A ambição suprema de todo ser humano é a eternidade, mas numa condição diferente, ideal, em que não haja dores e nem doenças e num mundo perfeito, de plena harmonia e paz. Se existe ou não essa possibilidade, numa outra condição, é questão de fé. Quem acredita, continuará crendo até o fim, e nada e ninguém abalarão sua crença. Quem não crê, é inútil buscar convencê-lo, já que o âmago das pessoas é interdito e indevassável. Mesmo na condição material, porém, o homem é eterno. Seu corpo morre, é verdade, mas não desaparece: se transforma em outros estados da matéria e permanece, eternamente, em algum ponto do universo, posto que transformado. O poeta Eugênio Giovanardi trata disso nestes versos do poema “Eternidade”: “Tudo em você é eterno/eis o prêmio de ter nascido./A vida é tudo e nada./A vida é só a vida./E o que é a vida/senão uma corrida insana/ao lado do desejo/da esperança/e do amor intangível?”
Sunday, August 31, 2008
DIRETO DO ARQUIVO
Só educação pode livrar homem da catástrofe
Pedro J. Bondaczuk
O escritor H. G. Wells, com raro poder de síntese, resumiu em poucas palavras o drama que a humanidade representa no palco deste Planeta, há pelo menos sete mil anos de civilização, ao escrever: "A história humana é mais uma competição entre a educação e a catástrofe".
Trata-se de milenar disputa entre a força bruta e a razão. Enquanto através do raciocínio o homem avança alguns passos rumo ao entendimento de si próprio e do universo que o cerca, mediante a violência volta a retroceder.
A crônica dos povos é uma sucessão de ações antagônicas. É um construir e destruir que não acaba mais. Houvesse sido preservado tudo o que se elaborou em todos os tempos, não somente no terreno material, mas principalmente no espiritual, e a humanidade estaria agora num estágio evolutivo muito maior do que aquele em que se apresenta na atualidade.
Hoje, a palavra mágica, alçada à categoria de dogma, é "tecnologia", em detrimento, na maioria dos casos, da "cultura", que não deve ser confundida, como vem sendo, com entretenimento. Desde o aparecimento do Modernismo, nas artes, que virtualmente esgotou toda a imaginação dos artistas, não surgiu um único movimento cultural novo e consistente, quando a capacidade humana de criar é infinita.
O mesmo verifica-se no terreno político. Os dois sistemas surgidos um em oposição ao outro, capitalismo e comunismo, o primeiro como conseqüência da chamada Revolução Industrial do século XVIII e o segundo cerca de cem anos depois como reação aos desvios e contradições do primeiro, estão ambos colocados em xeque na atualidade.
Os dois fracassaram, por não terem passado pelas necessárias correções de rumo que os colocassem na trilha original e lhes devolvessem o objetivo primitivo, que era o de tornar o homem realizado e feliz. É verdade que a falência das sociedades comunistas do Leste europeu despertou um triunfalismo extemporâneo no outro lado. Porém, nem é preciso ser algum filósofo, economista ou sociólogo para intuir que o fracasso foi de ambos.
O jurista Geraldo de Camargo Vidigal destaca, em seu livro "Teoria Geral do Direito Econômico", editado na década de 60, portanto muito antes do surgimento da era Gorbachev e de sua "perestroika": "A injustiça crescente nos padrões de repartição social da riqueza e das rendas, os obstáculos opostos ao desenvolvimento da concorrência, a acumulação de poder monopolista, os processos circulares cumulativos, gerando, periodicamente, crises de estocagem e de desemprego, evidenciaram a insubsistência das afirmações liberais. O perecimento das possibilidades de eficiente comunicação das intenções de consumo ao aparelho produtor, a eliminação dos instrumentos que permitem aferir a eficiência produtiva, a destruição da criatividade social para a inovação econômica, as intoleráveis restrições à liberdade individual demonstraram a falsidade das suposições coletivistas".
Como sempre, a virtude deve estar no meio. Ou seja, na média entre os postulados de proteção social do socialismo e a liberdade de escolha, mediante a existência de um mercado absolutamente a salvo de manipulações e caracterizado pela total competição em pé de igualdade, do liberalismo.
É possível que o mundo esteja caminhando nessa direção, embora as evidências não indiquem isto. O processo de educação é, geralmente, confundido com a mera aquisição de conhecimentos legado pela sucessão de gerações.
É, todavia, muito mais profundo. Consiste, sobretudo, numa indução ao raciocínio. O homem contemporâneo está perdendo o saudável hábito de pensar, entregando essa tarefa às máquinas que ele próprio criou.
Ninguém condena um computador, que veio para ficar, enquanto substituto de tarefas específicas, que exigem precisão. Tais robôs, todavia, não "pensam". Não são capazes de encarar sozinhos, por não serem dotados de consciência, o "desafio e a reação", que na definição do reverendo Norman Vincent Peale caracterizam a vida.
"É aí que estão os maiores triunfos e realizações", arremata o clérigo. O homem não pode abrir mão, portanto, da educação, pois a opção é assustadora: é a catástrofe!!
(Artigo publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 24 de setembro de 1991).
Pedro J. Bondaczuk
O escritor H. G. Wells, com raro poder de síntese, resumiu em poucas palavras o drama que a humanidade representa no palco deste Planeta, há pelo menos sete mil anos de civilização, ao escrever: "A história humana é mais uma competição entre a educação e a catástrofe".
Trata-se de milenar disputa entre a força bruta e a razão. Enquanto através do raciocínio o homem avança alguns passos rumo ao entendimento de si próprio e do universo que o cerca, mediante a violência volta a retroceder.
A crônica dos povos é uma sucessão de ações antagônicas. É um construir e destruir que não acaba mais. Houvesse sido preservado tudo o que se elaborou em todos os tempos, não somente no terreno material, mas principalmente no espiritual, e a humanidade estaria agora num estágio evolutivo muito maior do que aquele em que se apresenta na atualidade.
Hoje, a palavra mágica, alçada à categoria de dogma, é "tecnologia", em detrimento, na maioria dos casos, da "cultura", que não deve ser confundida, como vem sendo, com entretenimento. Desde o aparecimento do Modernismo, nas artes, que virtualmente esgotou toda a imaginação dos artistas, não surgiu um único movimento cultural novo e consistente, quando a capacidade humana de criar é infinita.
O mesmo verifica-se no terreno político. Os dois sistemas surgidos um em oposição ao outro, capitalismo e comunismo, o primeiro como conseqüência da chamada Revolução Industrial do século XVIII e o segundo cerca de cem anos depois como reação aos desvios e contradições do primeiro, estão ambos colocados em xeque na atualidade.
Os dois fracassaram, por não terem passado pelas necessárias correções de rumo que os colocassem na trilha original e lhes devolvessem o objetivo primitivo, que era o de tornar o homem realizado e feliz. É verdade que a falência das sociedades comunistas do Leste europeu despertou um triunfalismo extemporâneo no outro lado. Porém, nem é preciso ser algum filósofo, economista ou sociólogo para intuir que o fracasso foi de ambos.
O jurista Geraldo de Camargo Vidigal destaca, em seu livro "Teoria Geral do Direito Econômico", editado na década de 60, portanto muito antes do surgimento da era Gorbachev e de sua "perestroika": "A injustiça crescente nos padrões de repartição social da riqueza e das rendas, os obstáculos opostos ao desenvolvimento da concorrência, a acumulação de poder monopolista, os processos circulares cumulativos, gerando, periodicamente, crises de estocagem e de desemprego, evidenciaram a insubsistência das afirmações liberais. O perecimento das possibilidades de eficiente comunicação das intenções de consumo ao aparelho produtor, a eliminação dos instrumentos que permitem aferir a eficiência produtiva, a destruição da criatividade social para a inovação econômica, as intoleráveis restrições à liberdade individual demonstraram a falsidade das suposições coletivistas".
Como sempre, a virtude deve estar no meio. Ou seja, na média entre os postulados de proteção social do socialismo e a liberdade de escolha, mediante a existência de um mercado absolutamente a salvo de manipulações e caracterizado pela total competição em pé de igualdade, do liberalismo.
É possível que o mundo esteja caminhando nessa direção, embora as evidências não indiquem isto. O processo de educação é, geralmente, confundido com a mera aquisição de conhecimentos legado pela sucessão de gerações.
É, todavia, muito mais profundo. Consiste, sobretudo, numa indução ao raciocínio. O homem contemporâneo está perdendo o saudável hábito de pensar, entregando essa tarefa às máquinas que ele próprio criou.
Ninguém condena um computador, que veio para ficar, enquanto substituto de tarefas específicas, que exigem precisão. Tais robôs, todavia, não "pensam". Não são capazes de encarar sozinhos, por não serem dotados de consciência, o "desafio e a reação", que na definição do reverendo Norman Vincent Peale caracterizam a vida.
"É aí que estão os maiores triunfos e realizações", arremata o clérigo. O homem não pode abrir mão, portanto, da educação, pois a opção é assustadora: é a catástrofe!!
(Artigo publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 24 de setembro de 1991).
Saturday, August 30, 2008
REFLEXÃO DO DIA
O poeta Emilsen Zorzi faz pitoresca (posto que pertinente) analogia das palavras triviais, aquele conjunto relativamente pequeno que usamos no cotidiano para nos comunicar, com produtos enlatados. Ou seja, os que consumimos e, depois de usados, nos descartamos. Não se referiu, claro, às palavras nobres, usadas pelos poetas para compor versos, ou pelos pensadores para registrar pérolas do pensamento, enfim, pelos que têm o que dizer e que mereça permanência. Há palavras cortantes, explosivas, destrutivas, das quais jamais deveríamos nos utilizar, mesmo que “enlatadas” e passivas de “descarte”. São tão ferinas, que seu invólucro chega a nos cortar a língua. Zorzi conclui da seguinte forma seu poema “Palavras-latas”: “Às vezes pronuncio palavras como latas!/abro-as no momento exato da necessidade do seu uso/e jogo-as fora depois,/cortam os meus lábios com a tampa serrada./e imediatamente cerro meus lábios”.
Acalanto da chuva
Pedro J. Bondaczuk
A chuva verte na vidraça
lágrimas que não sei verter.
Silêncio! É o tempo que passa:
o que eu não soube preencher!
Som monótono, irreal,
pinga, nota a nota, sem falha...
Profundo abismo existencial!
Mas a água canta na calha.
A melancolia é intensa,
a esperança é renovadora.
Mas esta saudade é imensa!
Mas esta angústia é opressora!
A água que rola, em resumo,
ressalta, enfatiza o cansaço,
e marca os meus passos sem rumo,
a minha canção sem compasso.
Mas a água segue a rolar
e compõe, ressoa e espalha
confusa canção de ninar,
rolando e rolando na calha.
Embala o meu corpo cansado,
(porém minha mente não cansa)
projeta outro sonho dourado,
valoriza outra lembrança.
Sou assim: inquieto, imaturo
e ácido, como azeda uva.
Estou só! Tateio no escuro...
Meu Deus, como gosto de chuva!
(Poema composto em Sumaré, em 28 de agosto de 1974).
A chuva verte na vidraça
lágrimas que não sei verter.
Silêncio! É o tempo que passa:
o que eu não soube preencher!
Som monótono, irreal,
pinga, nota a nota, sem falha...
Profundo abismo existencial!
Mas a água canta na calha.
A melancolia é intensa,
a esperança é renovadora.
Mas esta saudade é imensa!
Mas esta angústia é opressora!
A água que rola, em resumo,
ressalta, enfatiza o cansaço,
e marca os meus passos sem rumo,
a minha canção sem compasso.
Mas a água segue a rolar
e compõe, ressoa e espalha
confusa canção de ninar,
rolando e rolando na calha.
Embala o meu corpo cansado,
(porém minha mente não cansa)
projeta outro sonho dourado,
valoriza outra lembrança.
Sou assim: inquieto, imaturo
e ácido, como azeda uva.
Estou só! Tateio no escuro...
Meu Deus, como gosto de chuva!
(Poema composto em Sumaré, em 28 de agosto de 1974).
Friday, August 29, 2008
REFLEXÃO DO DIA
O Ser Supremo, que tudo sabe, tudo pode e tudo vê, infinito e eterno, que não teve princípio e jamais terá fim, provê ao homem os recursos para sua contínua evolução: física, material e espiritual. Ao mesmo tempo que cria problemas, disponibiliza meios para sua solução. O Ser Onipotente, imanente e transcendente, dotou a frágil e arrogante criatura humana de um instrumento irresistível para sua sobrevivência: a razão. Metaforicamente pode-se dizer que transformou “a lama em ouro”, posto que ao final de alguns anos, esse barro impuro volte a ser pó. O poeta Emiliano Perneta tem um poema revelador a respeito, cujos versos finais dizem: “Mas sei também que há mil aspirações estranhas/que havemos de subir montanhas e montanhas,/que a Natureza avança e o homem faz-se luz.../Que a vida, com o sol, um alquimista louro/tem o dom de poder mudar a lama em ouro,/e em límpidos cristais esses rochedos nus!”
A obra morre
Pedro J. Bondaczuk
A identidade de pensamentos, sentimentos e crenças é a única forma de tentarmos preservar nossas obras do esquecimento e da morte, tão logo venhamos a esgotar nosso tempo sobre a Terra. É uma imensa tolice, portanto, nadar contra a correnteza e pretender “fazer cabeças”, com vistas a modificar gostos e opiniões para fazer proselitismo.
Leio, por exemplo, com maior atenção e gosto, apenas livros de escritores com os quais me identifico, que tenho empatia nem que seja minimamente, que pensam como penso e que aprofundam e justificam esses meus pensamentos. Os outros... Não me proponho sequer a refutar o que pensam. Ignoro-os. Quase todas as pessoas agem assim.
O mesmo vale em relação às outras artes, como pintura, escultura, música etc. Temos a vã ilusão que as obras que deixarmos irão preservar nossa memória através dos séculos e milênios e que não “morrerão” jamais. Ledo engano.
Mesmo que aquilo que deixarmos venha a despertar a identidade de milhões de pessoas (que tenham os mesmos pensamentos, sentimentos e crenças que nós), não há a mínima garantia de que essas realizações nos sobrevivam, digamos, por dois, cinco ou dez anos, quanto mais “para sempre”. Não tardará para sermos esquecidos, como se sequer tivéssemos existido, salvo uma ou outra exceção e por motivos inexplicáveis racionalmente.
Vira e mexe, por exemplo, descubro, em sebos, livros excelentes, que mereceriam tratamento muito mais nobre e que, no entanto, estão esquecidos, vendidos “aos quilos”, como papéis inúteis. Certamente, quem os escreveu tinha pretensões muito maiores do que esta. Sempre que posso, tento “ressuscitar” esses escritores, na vã esperança de que alguém, algum dia, em algum lugar, dentro de uns cinqüenta anos, por exemplo, faça o mesmo comigo. Quem sabe?!
Uma das maiores decepções que tive, em tempos recentes, foi encontrar meu livro “Por uma nova utopia” em um sebo que visitei. Levei um choque! E eu que achava que aquilo que escrevi havia agradado os leitores! Afinal, esgotaram-se seis edições, o que, no Brasil, não deixa de ser uma façanha.
Fico me perguntando: quem não gostou do livro, a ponto de se desfazer tão rapidamente dele? O que o desagradou? Foram os temas de que tratei? Foi o estilo? Foram minhas conclusões? Sei lá! O fato é que o livro que escrevi com tanto empenho e paixão, com tanta garra e tanta esperança, estava lá, naquele sebo, vendido a preço irrisório, como sucata, papel velho ou sei lá o quê.
Claro que continuo esperançoso de vir a me constituir em exceção à regra. Claro que continuo me empenhando cada vez mais, lendo, estudando e escrevendo, escrevendo e escrevendo, incansável e compulsivamente, sonhando que meus textos me sobrevivam para sempre e atestem a meu favor junto à posteridade.
Sem nenhum laivo de pessimismo, porém, sei que as chances são pequenas, ínfimas, remotíssimas de que isso venha a ocorrer. Tanta gente melhor do que eu não conseguiu. Busco, porém, reunir qualidade à quantidade, para que, daqui a alguns anos, pelo menos uma simples e reles crônica das milhares que escrevi sobreviva ao tempo e ao esquecimento e ateste que existi, amei, odiei, sofri, fui feliz e, sobretudo, vivi.
Minha obra é como aquelas mensagens que as pessoas escrevem, colocam em uma garrafa e lançam ao mar. A probabilidade é que ela nunca chegue às mãos de ninguém, dada a vastidão do oceano. Mas há sempre remotíssima chance de que um dia alguém, em algum tempo, em algum lugar, provavelmente a milhares de quilômetros do local em que a tal garrafa foi jogada nas ondas, a encontre.
Morris West escreve o seguinte, a respeito, no romance “O Advogado do Diabo”: “A obra morre. Quantos homens Cristo curou? E quantos deles estão vivos hoje? A obra é uma expressão daquilo que um homem é, do que sente, daquilo em que acredita. Se dura, se se desenvolve, não é devido ao homem que a começou, mas porque outros homens pensam, sentem e crêem da mesma maneira”.
É esta a minha esperança. Esta é a confiança que teima em se manter presente, espicaçando-me a escrever, escrever, escrever e escrever, prolífica e compulsoriamente. Por isso é que tento entender as pessoas e estabelecer absoluta empatia com elas. Se vou conseguir fazer a mensagem na garrafa chegar às mãos da posteridade... jamais saberei! Seguirei tentando!
A identidade de pensamentos, sentimentos e crenças é a única forma de tentarmos preservar nossas obras do esquecimento e da morte, tão logo venhamos a esgotar nosso tempo sobre a Terra. É uma imensa tolice, portanto, nadar contra a correnteza e pretender “fazer cabeças”, com vistas a modificar gostos e opiniões para fazer proselitismo.
Leio, por exemplo, com maior atenção e gosto, apenas livros de escritores com os quais me identifico, que tenho empatia nem que seja minimamente, que pensam como penso e que aprofundam e justificam esses meus pensamentos. Os outros... Não me proponho sequer a refutar o que pensam. Ignoro-os. Quase todas as pessoas agem assim.
O mesmo vale em relação às outras artes, como pintura, escultura, música etc. Temos a vã ilusão que as obras que deixarmos irão preservar nossa memória através dos séculos e milênios e que não “morrerão” jamais. Ledo engano.
Mesmo que aquilo que deixarmos venha a despertar a identidade de milhões de pessoas (que tenham os mesmos pensamentos, sentimentos e crenças que nós), não há a mínima garantia de que essas realizações nos sobrevivam, digamos, por dois, cinco ou dez anos, quanto mais “para sempre”. Não tardará para sermos esquecidos, como se sequer tivéssemos existido, salvo uma ou outra exceção e por motivos inexplicáveis racionalmente.
