Tuesday, January 29, 2008

Supergênio renascentista


Pedro J. Bondaczuk

(CONTINUAÇÃO)

IV – Arquitetura, a grande paixão

Apesar de ter sido, também, excelente escultor, que deixou numerosos trabalhos, hoje intensamente admirados pelos que visitam Florença, Mântua, Rimini e outras tantas cidades por onde espalhou suas obras geniais, a arquitetura foi sua grande paixão. Foi a ela que Alberti se dedicou, de corpo e alma, nos derradeiros 28 anos da sua vida.
Como escultor, deixou um livro magnífico, escrito em 1450, “De Statua” (“A Estátua”), em que registrou as técnicas que desenvolveu. Seu aprendizado das técnicas arquitetônicas se deu com o notável mestre Filippo Bruneleschi. Pode-se dizer que na concepção, construção e decoração de magnificentes palácios e majestosas igrejas seu gênio, finalmente, se encontrou.
Alberti também escreveu um livro sobre arquitetura, redigido em 1435, “De Re Aedificatória”, que por muitos anos se constituiu em um tratado, de consulta obrigatória, por quase um século, para arquitetos dessa época.
São inúmeros os monumentos arquitetônicos que deixou por toda a Itália, preservados e apreciados até hoje por pessoas do mundo todo. Quatro, no entanto, se destacam. Um deles é o Palácio Rucellai, em Florença, concluído em 1451. Outro é o Templo Malatestiano, a célebre igreja de San Francesco, concluída em 1455, em Rimini, que se constituiu numa reação ao gótico, que então predominava por toda a Europa. Esta obra é a mais citada como característica do estilo que Alberti implantou.
A fachada da Igreja de Santa Maria Novelli, em Florença, que ele concluiu dois anos antes de morrer, é citada como seu terceiro mais destacado trabalho. O quarto é a Igreja de Santo André, em Mântua. Nesta obra, o notável genovês antecipou o estilo que, anos depois, seria desenvolvido e consagrado pelo notável arquiteto Donato Bramanti.
Leoni Batista Alberti morreu em Roma, em 1472, quando planejava uma nova obra para a Igreja Católica. Estranha-se que uma pessoa com tantos e tamanhos talentos e aptidões não tenha despertado a atenção dos historiadores e seja virtualmente ignorado. É escassa a bibliografia a respeito desse “homem universal”, autêntico cidadão do mundo.
Dante Aligheri disse, certa feita, ao ser forçado a deixar Florença, a pátria que tanto amava, humilhado e amargurado, após sofrer intensa perseguição dos inimigos: “Não posso ver em todas as partes a luz do sol e das estrelas? Não posso meditar, onde quiser, sobre as mais nobres verdades, sem que, por isso, tenha que aparecer, ante o povo e a cidade, em situação de descrédito e de ignomínia?”.
Chiberti, por seu turno, constatou: “Só quem aprende tudo não é, em nenhuma parte, estrangeiro. Ainda que se lhe prive de sua fortuna, ainda que se encontre sem amigos em qualquer cidade que resida e possa aguardar, sem medo, as vicissitudes do destino, será sempre um cidadão”. E arrematou: “Onde quer que o sábio estabeleça seu domicílio, ali encontrará a sua pátria”.
E isso aconteceu com Alberti. Mais do que cidadão de Gênova, onde nasceu, da Itália, da Europa ou do seu tempo, ele é cidadão do mundo, da humanidade e de todas as eras. É um símbolo de um ideal que o homem do chamado “século das luzes” está deixando para trás, ao aceitar a humilhante condição de “peça de uma engrenagem”, ao invés de destacar o seu real estado, que é o de um universo, complexo, rico e, sobretudo, original.

(Matéria Especial, publicada na página 24, do Correio Popular, em 8 de agosto de 1987).

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