Monday, January 28, 2008

Supergênio renascentista


Pedro J. Bondaczuk

(CONTINUAÇÃO)

III – Legado nas artes plásticas

A contribuição de Leoni Batista Alberti para a pintura foi inestimável, embora não conte com nenhum reconhecimento pelo que fez. Não fosse por outra coisa, só o fato de ter formulado por escrito as leis da perspectiva já bastaria para deixar seu nome gravado para sempre na história das artes plásticas. Seus quadros eram figurativistas, ao contrário dos de seus contemporâneos, como Fra Angélico, por exemplo, que pintava temas exclusivamente religiosos.
O genial e eclético genovês, no entanto, transportava para a tela a beleza, onde quer que a encontrasse. No vôo leve e solto de um colibri, numa paisagem exótica, no prenúncio de uma tempestade, no dinamismo do movimento dos animais, enfim, em tudo o que o cercava extraía motivos, temas, imagens para a sua inspirada palheta. Alberti era, sobretudo, exímio retratista. Apreciava reproduzir as figura humana, nos mínimos detalhes, em toda a sua dignidade e grandeza, perpetuando na tela imagens que, na verdade, eram efêmeras, mas que tornava perpétuas com seu pincel encantado.
Para o seu sucesso, também nesta atividade, contribuiu muito o conhecimento que adquiriu de perspectiva, do recurso da convexão óptico-geométrica, ou seja, da representação de um objeto numa superfície plana, dando a ilusão, ao apreciador, da existência de várias distâncias. Suas pinturas eram dotadas de uma espécie de “terceira dimensão”. Pelo menos era esta a impressão que davam.
Toda a experiência que obteve, em vários anos como pintor, Alberti registrou num livro que fez muito sucesso em seu tempo, na Europa; “De Pictura” (“Da Pintura”), lançado em 1435, quando tinha 31 anos de idade e estava no auge da criatividade.
Embora seu nome seja, muitas vezes, omitido das melhores enciclopédias e de tratados sobre a história da arte, sempre que se abordar os grandes mestres do Renascimento, seu nome terá (ou pelo menos deveria ter) um lugar obrigatório entre os gênios das artes plásticas desse século, como Sandro Boticcelli, Leonardo da Vinci, Hubert van Eyk, Hans Memling, Michelanmgelo Buonarrotti9 e Hieronymus Bosch, entre outros.
A perspectiva deu nova dimensão ao homem. Não que ela não existisse, mas antes de Alberti definir os seus princípios, era empírica, experimental, chamada de “romântica”. Foi o gênio genovês que a normatizou. Portanto, constituiu-se, também na pintura, em um fenômeno. Foi um grande inovador, embora aplicando, inflexivelmente, em suas obras, a medição clássica, sobretudo a romana.
Há críticos que afirmam que sua temática era dotada de um certo artificialismo, de um retorno à Antigüidade, como se isso o desmerecesse. Mas nem eles negam a existência de um altíssimo nível poético e cultural em seus quadros, de técnica bastante apurada, muito elogiados, por exemplo, por Masaccio, outro artista genial da época, que morreu, prematuramente, aos 27 anos de idade.
Alberti, por outro lado, teve uma característica considerada única entre os mais famosos retratistas do seu tempo: prescindia de modelos para desenhar seus quadros. Quando via algum rosto que o impressionasse, memorizava seus traços, detalhe por detalhe, e os reproduzia com espantosa fidelidade, dando à figura uma espécie de luminosidade, fruto da impressão deixada pela pessoa retratada em seu inquieto espírito.

(CONTINUA)

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