Vira e mexe, por exemplo, descubro, em sebos, livros excelentes, que mereceriam tratamento muito mais nobre e que, no entanto, estão esquecidos, vendidos “aos quilos”, como papéis inúteis. Certamente, quem os escreveu tinha pretensões muito maiores do que esta. Sempre que posso, tento “ressuscitar” esses escritores, na vã esperança de que alguém, algum dia, em algum lugar, dentro de uns cinqüenta anos, por exemplo, faça o mesmo comigo. Quem sabe?!
Uma das maiores decepções que tive, em tempos recentes, foi encontrar meu livro “Por uma nova utopia” em um sebo que visitei. Levei um choque! E eu que achava que aquilo que escrevi havia agradado os leitores! Afinal, esgotaram-se seis edições, o que, no Brasil, não deixa de ser uma façanha.
Fico me perguntando: quem não gostou do livro, a ponto de se desfazer tão rapidamente dele? O que o desagradou? Foram os temas de que tratei? Foi o estilo? Foram minhas conclusões? Sei lá! O fato é que o livro que escrevi com tanto empenho e paixão, com tanta garra e tanta esperança, estava lá, naquele sebo, vendido a preço irrisório, como sucata, papel velho ou sei lá o quê.
Claro que continuo esperançoso de vir a me constituir em exceção à regra. Claro que continuo me empenhando cada vez mais, lendo, estudando e escrevendo, escrevendo e escrevendo, incansável e compulsivamente, sonhando que meus textos me sobrevivam para sempre e atestem a meu favor junto à posteridade.
Sem nenhum laivo de pessimismo, porém, sei que as chances são pequenas, ínfimas, remotíssimas de que isso venha a ocorrer. Tanta gente melhor do que eu não conseguiu. Busco, porém, reunir qualidade à quantidade, para que, daqui a alguns anos, pelo menos uma simples e reles crônica das milhares que escrevi sobreviva ao tempo e ao esquecimento e ateste que existi, amei, odiei, sofri, fui feliz e, sobretudo, vivi.
Minha obra é como aquelas mensagens que as pessoas escrevem, colocam em uma garrafa e lançam ao mar. A probabilidade é que ela nunca chegue às mãos de ninguém, dada a vastidão do oceano. Mas há sempre remotíssima chance de que um dia alguém, em algum tempo, em algum lugar, provavelmente a milhares de quilômetros do local em que a tal garrafa foi jogada nas ondas, a encontre.
Morris West escreve o seguinte, a respeito, no romance “O Advogado do Diabo”: “A obra morre. Quantos homens Cristo curou? E quantos deles estão vivos hoje? A obra é uma expressão daquilo que um homem é, do que sente, daquilo em que acredita. Se dura, se se desenvolve, não é devido ao homem que a começou, mas porque outros homens pensam, sentem e crêem da mesma maneira”.
É esta a minha esperança. Esta é a confiança que teima em se manter presente, espicaçando-me a escrever, escrever, escrever e escrever, prolífica e compulsoriamente. Por isso é que tento entender as pessoas e estabelecer absoluta empatia com elas. Se vou conseguir fazer a mensagem na garrafa chegar às mãos da posteridade... jamais saberei! Seguirei tentando!
Thursday, August 28, 2008
REFLEXÃO DO DIA
Não raro, por causa do noticiário aterrador dos meios de comunicação, nos dando conta das mazelas do cotidiano, com seu desfile de desgraças, assassinatos, assaltos, injustiças, taras, vaidades exacerbadas, egoísmo e corrupção, nos sentimos tentados ao desânimo. Embora se trate de atitude normal, nos esquecemos de que esta geração vai passar e que, se prepararmos devidamente as próximas, esse quadro tem possibilidades de mudar. Ademais, em vez de desanimar, por que não pensar o que deve ser pensado? E mais: por que não fazer o que tem que ser feito? O peruano Eduardo Rada tratou com perícia do tema no poema “Realizador”. Após apontar as mazelas que nos assustam e angustiam, concluiu, com estes versos sensatos e otimistas: “Mas felizmente/ainda restam aqueles/que realizam o que pensam/e demonstram em sua prática/o que é possível ser pensado/ou melhor ainda:/o que é preciso ser feito”. Felizmente!!!
Sem parâmetros
Pedro J. Bondaczuk
O homem precisa de referenciais para se orientar, saber onde está e o que (e até quem) é. A mente humana trabalha por comparações. Sabe, por exemplo, que o Homo Sapiens (e acho essa designação arrogante em demasia para o que de fato somos) é racional porque, comparado com os outros seres viventes (animais ou vegetais) mostra aptidões e sinais de inteligência e consciência que estes não demonstram. É o que denominamos de parâmetro (embora a definição dessa palavra não seja rigorosamente essa, mesmo que o sentido o seja).
Vivemos comparando: tamanhos, formas, distâncias, pensamentos, sentimentos, ações, comportamentos etc. Quando chegamos a uma cidade estranha, por exemplo, temos que escolher, de imediato, um ponto de referência para nos orientar. Caso contrário, ficaremos perdidos e desorientados, sem sabermos onde estamos e para onde devemos ir.
Na vida, também é assim. Desenvolvemos o conceito do bem e do mal pela comparação dos resultados de ambos. Para desorientar alguma pessoa, por maior que seja seu senso de orientação, é muito fácil. Basta alterar-lhe os parâmetros, os referenciais com os quais está habituada.
Em casos extremos, esse indivíduo chega a desconhecer, até mesmo, quem é. Morris West propõe o seguinte raciocínio, em seu romance “A Salamandra”: “Conhecem a palavra parâmetro? Muitas pessoas a usam, mas poucas lhe compreendem o sentido ou a importância. O dicionário a define como “uma quantidade constante no caso considerado, mas variável em casos diferentes”. Vamos reconhecer que essa definição pouco ou nada significa. Mas vamos supor que uma noite se vá dormir e, ao acordar na manhã seguinte, não se veja mais a torre de igreja ou a árvore que estavam sempre emolduradas pela janela. Vamos supor que se abra a porta da cozinha e se encontre, em lugar dela, um jardim de rosas. As qualidades constantes da vida teriam desaparecido. A pessoa estaria perdida e diria: ‘Não sei onde estou’. Se as mudanças continuassem de dia para dia, a pessoa acabaria uma vítima da inconstância das coisas e diria: ‘Não sei quem sou’”.
E quais são os parâmetros de conduta que as pessoas adotam, por considerar esses “referenciais” modelos de sucesso dignos de imitação? São os heróis (posto que aqui o “heroísmo” nem sempre é o exemplar, quando se coloca nesse patamar sanguinários guerreiros, peritos na “arte de matar”), santos, sábios, poetas, cantores, músicos, atores de cinema e televisão, jogadores de futebol etc. Ou seja, há ídolos para todos os gostos e fantasias, de acordo com a cabeça de cada um. E esse não é um fenômeno recente. Sempre foi assim.
Na Grécia antiga, por exemplo, guerreiros ousados, que despertaram a imaginação de multidões, foram glorificados e, posteriormente, até deificados, compondo extenso panteão de deuses com características (notadamente defeitos) típicos dos humanos. A Igreja Católica conta com uma infinidade de santos em seu hagiário, que teriam se destacado pela humildade, fé, caridade e outras tantas virtudes, raras nas pessoas comuns.
Na Idade Média, cavaleiros andantes foram postos como parâmetros, por burgueses e camponeses, que sonhavam imitar suas aventuras – na verdade, parasitas, que viviam do trabalho alheio – quer na luta pela reconquista da cidade de Jerusalém, em poder dos mouros, quer nas “justas” disputadas entre eles, para demonstrar habilidades e coragem. Era a forma que conheciam de tentar dar sentido e grandeza às suas vidas medíocres, cinzentas, sofridas e não raro miseráveis. E isso no Ocidente. No mundo muçulmano, os parâmetros eram inversos dos ocidentais. Ou seja, eram seus próprios guerreiros, envolvidos em intermináveis “jihads” (guerras santas), cujos supostos feitos e peripécias, na conquista de territórios para o Islã, eram exaltados e mitificados.
Muitos desses heróis e santos não resistiriam, porém, a uma análise mais acurada de suas vidas e decantadas façanhas. Revelar-se-iam não serem lá tão dignos da veneração, que descambava para a idolatria, de que eram alvos por parte dos tolos e dos basbaques. A maioria é fruto de histórias quase sempre inventadas, de feitos e peripécias nunca acontecidos, ou aumentados e distorcidos pela imaginação popular, e que, por isso, se transformaram, rapidamente, em lendas, que ninguém até hoje ousa contestar.
Na atualidade, os parâmetros de conduta continuam tão frágeis ou mais do que em tempos mais remotos. Foram, é verdade, um tanto modificados, mas provavelmente para pior. Contudo, na essência, são muito parecidos com os da antiguidade. Os “heróis” que despertam, atualmente, a imaginação popular (notadamente da juventude) e fazem multidões delirarem à sua simples presença, não são mais os guerreiros, como há alguns séculos (até porque, as guerras atuais não são nada “heróicas”; são, cada vez mais, tecnológicas, e infinitamente mais letais, à base de mísseis arrasadores e certeiros, disparados de quilômetros de distância dos campos de batalha, até de um continente a outro). São atletas de várias modalidades desportivas, notadamente do futebol (mas não apenas dele)..
Os filósofos, poetas, historiadores etc. outrora mitificados, foram substituídos, no panteão contemporâneo, por atores e atrizes do cinema e da televisão; por cantores de rock, jazz ou qualquer outro ritmo exótico e de fácil absorção pelo público; por magérrimas e esquálidas modelos e por outras tantas “celebridades”, cuja glória, raramente, dura dez anos se tanto e que logo voltam ao ostracismo e à obscuridade de antes da fama, substituídos por outros ídolos, de igual natureza e duração.
Como se vê, são e sempre foram frágeis, fragílimos os nossos parâmetros de conduta. Nossos “ídolos”, por mais douradas que pareçam suas estampas, têm, quase todos, pés de barro. Esboroam-se à mais ligeira análise da sua conduta e dos seus feitos. Somos multidões (6,7 bilhões de pessoas), nos multiplicamos exponencialmente e caminhamos às tontas, com parcos e frágeis referenciais – que, longe de nos indicarem os caminhos mais adequados para o bem-estar e a felicidade, apenas nos despertam delirantes fantasias que se transformam, com o tempo, em inesgotáveis fontes de angústias e frustrações – rumo a um abismo sem fundo.. Pode-se dizer, portanto, que, virtualmente, não temos parâmetros com os quais nos comparar, dada a mesquinhez e a fragilidade dos que são considerados, quase que consensualmente, como tal.
O homem precisa de referenciais para se orientar, saber onde está e o que (e até quem) é. A mente humana trabalha por comparações. Sabe, por exemplo, que o Homo Sapiens (e acho essa designação arrogante em demasia para o que de fato somos) é racional porque, comparado com os outros seres viventes (animais ou vegetais) mostra aptidões e sinais de inteligência e consciência que estes não demonstram. É o que denominamos de parâmetro (embora a definição dessa palavra não seja rigorosamente essa, mesmo que o sentido o seja).
Vivemos comparando: tamanhos, formas, distâncias, pensamentos, sentimentos, ações, comportamentos etc. Quando chegamos a uma cidade estranha, por exemplo, temos que escolher, de imediato, um ponto de referência para nos orientar. Caso contrário, ficaremos perdidos e desorientados, sem sabermos onde estamos e para onde devemos ir.
Na vida, também é assim. Desenvolvemos o conceito do bem e do mal pela comparação dos resultados de ambos. Para desorientar alguma pessoa, por maior que seja seu senso de orientação, é muito fácil. Basta alterar-lhe os parâmetros, os referenciais com os quais está habituada.
Em casos extremos, esse indivíduo chega a desconhecer, até mesmo, quem é. Morris West propõe o seguinte raciocínio, em seu romance “A Salamandra”: “Conhecem a palavra parâmetro? Muitas pessoas a usam, mas poucas lhe compreendem o sentido ou a importância. O dicionário a define como “uma quantidade constante no caso considerado, mas variável em casos diferentes”. Vamos reconhecer que essa definição pouco ou nada significa. Mas vamos supor que uma noite se vá dormir e, ao acordar na manhã seguinte, não se veja mais a torre de igreja ou a árvore que estavam sempre emolduradas pela janela. Vamos supor que se abra a porta da cozinha e se encontre, em lugar dela, um jardim de rosas. As qualidades constantes da vida teriam desaparecido. A pessoa estaria perdida e diria: ‘Não sei onde estou’. Se as mudanças continuassem de dia para dia, a pessoa acabaria uma vítima da inconstância das coisas e diria: ‘Não sei quem sou’”.
E quais são os parâmetros de conduta que as pessoas adotam, por considerar esses “referenciais” modelos de sucesso dignos de imitação? São os heróis (posto que aqui o “heroísmo” nem sempre é o exemplar, quando se coloca nesse patamar sanguinários guerreiros, peritos na “arte de matar”), santos, sábios, poetas, cantores, músicos, atores de cinema e televisão, jogadores de futebol etc. Ou seja, há ídolos para todos os gostos e fantasias, de acordo com a cabeça de cada um. E esse não é um fenômeno recente. Sempre foi assim.
Na Grécia antiga, por exemplo, guerreiros ousados, que despertaram a imaginação de multidões, foram glorificados e, posteriormente, até deificados, compondo extenso panteão de deuses com características (notadamente defeitos) típicos dos humanos. A Igreja Católica conta com uma infinidade de santos em seu hagiário, que teriam se destacado pela humildade, fé, caridade e outras tantas virtudes, raras nas pessoas comuns.
Na Idade Média, cavaleiros andantes foram postos como parâmetros, por burgueses e camponeses, que sonhavam imitar suas aventuras – na verdade, parasitas, que viviam do trabalho alheio – quer na luta pela reconquista da cidade de Jerusalém, em poder dos mouros, quer nas “justas” disputadas entre eles, para demonstrar habilidades e coragem. Era a forma que conheciam de tentar dar sentido e grandeza às suas vidas medíocres, cinzentas, sofridas e não raro miseráveis. E isso no Ocidente. No mundo muçulmano, os parâmetros eram inversos dos ocidentais. Ou seja, eram seus próprios guerreiros, envolvidos em intermináveis “jihads” (guerras santas), cujos supostos feitos e peripécias, na conquista de territórios para o Islã, eram exaltados e mitificados.
Muitos desses heróis e santos não resistiriam, porém, a uma análise mais acurada de suas vidas e decantadas façanhas. Revelar-se-iam não serem lá tão dignos da veneração, que descambava para a idolatria, de que eram alvos por parte dos tolos e dos basbaques. A maioria é fruto de histórias quase sempre inventadas, de feitos e peripécias nunca acontecidos, ou aumentados e distorcidos pela imaginação popular, e que, por isso, se transformaram, rapidamente, em lendas, que ninguém até hoje ousa contestar.
Na atualidade, os parâmetros de conduta continuam tão frágeis ou mais do que em tempos mais remotos. Foram, é verdade, um tanto modificados, mas provavelmente para pior. Contudo, na essência, são muito parecidos com os da antiguidade. Os “heróis” que despertam, atualmente, a imaginação popular (notadamente da juventude) e fazem multidões delirarem à sua simples presença, não são mais os guerreiros, como há alguns séculos (até porque, as guerras atuais não são nada “heróicas”; são, cada vez mais, tecnológicas, e infinitamente mais letais, à base de mísseis arrasadores e certeiros, disparados de quilômetros de distância dos campos de batalha, até de um continente a outro). São atletas de várias modalidades desportivas, notadamente do futebol (mas não apenas dele)..
Os filósofos, poetas, historiadores etc. outrora mitificados, foram substituídos, no panteão contemporâneo, por atores e atrizes do cinema e da televisão; por cantores de rock, jazz ou qualquer outro ritmo exótico e de fácil absorção pelo público; por magérrimas e esquálidas modelos e por outras tantas “celebridades”, cuja glória, raramente, dura dez anos se tanto e que logo voltam ao ostracismo e à obscuridade de antes da fama, substituídos por outros ídolos, de igual natureza e duração.
Como se vê, são e sempre foram frágeis, fragílimos os nossos parâmetros de conduta. Nossos “ídolos”, por mais douradas que pareçam suas estampas, têm, quase todos, pés de barro. Esboroam-se à mais ligeira análise da sua conduta e dos seus feitos. Somos multidões (6,7 bilhões de pessoas), nos multiplicamos exponencialmente e caminhamos às tontas, com parcos e frágeis referenciais – que, longe de nos indicarem os caminhos mais adequados para o bem-estar e a felicidade, apenas nos despertam delirantes fantasias que se transformam, com o tempo, em inesgotáveis fontes de angústias e frustrações – rumo a um abismo sem fundo.. Pode-se dizer, portanto, que, virtualmente, não temos parâmetros com os quais nos comparar, dada a mesquinhez e a fragilidade dos que são considerados, quase que consensualmente, como tal.
Wednesday, August 27, 2008
REFLEXÃO DO DIA
Toda busca gera imensa carga de ansiedade, quer se busque uma verdade, um amor, uma amizade, uma profissão, um caminho para Deus etc. Não tarda para que esse sentimento se transforme em angústia, que nos causa intenso desassossego. Isso, porém, é normal e não deve nos preocupar, a menos que levemos a ansiedade ao extremo. Nesse caso, corremos sério risco, até, de contrairmos uma doença. Por mais certeza que tenhamos do caminho para encontrar o que buscamos, sempre haverá uma pontinha de dúvida: Vai dar certo? Estamos preparados para o desafio? Quais as alternativas de que dispomos? Reitero que, desde que não levados ao extremo, esses sentimentos são normais. Eduardo Pragmácio escreveu estes versos a respeito, no poema “Disfarce”: “A angústia/filha primogênita da dúvida/é um dos disfarces/da busca”. Saibamos, pois, administrá-la, com bom-senso e inteligência, para encontrar o que buscamos.
Cínicos e oportunistas
Pedro J. Bondaczuk
Os dois tipos de pessoas que mais abomino e que me causam maior irritação são os cínicos e os oportunistas. Ambos, via de regra, são preparados, esclarecidos e, portanto aptos a dar grandes contribuições à humanidade. Mas não dão. São omissos. Adoram a si próprios, como se fossem “divindades”, e não têm o menor escrúpulo em passar por cima de quem quer que seja, se isso for necessário para os seus propósitos. São chacais que se alimentam da vulnerabilidade alheia.
O tema me foi sugerido pela leitura do livro “A Estrada Sinuosa”, de Morris West, em que o escritor australiano se põe na pele de um jornalista e faz lúcidas observações a propósito, com as quais concordo plenamente, e que me proponho a analisar. Chamou-me a atenção, em especial, sua crítica (até que serena e ponderada) ao comportamento vicioso de determinados profissionais de imprensa, que conspurcam a profissão que abracei há já várias décadas, com o seu oportunismo calhorda.
