Pedro J. Bondaczuk
O artista, qualquer que seja o meio de expressão que utilize, desenvolve, com anos de exercício, a aptidão de explorar sutilmente o subconsciente (próprio e coletivo) à cata de emoções que lhe sirvam de matéria-prima para obras de arte.
Sons, imagens, odores, sensações agradáveis (e/ou desagradáveis) ditadas pelos cinco sentidos, são transformados por esses criadores (que valorizam e dão nobreza à vida humana) em melodias, telas, esculturas e palavras, que formam metáforas bem-ajustadas, coerentes e harmoniosas. Com o talento de que são dotados, nos transmitem suas emoções, às quais agregamos as nossas, ditadas por nossa própria experiência pessoal.
São os artistas, e não os cientistas, portanto, as "usinas", geradoras, por excelência, de idéias, mediante a fertilidade e originalidade da sua imaginação. Afinal, como Albert Einstein constatou em seu livro "Como vejo o mundo", todas as grandes descobertas científicas, sem exceção, tiveram, como origem, meras "fantasias".
É a arte, pois, (e não a ciência, à qual precede) que dá grandeza e transcendência ao homem. É o instrumento que, se utilizado com perícia e exatidão, se constitui no mais eficaz meio de denúncia, de conscientização e de educação (em seu sentido lato) das pessoas, pois apela, simultaneamente, para a inteligência e para a sensibilidade.
Estas considerações vêm a propósito do mais recente trabalho do artista plástico J. L. Piassa, originalíssima escultura intitulada "Dúbio: fecunda-ação – extin-ção". O nome pode parecer estranho aos mais desavisados, mas trata-se de uma metáfora (como ademais a própria obra) destinada a chamar a atenção do expectador para uma das questões mais polêmicas da atualidade: o aborto.
Antes de tecer considerações a propósito, se faz necessária uma breve descrição desse trabalho. Consiste, basicamente, de uma enorme guilhotina, de doze metros, que tem como lâmina central um mapa do Brasil, suspenso sobre o corpo de um feto e que fica num contínuo movimento pendular, marcando o tempo que ainda lhe resta. Como grande parte das produções de Piassa, são utilizados, na escultura, diversos recursos, não somente visuais, mas também sonoros e luminosos. O objetivo é ativar todos os sentidos do expectador, favorecendo não apenas sua compreensão do que vê, mas, sobretudo, o induzindo (consciente, inconsciente e/ou subconscientemente) à reflexão.
Ameaçado pela lâmina fatal, esse ser humano, absolutamente indefeso, emite desesperado choro, característico dos recém-nascidos, que se mistura aos sons de lamento, de arvores tombando ao corte de Moto serra verdadeiros gritos de socorro, de outros animais ameaçados de extinção em decorrência da nefasta ação humana, como o mico- leão-dourado e a ararinha azul e tantos e tantos outros.
"Por que a lamina da guilhotina tem, especificamente, o formato do mapa do Brasil?", perguntarão alguns, cientes de que o aborto é prática comum em quase todo o mundo, sendo, inclusive, legalizado em muitos e muitos países (como os Estados Unidos, por exemplo). Ocorre que o Congresso brasileiro está em vias de aprovar uma lei que permite que ele seja praticado, também, em nosso País.
A vida, toda vida, qualquer vida, é sumamente importante para o homem. Nada na natureza é supérfluo ou desnecessário. Tudo tem função, motivo e importância. Uma das principais obrigações das pessoas, senão a principal, é a de viver e deixar viver. Ninguém tem (nem pode ter) o poder de decidir sobre quem continuará existindo e quem deve ser eliminado ainda no ventre materno.
Qualquer coisa que ao menos lembre este tipo de comportamento é ilegítima, imoral e ilegal (ainda). A legalização dessa prática, portanto, é uma arbitrariedade sem tamanho. Contraria a lógica, a razão e o bom-senso. E sua utilização sem amparo legal é crime hediondo (e assim deveria continuar sendo).
O princípio básico de Justiça, o alicerce que lhe dá sustentação e força, preceitua que "todos" são iguais perante a lei. O fato dessa igualdade não passar, hoje em dia, de mera ficção, é que impede que, no campo do comportamento, a humanidade acompanhe o vertiginoso progresso da ciência.
O direito mais sagrado e inalienável de qualquer ser é o da vida. E quando esta passa a existir de fato? Em que instante mágico e miraculoso se corporifica e se reproduz milhões de vezes por dia, embora cada uma dessas reproduções não deixe de ser um milagre? No instante exato da fecundação!
É perda de tempo teorizar a respeito ou sofismar dizendo que o feto disforme, de uma, duas, dez, doze ou catorze semanas, não é ainda um ser humano. É evidente que é! Afirmar, portanto, que impedir que uma mulher grávida cometa o criminoso ato do aborto é tolher seus direitos, não passa de irresponsabilidade e, mais do que isso, de cumplicidade num covarde e frio assassinato (polêmicas a parte), contra um ser absolutamente indefeso. Ninguém, mas ninguém mesmo, pode decidir sobre a vida e a morte do próximo, sejam quais forem os motivos e circunstâncias.
