Pedro J. Bondaczuk
As ruas da Campinas atual estão perdendo o encanto. Há tempos que já não são mais um lugar seguro para seus moradores. Antes, quando a cidade era um burgo pacato e acolhedor, embora com vocação para o progresso, era comum ver casais de namorados passeando tranqüilos, de mãos dadas, ao cair da tarde, à saída das matinês dos cinemas ou das aulas de uma escola normal, por exemplo.
Ou dos colégios Cesário Mota, Ateneu Paulista, Bandeirantes ou outros que agora existem apenas na nossa memória. Foram derrubados para virar praças ou espigões. Acabaram vencidos pela febre de expansão urbana. Nesse tempo, não tão distante assim, velhinhos podiam caminhar tranqüilos, com seus passinhos miúdos, despreocupados e sonhadores, antes do jantar. Hoje, ninguém seria tolo de cometer tamanha temeridade. A própria vida tinha outro compasso então, que era o do nosso coração.
Érico Veríssimo, no romance "Olhai os lírios do campo", afirma, através de um dos seus personagens: "Há qualquer mistério nas ruazinhas desertas e mal alumiadas, nas velhas casas coloniais de fachadas sombrias. Cachorros latem. As portas iluminadas duma venda. O vulto da igreja antiga. Sempre uma sugestão de Deus, dentro e fora de nossos pensamentos".
Hoje tudo mudou! Não apenas em Campinas, mas em outras cidades onde a mudança foi até mais dramática ainda. Transformaram-se, de lugares aprazíveis e tranqüilos, em meros "depósitos de gente". Quem, por exemplo, se atreve, hoje em dia, a passear pelas "ruazinhas desertas e mal alumiadas" dessa gigantesca e cada vez mais violenta metrópole?
Em nosso caso específico, pode haver de tudo, menos, como diz Érico Veríssimo, "sempre uma sugestão de Deus, dentro e fora de nossos pensamentos", se cometermos a temeridade de caminhar, mesmo que em plena luz do dia, por lugares lôbregos, desertos e sombrios. Hoje, o sentimento que toma conta do incauto que se atreve a embarcar nessa aventura é o de medo de ser assaltado ou de coisa pior. É uma lástima!
No início do século XX havia, em todo o mundo, cerca de uma a duas dezenas de concentrações urbanas com mais de 1 milhão de habitantes. Hoje, elas já são quase cem, e continuam inchando. Algumas estão tão superdimensionadas a ponto de terem populações superiores, inclusive, às de países inteiros.
É o caso da Cidade do México que, sozinha, tem mais habitantes do que o Peru e a Bolívia somados! Que tipo de vida se pode ter num lugar assim, ruidoso, fumarento, inseguro e violento? O ex-prefeito de Roma e historiador de arte, Giulio Carlo Argan, disse, a esse propósito, numa entrevista: "Do meu ponto de vista, as cidades deveriam ter um limite de expansão, também porque além daquele limite – que eu diria entre 2 milhões e 3 milhões de habitantes – é muito difícil haver governo democrático na cidade". Diríamos que as dificuldades são extensivas a tantas outras coisas. Uma delas é a saudável convivência.
Talvez a população ideal seja ainda menor do que 3 milhões. Não diríamos 50 mil, como defendia Platão, pois essa cifra poderia ser adequada para o seu tempo, mas não aos dias atuais. Quem sabe o melhor seria que os centros urbanos não tivessem mais do que 500 mil habitantes, por exemplo.
O arquiteto Paulo Archias Mendes da Rocha, em seu livro "Memórias", faz uma observação pertinente, que nós, campineiros, deveríamos levar muito a sério: "A cidade é uma idéia, ela não existe. É uma invenção do homem. Se não gostamos dela, temos de fazer uma outra. A esperança é essa. Saber que sabemos fazer desta uma outra". Compete-nos, portanto, fazer uma "outra" Campinas, que nos pertença, e não aos violentos, aos bandidos, aos marginais, aos ladrões e aos seqüestradores. Desta, que está aí, mais violenta do que 25 capitais de Estado do País, certamente não gostamos! E nem poderíamos gostar, a menos que tivéssemos graves impulsos suicidas..
Como seria bom podermos voltar a caminhar tranqüilos pelas ruas da nossa cidade, a qualquer hora do dia ou da noite, como em passado ainda relativamente recente, sem riscos de assaltos ou de atropelamentos! Ou pelo menos sem aborrecimentos. Apreciar o céu, as nuvens, as árvores, os monumentos, os tipos humanos...
Ter oportunidade de valorizar o que de bom e agradável Campinas pode nos proporcionar (ainda pode, mas não se sabe por quanto tempo mais). Encontrar amigos, fazer novas amizades, empreender conquistas, valorizar o lado bom dos nossos semelhantes. Fazer do lugar em que moramos o nosso mundo e não somente fonte permanente de neuroses e preocupações.
Como seria bom poder exclamar, como Paul Verlaine: "Que azul é o céu, quão grande é a esperança!" Hoje, só podemos desabafar como o poeta Mário Quintana: "Antes, todos os caminhos iam. Agora, todos os caminhos vêm. A casa é acolhedora e os livros, poucos. E eu mesmo preparo o chá para os fantasmas". É só o que nos resta fazer...Tomarmos chá com os fantasmas, discretamente, e bem escondidinhos em nossas casas. E olhem lá!