Aliás, há tempos devo um testemunho a esse campeão de vendas no mundo todo e que, no entanto, sempre foi ignorado pelos críticos literários e considerado (injustamente) como um “escritor menor”. Como se o fato de esgotar edições e mais edições dos 26 romances que nos legou fosse um delito que o diminuísse, em vez de o engrandecer.
Morris West nasceu em Santa Kilda, no Estado australiano de Victoria, em 26 de abril de 1916. Foi, durante muitos anos, professor, mas em certa época da sua vida, sentiu vocação para a vida religiosa. Passou doze anos em um mosteiro, mas não chegou a se ordenar padre. Embora sem perder a fé, nunca concordou com certas práticas dos sacerdotes católicos, notadamente, com o celibato, que considerava inútil e desnecessário.
Passou a dedicar-se à literatura e não tardou para que esgotasse edição após edição dos seus romances. Tenho todos (absolutamente todos) os livros de Morris West, que li e reli (alguns, até cinco vezes) e anotei observações pertinentes e sábias, que raramente encontrei em obras de outros escritores. Como o público leitor não é tão tolo, como muitos julgam, transformou-se num campeão de vendas, em autêntica mina de ouro para os editores. Daí o meu pasmo com tratamento que os críticos literários sempre lhe deram. Tenho lá minhas dúvidas se eles sequer leram, de fato, o que esse talentosíssimo escritor escreveu.
Morris West teve morte “gloriosa” (que sonho ter igual). Ou seja, foi fulminado por um ataque cardíaco enquanto escrevia um dos capítulos da novela “The last confession”, que, claro, não chegou a concluir, baseada na vida de Giordano Bruno, vítima da Inquisição, que o condenou à morte por considerar suas lúcidas idéias como sendo heréticas. Morreu fazendo o que mais gostava.
Sobre o tema destas considerações, o escritor australiano escreveu: “Todas as profissões têm os seus cínicos e os seus oportunistas. Existem grandes cirurgiões com o poder de curar as mais graves doenças e que, apesar disso, preferem ganhar fortunas ao fazer operações plásticas em estrelas de Hollywood ou velhas ricas que estão sempre dispostas a tudo para recuperar algo da juventude perdida”.
Não se restringe, porém, aos profissionais da Medicina. Prossegue: “Há juizes que falseiam a justiça, padres que pervertem a Igreja”. E não há? Vemos isso, amiúde, por aí e não raro temos que nos calar, para não arranjarmos confusão. Oh, cínicos e oportunistas, que mal vocês fazem à sociedade e, sobretudo, à humanidade!
Mas o trecho, para mim, mais importante, é o que se refere à minha profissão. Morris West escreve: “Existem, infelizmente, muitos jornalistas que deturpam as suas verdadeiras funções por causa da política e do aumento da circulação do jornal”. Contudo, o escritor australiano é justo em suas ponderações. Fornece um álibi aos que “vendem” seu talento aos poderosos.
Pondera: “A maioria deles (jornalistas), porém, ainda acredita que a sua missão é apenas comunicar a verdade. Esses jornalistas não são os donos dos meios de informação e vêem-se obrigados a recorrer a estratagemas para conseguirem publicar a verdade. Não o podem fazer, por vezes, mas acreditam firmemente no direito de o público ser posto a par de toda a verdade. Acreditam... que a verdade tem a sua própria virtude, como uma seiva própria, e que matá-la é destruir uma fonte de vida e de progresso”. E não é o que os bons jornalistas acreditam? Claro que sim!
Morris West arremata suas lúcidas considerações com esta basilar constatação: “A tirania floresce na escuridão e a corrupção alimenta-se a portas fechadas. Se uma criança morre tuberculosa, ... a culpa é atribuída sempre ao fato de a verdade haver sido escondida ou de não ter sido revelada a tempo”.
Parodiando Cícero, nas célebres “Catilinárias”, só posso exclamar, farto dos sacanas e dos omissos: “Quo usque tandem abutere”, ó cínicos e oportunistas, “patientia nostra”? “Até quando vocês abusarão da nossa paciência”?!
Os dois tipos de pessoas que mais abomino e que me causam maior irritação são os cínicos e os oportunistas. Ambos, via de regra, são preparados, esclarecidos e, portanto aptos a dar grandes contribuições à humanidade. Mas não dão. São omissos. Adoram a si próprios, como se fossem “divindades”, e não têm o menor escrúpulo em passar por cima de quem quer que seja, se isso for necessário para os seus propósitos. São chacais que se alimentam da vulnerabilidade alheia.
O tema me foi sugerido pela leitura do livro “A Estrada Sinuosa”, de Morris West, em que o escritor australiano se põe na pele de um jornalista e faz lúcidas observações a propósito, com as quais concordo plenamente, e que me proponho a analisar. Chamou-me a atenção, em especial, sua crítica (até que serena e ponderada) ao comportamento vicioso de determinados profissionais de imprensa, que conspurcam a profissão que abracei há já várias décadas, com o seu oportunismo calhorda.
Aliás, há tempos devo um testemunho a esse campeão de vendas no mundo todo e que, no entanto, sempre foi ignorado pelos críticos literários e considerado (injustamente) como um “escritor menor”. Como se o fato de esgotar edições e mais edições dos 26 romances que nos legou fosse um delito que o diminuísse, em vez de o engrandecer.
Morris West nasceu em Santa Kilda, no Estado australiano de Victoria, em 26 de abril de 1916. Foi, durante muitos anos, professor, mas em certa época da sua vida, sentiu vocação para a vida religiosa. Passou doze anos em um mosteiro, mas não chegou a se ordenar padre. Embora sem perder a fé, nunca concordou com certas práticas dos sacerdotes católicos, notadamente, com o celibato, que considerava inútil e desnecessário.
Passou a dedicar-se à literatura e não tardou para que esgotasse edição após edição dos seus romances. Tenho todos (absolutamente todos) os livros de Morris West, que li e reli (alguns, até cinco vezes) e anotei observações pertinentes e sábias, que raramente encontrei em obras de outros escritores. Como o público leitor não é tão tolo, como muitos julgam, transformou-se num campeão de vendas, em autêntica mina de ouro para os editores. Daí o meu pasmo com tratamento que os críticos literários sempre lhe deram. Tenho lá minhas dúvidas se eles sequer leram, de fato, o que esse talentosíssimo escritor escreveu.
Morris West teve morte “gloriosa” (que sonho ter igual). Ou seja, foi fulminado por um ataque cardíaco enquanto escrevia um dos capítulos da novela “The last confession”, que, claro, não chegou a concluir, baseada na vida de Giordano Bruno, vítima da Inquisição, que o condenou à morte por considerar suas lúcidas idéias como sendo heréticas. Morreu fazendo o que mais gostava.
Sobre o tema destas considerações, o escritor australiano escreveu: “Todas as profissões têm os seus cínicos e os seus oportunistas. Existem grandes cirurgiões com o poder de curar as mais graves doenças e que, apesar disso, preferem ganhar fortunas ao fazer operações plásticas em estrelas de Hollywood ou velhas ricas que estão sempre dispostas a tudo para recuperar algo da juventude perdida”.
Não se restringe, porém, aos profissionais da Medicina. Prossegue: “Há juizes que falseiam a justiça, padres que pervertem a Igreja”. E não há? Vemos isso, amiúde, por aí e não raro temos que nos calar, para não arranjarmos confusão. Oh, cínicos e oportunistas, que mal vocês fazem à sociedade e, sobretudo, à humanidade!
Mas o trecho, para mim, mais importante, é o que se refere à minha profissão. Morris West escreve: “Existem, infelizmente, muitos jornalistas que deturpam as suas verdadeiras funções por causa da política e do aumento da circulação do jornal”. Contudo, o escritor australiano é justo em suas ponderações. Fornece um álibi aos que “vendem” seu talento aos poderosos.
Pondera: “A maioria deles (jornalistas), porém, ainda acredita que a sua missão é apenas comunicar a verdade. Esses jornalistas não são os donos dos meios de informação e vêem-se obrigados a recorrer a estratagemas para conseguirem publicar a verdade. Não o podem fazer, por vezes, mas acreditam firmemente no direito de o público ser posto a par de toda a verdade. Acreditam... que a verdade tem a sua própria virtude, como uma seiva própria, e que matá-la é destruir uma fonte de vida e de progresso”. E não é o que os bons jornalistas acreditam? Claro que sim!
Morris West arremata suas lúcidas considerações com esta basilar constatação: “A tirania floresce na escuridão e a corrupção alimenta-se a portas fechadas. Se uma criança morre tuberculosa, ... a culpa é atribuída sempre ao fato de a verdade haver sido escondida ou de não ter sido revelada a tempo”.
Parodiando Cícero, nas célebres “Catilinárias”, só posso exclamar, farto dos sacanas e dos omissos: “Quo usque tandem abutere”, ó cínicos e oportunistas, “patientia nostra”? “Até quando vocês abusarão da nossa paciência”?!
Tuesday, August 26, 2008
REFLEXÃO DO DIA
Há como se recuperar de um grande fracasso, desses imensos que nos tornam, aos olhos do mundo, irremediavelmente derrotados? Há como absorver grandes perdas pessoais, de parentes, amigos e da pessoa amada? Há como recuperar o tempo perdido e, em idade relativamente avançada, fazer o que não se fez na juventude, estudar, cursar universidade e adquirir profissão que dê prestígio e, sobretudo, prazer? A resposta para todas essas questões é sim!!! Muitos e muitos já fizeram isso e com sucesso. Claro que isso exige perseverança, fé, autodisciplina e coragem para recomeçar. Enquanto há vida, sempre há esperança de um “renascimento” da alma. O poeta equatoriano Eduardo Mora-Anda aborda a questão de forma lírica, nestes versos do poema “Salmos do mar”: “Brotem, perfil de fé, novas palavras!/Voe o jovem falcão sobre o alto monte!/Sobre o sereno azul abro os meus braços./Minha alma na amplidão de luz renasce”
Doença terminológica
Pedro J. Bondaczuk
As palavras, como as pessoas, têm um ciclo vital definido: nascem, crescem e morrem. Ao contrário dos seus criadores, porém, nunca são sepultadas. Permanecem, como “fantasmas”, nos dicionários, aumentando apenas o seu volume, sem qualquer utilidade ou uso. São, o que os gramáticos convencionaram chamar, “arcaísmos”.
Qualquer pessoa pode criar palavras novas e tentar incorporá-las ao acervo do idioma do seu país. Algumas dessas criações, contudo, mal chegam a nascer e logo morrem, porque não “pegam”. Ou seja, apenas seu “inventor” (e a história nunca registra quem foi) as utiliza e, dessa forma, o novo termo não se sustenta e logo desaparece.
Outras, porém, chegam a virar modismos e não tardam a conseguir acesso aos mais atualizados e consultados dicionários onde, não raro, obtêm até destaque. Os gramáticos até chegaram a estabelecer uma regra (que não vejo ninguém utilizar) para distinguir um neologismo de uma palavra antiga, porém desconhecida da maioria.
Recomendam que este venha “sempre” grafado entre aspas. Sou contrário à criação de novas palavras (salvo comprovada necessidade), embora admita que o idioma seja dinâmico e esteja sempre se renovando. Oponho-me, por exemplo, a essa infinidade de jargões existentes tanto em teoria das comunicações quanto nos vários novos ramos de ciência que surgem a todo o momento (como a informática, por exemplo, que vem acompanhada de imenso séqüito de neologismos de enlouquecer qualquer estudioso do idioma).
Defendo a utilização correta das palavras que já existem. Vou mais longe: sou a favor que sejam utilizadas, sempre, aquelas mais conhecidas pela população (diria que são umas duas mil, se tanto). Escrever é um ato de comunicação, e mais complexo do que pode parecer aos desavisados.
Mas para nos comunicarmos bem, temos, sobretudo, que ser entendidos por “todos”. Se alguém não entender alguma coisa que escrevemos, por causa de uma eventual mania de esbanjar erudição (e muitos o fazem mesmo não sendo eruditos), fracassamos rotundamente em nosso texto, por mais sonoro e bem-arranjado que ele nos pareça.
Roman Jakobson, um dos maiores comunicadores do século passado (bastante estudado nos cursos de Jornalismo), escreveu a respeito: “Os termos novos são, muitas vezes, a doença infantil de uma nova ciência ou de um ramo novo de uma ciência. Prefiro evitar hoje termos novos em excesso. Quando discutíamos problemas fonológicos na década de 1920, eu próprio introduzi muitos neologismos e depois, por acaso, livrei-me dessa doença terminológica”. Nem todos, no entanto, se livram dessa tola compulsão. Infelizmente!
Por exemplo, que a Filosofia é a “mãe” de todas as ciências, disso não há a menor dúvida. O próprio significado da palavra, “estudo da vida”, indica isso. Originou-se da curiosidade do homem primitivo, ávido em saber quem era, onde estava e para onde iria. Aliás, estas três questões, ainda hoje, em pleno Século XXI, não foram respondidas de forma cabal, de sorte a não gerarem a mínima dúvida.
No princípio, a Filosofia era simples, acessível a todas as pessoas dos vários clãs e não tinha “donos”. Até que alguns espertalhões se apropriaram dela e complicaram tudo. Criaram uma série de mirabolantes teorias, que se conflitavam umas com as outras; incorporaram jargões inteligíveis apenas para uma minoria de “iniciados” e a “mãe de todas as ciências” deixou de ser popular. Afinal, ser “filósofo” conferia (e ainda confere, na verdade) status.
E nos dias de hoje, ela se complica, mais e mais, e com isso, perde sua função prática. Como me pode ser útil aquilo que não entendo? Não pode! Fernando Pessoa resume em três palavras o que deveria se constituir na verdadeira Filosofia: trabalho, esperança e amor (no sentido lato do termo).
Escreve, a propósito: “Trabalhar com nobreza, esperar com sinceridade e enternecer-se com o homem: esta é a verdadeira Filosofia”. Esta, pelo menos, foi a origem da “mãe” de todas as ciências. O resto... são quinquilharias que podem, perfeitamente, ser descartadas, sem que façam falta a quem quer que seja. Comunicadores de todos os tipos: que tal nos livrarmos dessa tola e desnecessária “doença terminológica”?! Afinal, comunicar sempre foi, é e será se fazer entendido. Ou estou equivocado?
As palavras, como as pessoas, têm um ciclo vital definido: nascem, crescem e morrem. Ao contrário dos seus criadores, porém, nunca são sepultadas. Permanecem, como “fantasmas”, nos dicionários, aumentando apenas o seu volume, sem qualquer utilidade ou uso. São, o que os gramáticos convencionaram chamar, “arcaísmos”.
Qualquer pessoa pode criar palavras novas e tentar incorporá-las ao acervo do idioma do seu país. Algumas dessas criações, contudo, mal chegam a nascer e logo morrem, porque não “pegam”. Ou seja, apenas seu “inventor” (e a história nunca registra quem foi) as utiliza e, dessa forma, o novo termo não se sustenta e logo desaparece.
Outras, porém, chegam a virar modismos e não tardam a conseguir acesso aos mais atualizados e consultados dicionários onde, não raro, obtêm até destaque. Os gramáticos até chegaram a estabelecer uma regra (que não vejo ninguém utilizar) para distinguir um neologismo de uma palavra antiga, porém desconhecida da maioria.
Recomendam que este venha “sempre” grafado entre aspas. Sou contrário à criação de novas palavras (salvo comprovada necessidade), embora admita que o idioma seja dinâmico e esteja sempre se renovando. Oponho-me, por exemplo, a essa infinidade de jargões existentes tanto em teoria das comunicações quanto nos vários novos ramos de ciência que surgem a todo o momento (como a informática, por exemplo, que vem acompanhada de imenso séqüito de neologismos de enlouquecer qualquer estudioso do idioma).
Defendo a utilização correta das palavras que já existem. Vou mais longe: sou a favor que sejam utilizadas, sempre, aquelas mais conhecidas pela população (diria que são umas duas mil, se tanto). Escrever é um ato de comunicação, e mais complexo do que pode parecer aos desavisados.
Mas para nos comunicarmos bem, temos, sobretudo, que ser entendidos por “todos”. Se alguém não entender alguma coisa que escrevemos, por causa de uma eventual mania de esbanjar erudição (e muitos o fazem mesmo não sendo eruditos), fracassamos rotundamente em nosso texto, por mais sonoro e bem-arranjado que ele nos pareça.
Roman Jakobson, um dos maiores comunicadores do século passado (bastante estudado nos cursos de Jornalismo), escreveu a respeito: “Os termos novos são, muitas vezes, a doença infantil de uma nova ciência ou de um ramo novo de uma ciência. Prefiro evitar hoje termos novos em excesso. Quando discutíamos problemas fonológicos na década de 1920, eu próprio introduzi muitos neologismos e depois, por acaso, livrei-me dessa doença terminológica”. Nem todos, no entanto, se livram dessa tola compulsão. Infelizmente!
Por exemplo, que a Filosofia é a “mãe” de todas as ciências, disso não há a menor dúvida. O próprio significado da palavra, “estudo da vida”, indica isso. Originou-se da curiosidade do homem primitivo, ávido em saber quem era, onde estava e para onde iria. Aliás, estas três questões, ainda hoje, em pleno Século XXI, não foram respondidas de forma cabal, de sorte a não gerarem a mínima dúvida.
No princípio, a Filosofia era simples, acessível a todas as pessoas dos vários clãs e não tinha “donos”. Até que alguns espertalhões se apropriaram dela e complicaram tudo. Criaram uma série de mirabolantes teorias, que se conflitavam umas com as outras; incorporaram jargões inteligíveis apenas para uma minoria de “iniciados” e a “mãe de todas as ciências” deixou de ser popular. Afinal, ser “filósofo” conferia (e ainda confere, na verdade) status.
E nos dias de hoje, ela se complica, mais e mais, e com isso, perde sua função prática. Como me pode ser útil aquilo que não entendo? Não pode! Fernando Pessoa resume em três palavras o que deveria se constituir na verdadeira Filosofia: trabalho, esperança e amor (no sentido lato do termo).
Escreve, a propósito: “Trabalhar com nobreza, esperar com sinceridade e enternecer-se com o homem: esta é a verdadeira Filosofia”. Esta, pelo menos, foi a origem da “mãe” de todas as ciências. O resto... são quinquilharias que podem, perfeitamente, ser descartadas, sem que façam falta a quem quer que seja. Comunicadores de todos os tipos: que tal nos livrarmos dessa tola e desnecessária “doença terminológica”?! Afinal, comunicar sempre foi, é e será se fazer entendido. Ou estou equivocado?