A ciência, portanto, não tem o "direito" de invadir este campo, enquanto estas questões (e tantas outras) não forem respondidas e sem deixar dúvidas. Caso contrário, estará, apenas, compactuando com taras, com horrores e com perversidades.
De uns tempos para cá, prevalece, na literatura e, sobretudo, no campo prático, a apologia da morte. Não há enredo de romance, novela, conto ou filme em que não haja algum "herói" suprimindo a vida de um "bandido", como se quem mata o que é mau não se igualasse a ele. Todavia, o verdadeiro heroísmo consiste em construir: obras, idéias, conceitos e valores. A violência jamais será contida por expedientes violentos.
A salvação do mundo e, do homem, é a educação. Albert Schweitzer fez essa constatação, numa de suas tantas reflexões filosóficas: "Quanto mais profundamente nos abismamos na natureza, tanto mais reconhecemos que ela está cheia de vida, e tanto mais compreenderemos que toda a vida é um segredo, e que estamos unidos com toda a vida que há na natureza".
Apesar de dimensões ínfimas, em relação ao inconcebivelmente imenso tamanho do universo, somos mini-mundos. Abrigamos bilhões de vidas independentes, que nascem, crescem, se reproduzem e morrem, como ocorre conosco, representadas pelas células do nosso corpo e por seres oportunistas, como vírus e bactérias, que sobrevivem às nossas custas. Somos partes indissociáveis da mágica cadeia da vida, reprodução, em pequena escala, do universo.
Renè Dèscartes, na tentativa de buscar a verdade, negou, inicialmente, a existência de tudo. Depois, partiu de uma premissa básica para "negar" a sua negação: a célebre "cogito, ergo sum". Ou seja: penso, logo existo. Talvez hoje, a rigor, a única conclusão exata a que possamos chegar ainda seja apenas esta.
O que é a vida? É, sobretudo, um mistério. É muito mais do que meros conjuntos de aminoácidos combinando para formar proteínas componentes de células, tecidos, órgãos, estruturas completas. Há algo impalpável que anatomista algum, nenhum cientista, por mais perito que seja, conseguiu isolar, separar, dissecar, posto que é imaterial.
Piassa, com seu talento, lavra, portanto, com sua obra, mais um tento no sentido de defender o que há de mais precioso, inexplicável e transcendental no universo: a vida. É a arte, mais uma vez, mostrando a sua utilidade e capacidade de incomodar e conscientizar as pessoas, que é uma das suas principais e mais nobres funções.
O artista, qualquer que seja o meio de expressão que utilize, desenvolve, com anos de exercício, a aptidão de explorar sutilmente o subconsciente (próprio e coletivo) à cata de emoções que lhe sirvam de matéria-prima para obras de arte.
Sons, imagens, odores, sensações agradáveis (e/ou desagradáveis) ditadas pelos cinco sentidos, são transformados por esses criadores (que valorizam e dão nobreza à vida humana) em melodias, telas, esculturas e palavras, que formam metáforas bem-ajustadas, coerentes e harmoniosas. Com o talento de que são dotados, nos transmitem suas emoções, às quais agregamos as nossas, ditadas por nossa própria experiência pessoal.
São os artistas, e não os cientistas, portanto, as "usinas", geradoras, por excelência, de idéias, mediante a fertilidade e originalidade da sua imaginação. Afinal, como Albert Einstein constatou em seu livro "Como vejo o mundo", todas as grandes descobertas científicas, sem exceção, tiveram, como origem, meras "fantasias".
É a arte, pois, (e não a ciência, à qual precede) que dá grandeza e transcendência ao homem. É o instrumento que, se utilizado com perícia e exatidão, se constitui no mais eficaz meio de denúncia, de conscientização e de educação (em seu sentido lato) das pessoas, pois apela, simultaneamente, para a inteligência e para a sensibilidade.
Estas considerações vêm a propósito do mais recente trabalho do artista plástico J. L. Piassa, originalíssima escultura intitulada "Dúbio: fecunda-ação – extin-ção". O nome pode parecer estranho aos mais desavisados, mas trata-se de uma metáfora (como ademais a própria obra) destinada a chamar a atenção do expectador para uma das questões mais polêmicas da atualidade: o aborto.
Antes de tecer considerações a propósito, se faz necessária uma breve descrição desse trabalho. Consiste, basicamente, de uma enorme guilhotina, de doze metros, que tem como lâmina central um mapa do Brasil, suspenso sobre o corpo de um feto e que fica num contínuo movimento pendular, marcando o tempo que ainda lhe resta. Como grande parte das produções de Piassa, são utilizados, na escultura, diversos recursos, não somente visuais, mas também sonoros e luminosos. O objetivo é ativar todos os sentidos do expectador, favorecendo não apenas sua compreensão do que vê, mas, sobretudo, o induzindo (consciente, inconsciente e/ou subconscientemente) à reflexão.