As ruas da Campinas atual estão perdendo o encanto. Há tempos que já não são mais um lugar seguro para seus moradores. Antes, quando a cidade era um burgo pacato e acolhedor, embora com vocação para o progresso, era comum ver casais de namorados passeando tranqüilos, de mãos dadas, ao cair da tarde, à saída das matinês dos cinemas ou das aulas de uma escola normal, por exemplo.
Ou dos colégios Cesário Mota, Ateneu Paulista, Bandeirantes ou outros que agora existem apenas na nossa memória. Foram derrubados para virar praças ou espigões. Acabaram vencidos pela febre de expansão urbana. Nesse tempo, não tão distante assim, velhinhos podiam caminhar tranqüilos, com seus passinhos miúdos, despreocupados e sonhadores, antes do jantar. Hoje, ninguém seria tolo de cometer tamanha temeridade. A própria vida tinha outro compasso então, que era o do nosso coração.
Érico Veríssimo, no romance "Olhai os lírios do campo", afirma, através de um dos seus personagens: "Há qualquer mistério nas ruazinhas desertas e mal alumiadas, nas velhas casas coloniais de fachadas sombrias. Cachorros latem. As portas iluminadas duma venda. O vulto da igreja antiga. Sempre uma sugestão de Deus, dentro e fora de nossos pensamentos".
Hoje tudo mudou! Não apenas em Campinas, mas em outras cidades onde a mudança foi até mais dramática ainda. Transformaram-se, de lugares aprazíveis e tranqüilos, em meros "depósitos de gente". Quem, por exemplo, se atreve, hoje em dia, a passear pelas "ruazinhas desertas e mal alumiadas" dessa gigantesca e cada vez mais violenta metrópole?
Em nosso caso específico, pode haver de tudo, menos, como diz Érico Veríssimo, "sempre uma sugestão de Deus, dentro e fora de nossos pensamentos", se cometermos a temeridade de caminhar, mesmo que em plena luz do dia, por lugares lôbregos, desertos e sombrios. Hoje, o sentimento que toma conta do incauto que se atreve a embarcar nessa aventura é o de medo de ser assaltado ou de coisa pior. É uma lástima!
No início do século XX havia, em todo o mundo, cerca de uma a duas dezenas de concentrações urbanas com mais de 1 milhão de habitantes. Hoje, elas já são quase cem, e continuam inchando. Algumas estão tão superdimensionadas a ponto de terem populações superiores, inclusive, às de países inteiros.
É o caso da Cidade do México que, sozinha, tem mais habitantes do que o Peru e a Bolívia somados! Que tipo de vida se pode ter num lugar assim, ruidoso, fumarento, inseguro e violento? O ex-prefeito de Roma e historiador de arte, Giulio Carlo Argan, disse, a esse propósito, numa entrevista: "Do meu ponto de vista, as cidades deveriam ter um limite de expansão, também porque além daquele limite – que eu diria entre 2 milhões e 3 milhões de habitantes – é muito difícil haver governo democrático na cidade". Diríamos que as dificuldades são extensivas a tantas outras coisas. Uma delas é a saudável convivência.
Talvez a população ideal seja ainda menor do que 3 milhões. Não diríamos 50 mil, como defendia Platão, pois essa cifra poderia ser adequada para o seu tempo, mas não aos dias atuais. Quem sabe o melhor seria que os centros urbanos não tivessem mais do que 500 mil habitantes, por exemplo.
O arquiteto Paulo Archias Mendes da Rocha, em seu livro "Memórias", faz uma observação pertinente, que nós, campineiros, deveríamos levar muito a sério: "A cidade é uma idéia, ela não existe. É uma invenção do homem. Se não gostamos dela, temos de fazer uma outra. A esperança é essa. Saber que sabemos fazer desta uma outra". Compete-nos, portanto, fazer uma "outra" Campinas, que nos pertença, e não aos violentos, aos bandidos, aos marginais, aos ladrões e aos seqüestradores. Desta, que está aí, mais violenta do que 25 capitais de Estado do País, certamente não gostamos! E nem poderíamos gostar, a menos que tivéssemos graves impulsos suicidas..
Como seria bom podermos voltar a caminhar tranqüilos pelas ruas da nossa cidade, a qualquer hora do dia ou da noite, como em passado ainda relativamente recente, sem riscos de assaltos ou de atropelamentos! Ou pelo menos sem aborrecimentos. Apreciar o céu, as nuvens, as árvores, os monumentos, os tipos humanos...
Ter oportunidade de valorizar o que de bom e agradável Campinas pode nos proporcionar (ainda pode, mas não se sabe por quanto tempo mais). Encontrar amigos, fazer novas amizades, empreender conquistas, valorizar o lado bom dos nossos semelhantes. Fazer do lugar em que moramos o nosso mundo e não somente fonte permanente de neuroses e preocupações.
Como seria bom poder exclamar, como Paul Verlaine: "Que azul é o céu, quão grande é a esperança!" Hoje, só podemos desabafar como o poeta Mário Quintana: "Antes, todos os caminhos iam. Agora, todos os caminhos vêm. A casa é acolhedora e os livros, poucos. E eu mesmo preparo o chá para os fantasmas". É só o que nos resta fazer...Tomarmos chá com os fantasmas, discretamente, e bem escondidinhos em nossas casas. E olhem lá!
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