Monday, August 25, 2008
REFLEXÃO DO DIA
Três coisas são sumamente destrutivas do nosso organismo e, por conseqüência, causadoras de doenças: tristeza, desregramento no comer e no beber e fadiga, física e mental, que se convencionou chamar de “estresse”. Evitando esses comportamentos nocivos, as probabilidades de nos mantermos saudáveis e produtivos são de quase cem por cento. São medidas preventivas simples, mas que, via de regra, deixamos de adotar, na ilusão de que as coisas ruins só acontecem aos outros. Julgamo-nos invulneráveis, poderosos, indestrutíveis. Vã ilusão! Somos feitos de carne e osso e nossa constituição orgânica é mais frágil do que ousamos admitir. O preço que pagamos por tamanha insensatez é proibitivo, principalmente em termos de sofrimentos (evitáveis). O poeta inglês Henry Wadsworth Longfellow resumiu a questão dessa maneira simples, direta e objetiva: “Alegria, temperança e repouso fecham a porta ao médico”. Fecham mesmo!
Julgamento do corpo
Pedro J. Bondaczuk
As pessoas excessivamente racionais dão valor exagerado ao cérebro. Confiam, exclusivamente, no seu julgamento, no que diz respeito ao que lhes seja adequado ou inadequado, benigno ou nocivo, prazeroso ou atroz, em detrimento das indicações dadas pelo corpo a propósito. Isso não quer dizer que devamos desprezar liminarmente o que a mente nos indique. Longe disso!
Claro que o cérebro é importante (indispensável) para comandar nossa vida em todos os sentidos. Se não tivesse importância, a natureza não nos dotaria desse magnífico painel de controle. É dele que partem todas as “ordens” para cada órgão do nosso corpo, para que funcionem desta ou daquela maneira. Tanto que a Medicina, para efeito de transplante, considera que uma pessoa só pode ser declarada morta quando o cérebro pára de funcionar, mesmo que o coração continue pulsando.
Mas há quem acredite na “mortificação”, no flagelo orgânico, no sofrimento físico como forma de concentração, com o objetivo de chegar às grandes verdades do universo. Entendem, por exemplo, que a fome é mais benigna do que a saciedade quando se dispõem a meditar. O que ocorre é exatamente o contrário.
Quanto mais o corpo estiver satisfeito e relaxado, melhor a mente poderá trabalhar. A dor, por exemplo, mobiliza toda a energia orgânica no sentido de ser debelada. Qualquer tentativa de concentração, nessas circunstâncias, se vê seriamente comprometida, quando não impossibilitada. A pessoa delira, em vez de meditar.
Tanto que nenhum ermitão, desses que amiúde se isolam em desertos ou em remotas cavernas de difícil acesso, com dietas famélicas, à base de mel e gafanhotos (se tanto), jamais legou qualquer obra – quer de arte quer de filosofia ou ciência – à posteridade. Essas pessoas buscam isolamento total a pretexto de desvendarem as verdades essenciais da vida e do universo. Se conseguem ou não a façanha, é impossível de se saber. Atrevo-me a afirmar que nunca tiveram (e nem terão) êxito. Pelo menos não há nenhum registro, a mínima indicação que comprove seu suposto sucesso. Albert Camus escreveu, certa feita, que “o julgamento do corpo é tão bom como o da mente”. Às vezes é até melhor.
Corpo e mente têm que andar sempre juntos se pretendermos trilhar o caminho que nos conduza à sabedoria. Ambos precisam estar rigorosamente saudáveis e, sobretudo, confortáveis. O sofrimento não combina com as aspirações do sábio. Induz, somente, o sofredor a enxergar a vida de forma equivocada, distorcida, errada e finda por abreviá-la. O asceta é um suicida potencial.
Já que toquei no assunto, uma pergunta se impõe nestas reflexões: a sabedoria é inata, como a inteligência, ou adquirida, como a cultura? Creio que a resposta óbvia é a segunda alternativa. Ou seja, ninguém nasce sábio, mas pode se tornar um, com esforço, dedicação e persistência. E existe algum caminho para se atingir essa tão desejável condição? Sim, existe, e não somente um.
Concordo com Confúcio (e nem poderia ser diferente, não é mesmo?), que aponta três formas de se adquirir sabedoria. Contudo, como tudo na vida, sempre há um caminho que é mais fácil, confortável e seguro, e outro que é complicado, penoso e cheio de acidentes. A tendência humana, via de regra, é a de sempre optar pelo que é mais difícil. Muitos judiam do corpo e tratam-no como maldição, e não como o que ele de fato é. Ou seja, o invólucro do espírito e o veículo físico que lhe possibilita conhecer tudo o que nos cerca, através das impressões transmitidas pelos cinco sentidos.
Somente o ver, ouvir, cheirar, degustar e apalpar nos fazem saber como as coisas de fato são. Nunca entendi, por exemplo, a atitude dos antigos monges, que se valiam do cilício para torturar a carne e a fazer expiar pecados que sequer cometeram, para alcançar a santidade. Pecadores, impenitentes, é o que, na verdade, eram!
Deus, certamente, nunca exigiu sofrimentos de ninguém. Pensar que isso fosse do Seu agrado é, para mim, imperdoável heresia. Pelo contrário... O Criador programou-nos para o usufruto de infinitas satisfações. Ademais, o máximo de sabedoria está no gozo pleno, do corpo e da mente, de tudo o que de bom o mundo possa nos proporcionar. Sofrimento? Estou fora!
Confúcio, quando indagado por seus discípulos a propósito dos caminhos para se obter sabedoria, respondeu: “Há três métodos: primeiro, por reflexão, que é o mais nobre; segundo, por imitação, que é o mais fácil; e terceiro, por experiência, que é o mais amargo”. Nos três, o “julgamento” do corpo é tão importante quanto o do cérebro. Meu organismo indica que o primeiro caminho para a sabedoria, além de ser o mais nobre, é o que causa menos (ou nenhum) desgaste físico. É, pois, o que busco seguir, e o que recomendo, sem titubear, aos que, eventualmente, me inquiram a respeito.
As pessoas excessivamente racionais dão valor exagerado ao cérebro. Confiam, exclusivamente, no seu julgamento, no que diz respeito ao que lhes seja adequado ou inadequado, benigno ou nocivo, prazeroso ou atroz, em detrimento das indicações dadas pelo corpo a propósito. Isso não quer dizer que devamos desprezar liminarmente o que a mente nos indique. Longe disso!
Claro que o cérebro é importante (indispensável) para comandar nossa vida em todos os sentidos. Se não tivesse importância, a natureza não nos dotaria desse magnífico painel de controle. É dele que partem todas as “ordens” para cada órgão do nosso corpo, para que funcionem desta ou daquela maneira. Tanto que a Medicina, para efeito de transplante, considera que uma pessoa só pode ser declarada morta quando o cérebro pára de funcionar, mesmo que o coração continue pulsando.
Mas há quem acredite na “mortificação”, no flagelo orgânico, no sofrimento físico como forma de concentração, com o objetivo de chegar às grandes verdades do universo. Entendem, por exemplo, que a fome é mais benigna do que a saciedade quando se dispõem a meditar. O que ocorre é exatamente o contrário.
Quanto mais o corpo estiver satisfeito e relaxado, melhor a mente poderá trabalhar. A dor, por exemplo, mobiliza toda a energia orgânica no sentido de ser debelada. Qualquer tentativa de concentração, nessas circunstâncias, se vê seriamente comprometida, quando não impossibilitada. A pessoa delira, em vez de meditar.
Tanto que nenhum ermitão, desses que amiúde se isolam em desertos ou em remotas cavernas de difícil acesso, com dietas famélicas, à base de mel e gafanhotos (se tanto), jamais legou qualquer obra – quer de arte quer de filosofia ou ciência – à posteridade. Essas pessoas buscam isolamento total a pretexto de desvendarem as verdades essenciais da vida e do universo. Se conseguem ou não a façanha, é impossível de se saber. Atrevo-me a afirmar que nunca tiveram (e nem terão) êxito. Pelo menos não há nenhum registro, a mínima indicação que comprove seu suposto sucesso. Albert Camus escreveu, certa feita, que “o julgamento do corpo é tão bom como o da mente”. Às vezes é até melhor.
Corpo e mente têm que andar sempre juntos se pretendermos trilhar o caminho que nos conduza à sabedoria. Ambos precisam estar rigorosamente saudáveis e, sobretudo, confortáveis. O sofrimento não combina com as aspirações do sábio. Induz, somente, o sofredor a enxergar a vida de forma equivocada, distorcida, errada e finda por abreviá-la. O asceta é um suicida potencial.
Já que toquei no assunto, uma pergunta se impõe nestas reflexões: a sabedoria é inata, como a inteligência, ou adquirida, como a cultura? Creio que a resposta óbvia é a segunda alternativa. Ou seja, ninguém nasce sábio, mas pode se tornar um, com esforço, dedicação e persistência. E existe algum caminho para se atingir essa tão desejável condição? Sim, existe, e não somente um.
Concordo com Confúcio (e nem poderia ser diferente, não é mesmo?), que aponta três formas de se adquirir sabedoria. Contudo, como tudo na vida, sempre há um caminho que é mais fácil, confortável e seguro, e outro que é complicado, penoso e cheio de acidentes. A tendência humana, via de regra, é a de sempre optar pelo que é mais difícil. Muitos judiam do corpo e tratam-no como maldição, e não como o que ele de fato é. Ou seja, o invólucro do espírito e o veículo físico que lhe possibilita conhecer tudo o que nos cerca, através das impressões transmitidas pelos cinco sentidos.
Somente o ver, ouvir, cheirar, degustar e apalpar nos fazem saber como as coisas de fato são. Nunca entendi, por exemplo, a atitude dos antigos monges, que se valiam do cilício para torturar a carne e a fazer expiar pecados que sequer cometeram, para alcançar a santidade. Pecadores, impenitentes, é o que, na verdade, eram!
Deus, certamente, nunca exigiu sofrimentos de ninguém. Pensar que isso fosse do Seu agrado é, para mim, imperdoável heresia. Pelo contrário... O Criador programou-nos para o usufruto de infinitas satisfações. Ademais, o máximo de sabedoria está no gozo pleno, do corpo e da mente, de tudo o que de bom o mundo possa nos proporcionar. Sofrimento? Estou fora!
Confúcio, quando indagado por seus discípulos a propósito dos caminhos para se obter sabedoria, respondeu: “Há três métodos: primeiro, por reflexão, que é o mais nobre; segundo, por imitação, que é o mais fácil; e terceiro, por experiência, que é o mais amargo”. Nos três, o “julgamento” do corpo é tão importante quanto o do cérebro. Meu organismo indica que o primeiro caminho para a sabedoria, além de ser o mais nobre, é o que causa menos (ou nenhum) desgaste físico. É, pois, o que busco seguir, e o que recomendo, sem titubear, aos que, eventualmente, me inquiram a respeito.
Sunday, August 24, 2008
REFLEXÃO DO DIA
Pitoresca (e com inegável fundo de verdade) é a observação do escritor francês, Hippolyte Adolphe Taine, num de seus ensaios, sobre os principais tipos de pessoas que compõem as sociedades. Claro que elas não se resumem, apenas, às modalidades que apontou. Taine escreveu: “A sociedade tem quatro variedades: os amantes, os ambiciosos, os observadores e os loucos. Estes são os mais felizes”. Observe-se que a loucura a que se referiu é metafórica, não real. Os loucos, que Taine afirma serem mais felizes, não são, óbvio, os doentes mentais, mas os que aos olhos do mundo parecem viver fora da realidade. São os que encaram a vida com alegria e ternura, que não se preocupam com bens materiais, que sabem manter o bom-humor nas circunstâncias mais desesperadoras e só vêem beleza ao redor. Ou seja, são os que sabem viver. É dessa sublime loucura que quero ser tomado, para saborear o cálice da vida até a derradeira gota.
DIRETO DO ARQUIVO
Paulistanos dão crédito à Nova República
Pedro J. Bondaczuk
A população brasileira, aos poucos, vai recuperando o seu otimismo e passando a acreditar na possibilidade da superação da nossa demorada, desgastante e sumamente perigosa crise econômica. Aqui e ali percebem-se sinais positivos de que os tempos da “vacas magras” estão próximos do fim.
Uma pesquisa, realizada pela empresa Rhodia S/A, e divulgada no dia 31 passado, reflete esses novos tempos. Ela foi levada a efeito na zona metropolitana de São Paulo e seus resultados mostram que o paulistano, tido e havido como incorrigível pessimista, tem promissoras expectativas para 1986. Principalmente quanto ao desemprego, em cuja queda está apostando. E, por conseqüência, na melhoria de seus ganhos.
A consulta foi feita mediante entrevista de 450 pessoas, de ambos os sexos e de diversas faixas etárias e de renda. Quase metade dos consultados, 46% deles, afirmam que a seu ver a situação brasileira neste ano é muito melhor, 49% dizem que a sua posição individual progrediu bastante e previram novas evoluções daqui por diante. Em 1984, esses resultados foram de 19% e 29%, respectivamente. Não há que negar, portanto, que o brasileiro está mais otimista.
Alguns resultados do desempenho econômico dos primeiros 180 dias do corrente ano justificam esse crédito de confiança dado pela população às autoridades da Nova República. Os lucros no comércio aumentaram em 10% no período, reativando, posto que ainda debilmente, o nível de emprego em alguns setores e fazendo com que o País comece a despertar de uma prolongada letargia, ditada pela “estagflação” que tomou conta da nossa economia, especialmente de 1981 para cá.
Isso não quer dizer, entretanto, que todas as nossas atribulações desapareceram, como que por encanto. O governo está realizando demoradas e perigosas negociações para reparcelar a exorbitante dívida externa brasileira e jogando um braço-de-ferro decisivo com o nosso avalista junto aos credores, o Fundo Monetário Internacional, que deseja que o déficit público nacional seja simplesmente extinto e não apenas diminuído.
Para tanto, exige novos e mais profundos cortes nos investimentos das estatais que, se realizados, comprometerão a ousada meta do presidente José Sarney de conseguir um crescimento econômico anual de 5 a 6% no Produto Interno Bruto.
A tática das autoridades da área econômica, visivelmente, é a de protelamento de qualquer acordo, visando a ganhar tempo e demonstrar o acerto da nova política que vem sendo implantada. Se os resultados no final do ano forem os que todos esperam, a sociedade poderá, aí sim, respirar um pouco mais aliviada em 1986, e o otimismo demonstrado pelos paulistanos, poderá ter plena justificativa.
Porém, caso as coisas não corram da melhor maneira, e a nossa performance econômica se revele decepcionante, o que virá depois será um período de austeridade tão grande como raramente se viu. Será para endoidar qualquer um. A pesquisa da Rhodia veio num momento bastante oportuno, poucos dias depois da fala do presidente José Sarney à Nação, na qual o condutor da Nova República esclareceu que não tem qualquer vocação para ser um mero “síndico da catástrofe”.
E revelou sua enorme confiança na força, na criatividade e no trabalho de todos os brasileiros para a grande virada, para a retomada plena do nosso desenvolvimento, sem falsas expectativas triunfalistas, mas também sem histéricos pessimismos. E essa, certamente, foi a resposta popular mais eloqüente à convocação presidencial.
É certo que ainda estamos muito distantes da situação ideal. Mas os dados positivos, divulgados recentemente, dão conta de que a sociedade está respondendo concretamente, com atos e com mais produção, ao esforço das autoridades. A balança comercial, que começou o ano com sintomas de queda, reagiu e caminha para fechar dezembro com um saldo favorável muito parecido com o do ano passado, se prevendo que atinja pouco mais de US$ 12 bilhões.
O mercado interno está mais ativo e as empresas já começam mesmo a falar em novos investimentos (coisa com a qual já tínhamos nos desacostumado), tendentes à geração de muitos outros empregos. E a inflação foi contida em sua sanha de voracidade. Tudo leva a crer, portanto, que a “sinistrose” que atacou o País está em franca regressão. Agora, o que temos que fazer é trabalhar. Trabalhar e confiar, pois só com muito trabalho, com muita responsabilidade e com muita confiança conseguiremos construir esse Brasil melhor que estamos devendo para os nossos filhos.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 4 de agosto de 1985).
Pedro J. Bondaczuk
A população brasileira, aos poucos, vai recuperando o seu otimismo e passando a acreditar na possibilidade da superação da nossa demorada, desgastante e sumamente perigosa crise econômica. Aqui e ali percebem-se sinais positivos de que os tempos da “vacas magras” estão próximos do fim.
Uma pesquisa, realizada pela empresa Rhodia S/A, e divulgada no dia 31 passado, reflete esses novos tempos. Ela foi levada a efeito na zona metropolitana de São Paulo e seus resultados mostram que o paulistano, tido e havido como incorrigível pessimista, tem promissoras expectativas para 1986. Principalmente quanto ao desemprego, em cuja queda está apostando. E, por conseqüência, na melhoria de seus ganhos.
A consulta foi feita mediante entrevista de 450 pessoas, de ambos os sexos e de diversas faixas etárias e de renda. Quase metade dos consultados, 46% deles, afirmam que a seu ver a situação brasileira neste ano é muito melhor, 49% dizem que a sua posição individual progrediu bastante e previram novas evoluções daqui por diante. Em 1984, esses resultados foram de 19% e 29%, respectivamente. Não há que negar, portanto, que o brasileiro está mais otimista.
Alguns resultados do desempenho econômico dos primeiros 180 dias do corrente ano justificam esse crédito de confiança dado pela população às autoridades da Nova República. Os lucros no comércio aumentaram em 10% no período, reativando, posto que ainda debilmente, o nível de emprego em alguns setores e fazendo com que o País comece a despertar de uma prolongada letargia, ditada pela “estagflação” que tomou conta da nossa economia, especialmente de 1981 para cá.
Isso não quer dizer, entretanto, que todas as nossas atribulações desapareceram, como que por encanto. O governo está realizando demoradas e perigosas negociações para reparcelar a exorbitante dívida externa brasileira e jogando um braço-de-ferro decisivo com o nosso avalista junto aos credores, o Fundo Monetário Internacional, que deseja que o déficit público nacional seja simplesmente extinto e não apenas diminuído.
Para tanto, exige novos e mais profundos cortes nos investimentos das estatais que, se realizados, comprometerão a ousada meta do presidente José Sarney de conseguir um crescimento econômico anual de 5 a 6% no Produto Interno Bruto.
A tática das autoridades da área econômica, visivelmente, é a de protelamento de qualquer acordo, visando a ganhar tempo e demonstrar o acerto da nova política que vem sendo implantada. Se os resultados no final do ano forem os que todos esperam, a sociedade poderá, aí sim, respirar um pouco mais aliviada em 1986, e o otimismo demonstrado pelos paulistanos, poderá ter plena justificativa.
Porém, caso as coisas não corram da melhor maneira, e a nossa performance econômica se revele decepcionante, o que virá depois será um período de austeridade tão grande como raramente se viu. Será para endoidar qualquer um. A pesquisa da Rhodia veio num momento bastante oportuno, poucos dias depois da fala do presidente José Sarney à Nação, na qual o condutor da Nova República esclareceu que não tem qualquer vocação para ser um mero “síndico da catástrofe”.
