Friday, January 25, 2008

Supergênio renascentista


Pedro J. Bondaczuk

(CONTINUAÇÃO)

II – Escritor eclético e criativo

A mente inquieta e imaginativa de Leoni Batista Alberti fez com que se tornasse um escritor eclético e criativo, de estilo sólido e erudito. Criatividade, para quem se dedica às letras, é fundamental. George Bernard Shaw observou, a esse propósito, no livro “Volta a Matusalém”: “Imaginar é o princípio da criação. A gente imagina o que deseja; quer o que imagina e, finalmente, cria o que quer”.
Alberti iniciou-se, em literatura, na poesia. Compôs magníficos versos, dedicados a várias donzelas, enfocando as delícias, sofrimentos e maravilhas do amor, dos quais, os poucos que restaram e chegaram aos nossos dias, atestam a imensa força do seu talento e sua genialidade. Dominava várias línguas, em especial o grego e o latim.
Entre tantos livros, escreveu “Philodoxus”, que se constituiu numa das primeiras comédias da Renascença. Em 1441, organizou o primeiro concurso de poesias de que se teve notícia na Itália, na catedral de Florença, cidade em que então residia, que recebeu o sugestivo nome de “Certame Coronário”.
Entre suas obras, destacam-se dois livros muito especiais, em prosa, escritos em italiano, num estilo que era, então, muito popular, o diálogo. Utilizando um hipotético interlocutor, que o interrogava sobre vários assuntos, teve a oportunidade de abordar os temas mais polêmicos e controvertidos de então.
O primeiro desses livros, em quatro volumes (que levou quatro anos para escrever, entre 1437 e 1441), foi “Della Famiglia” (“Sobre a Família”). O segundo, complementou essa análise da vida familiar a Florença de então, e intitulou-se “Dell’Iciarchia” (“Sobre o Governo da Casa”), verdadeiro tratado de economia doméstica.
Outra obra de Alberti, bastante apreciada, pela originalidade e pungência, foi uma oração fúnebre que escreveu para um cão de estimação, que havia morrido de velhice. Como se vê, ele incursionou do trágico ao cômico, do dramático ao lírico, com a mesma perícia e competência.
O segredo desse “homem universal”, todavia, era a sabedoria com que aproveitava seu tempo. Além de produzir, de forma constante e incansável, nos mais variados campos e de estudar intensivamente, ainda conseguia dedicar várias horas diárias à convivência comunitária. Quando lhe indagavam como conseguia reunir tantos talentos e encontrar tempo para tanta coisa, respondia: “Os homens, quando querem, podem tudo”.
Aldous Huxley, quatro séculos depois, chegaria, praticamente, à mesma conclusão ao afirmar: “A maior parte da ignorância é vencível. Não sabemos, porque não queremos saber”. Os contemporâneos de Alberti garantiam que, além de todos os talentos citados, ele tinha, ainda, o dom da profecia. Ele, porém, refutava isso. Dizia que se tratava de mera intuição. Ou seja, que se limitava a juntar os fatos e fazer extrapolações lógicas, e sempre exatas.
Por exemplo, previu a crise na Casa de Este, célebre dinastia florentina, que de fato ocorreu. Previu, também, o destino de Florença com absoluta exatidão. E, por último, prognosticou sobre quais seriam e que trajetória teriam, vários clérigos, que se tornaram papas, por vários e vários anos.

(CONTINUA)

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