do raciocínio quando misturado à dádiva da paixão faz com que as criaturas ponham fogo pelos olhos, como se uma coisa fizesse a outra arder indefinidamente. Lógica e paixão fazem um incêndio na alma. Pascal também devia botar fogo pelos olhos. E Spinoza”. E poderíamos aduzir uma lista enorme de figuras dotadas dessas características que se tornaram “imortais” na memória dos povos.
Que bom seria se resgatássemos os sonhos e ideais da juventude e lhes acrescentássemos o ingrediente dos conhecimentos e da experiência colhidos na maturidade! Que bom seria se voltássemos a encarar a vida com o olhar inocente e deslumbrado da criança que um dia fomos, sem abrirmos mão do acervo de cultura que colhemos no tempo! Que bom seria se, como Pascal, Spinoza, Mozart, Beethoven e milhares de tantos outras, fizéssemos nossas obras com lógica e paixão, com coração e razão e botássemos “fogo pelos olhos” até nosso derradeiro dia de vida!
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