E revelou sua enorme confiança na força, na criatividade e no trabalho de todos os brasileiros para a grande virada, para a retomada plena do nosso desenvolvimento, sem falsas expectativas triunfalistas, mas também sem histéricos pessimismos. E essa, certamente, foi a resposta popular mais eloqüente à convocação presidencial.
É certo que ainda estamos muito distantes da situação ideal. Mas os dados positivos, divulgados recentemente, dão conta de que a sociedade está respondendo concretamente, com atos e com mais produção, ao esforço das autoridades. A balança comercial, que começou o ano com sintomas de queda, reagiu e caminha para fechar dezembro com um saldo favorável muito parecido com o do ano passado, se prevendo que atinja pouco mais de US$ 12 bilhões.
O mercado interno está mais ativo e as empresas já começam mesmo a falar em novos investimentos (coisa com a qual já tínhamos nos desacostumado), tendentes à geração de muitos outros empregos. E a inflação foi contida em sua sanha de voracidade. Tudo leva a crer, portanto, que a “sinistrose” que atacou o País está em franca regressão. Agora, o que temos que fazer é trabalhar. Trabalhar e confiar, pois só com muito trabalho, com muita responsabilidade e com muita confiança conseguiremos construir esse Brasil melhor que estamos devendo para os nossos filhos.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 4 de agosto de 1985).
Saturday, August 23, 2008
REFLEXÃO DO DIA
O tempo transcorre de forma sempre igual, no mesmo e inexorável ritmo, de forma imutável, sem a mínima alteração eternidade afora, embora seu transcurso seja percebido de maneiras muito diferentes, pelas mais diversas pessoas, conforme suas circunstâncias e expectativas. Para uns, parece passar rápido demais, como se os relógios que o marcam houvessem enlouquecido, com cada hora parecendo ter a duração de reles minuto. Para outros, pelo contrário, parece se arrastar, modorrento e longo, de maneira interminável, com cada dia parecendo durar uma semana. William Shakespeare fez essa constatação inteligente, que pôs na boca de um dos seus personagens na peça “Sonhos de uma noite de verão”: “O tempo é muito lento para os que esperam, muito rápido para os que têm medo; muito longo para os que lamentam, muito curto para os que festejam. Mas, para os que amam, o tempo é ilimitado”. E não é o que parece?!
Soneto à doce amada - X
Pedro J. Bondaczuk
Canta a natureza em festa. Escuta,
doce amada, doce inspiração!
Mágica sinfonia executa,
em êxtase e em adoração.
Os gemidos plangentes do vento,
dão ritmo à selvagem canção.
Vozes, muitas vozes em lamento
acentuam rústica emoção.
Toda natureza manifesta,
numa áspera, estranha seresta,
despida de qualquer harmonia,
mas com original melodia,
justo louvor à sua beleza,
doce amada, encantada princesa.
(Soneto composto em São Caetano do Sul, em 17 de dezembro de 1963).
Canta a natureza em festa. Escuta,
doce amada, doce inspiração!
Mágica sinfonia executa,
em êxtase e em adoração.
Os gemidos plangentes do vento,
dão ritmo à selvagem canção.
Vozes, muitas vozes em lamento
acentuam rústica emoção.
Toda natureza manifesta,
numa áspera, estranha seresta,
despida de qualquer harmonia,
mas com original melodia,
justo louvor à sua beleza,
doce amada, encantada princesa.
(Soneto composto em São Caetano do Sul, em 17 de dezembro de 1963).
Friday, August 22, 2008
REFLEXÃO DO DIA
Há os que pensam que generosidade é apenas doar de suas posses às pessoas que nada têm. Claro que se trata de ato meritório, digno de imitação. Qualquer tipo de ajuda a um desvalido o é. Todavia, quem dá, em geral o faz porque tem mais do que necessita. Sua doação, via de regra, não lhe fará qualquer falta. A maior generosidade, no entanto, é a de “doar-se” aos outros. É dedicar a vida a socorrer os necessitados, sem esperar nenhuma compensação, sequer o agradecimento do beneficiado ou o reconhecimento público. Raras, raríssimas pessoas mundo afora agem com tamanha abnegação. E as que o fazem, quase nunca são reconhecidas, mas não se importam com o reconhecimento. Esta, porém, é a generosidade que conta. Khalil Gibran escreveu a respeito, em seu livro “O Profeta”: “Quando você dá de suas posses aos outros, você dá pouco; quando você dá de si mesmo, então você realmente dá algo de valor”.
Talento e exercício
Pedro J. Bondaczuk
O talento, sozinho, não basta para fazer de uma pessoa um artista admirado e de sucesso, um desportista vencedor ou um profissional reconhecido e disputado pelo mercado. Claro que ele ajuda, mas requer algo tão importante, ou mais, do que sua mera e potencial habilidade para qualquer atividade: o exercício.
Artistas, desportistas e profissionais são frutos de horas e mais horas de estudos, de treinamentos, de dedicação integral ao que fazem ou querem fazer. Alguns especialistas sugerem que 10 mil horas de exercício habilitam o sujeito talentoso para conseguir o que almeja. Não sei se de fato é possível mensurar esse treinamento necessário.
Pode ser que para alguns, as horas despendidas na preparação sejam menos do que isso e, para outros, bem mais. Fiquemos, porém, com as dez mil horas como ponto de partida, apenas como premissa para reflexão. A verdade é que, sem essa dedicação integral ao que se escolheu para fazer, o fracasso e a frustração são previsíveis, se não fatais. Não basta a genialidade se a pessoa não a exercitar. E quanto antes começar a se preparar, mais cedo conseguirá fazer aquilo a que se propôs.
O editor-chefe da revista “Skeptyc”, Michael Shermer, fez as seguintes observações a respeito (com as quais concordo), em entrevista publicada em 14 de setembro de 2001, no caderno “Mais!” do jornal Folha de S. Paulo: “Essa é a questão das 10 mil horas. O que é preciso para ser um gênio criativo e alcançar o topo de sua área? Primeiro de tudo, há uma regra das 10 mil horas mínimas. Se você quer dominar um esporte ou uma habilidade, isso vem com 60 horas por semana durante três anos e meio. Isso é verdade em todas as profissões. Não significa que você vai conseguir. Boa biologia e genes ajudam. Mas olhe Mozart. Ele não surgiu do nada como algumas pessoas pensam. Ele teve o pai e o treinamento e fez as 10 mil horas aos 6 anos. Devoção precoce ajuda o gênio a sair”.
Alguém pode perguntar: “E a inspiração, onde entra nessa história toda?”. Antes de tudo, é necessário que se defina o que se entende como tal. Há pessoas que acham possível surgir do nada, como num toque de mágica, uma obra prontinha no cérebro de alguém, bastando, apenas, reproduzi-la. Ah, como seria bom se as coisas fossem assim tão simples e se tivéssemos, com freqüência, esses súbitos “lampejos”!
O que chamamos de “inspiração” são idéias que um dia tivemos, às vezes sem sequer nos darmos conta, e que ficaram adormecidas, sabe-se lá por quanto tempo, em algum substrato da nossa mente, talvez no subconsciente ou, quem sabe, no inconsciente. Para que as tivéssemos, no entanto, foi indispensável que lêssemos, víssemos ou ouvíssemos em algum lugar referências básicas sobre esses assuntos.
Às vezes, esses lampejos surgem depois de anos, de décadas até. Podem, também, é verdade, emergir à consciência já no dia seguinte. Nosso cérebro é um mistério até para os maiores especialistas na matéria. Não raro, porém, essas idéias “brilhantes” que um dia tivemos, e não nos demos conta (ou lhes atribuímos pouca importância), não voltam nunca mais ao consciente. Perdemos, assim, a oportunidade de produzir uma grande obra, quem sabe a mais relevante de nossas vidas.
Ademais, a tal da inspiração quase sempre se refere, apenas, ao tema para ser trabalhado, cabendo-nos a árdua tarefa de tratar do conteúdo. Ou então, se tratam de meros “pedaços” de uma obra (um conjunto esparso de notas musicais, por exemplo, ou determinada nuance de luz e sombra de uma pintura, ou um verso de um poema, não importa). Ela não é tão benigna quanto os ingênuos supõem. Não nos entrega, de bandeja, nenhum “Lusíadas”, ou a “Quinta Sinfonia”, ou “Os Girassóis” de Van Gogh prontinhos e acabados.
Volta-se, pois, às questões do talento e do exercício. Se você não tiver aptidão para a música e não dominar a técnica de composição, de nada lhe valerá a inspiração para compor uma canção (e, creia, essa não virá mesmo). O mesmo vale para a pintura, escultura, literatura, futebol, atletismo, finanças, direito, medicina etc.etc.etc. Se não houver se exercitado naquilo que gosta de fazer, não o fará nunca. Não, pelo menos, com a competência e a segurança requeridas para ser expert na matéria.
Portanto, não se iluda com essa história de “inspiração”. Se o fizer, com certeza o resultado será uma profunda frustração, acompanhada de interminável séqüito de outros tantos sentimentos negativos. Descubra seu talento. Exercite-o, não apenas por dez mil horas, mas por toda a vida. Fazendo isso, nunca lhe faltará inspiração, eu lhe asseguro. Aja assim, você que ainda é um “artista (ou profissional) enrustido” e lhe desejarei, do fundo do coração, uma “boa obra”!
O talento, sozinho, não basta para fazer de uma pessoa um artista admirado e de sucesso, um desportista vencedor ou um profissional reconhecido e disputado pelo mercado. Claro que ele ajuda, mas requer algo tão importante, ou mais, do que sua mera e potencial habilidade para qualquer atividade: o exercício.
Artistas, desportistas e profissionais são frutos de horas e mais horas de estudos, de treinamentos, de dedicação integral ao que fazem ou querem fazer. Alguns especialistas sugerem que 10 mil horas de exercício habilitam o sujeito talentoso para conseguir o que almeja. Não sei se de fato é possível mensurar esse treinamento necessário.
Pode ser que para alguns, as horas despendidas na preparação sejam menos do que isso e, para outros, bem mais. Fiquemos, porém, com as dez mil horas como ponto de partida, apenas como premissa para reflexão. A verdade é que, sem essa dedicação integral ao que se escolheu para fazer, o fracasso e a frustração são previsíveis, se não fatais. Não basta a genialidade se a pessoa não a exercitar. E quanto antes começar a se preparar, mais cedo conseguirá fazer aquilo a que se propôs.
O editor-chefe da revista “Skeptyc”, Michael Shermer, fez as seguintes observações a respeito (com as quais concordo), em entrevista publicada em 14 de setembro de 2001, no caderno “Mais!” do jornal Folha de S. Paulo: “Essa é a questão das 10 mil horas. O que é preciso para ser um gênio criativo e alcançar o topo de sua área? Primeiro de tudo, há uma regra das 10 mil horas mínimas. Se você quer dominar um esporte ou uma habilidade, isso vem com 60 horas por semana durante três anos e meio. Isso é verdade em todas as profissões. Não significa que você vai conseguir. Boa biologia e genes ajudam. Mas olhe Mozart. Ele não surgiu do nada como algumas pessoas pensam. Ele teve o pai e o treinamento e fez as 10 mil horas aos 6 anos. Devoção precoce ajuda o gênio a sair”.
Alguém pode perguntar: “E a inspiração, onde entra nessa história toda?”. Antes de tudo, é necessário que se defina o que se entende como tal. Há pessoas que acham possível surgir do nada, como num toque de mágica, uma obra prontinha no cérebro de alguém, bastando, apenas, reproduzi-la. Ah, como seria bom se as coisas fossem assim tão simples e se tivéssemos, com freqüência, esses súbitos “lampejos”!
O que chamamos de “inspiração” são idéias que um dia tivemos, às vezes sem sequer nos darmos conta, e que ficaram adormecidas, sabe-se lá por quanto tempo, em algum substrato da nossa mente, talvez no subconsciente ou, quem sabe, no inconsciente. Para que as tivéssemos, no entanto, foi indispensável que lêssemos, víssemos ou ouvíssemos em algum lugar referências básicas sobre esses assuntos.
Às vezes, esses lampejos surgem depois de anos, de décadas até. Podem, também, é verdade, emergir à consciência já no dia seguinte. Nosso cérebro é um mistério até para os maiores especialistas na matéria. Não raro, porém, essas idéias “brilhantes” que um dia tivemos, e não nos demos conta (ou lhes atribuímos pouca importância), não voltam nunca mais ao consciente. Perdemos, assim, a oportunidade de produzir uma grande obra, quem sabe a mais relevante de nossas vidas.
Ademais, a tal da inspiração quase sempre se refere, apenas, ao tema para ser trabalhado, cabendo-nos a árdua tarefa de tratar do conteúdo. Ou então, se tratam de meros “pedaços” de uma obra (um conjunto esparso de notas musicais, por exemplo, ou determinada nuance de luz e sombra de uma pintura, ou um verso de um poema, não importa). Ela não é tão benigna quanto os ingênuos supõem. Não nos entrega, de bandeja, nenhum “Lusíadas”, ou a “Quinta Sinfonia”, ou “Os Girassóis” de Van Gogh prontinhos e acabados.
Volta-se, pois, às questões do talento e do exercício. Se você não tiver aptidão para a música e não dominar a técnica de composição, de nada lhe valerá a inspiração para compor uma canção (e, creia, essa não virá mesmo). O mesmo vale para a pintura, escultura, literatura, futebol, atletismo, finanças, direito, medicina etc.etc.etc. Se não houver se exercitado naquilo que gosta de fazer, não o fará nunca. Não, pelo menos, com a competência e a segurança requeridas para ser expert na matéria.
Portanto, não se iluda com essa história de “inspiração”. Se o fizer, com certeza o resultado será uma profunda frustração, acompanhada de interminável séqüito de outros tantos sentimentos negativos. Descubra seu talento. Exercite-o, não apenas por dez mil horas, mas por toda a vida. Fazendo isso, nunca lhe faltará inspiração, eu lhe asseguro. Aja assim, você que ainda é um “artista (ou profissional) enrustido” e lhe desejarei, do fundo do coração, uma “boa obra”!
Thursday, August 21, 2008
REFLEXÃO DO DIA
A curiosidade é a mãe de todo o conhecimento. Aquilo que não espicaça a nossa mente e não nos torna inquietos até que saibamos tudo a respeito, por mais óbvio que seja, não se fixa na memória. Só aprendemos, de fato, o que nos chama a atenção e nos torna curiosos sobre todos os detalhes. O grande segredo para as descobertas do espírito é a capacidade de perguntar. Apenas obteremos respostas convincentes às perguntas eficazes que soubermos fazer. No jornalismo, isso é fundamental. O bom repórter só chega ao âmago da questão que pretende levar aos leitores se souber perguntar o relevante às suas fontes. Na vida, vale o mesmo princípio. O escritor norte-americano Richard Bach trata do assunto como se deve tratar o que queremos conhecer: perguntando. E faz essa sábia indagação: “Por que será que não conhecemos as respostas até encontrarmos as perguntas?”. Pergunte certo e o conhecimento se abrirá à sua mente!
Metamorfose da alma
Pedro J. Bondaczuk
A pessoa amada suscita profunda metamorfose na alma, em nossos sentimentos, e até na maneira de enxergar a vida e tudo o que nos rodeia. Altera nossos conceitos estéticos e nos faz vislumbrar não apenas o aspecto externo da beleza, mas seu âmago, o interior interdito a olhos profanos.
Sua figura desperta-nos fantasias de toda sorte, algumas tão sofisticadas que sequer conseguimos expressar. Mas sentimos! Vislumbro, por exemplo, quando perco meu olhar no fundo dos seus olhos, doce amada, tudo o que amo e que me é sagrado e que, por isso, me empenho em preservar.
Vejo o céu azul da manhã, num dia de primavera, ensolarado e sem nuvens, deste país tropical que me viu nascer e que um dia acolherá meus restos mortais. Ou as noites estreladas e calmas de verão, com a alma a dançar em festa, embriagado de luz e de poesia.
Seus seios são os campos arados e férteis do meu torrão natal, com seus trigais dourados e pés de amendoins floridos, de um amarelo sutil e solar. Sua boca lembra-me as fontes cristalinas e puras, onde busco saciar (em vão) minha insaciável sede de afeto.
Minha doce amada, você é metáfora de tudo o que amo, meus pais, meus filhos, meus amigos, minha pátria. Pablo Neruda vai mais longe e vislumbra, na pessoa que ama, esse nosso continente promissor, mas ainda tão sofrido, que expressa da seguinte forma, nos versos iniciais do poema “Pequena América”: “Quando contemplo a forma/da América no mapa,/amor, é a ti quem vejo:/as alturas do cobre na cabeça,/teus peitos, trigo e neve,/a cintura delgada,/velozes rios que palpitam, doces/colinas, pradarias/e no frio do sul teus pés terminam/sua geografia de ouro duplicada”. Eu vislumbro em você mais, muito mais, vislumbro todo o universo, com seus mistérios e sua majestade.
O tempo, caprichoso, ao alterar, dia após dia, seu semblante, não consegue comprometer a beleza daquela menina-mulher de 14 anos, que me fulminou de afetos quando a vi pela primeira vez. O colorido branco que deu aos seus cabelos, por exemplo, não os enfeiou. Cobriu-os, somente, com a neve de um inverno calmo, que enfrento no abrigo aconchegante e cálido dos seus braços. Por mais que tentasse, não conseguiu, também, apagar o brilho dos seus olhos, mais intenso e profundo do que o da Alfa Centauro, que vejo a luzir no céu, em noites claras e estreladas.
E seu sorriso! Ah, o seu sorriso! Faz a minha alma bailar em festa, com a alegria infantil da criança que um dia fui e que ainda vive – posto que dissimulada, fantasiada de adulto, mas que nunca perdeu a inocência original – dentro de mim.
Conheço cada milímetro do seu corpo, que um dia explorei, deslumbrado, com encanto e sofreguidão. Agora, penetro, mansamente, em sua alma e busco extrair dali o lírio imaculado do seu afeto que você reservou (oh capricho!) só para mim.
Nosso amor, amada, passou por todas as fases possíveis e imagináveis. Foi do platônico ao delirante carnal, mas conservando todas as nuances de cada uma dessas etapas, embora desembocasse nesta amizade, nesta cumplicidade, nesta unidade atual.
Sim, querida, somos, há já bom tempo, uma só pessoa, posto que com duas silhuetas distintas e duas almas em perpétua comunhão. Seu sorriso franco e espontâneo é, cada vez mais, nestes dias de inverno da nossa existência, bálsamo infalível e mágico. Faz-me esquecer qualquer dor ou tristeza que eventualmente pretendam me atormentar. Não conseguem. Nenhuma dor ou mágoa me atingem quando você está comigo.