Ameaçado pela lâmina fatal, esse ser humano, absolutamente indefeso, emite desesperado choro, característico dos recém-nascidos, que se mistura aos sons de lamento, de arvores tombando ao corte de Moto serra verdadeiros gritos de socorro, de outros animais ameaçados de extinção em decorrência da nefasta ação humana, como o mico- leão-dourado e a ararinha azul e tantos e tantos outros.
"Por que a lamina da guilhotina tem, especificamente, o formato do mapa do Brasil?", perguntarão alguns, cientes de que o aborto é prática comum em quase todo o mundo, sendo, inclusive, legalizado em muitos e muitos países (como os Estados Unidos, por exemplo). Ocorre que o Congresso brasileiro está em vias de aprovar uma lei que permite que ele seja praticado, também, em nosso País.
A vida, toda vida, qualquer vida, é sumamente importante para o homem. Nada na natureza é supérfluo ou desnecessário. Tudo tem função, motivo e importância. Uma das principais obrigações das pessoas, senão a principal, é a de viver e deixar viver. Ninguém tem (nem pode ter) o poder de decidir sobre quem continuará existindo e quem deve ser eliminado ainda no ventre materno.
Qualquer coisa que ao menos lembre este tipo de comportamento é ilegítima, imoral e ilegal (ainda). A legalização dessa prática, portanto, é uma arbitrariedade sem tamanho. Contraria a lógica, a razão e o bom-senso. E sua utilização sem amparo legal é crime hediondo (e assim deveria continuar sendo).
O princípio básico de Justiça, o alicerce que lhe dá sustentação e força, preceitua que "todos" são iguais perante a lei. O fato dessa igualdade não passar, hoje em dia, de mera ficção, é que impede que, no campo do comportamento, a humanidade acompanhe o vertiginoso progresso da ciência.
O direito mais sagrado e inalienável de qualquer ser é o da vida. E quando esta passa a existir de fato? Em que instante mágico e miraculoso se corporifica e se reproduz milhões de vezes por dia, embora cada uma dessas reproduções não deixe de ser um milagre? No instante exato da fecundação!
É perda de tempo teorizar a respeito ou sofismar dizendo que o feto disforme, de uma, duas, dez, doze ou catorze semanas, não é ainda um ser humano. É evidente que é! Afirmar, portanto, que impedir que uma mulher grávida cometa o criminoso ato do aborto é tolher seus direitos, não passa de irresponsabilidade e, mais do que isso, de cumplicidade num covarde e frio assassinato (polêmicas a parte), contra um ser absolutamente indefeso. Ninguém, mas ninguém mesmo, pode decidir sobre a vida e a morte do próximo, sejam quais forem os motivos e circunstâncias.
A ciência, portanto, não tem o "direito" de invadir este campo, enquanto estas questões (e tantas outras) não forem respondidas e sem deixar dúvidas. Caso contrário, estará, apenas, compactuando com taras, com horrores e com perversidades.
De uns tempos para cá, prevalece, na literatura e, sobretudo, no campo prático, a apologia da morte. Não há enredo de romance, novela, conto ou filme em que não haja algum "herói" suprimindo a vida de um "bandido", como se quem mata o que é mau não se igualasse a ele. Todavia, o verdadeiro heroísmo consiste em construir: obras, idéias, conceitos e valores. A violência jamais será contida por expedientes violentos.
A salvação do mundo e, do homem, é a educação. Albert Schweitzer fez essa constatação, numa de suas tantas reflexões filosóficas: "Quanto mais profundamente nos abismamos na natureza, tanto mais reconhecemos que ela está cheia de vida, e tanto mais compreenderemos que toda a vida é um segredo, e que estamos unidos com toda a vida que há na natureza".
Apesar de dimensões ínfimas, em relação ao inconcebivelmente imenso tamanho do universo, somos mini-mundos. Abrigamos bilhões de vidas independentes, que nascem, crescem, se reproduzem e morrem, como ocorre conosco, representadas pelas células do nosso corpo e por seres oportunistas, como vírus e bactérias, que sobrevivem às nossas custas. Somos partes indissociáveis da mágica cadeia da vida, reprodução, em pequena escala, do universo.
Renè Dèscartes, na tentativa de buscar a verdade, negou, inicialmente, a existência de tudo. Depois, partiu de uma premissa básica para "negar" a sua negação: a célebre "cogito, ergo sum". Ou seja: penso, logo existo. Talvez hoje, a rigor, a única conclusão exata a que possamos chegar ainda seja apenas esta.
O que é a vida? É, sobretudo, um mistério. É muito mais do que meros conjuntos de aminoácidos combinando para formar proteínas componentes de células, tecidos, órgãos, estruturas completas. Há algo impalpável que anatomista algum, nenhum cientista, por mais perito que seja, conseguiu isolar, separar, dissecar, posto que é imaterial.
Piassa, com seu talento, lavra, portanto, com sua obra, mais um tento no sentido de defender o que há de mais precioso, inexplicável e transcendental no universo: a vida. É a arte, mais uma vez, mostrando a sua utilidade e capacidade de incomodar e conscientizar as pessoas, que é uma das suas principais e mais nobres funções.
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