Seu sorriso é especial e único. Não se trata daquela risada em que os lábios se movem, mas os olhos permanecem duros e frios, a desmentirem a aparente simpatia, como se vê, amiúde, por aí. Minha doce amada, você não sorri assim. Não ri de forma espalhafatosa, em gargarejos que se ouvem à distância.
Não é riso de zombaria, e nem de crítica sem palavras. Não me humilha, mas me engrandece, me valoriza, me enfeitiça e me embevece. Não ri de mim, mas sorri para mim. Envolve-me num olhar macio e quente de ternura, impossível de ser descrito pelo mais hábil poeta. Desperta a primavera no mais rigoroso inverno e cobre de sol e calor a minha alma, nas tardes cinzentas de tempestade.
E as covinhas que se formam junto aos seus lábios, quando você sorri! São arrebatadoras!! São a mais delicada poesia, que poeta algum jamais escreveu. Por isso, amada, lhe apelo, emprestando estes versos de Pablo Neruda, com os quais o poeta chileno abre seu poema “Teu riso”: “Toma-me o pão, se queres,/tira-me o ar, porém nunca/me tires o teu sorriso.//Não me tires a rosa,/a lança que debulhas,/a água que de repente/em tua alegria estala,/essa onda repentina/de prata que te nasce”. Sei que você nunca me privará dessa dádiva!
A pessoa amada suscita profunda metamorfose na alma, em nossos sentimentos, e até na maneira de enxergar a vida e tudo o que nos rodeia. Altera nossos conceitos estéticos e nos faz vislumbrar não apenas o aspecto externo da beleza, mas seu âmago, o interior interdito a olhos profanos.
Sua figura desperta-nos fantasias de toda sorte, algumas tão sofisticadas que sequer conseguimos expressar. Mas sentimos! Vislumbro, por exemplo, quando perco meu olhar no fundo dos seus olhos, doce amada, tudo o que amo e que me é sagrado e que, por isso, me empenho em preservar.
Vejo o céu azul da manhã, num dia de primavera, ensolarado e sem nuvens, deste país tropical que me viu nascer e que um dia acolherá meus restos mortais. Ou as noites estreladas e calmas de verão, com a alma a dançar em festa, embriagado de luz e de poesia.
Seus seios são os campos arados e férteis do meu torrão natal, com seus trigais dourados e pés de amendoins floridos, de um amarelo sutil e solar. Sua boca lembra-me as fontes cristalinas e puras, onde busco saciar (em vão) minha insaciável sede de afeto.
Minha doce amada, você é metáfora de tudo o que amo, meus pais, meus filhos, meus amigos, minha pátria. Pablo Neruda vai mais longe e vislumbra, na pessoa que ama, esse nosso continente promissor, mas ainda tão sofrido, que expressa da seguinte forma, nos versos iniciais do poema “Pequena América”: “Quando contemplo a forma/da América no mapa,/amor, é a ti quem vejo:/as alturas do cobre na cabeça,/teus peitos, trigo e neve,/a cintura delgada,/velozes rios que palpitam, doces/colinas, pradarias/e no frio do sul teus pés terminam/sua geografia de ouro duplicada”. Eu vislumbro em você mais, muito mais, vislumbro todo o universo, com seus mistérios e sua majestade.
O tempo, caprichoso, ao alterar, dia após dia, seu semblante, não consegue comprometer a beleza daquela menina-mulher de 14 anos, que me fulminou de afetos quando a vi pela primeira vez. O colorido branco que deu aos seus cabelos, por exemplo, não os enfeiou. Cobriu-os, somente, com a neve de um inverno calmo, que enfrento no abrigo aconchegante e cálido dos seus braços. Por mais que tentasse, não conseguiu, também, apagar o brilho dos seus olhos, mais intenso e profundo do que o da Alfa Centauro, que vejo a luzir no céu, em noites claras e estreladas.
E seu sorriso! Ah, o seu sorriso! Faz a minha alma bailar em festa, com a alegria infantil da criança que um dia fui e que ainda vive – posto que dissimulada, fantasiada de adulto, mas que nunca perdeu a inocência original – dentro de mim.
Conheço cada milímetro do seu corpo, que um dia explorei, deslumbrado, com encanto e sofreguidão. Agora, penetro, mansamente, em sua alma e busco extrair dali o lírio imaculado do seu afeto que você reservou (oh capricho!) só para mim.
Nosso amor, amada, passou por todas as fases possíveis e imagináveis. Foi do platônico ao delirante carnal, mas conservando todas as nuances de cada uma dessas etapas, embora desembocasse nesta amizade, nesta cumplicidade, nesta unidade atual.
Sim, querida, somos, há já bom tempo, uma só pessoa, posto que com duas silhuetas distintas e duas almas em perpétua comunhão. Seu sorriso franco e espontâneo é, cada vez mais, nestes dias de inverno da nossa existência, bálsamo infalível e mágico. Faz-me esquecer qualquer dor ou tristeza que eventualmente pretendam me atormentar. Não conseguem. Nenhuma dor ou mágoa me atingem quando você está comigo.
Seu sorriso é especial e único. Não se trata daquela risada em que os lábios se movem, mas os olhos permanecem duros e frios, a desmentirem a aparente simpatia, como se vê, amiúde, por aí. Minha doce amada, você não sorri assim. Não ri de forma espalhafatosa, em gargarejos que se ouvem à distância.
Não é riso de zombaria, e nem de crítica sem palavras. Não me humilha, mas me engrandece, me valoriza, me enfeitiça e me embevece. Não ri de mim, mas sorri para mim. Envolve-me num olhar macio e quente de ternura, impossível de ser descrito pelo mais hábil poeta. Desperta a primavera no mais rigoroso inverno e cobre de sol e calor a minha alma, nas tardes cinzentas de tempestade.
E as covinhas que se formam junto aos seus lábios, quando você sorri! São arrebatadoras!! São a mais delicada poesia, que poeta algum jamais escreveu. Por isso, amada, lhe apelo, emprestando estes versos de Pablo Neruda, com os quais o poeta chileno abre seu poema “Teu riso”: “Toma-me o pão, se queres,/tira-me o ar, porém nunca/me tires o teu sorriso.//Não me tires a rosa,/a lança que debulhas,/a água que de repente/em tua alegria estala,/essa onda repentina/de prata que te nasce”. Sei que você nunca me privará dessa dádiva!
Wednesday, August 20, 2008
REFLEXÃO DO DIA
É saudável, necessário e indispensável fazermos uma revisão periódica sobre nossas crenças – para, testar sua veracidade e intensidade – e analisar o conjunto de valores que norteiam e direcionam nossa vida. Trata-se de atitude sábia, que só nos traz benefícios ao impedir que incorramos (ou permaneçamos) em erro. Aquilo em que acreditamos é o roteiro pelo qual pautamos pensamentos, sentimentos e atos. Na vida impera a lei natural da causa e conseqüência. Tudo o que fizermos, de bom ou de ruim, nos trará resultados de idêntica natureza. É preciso fazer criteriosa análise do que, como e para quem dizemos as coisas. Ou seja, fazer rigoroso balanço das nossas palavras, porquanto não é apenas o peixe que morre pela boca. Kenneth E. Hagin, conhecido pregador norte-americano, nos alerta: “Na realidade, tudo quanto você é hoje, e tudo quanto você possui hoje, é o resultado do que você creu e disse no passado”.
Sol e vida
Pedro J. Bondaczuk
O homem tem um sentido a mais do que aqueles conhecidos, visão, audição, tato, olfato e paladar: a intuição. Ao contrário dos outros cinco, este sexto não leva de fora para dentro do cérebro as impressões que colhe. Age, exatamente, em sentido contrário. Ou seja, parte do centro de comando do nosso organismo para o exterior. Avalia o que nos cerca e faz um juízo a priori, mesmo sem ter todas as informações necessárias para uma conclusão.
Essa capacidade inexplicável é uma das fontes (senão a própria fonte) de todo o conhecimento humano. Antes de conhecer o que quer que seja, “intuímos” os grandes segredos da natureza. Foi o que aconteceu, por exemplo, em relação ao Sol.
O homem primitivo tinha convicção da sua importância para a sua vida. Só não sabia explicar a razão dele ser tão importante. Passou, pois, a adorá-lo, como deus. E não estava de todo errado. Aquele hominídeo das cavernas, curioso e inquisidor, só não intuiu que essa gigantesca bomba de hidrogênio, em ininterrupta explosão, não era em si a divindade, mas apenas “uma” das infinitas manifestações de Deus.
Pesquisas posteriores, milênios depois, quando o homem acumulou conhecimentos suficientes para compreender melhor a natureza, mostraram que a intuição primitiva estava correta. Que essa estrela de quinta grandeza não só é importante para a vida, mas essencial a ela.
O escritor Ardis Whitman escreveu a respeito: “O Sol, sabemos hoje, não é uma carruagem arrastada pelo céu, nem tampouco um deus a ser adorado. Mas nem por isso é menos maravilhoso. Certamente a sua veneração surgiu de uma intuição verdadeira, pois o segredo de nossas vidas está realmente na luz que flui desta estrela ígnea. Da mais simples ameba à mente de um Shakespeare ou de um Einstein, toda a vida é fruto da força que emana do Sol”.
Quando falamos de vida, mas de forma específica – da nossa, por exemplo – creio que deveríamos nos referir a ela sempre no plural. Vivemo-la de forma tão intensa, variada e diferente; sofremos tamanhas e tantas transformações, físicas, psíquicas e afetivas ao longo dos anos, que é como se renascêssemos, vezes sem conta, das cinzas, e fôssemos, a cada renascimento, outras pessoas, não mais as mesmas sequer do dia anterior.
Temos, pois, na verdade, “vidas” que, somadas, compõem o conjunto da nossa vida. Nossos caminhos se cruzam, aleatoriamente, com uma quantidade de pessoas impossível de ser contabilizada, que nos influenciam, de maneiras variáveis e às quais influenciamos, de formas igualmente diversas. E estes relacionamentos tanto podem ser neutros, sem causar nenhuma conseqüência (ou sequer lembrança), quanto podem nos melhorar, piorar ou até destruir. .
Não nos conformamos com nossa efemeridade e vivemos como se fôssemos eternos, nos preparando, sempre, para um amanhã supostamente melhor, mas que nunca chega. Ansiamos pela eternidade e tudo o que aprendemos é tendo em vista este inalcançável objetivo.
Cuidamos do nosso corpo, zelamos pela aparência, alimentamos o nosso espírito e achamos, bem no nosso íntimo, que a morte nunca irá nos alcançar. Que a extinção não foi feita para nós, mas para os outros. É errada essa forma de encarar a vida? Entendo que não! Porquanto, com essa atitude, nos manteremos sempre motivados, alertas, ativos, sem nos importarmos com relógios, calendários e nem espelhos.
E quando a morte finalmente vier (e, fatalmente, virá), se pudermos, ainda assim, lutar contra ela e retardá-la ao máximo, nem que somente por minutos, que o façamos. Cada segundo que ganharmos será um tempo a mais de usufruto desta magnífica aventura, cujo epílogo até podemos intuir qual é, mas que de fato desconhecemos.
Vivemos intermináveis despedidas, mesmo que não venhamos a nos dar conta disso. Despedimo-nos, por exemplo (cedo demais) da infância, da adolescência, da maturidade, do amanhã que se torna hoje num piscar de olhos e do agora que se faz passado.
Despedimo-nos das pessoas amadas, às vezes com a certeza de reencontros, outras, sabendo que não haverá volta. Despedimo-nos de amigos, dos quais nos separamos por causa das circunstâncias, e de inimigos que nos atormentavam ou ameaçavam. Despedimo-nos da cidade que nascemos, dos lugares que amamos, de casas, de trabalhos e de escolas.
Saibamos ou não, queiramos ou não, a vida é constituída de despedidas. Caracteriza-se por encontros e desencontros, saudações e adeuses. Enquanto escrevo estas confidências, minha alma sai, só, a passear ao sol, este astro que nos dá a luz e a vida, despedindo-se de mais uma manhã radiosa, que nunca mais haverá de voltar, a não ser nas ágeis asas da recordação. Assim somos nós, frágeis e sensíveis “poeiras das estrelas”.
O homem tem um sentido a mais do que aqueles conhecidos, visão, audição, tato, olfato e paladar: a intuição. Ao contrário dos outros cinco, este sexto não leva de fora para dentro do cérebro as impressões que colhe. Age, exatamente, em sentido contrário. Ou seja, parte do centro de comando do nosso organismo para o exterior. Avalia o que nos cerca e faz um juízo a priori, mesmo sem ter todas as informações necessárias para uma conclusão.
Essa capacidade inexplicável é uma das fontes (senão a própria fonte) de todo o conhecimento humano. Antes de conhecer o que quer que seja, “intuímos” os grandes segredos da natureza. Foi o que aconteceu, por exemplo, em relação ao Sol.
O homem primitivo tinha convicção da sua importância para a sua vida. Só não sabia explicar a razão dele ser tão importante. Passou, pois, a adorá-lo, como deus. E não estava de todo errado. Aquele hominídeo das cavernas, curioso e inquisidor, só não intuiu que essa gigantesca bomba de hidrogênio, em ininterrupta explosão, não era em si a divindade, mas apenas “uma” das infinitas manifestações de Deus.
Pesquisas posteriores, milênios depois, quando o homem acumulou conhecimentos suficientes para compreender melhor a natureza, mostraram que a intuição primitiva estava correta. Que essa estrela de quinta grandeza não só é importante para a vida, mas essencial a ela.
O escritor Ardis Whitman escreveu a respeito: “O Sol, sabemos hoje, não é uma carruagem arrastada pelo céu, nem tampouco um deus a ser adorado. Mas nem por isso é menos maravilhoso. Certamente a sua veneração surgiu de uma intuição verdadeira, pois o segredo de nossas vidas está realmente na luz que flui desta estrela ígnea. Da mais simples ameba à mente de um Shakespeare ou de um Einstein, toda a vida é fruto da força que emana do Sol”.
Quando falamos de vida, mas de forma específica – da nossa, por exemplo – creio que deveríamos nos referir a ela sempre no plural. Vivemo-la de forma tão intensa, variada e diferente; sofremos tamanhas e tantas transformações, físicas, psíquicas e afetivas ao longo dos anos, que é como se renascêssemos, vezes sem conta, das cinzas, e fôssemos, a cada renascimento, outras pessoas, não mais as mesmas sequer do dia anterior.
Temos, pois, na verdade, “vidas” que, somadas, compõem o conjunto da nossa vida. Nossos caminhos se cruzam, aleatoriamente, com uma quantidade de pessoas impossível de ser contabilizada, que nos influenciam, de maneiras variáveis e às quais influenciamos, de formas igualmente diversas. E estes relacionamentos tanto podem ser neutros, sem causar nenhuma conseqüência (ou sequer lembrança), quanto podem nos melhorar, piorar ou até destruir. .
Não nos conformamos com nossa efemeridade e vivemos como se fôssemos eternos, nos preparando, sempre, para um amanhã supostamente melhor, mas que nunca chega. Ansiamos pela eternidade e tudo o que aprendemos é tendo em vista este inalcançável objetivo.
Cuidamos do nosso corpo, zelamos pela aparência, alimentamos o nosso espírito e achamos, bem no nosso íntimo, que a morte nunca irá nos alcançar. Que a extinção não foi feita para nós, mas para os outros. É errada essa forma de encarar a vida? Entendo que não! Porquanto, com essa atitude, nos manteremos sempre motivados, alertas, ativos, sem nos importarmos com relógios, calendários e nem espelhos.
E quando a morte finalmente vier (e, fatalmente, virá), se pudermos, ainda assim, lutar contra ela e retardá-la ao máximo, nem que somente por minutos, que o façamos. Cada segundo que ganharmos será um tempo a mais de usufruto desta magnífica aventura, cujo epílogo até podemos intuir qual é, mas que de fato desconhecemos.
Vivemos intermináveis despedidas, mesmo que não venhamos a nos dar conta disso. Despedimo-nos, por exemplo (cedo demais) da infância, da adolescência, da maturidade, do amanhã que se torna hoje num piscar de olhos e do agora que se faz passado.
Despedimo-nos das pessoas amadas, às vezes com a certeza de reencontros, outras, sabendo que não haverá volta. Despedimo-nos de amigos, dos quais nos separamos por causa das circunstâncias, e de inimigos que nos atormentavam ou ameaçavam. Despedimo-nos da cidade que nascemos, dos lugares que amamos, de casas, de trabalhos e de escolas.
Saibamos ou não, queiramos ou não, a vida é constituída de despedidas. Caracteriza-se por encontros e desencontros, saudações e adeuses. Enquanto escrevo estas confidências, minha alma sai, só, a passear ao sol, este astro que nos dá a luz e a vida, despedindo-se de mais uma manhã radiosa, que nunca mais haverá de voltar, a não ser nas ágeis asas da recordação. Assim somos nós, frágeis e sensíveis “poeiras das estrelas”.
Tuesday, August 19, 2008
REFLEXÃO DO DIA
As idéias, mesmo as aparentemente banais, têm incrível poder transformador sobre nossas mentes e, principalmente, sobre nossas vidas. Raramente nos damos conta disso, mas é algo para o que deveríamos atentar. Sua geração não é prerrogativa de filósofos, cientistas ou escritores. Está ao alcance de qualquer um. As idéias são como contas de um rosário: uma puxa outra e, quando percebemos, constamos, surpresos, que nos tornamos um pouco mais sábios, sensatos e criativos. Um dos hábitos mais saudáveis que podemos desenvolver é o da meditação. Claro que ele requer concentração e, sobretudo, autodisciplina. Vale, contudo, o esforço: os resultados são para lá de compensadores. Albert Einstein escreveu, em seu livro “Como vejo o mundo”: “A mente que se abre a uma nova idéia jamais volta ao seu tamanho original”. E, convenhamos, ele sabe o que diz, pois foi um dos maiores gênios que a humanidade já produziu.
O fosso intransponível
Pedro J. Bondaczuk
O computador racionaliza e dá precisão a inúmeras tarefas do dia a dia. Sabendo utilizá-lo, ganhamos conhecimento, tempo e dinheiro. Mas há os que transformam as melhores invenções num mal. Usam essa máquina para fins nada louváveis, inclusive para crimes. Alguns chegam a abrir mão do raciocínio, substituindo-o por este “cérebro eletrônico”.
Melvin Konner faz esta constatação: “As mais acalentadoras diferenças entre os seres humanos e os animais (...) têm sido eliminadas: amor maternal, altruísmo, cooperação e sacrifício são vistos agora como meras adaptações – estratégias geneticamente programadas para a sobrevivência (...). Tudo que nos restou (...) é o pensamento racional. Somos animais, sim, mas animais pensantes e nenhuma outra configuração de matéria na Terra pode rivalizar conosco neste domínio. Agora, até mesmo o pensamento racional está sendo apoderado – inteiramente – pelos computadores”. O mal, porém, não está na máquina. Está em quem a utiliza inadequadamente.
Há, porém, um fosso intransponível entre o homem e os demais animais e qualquer “máquina de pensar” que seja, eventualmente, inventada: a capacidade não somente de gerar idéias (e, inclusive, de inventar computadores), como a de sentir e expressar racional e inteligivelmente seus sentimentos. O Homo Sapiens, portanto, jamais poderá ser igualado, quanto mais substituído por quem ou o que quer que seja.
O leitor pode, a esta altura, estar se perguntando: “Quem é este Melvin Konner para afirmar o que afirma com tanta convicção?”. Garanto que não se trata de um João Ninguém. Trata-se de um afamado médico e antropólogo norte-americano que há anos estuda o homem. E não somente se dedica a entender e explicar suas funções orgânicas, mas, sobretudo, debruça-se na pesquisa de seus comportamentos (individuais e em sociedade).
Professor da Emory University, popularizou, com seu colega de instituição Boyd Eaton, o conceito de “nutrição paleolítica”. Ou seja, a idéia que a alimentação do homem primitivo da Idade da Pedra – dieta altamente protéica e vitamínica, baseada no consumo de peixes, frutas, folhas, nozes e legumes diversos – favoreceu a evolução humana e, especificamente, o desenvolvimento de sua inteligência, sendo, portanto, saudável para proteger nossa saúde. Como se vê, trata-se de um pesquisador altamente gabaritado, que sabe o que diz.
Concordo que o computador seja uma das mais espetaculares criações da mente humana. Mas ela seria, provavelmente, inviável, sem invenção do zero, esta sim a mais revolucionária de todas. Sem ela, essa máquina fabulosa, de tamanha utilidade nos tempos atuais, não poderia funcionar com a eficiência que funciona, se é que sequer funcionasse.
A invenção do zero produziu resultados impressionantes, que quase nunca (ou nunca mesmo) nos damos conta quando estudamos História. Desconhece-se, ironicamente, o seu inventor. Uma pena! A simbolização do vazio, do nada, do que é inexistente, como se fosse um valor concreto, possibilitou, sobretudo, a estruturação da matemática, sem a qual não teríamos construções, máquinas, ciências, comércio e praticamente nada.
Como se vê, é nas coisas aparentemente ínfimas e triviais que a genialidade humana se manifesta em todo o seu esplendor. Raciocinamos por metáforas, por signos e por símbolos. Isso, animal algum teria condições de fazer. Aí está o verdadeiro fosso intransponível entre nós e as demais espécies conhecidas (já que não se sabe se há, ou não, vida inteligente fora da Terra, embora se intua que haja).
Não pense o leitor, porém, que estou sendo original nessa constatação. Não estou! Quem me fez refletir a respeito, foi Fernando Pessoa, esse indivíduo tão estranho e genial, que nos legou, além dos livros publicados postumamente (em vida, publicou apenas um), um baú repleto de papéis, com anotações de toda a sorte, que ainda não foram decodificadas por completo. Calcula-se que apenas um terço, se tanto, das observações que deixou para a posteridade, já foram catalogadas, e divulgadas, no ano do centenário do seu nascimento.
A propósito de simbologia, Pessoa escreveu: “O zero é a maior metáfora. O infinito a maior analogia. A existência o maior símbolo”. Êta escritor genial! Por isso, quanto mais aprendo, mais respeito e valorizo o ser humano, sobretudo por seu inesgotável potencial.
Fala-se amiúde, notadamente nos meios políticos, e em especial em vésperas de eleições, na necessidade do respeito irrestrito aos direitos dos cidadãos. Concordo, mas apenas parcialmente, a esse propósito. Quem tem que ser respeitado é, sobretudo, o ser humano, não importa o que faça nem onde resida. Ninguém pode ser forçado a fazer o que não quer, em circunstância alguma, desde que isso não prejudique a ninguém.
Cada vez mais, o homem é encarado como um objeto, um robô manipulável, um títere e não como ser racional, detentor de necessidades, idéias e anseios próprios. A palavra “liberdade” há muito foi desvirtuada e é interpretada ao gosto e à feição dos detentores do poder.
Posso, por exemplo, ser um talentosíssimo artista, poeta, músico, pintor ou sabe-se-lá o quê, e não ser cidadão. Ou seja, posso viver no campo, ou em alguma montanha isolada e inacessível como um ermitão, ou em alguma ilha ou praia deserta, em que raras pessoas já puseram os pés, se assim me aprouver. Nem por isso, alguém, seja quem for, tem o direito de interferir em minha opção e de desrespeitar minha liberdade.
Esta deveria ser a lei das leis, a constituição natural das pessoas e povos. Não posso, pois, deixar de concordar (mais uma vez) com Fernando Pessoa quando escreve: “O homem está acima do cidadão. Não há Estado que valha Shakespeare”. E não somente o bardo inglês, mas Shelley, Milton, Bach, Beethoven, Mozart, Rembrandt, Van Gogh, o próprio Pessoa e tantos e tantos outros gênios, que foram e são os gigantes da espécie e, por que não, você, paciente e inteligente leitor.
O computador racionaliza e dá precisão a inúmeras tarefas do dia a dia. Sabendo utilizá-lo, ganhamos conhecimento, tempo e dinheiro. Mas há os que transformam as melhores invenções num mal. Usam essa máquina para fins nada louváveis, inclusive para crimes. Alguns chegam a abrir mão do raciocínio, substituindo-o por este “cérebro eletrônico”.
Melvin Konner faz esta constatação: “As mais acalentadoras diferenças entre os seres humanos e os animais (...) têm sido eliminadas: amor maternal, altruísmo, cooperação e sacrifício são vistos agora como meras adaptações – estratégias geneticamente programadas para a sobrevivência (...). Tudo que nos restou (...) é o pensamento racional. Somos animais, sim, mas animais pensantes e nenhuma outra configuração de matéria na Terra pode rivalizar conosco neste domínio. Agora, até mesmo o pensamento racional está sendo apoderado – inteiramente – pelos computadores”. O mal, porém, não está na máquina. Está em quem a utiliza inadequadamente.
Há, porém, um fosso intransponível entre o homem e os demais animais e qualquer “máquina de pensar” que seja, eventualmente, inventada: a capacidade não somente de gerar idéias (e, inclusive, de inventar computadores), como a de sentir e expressar racional e inteligivelmente seus sentimentos. O Homo Sapiens, portanto, jamais poderá ser igualado, quanto mais substituído por quem ou o que quer que seja.
O leitor pode, a esta altura, estar se perguntando: “Quem é este Melvin Konner para afirmar o que afirma com tanta convicção?”. Garanto que não se trata de um João Ninguém. Trata-se de um afamado médico e antropólogo norte-americano que há anos estuda o homem. E não somente se dedica a entender e explicar suas funções orgânicas, mas, sobretudo, debruça-se na pesquisa de seus comportamentos (individuais e em sociedade).
Professor da Emory University, popularizou, com seu colega de instituição Boyd Eaton, o conceito de “nutrição paleolítica”. Ou seja, a idéia que a alimentação do homem primitivo da Idade da Pedra – dieta altamente protéica e vitamínica, baseada no consumo de peixes, frutas, folhas, nozes e legumes diversos – favoreceu a evolução humana e, especificamente, o desenvolvimento de sua inteligência, sendo, portanto, saudável para proteger nossa saúde. Como se vê, trata-se de um pesquisador altamente gabaritado, que sabe o que diz.
Concordo que o computador seja uma das mais espetaculares criações da mente humana. Mas ela seria, provavelmente, inviável, sem invenção do zero, esta sim a mais revolucionária de todas. Sem ela, essa máquina fabulosa, de tamanha utilidade nos tempos atuais, não poderia funcionar com a eficiência que funciona, se é que sequer funcionasse.
A invenção do zero produziu resultados impressionantes, que quase nunca (ou nunca mesmo) nos damos conta quando estudamos História. Desconhece-se, ironicamente, o seu inventor. Uma pena! A simbolização do vazio, do nada, do que é inexistente, como se fosse um valor concreto, possibilitou, sobretudo, a estruturação da matemática, sem a qual não teríamos construções, máquinas, ciências, comércio e praticamente nada.
Como se vê, é nas coisas aparentemente ínfimas e triviais que a genialidade humana se manifesta em todo o seu esplendor. Raciocinamos por metáforas, por signos e por símbolos. Isso, animal algum teria condições de fazer. Aí está o verdadeiro fosso intransponível entre nós e as demais espécies conhecidas (já que não se sabe se há, ou não, vida inteligente fora da Terra, embora se intua que haja).
Não pense o leitor, porém, que estou sendo original nessa constatação. Não estou! Quem me fez refletir a respeito, foi Fernando Pessoa, esse indivíduo tão estranho e genial, que nos legou, além dos livros publicados postumamente (em vida, publicou apenas um), um baú repleto de papéis, com anotações de toda a sorte, que ainda não foram decodificadas por completo. Calcula-se que apenas um terço, se tanto, das observações que deixou para a posteridade, já foram catalogadas, e divulgadas, no ano do centenário do seu nascimento.
A propósito de simbologia, Pessoa escreveu: “O zero é a maior metáfora. O infinito a maior analogia. A existência o maior símbolo”. Êta escritor genial! Por isso, quanto mais aprendo, mais respeito e valorizo o ser humano, sobretudo por seu inesgotável potencial.
Fala-se amiúde, notadamente nos meios políticos, e em especial em vésperas de eleições, na necessidade do respeito irrestrito aos direitos dos cidadãos. Concordo, mas apenas parcialmente, a esse propósito. Quem tem que ser respeitado é, sobretudo, o ser humano, não importa o que faça nem onde resida. Ninguém pode ser forçado a fazer o que não quer, em circunstância alguma, desde que isso não prejudique a ninguém.
Cada vez mais, o homem é encarado como um objeto, um robô manipulável, um títere e não como ser racional, detentor de necessidades, idéias e anseios próprios. A palavra “liberdade” há muito foi desvirtuada e é interpretada ao gosto e à feição dos detentores do poder.
Posso, por exemplo, ser um talentosíssimo artista, poeta, músico, pintor ou sabe-se-lá o quê, e não ser cidadão. Ou seja, posso viver no campo, ou em alguma montanha isolada e inacessível como um ermitão, ou em alguma ilha ou praia deserta, em que raras pessoas já puseram os pés, se assim me aprouver. Nem por isso, alguém, seja quem for, tem o direito de interferir em minha opção e de desrespeitar minha liberdade.
Esta deveria ser a lei das leis, a constituição natural das pessoas e povos. Não posso, pois, deixar de concordar (mais uma vez) com Fernando Pessoa quando escreve: “O homem está acima do cidadão. Não há Estado que valha Shakespeare”. E não somente o bardo inglês, mas Shelley, Milton, Bach, Beethoven, Mozart, Rembrandt, Van Gogh, o próprio Pessoa e tantos e tantos outros gênios, que foram e são os gigantes da espécie e, por que não, você, paciente e inteligente leitor.
Monday, August 18, 2008
REFLEXÃO DO DIA
É comum as pessoas acharem que a mera companhia de alguém é antídoto eficaz contra a solidão. Não é. Não raro nos sentimos mais solitários do que nunca em meio à multidão. Freqüentemente nos sentimos sós convivendo com quem nada nos acrescenta, que não nos dá ouvidos e sequer nota nossa presença. Muitas vezes nos sentimos mais bem-acompanhados quando conosco mesmos, lendo um bom livro, ouvindo alguma música que nos toque ou recordando bons momentos do passado. O que combate, de fato, a solidão, é o mútuo interesse das pessoas pelos nossos gostos, alegrias, tristezas, sonhos e decepções. Neste aspecto, as amizades (as autênticas, que promovem a comunhão de duas ou mais mentes) são sumamente preciosas. Impedem que nos sintamos sós, quando não quisermos nos sentir. Richard Bach escreveu a respeito: “O oposto da solidão não é o estar juntos. É a intimidade”. Não há como não concordar.
O bom baiano engana todo o mundo
Pedro J. Bondaczuk
Os amigos ligaram, aflitos, para a minha casa, na tarde do sábado, 16 de agosto, para me dar, segundo eles, uma notícia muito ruim, que eu não gostaria de receber. O primeiro telefonema veio do Rio de Janeiro, com o Marcão garantindo que Dorival Caymmi havia acabado de falecer. Fiz que acreditava nele, na certeza de se tratar de um trote. Esse cara é muito brincalhão. Aliás, essa é uma das razões da nossa amizade, pois aprecio pessoas bem-humoradas e de bem com a vida.
.
Na seqüência do dia, porém, outros amigos, aqui mesmo de Campinas, onde resido, e de Salvador, telefonaram-me, dando-me a mesma notícia. Mostrei-me, também, teimosamente incrédulo. Só poderia ser engano. Esse pessoal todo, se não estava brincando, só poderia estar equivocado ou delirando. Acessei a internet e vários sites, como o Uol, o Terra e o Yahoo, davam a mesma notícia, inclusive com vários detalhes.
Essa turma toda só poderia estar louca! Afinal, como disse Cazuza, na sua composição “Ideologia”, retratando o que também ocorreu comigo, “meus heróis morreram de overdose” (nem todos, evidentemente, pois Gandhi, John Lennon e Luther King foram assassinados) e Caymmi nunca foi viciado em nada, a não ser em encantar seus fiéis admiradores. Se tivesse morrido (e continuava e continuo duvidando), só poderia ser de “overdose de ternura, de poesia e de talento”! O que mais?
Quem me conhece, e priva da minha amizade, sabe que o bom baiano sempre foi meu ídolo. Nunca me importei em ser chamado de “velho” por causa dessa fidelidade. E isso sem que eu tenha nascido na Bahia e muito menos em Salvador. Mas amo de paixão esse Estado e tudo o que lhe diz respeito e, não somente ele, mas todo o Nordeste, onde vivi experiências inesquecíveis, que me tornaram ainda “mais brasileiro” do que sempre fui e me senti.
Caymmi, não é segredo para ninguém – ao lado de Jorge Amado; de Hector Julio Paride Barnabó, o pintor, gravador, desenhista, ilustrador, ceramista, escultor, muralista, pesquisador, historiador e jornalista (ufa!), mais conhecido como Carybe, o mais baiano de todos os argentinos; e de Mãe Menininha do Gantois – é um ícone, um símbolo, marca registrada sobretudo de Salvador.
Ademais, gênios não morrem. São imortais. Vivem na terra, no ar e nas águas deste planeta tão judiado, mas que é o nosso único lar universal. Acomodam-se em nossos corações e mentes e sobrevivem até a nossa própria morte.
Não, o bom baiano não morreu. Nem poderia. Contudo, os telefonemas dos amigos e o noticiário da imprensa serviram de pretexto para recordar os bons (e maus) momentos que seu talento me proporcionou: os passeios, os namoros, as alegrias, as tristezas, as dores-de-cotovelo etc. No embalo, coloquei um CD com seus maiores sucessos para rodar e pude me deliciar com sua voz, seu ritmo, seu encanto e sua magia. E deis asas à imaginação, trauteando, baixinho, suas composições que são as minhas preferidas..
Como lembrar de Caymmi sem cantarolar, por exemplo, músicas como “A jangada voltou só”?
“A jangada saiu
Com Chico Ferreira e Bento
A jangada voltou só.
Com certeza foi lá fora algum pé de vento
A jangada voltou só...”
Ou como “A lenda do Abaeté”?
“No Abaeté tem uma lagoa escura
Arrodeada de areia branca
Ô de areia branca
Ô de areia branca
De manhã cedo
Se uma lavadeira
Vai lavar roupa no Abaeté
Vai se benzendo
Por que diz que ouve
Ouve a zoada
Do batucajé...”
Ou como “A vizinha do lado”?
“A vizinha quando passa
Com seu vestido grená
Todo mundo diz que é boa
Mas como a vizinha não há
Ela mexe co’as cadeiras pra cá
Ela mexe co’as cadeiras pra lá
Ela mexe com o juízo
Do homem que vai trabalhar...”
Ou como este “Acalanto”, que eu cantava para a minha filha mais velha, a Tatiana, quando ela era bebê e cismava de trocar o dia pela noite, que, certamente, minha garotinha (hoje mãe do meu neto e xará) traz gravada para sempre na memória, no fundo do subconsciente?
“É tarde
A noite já vem
Todos dormem
A noite também
Só eu velo
Por você, meu bem
Dorme anjo
O boi pega neném
Lá no céu
Deixam de cantar
Os anjinhos
Foram se deitar
Mamãezinha
Precisa descansar
Dorme, anjo
Papai vai lhe ninar
Boi, boi, boi
Boi da cara preta
Pega essa menina
Que tem medo de careta”
Ou como “Dora”, que um dia cantei, com minha voz desafinada e grossa, para o meu eterno amor, hoje minha esposa, mãe e avó?
“Dora, rainha do frevo e do maracatu
Dora, rainha cafuza do maracatu
Te conheci no Recife
Dos rios cortados de pontes
Dos bairros, das fontes coloniais
Dora, chamei
Ó Dora... Ó Dora!
Eu vim à cidade
Pra ver você passar
Ó Dora
Agora no meu pensamento eu te vejo requebrando
Pra cá, ora pra lá
Meu bem!
Os clarins da banda militar tocam para anunciar
Sua Dora agora vai passar
Venham ver o que é bom
Ó Dora, rainha do frevo e do maracatu
Ninguém requebra, nem dança melhor que tu!”
Digam se é imortal ou não quem tem um repertório como este: “Trezentas e sessenta e cinco igrejas, A jangada voltou só, A lenda do Abaeté, A preta do Acarajé, A vizinha do lado, Acalanto, Acontece que sou baiano, Adalgisa, Adeus, Adeus da esposa, Afoxé, Alegre menina, Aruanda, Balada do rei das sereias, Caminhos do mar, Canção da partida, Coqueiro de Itapoá, Das rosas, De onde vens, Desafio, Desde ontem, Desenredo, Dois de fevereiro, Dora, É doce morrer no mar, Eu cheguei lá, Eu não tenho onde morar, Festa de rua, Fiz uma viagem, História pro Sinhozinho, Horas, João Valentão, Lá vem a baiana, Maracangalha, Maricotinha, Marina, Milagre, Modinha para Gabriela, Modinha para Tereza Batista, Morrer no mar, Na Baixa do Sapateiro, Na cancela, Na ribeira desse rio, Não tem solução, Navio negreiro, Nem eu, No tabuleiro da baiana, Noite de temporal, Nunca mais, O bem do mar, O cantador, O dengo que a nega tem, O mar, O que é que a baiana tem?, O vento, Oração de Mãe Menininha, Peguei um Ita no Norte, Pescaria, Promessa de pescador, Quem vem pra beira do mar, Raindrops keep falling on my head, Rainha do mar, Requebre que eu dou um doce, Retirantes, Roda pião, Sábado em Copacabana, Samba da minha terra, Santa Clara clareou, São Salvador, Saudade da Bahia, Saudade de Itapoá, Severo do pão, Só louco, Sodade matadeira, Suíte do pescador, Tão só, Temporal, Tia Nastácia, Tu, Um vestido de bolero, Vamos falar de Tereza, Vatapá, Versos escritos na água, Vida de negro, Você já foi à Bahia? e Você não sabe amar”.
Caymmi morreu? Pára com isso! Só diz essas coisas quem não conhece esse bom baiano! Ele foi pra Maracangalha – se a Nália foi ou não com ele é algo que não posso assegurar, mas que a convidou, não tenho dúvidas – e deve, a esta altura, estar gargalhando de mais um trote que deu nos amigos. Gente como ele não morre: “Fica encantada”, como diria João Guimarães Rosa. Ou se apossa, sem a menor cerimônia, dos nossos corações, onde vive para sempre, cantando as mulheres, belezas e delícias da sua, da nossa, da brasileiríssima Bahia!
Os amigos ligaram, aflitos, para a minha casa, na tarde do sábado, 16 de agosto, para me dar, segundo eles, uma notícia muito ruim, que eu não gostaria de receber. O primeiro telefonema veio do Rio de Janeiro, com o Marcão garantindo que Dorival Caymmi havia acabado de falecer. Fiz que acreditava nele, na certeza de se tratar de um trote. Esse cara é muito brincalhão. Aliás, essa é uma das razões da nossa amizade, pois aprecio pessoas bem-humoradas e de bem com a vida.
.
Na seqüência do dia, porém, outros amigos, aqui mesmo de Campinas, onde resido, e de Salvador, telefonaram-me, dando-me a mesma notícia. Mostrei-me, também, teimosamente incrédulo. Só poderia ser engano. Esse pessoal todo, se não estava brincando, só poderia estar equivocado ou delirando. Acessei a internet e vários sites, como o Uol, o Terra e o Yahoo, davam a mesma notícia, inclusive com vários detalhes.
Essa turma toda só poderia estar louca! Afinal, como disse Cazuza, na sua composição “Ideologia”, retratando o que também ocorreu comigo, “meus heróis morreram de overdose” (nem todos, evidentemente, pois Gandhi, John Lennon e Luther King foram assassinados) e Caymmi nunca foi viciado em nada, a não ser em encantar seus fiéis admiradores. Se tivesse morrido (e continuava e continuo duvidando), só poderia ser de “overdose de ternura, de poesia e de talento”! O que mais?
Quem me conhece, e priva da minha amizade, sabe que o bom baiano sempre foi meu ídolo. Nunca me importei em ser chamado de “velho” por causa dessa fidelidade. E isso sem que eu tenha nascido na Bahia e muito menos em Salvador. Mas amo de paixão esse Estado e tudo o que lhe diz respeito e, não somente ele, mas todo o Nordeste, onde vivi experiências inesquecíveis, que me tornaram ainda “mais brasileiro” do que sempre fui e me senti.
Caymmi, não é segredo para ninguém – ao lado de Jorge Amado; de Hector Julio Paride Barnabó, o pintor, gravador, desenhista, ilustrador, ceramista, escultor, muralista, pesquisador, historiador e jornalista (ufa!), mais conhecido como Carybe, o mais baiano de todos os argentinos; e de Mãe Menininha do Gantois – é um ícone, um símbolo, marca registrada sobretudo de Salvador.
Ademais, gênios não morrem. São imortais. Vivem na terra, no ar e nas águas deste planeta tão judiado, mas que é o nosso único lar universal. Acomodam-se em nossos corações e mentes e sobrevivem até a nossa própria morte.
Não, o bom baiano não morreu. Nem poderia. Contudo, os telefonemas dos amigos e o noticiário da imprensa serviram de pretexto para recordar os bons (e maus) momentos que seu talento me proporcionou: os passeios, os namoros, as alegrias, as tristezas, as dores-de-cotovelo etc. No embalo, coloquei um CD com seus maiores sucessos para rodar e pude me deliciar com sua voz, seu ritmo, seu encanto e sua magia. E deis asas à imaginação, trauteando, baixinho, suas composições que são as minhas preferidas..
Como lembrar de Caymmi sem cantarolar, por exemplo, músicas como “A jangada voltou só”?
“A jangada saiu
Com Chico Ferreira e Bento
A jangada voltou só.
Com certeza foi lá fora algum pé de vento
A jangada voltou só...”
Ou como “A lenda do Abaeté”?
“No Abaeté tem uma lagoa escura
Arrodeada de areia branca
Ô de areia branca
Ô de areia branca
De manhã cedo
Se uma lavadeira
Vai lavar roupa no Abaeté
Vai se benzendo
Por que diz que ouve
Ouve a zoada
Do batucajé...”
Ou como “A vizinha do lado”?
“A vizinha quando passa
Com seu vestido grená
Todo mundo diz que é boa
Mas como a vizinha não há
Ela mexe co’as cadeiras pra cá
Ela mexe co’as cadeiras pra lá
Ela mexe com o juízo
Do homem que vai trabalhar...”
Ou como este “Acalanto”, que eu cantava para a minha filha mais velha, a Tatiana, quando ela era bebê e cismava de trocar o dia pela noite, que, certamente, minha garotinha (hoje mãe do meu neto e xará) traz gravada para sempre na memória, no fundo do subconsciente?
“É tarde
A noite já vem
Todos dormem
A noite também
Só eu velo
Por você, meu bem
Dorme anjo
O boi pega neném
Lá no céu
Deixam de cantar
Os anjinhos
Foram se deitar
Mamãezinha
Precisa descansar
Dorme, anjo
Papai vai lhe ninar
Boi, boi, boi
Boi da cara preta
Pega essa menina
Que tem medo de careta”
Ou como “Dora”, que um dia cantei, com minha voz desafinada e grossa, para o meu eterno amor, hoje minha esposa, mãe e avó?
“Dora, rainha do frevo e do maracatu
Dora, rainha cafuza do maracatu
Te conheci no Recife
Dos rios cortados de pontes
Dos bairros, das fontes coloniais
Dora, chamei
Ó Dora... Ó Dora!
Eu vim à cidade
Pra ver você passar
Ó Dora
Agora no meu pensamento eu te vejo requebrando
Pra cá, ora pra lá
Meu bem!
Os clarins da banda militar tocam para anunciar
Sua Dora agora vai passar
Venham ver o que é bom
Ó Dora, rainha do frevo e do maracatu
Ninguém requebra, nem dança melhor que tu!”
Digam se é imortal ou não quem tem um repertório como este: “Trezentas e sessenta e cinco igrejas, A jangada voltou só, A lenda do Abaeté, A preta do Acarajé, A vizinha do lado, Acalanto, Acontece que sou baiano, Adalgisa, Adeus, Adeus da esposa, Afoxé, Alegre menina, Aruanda, Balada do rei das sereias, Caminhos do mar, Canção da partida, Coqueiro de Itapoá, Das rosas, De onde vens, Desafio, Desde ontem, Desenredo, Dois de fevereiro, Dora, É doce morrer no mar, Eu cheguei lá, Eu não tenho onde morar, Festa de rua, Fiz uma viagem, História pro Sinhozinho, Horas, João Valentão, Lá vem a baiana, Maracangalha, Maricotinha, Marina, Milagre, Modinha para Gabriela, Modinha para Tereza Batista, Morrer no mar, Na Baixa do Sapateiro, Na cancela, Na ribeira desse rio, Não tem solução, Navio negreiro, Nem eu, No tabuleiro da baiana, Noite de temporal, Nunca mais, O bem do mar, O cantador, O dengo que a nega tem, O mar, O que é que a baiana tem?, O vento, Oração de Mãe Menininha, Peguei um Ita no Norte, Pescaria, Promessa de pescador, Quem vem pra beira do mar, Raindrops keep falling on my head, Rainha do mar, Requebre que eu dou um doce, Retirantes, Roda pião, Sábado em Copacabana, Samba da minha terra, Santa Clara clareou, São Salvador, Saudade da Bahia, Saudade de Itapoá, Severo do pão, Só louco, Sodade matadeira, Suíte do pescador, Tão só, Temporal, Tia Nastácia, Tu, Um vestido de bolero, Vamos falar de Tereza, Vatapá, Versos escritos na água, Vida de negro, Você já foi à Bahia? e Você não sabe amar”.
Caymmi morreu? Pára com isso! Só diz essas coisas quem não conhece esse bom baiano! Ele foi pra Maracangalha – se a Nália foi ou não com ele é algo que não posso assegurar, mas que a convidou, não tenho dúvidas – e deve, a esta altura, estar gargalhando de mais um trote que deu nos amigos. Gente como ele não morre: “Fica encantada”, como diria João Guimarães Rosa. Ou se apossa, sem a menor cerimônia, dos nossos corações, onde vive para sempre, cantando as mulheres, belezas e delícias da sua, da nossa, da brasileiríssima Bahia!
Sunday, August 17, 2008
REFLEXÃO DO DIA
O tempo, todo o tempo (não apenas anos, meses, semanas ou dias, mas até ínfimos segundos) é bastante precioso. O que fizermos com ele pode determinar nosso sucesso ou fracasso, satisfação ou angústia, felicidade ou infelicidade. Não raro, porém, o “matamos”, com atividades que nada nos acrescentam. Deixamos tarefas que poderiam ser realizadas com calma, planejamento e requinte para “depois” e, às vezes, podemos nem ter esse amanhã. É possível que outras tarefas mais urgentes nos ocupem a atenção e, dessa forma, deixamos de utilizar adequadamente nosso potencial e de, quem sabe, produzir aquela obra-prima que reside em nossa mente e que prometemos fazer num vago “amanhã”. Millôr Fernandes, numa de suas sábias e bem-humoradas tiradas, escreveu, certa feita: “Quem mata o tempo não é assassino: é suicida”. E não está certo? Afinal, agindo assim, suprime um pedaço da própria vida, quem sabe o mais precioso de todos.
DIRETO DO ARQUIVO
Século de contradições
Pedro J. Bondaczuk
A Revolução Francesa, cujo bicentenário está sendo comemorado com fausto e grandeza, em Paris, nesta semana, nasceu de uma situação parecida com a atual, embora em nível meramente nacional. Enquanto a massa, a grande maioria da população da França da época, reclamava da falta de pão, os celeiros reais estavam repletos de trigo. E o rei Luiz XVI e sua consorte Maria Antonieta promoviam festas nababescas, caras e perdulárias.
Por isso, nada mais apropriado do que ser realizada, exatamente nestes dias, e nessa cidade, a reunião de cúpula dos sete países mais industrializados do mundo, paralelamente a um encontro de protesto de terceiromundistas, em meio a festejos que vão custar aos cofres públicos US$ 310 milhões.
Como as comunicações via satélite reduziram o Planeta à aldeia global apregoada por Marshall McLuhan, temos, em âmbito ampliado, uma situação idêntica à da França de julho de 1789. A fome, o desemprego, a falta de perspectivas de vida atormentam severamente a dois terços da humanidade, enquanto o um terço restante segue, estupidamente, incensando o “bezerro de ouro”, crente que a capacidade de tolerância ao sofrimento dos desvalidos seja infinita e inesgotável. O nosso tempo, aliás, é o das grandes contradições.
Nunca se falou tanto, por exemplo, em direitos humanos e jamais eles foram tão desrespeitados. Basta que qualquer pessoa leia os relatórios da Anistia Internacional para que venha a se inteirar da sucessão de taras e de tarados que dão vazão, impunemente, aos seus desvios, aprisionando, torturando e matando seus semelhantes, usando, invariavelmente, como pretexto a defesa da “liberdade” e da “democracia”. Ou seja, lançando mão de duas palavrinhas tão prostituídas que até chegaram a perder o seu real sentido.
Em raras ocasiões a paz foi tão apregoada, mas em nenhum período da história houve tanta violência. Nos últimos 89 anos, além de duas guerras mundiais, tivemos mais de 200 conflitos armados, com cerca de 100 milhões de vítimas fatais. Poucas vezes se defendeu tanto a solidariedade com o próximo, mas o que vem prevalecendo, e se ampliando, é um egoísmo burro e desmedido.
Contradições, portanto, poderíamos mencionar às centenas, senão aos milhares, cada uma mais contundente do que a outra. Como por exemplo o fato de nunca antes o mundo estar tão povoado – tem hoje 5,2 bilhões de habitantes – e jamais, nem nos tempos dos maiores desregramentos morais do fim do Império Romano, haver tamanho apelo ao sexo irresponsável, fora do casamento, sendo usados, para contrabalançar essa ausência de autocontrole, métodos bárbaros e criminosos, tais como o aborto, para evitar nascimentos indesejados. Estamos ou não estamos, pois, à beira de uma nova Revolução, desta vez mundial?
(Artigo publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 13 de julho de 1989)
Pedro J. Bondaczuk
A Revolução Francesa, cujo bicentenário está sendo comemorado com fausto e grandeza, em Paris, nesta semana, nasceu de uma situação parecida com a atual, embora em nível meramente nacional. Enquanto a massa, a grande maioria da população da França da época, reclamava da falta de pão, os celeiros reais estavam repletos de trigo. E o rei Luiz XVI e sua consorte Maria Antonieta promoviam festas nababescas, caras e perdulárias.
Por isso, nada mais apropriado do que ser realizada, exatamente nestes dias, e nessa cidade, a reunião de cúpula dos sete países mais industrializados do mundo, paralelamente a um encontro de protesto de terceiromundistas, em meio a festejos que vão custar aos cofres públicos US$ 310 milhões.
Como as comunicações via satélite reduziram o Planeta à aldeia global apregoada por Marshall McLuhan, temos, em âmbito ampliado, uma situação idêntica à da França de julho de 1789. A fome, o desemprego, a falta de perspectivas de vida atormentam severamente a dois terços da humanidade, enquanto o um terço restante segue, estupidamente, incensando o “bezerro de ouro”, crente que a capacidade de tolerância ao sofrimento dos desvalidos seja infinita e inesgotável. O nosso tempo, aliás, é o das grandes contradições.
Nunca se falou tanto, por exemplo, em direitos humanos e jamais eles foram tão desrespeitados. Basta que qualquer pessoa leia os relatórios da Anistia Internacional para que venha a se inteirar da sucessão de taras e de tarados que dão vazão, impunemente, aos seus desvios, aprisionando, torturando e matando seus semelhantes, usando, invariavelmente, como pretexto a defesa da “liberdade” e da “democracia”. Ou seja, lançando mão de duas palavrinhas tão prostituídas que até chegaram a perder o seu real sentido.
Em raras ocasiões a paz foi tão apregoada, mas em nenhum período da história houve tanta violência. Nos últimos 89 anos, além de duas guerras mundiais, tivemos mais de 200 conflitos armados, com cerca de 100 milhões de vítimas fatais. Poucas vezes se defendeu tanto a solidariedade com o próximo, mas o que vem prevalecendo, e se ampliando, é um egoísmo burro e desmedido.
Contradições, portanto, poderíamos mencionar às centenas, senão aos milhares, cada uma mais contundente do que a outra. Como por exemplo o fato de nunca antes o mundo estar tão povoado – tem hoje 5,2 bilhões de habitantes – e jamais, nem nos tempos dos maiores desregramentos morais do fim do Império Romano, haver tamanho apelo ao sexo irresponsável, fora do casamento, sendo usados, para contrabalançar essa ausência de autocontrole, métodos bárbaros e criminosos, tais como o aborto, para evitar nascimentos indesejados. Estamos ou não estamos, pois, à beira de uma nova Revolução, desta vez mundial?
(Artigo publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 13 de julho de 1989)
Saturday, August 16, 2008
REFLEXÃO DO DIA
Gosto de manhãs de sol, em que a vida esplende e se manifesta em toda sua grandeza, transcendência e beleza. Adquiri o hábito de, antes de começar o dia, meditar breves minutos sobre a importância da vida e meu papel no mundo. A seguir, elevo silenciosa prece a Deus, agradecido por mais esta oportunidade de usufruir das coisas boas ao meu redor. Encanto-me com o desabrochar das flores e o canto dos pássaros, com os sentidos alertas para captar cada fração de beleza em meu caminho. Com esse ritual, revisto-me de fé e otimismo para encarar as dificuldades e desafios que o dia a dia me reserva. Ao sair do quarto, cumprimento, com um sorriso, mulher, filhos, empregada... e todos com os quais eventualmente venha a cruzar. Invariavelmente, soa-me aos ouvidos este estribilho, de inspirado verso de Hermes Fontes que diz: “Há sol, há muito sol, há um dilúvio de sol”. E esta é a minha “fórmula mágica” para um bom dia. Funciona, pode crer!
Soneto à doce amada - IX
Pedro J. Bondaczuk
Quando eu te digo que te amo,
sinto-me piegas, banal,
quando meu amor proclamo,
penso, apenas, no ideal.
Quando te digo: "Quisera
que tu me amasses também",
estou querendo quimera,
não é verdade, meu bem?!
Se Deus te desse pra mim
num altar te iria pôr,
pra te adorar com fervor.
Pois, o que eu sinto por ti,
nunca neguei, ou menti:
é muito mais do que amor!
(Soneto composto em São Caetano do Sul, em 12 de dezembro de 1963).
Quando eu te digo que te amo,
sinto-me piegas, banal,
quando meu amor proclamo,
penso, apenas, no ideal.
Quando te digo: "Quisera
que tu me amasses também",
estou querendo quimera,
não é verdade, meu bem?!
Se Deus te desse pra mim
num altar te iria pôr,
pra te adorar com fervor.
Pois, o que eu sinto por ti,
nunca neguei, ou menti:
é muito mais do que amor!
(Soneto composto em São Caetano do Sul, em 12 de dezembro de 1963).
Friday, August 15, 2008
REFLEXÃO DO DIA
Podemos nos tornar, sem que nos apercebamos, no maior perigo para nós mesmos, entre os tantos que abundam no mundo. Como? Cultivando mágoas e ressentimentos, que nos envenenam o espírito e nos tornam amargos e desagradáveis. Entregando-nos à tristeza, ao desânimo e ao mau-humor, que inibem nossas melhores potencialidades. Tornando-nos empedernidos céticos, ridicularizando a fé, nos descartando de esperanças e nos encerrando num inferno de rancor e antagonismos, que comprometem nossa saúde mental. E qual o antídoto para isso? Simples! Abrindo-nos para o mundo. Valorizando os bons momentos e apagando da memória os maus. Alegrando-nos com o bem que nos ocorra e não dando muita importância ao que de ruim nos acontecer. Luiz Vaz de Camões escreveu o seguinte, a propósito: “Anda sempre tão unido/o meu tormento comigo,/que eu mesmo sou meu perigo”. Evitemos de ser assim.
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