Thursday, November 22, 2007

Ciência sem consciência


Pedro J. Bondaczuk


“A ciência sem a consciência é uma calamidade para a alma”. A afirmação, que pode ser facilmente comprovada por fatos que ocorrem conosco, em nosso dia-a-dia, é do escritor satírico francês, François Rabelais (1494-1553). A psicóloga e psicoterapeuta Leyde Christina Righetti Rino Rezende, uma das fundadoras da “Humanitatis – Instituto de Formação Transdisciplinar”, com sede em Campinas, traz à baila uma instigante questão, relacionada a esse tema. Constata: “As pessoas lutam, estudam, competem, se especializam, fazem pós-graduações, MBAs, aprendem idiomas, etc. E, com tudo isso, sentem-se inseguras, frustradas e sem perspectivas”. E indaga: “O que está acontecendo?”.
O escritor checo, Milan Kundera, aliás, aborda a questão em profundidade, no instigante romance “A Imortalidade”, da seguinte forma: “O mundo atingiu uma fronteira; quando ele a ultrapassa, tudo pode virar loucura: as pessoas andarão pelas ruas segurando um miosótis, ou então atirarão uns nos outros na frente de todos. E bastará muito pouca coisa; uma gota d`água fará o copo transbordar: por exemplo, um carro, um homem ou um decibel a mais na rua. Existe uma fronteira quantitativa a ser ultrapassada; mas essa fronteira não é vigiada por ninguém, e talvez até ninguém mesmo saiba de sua existência”.
As pessoas nunca dispuseram de tanta informação, de tanto conhecimento, de tantas oportunidades de formação, como agora, neste início de terceiro milênio da Era Cristã. No entanto, poucas vezes na história se viu tamanha descrença, tanto desamor, uma soma tão imensa de frustrações, individuais e/ou coletivas, sem falar da crescente violência, que nos ameaça e apavora constantemente, inclusive no recesso do nosso lar. Diante desse quadro odioso da realidade, não raro desanimamos de tudo, e não vemos sequer perspectivas mínimas para nossas vidas e, por conseqüência, de futuro para a sociedade..
Kundera diz mais: “Pouco a pouco o mundo perde sua transparência e torna-se opaco, ininteligível, precipita-se no desconhecido, enquanto o homem traído pelo mundo refugia-se em seu foro íntimo, em sua nostalgia, em seus sonhos, em sua revolta, e, aturdido com a voz dolorosa que emerge de dentro dele, não sabe mais ouvir as vozes que o interpelam de fora”.
E por que isso ocorre? Porque a humanidade recebe, hoje, uma overdose de ciência e de tecnologia, mas é “alimentada” com rações mínimas, quando não nulas, de consciência. Tudo é mecânico demais, frio em demasia, muito impessoal e, portanto, calamitoso para a alma. A presidente da “Humanitatis”, psicanalista de orientação Transpessoal e doutora em Filosofia da Educação pela Unicamp, Maria Escolástica Álvares da Silva, tem uma explicação bastante simples para isso. Destaca, em texto que nos foi enviado pela jornalista Marta Fontenele, da “Agenda Entrevistas”: “O conhecimento só transforma quando vem do coração”. Ou seja, quando há o indispensável “casamento” entre a razão e a emoção, entre o raciocínio e o sentimento, entre a inovação e a tradição. Em suma, quando as pessoas exercem sua humanidade por inteiro, e não somente parte dela.
Para ajudar quem queira a encontrar esse tão fundamental equilíbrio, o Instituto de Formação Transdisciplinar (Rua Novo Horizonte, 585, Chácara da Barra, fones 3251-6678 e 3384-3652) promove, a partir de abril, cursos de desenvolvimento humano, para o público em geral. As jornalistas Marta Fontenele e Fabiana Bruno informam que os participantes vão ter ao seu dispor recursos teóricos e práticos, que os ajudarão a resgatar o contato com a sua essência. Ou seja, vão aprender, sobretudo, a detectar na ciência (no caso, os conhecimentos acadêmicos que adquiriram) a indispensável consciência, além da finalidade.
A formação Transpessoal, conforme informam as citadas jornalistas, proporciona uma “nova visão do ser humano. Reconecta os aspectos biopsíquico e espiritual da pessoa. Baseia-se na transdisciplinaridade, ou seja, reúne o saber das tradições com a ciência, a filosofia, as artes e a espiritualidade”. Maiores informações a respeito poderão ser obtidas na Humanitatis ou na Agenda Entrevistas, pelo telefone 3294-5100, com Marta Fontenele ou Fabiana Bruno.
Edgar Morin, num dos seus mais de 50 livros (não me recordo em qual), observou: “O Homo Sapiens é definido por sua racionalidade e o ‘demens’ pela afetividade dos seus mitos e delírios. O homem é um ser complexo que trabalha e brinca, é pragmático e imaginativo, prosaico e poético, econômico e consumista. O homem prosaico é também o da poesia, o do fervor, da participação, do amor, do êxtase. Só o amor é capaz de irrigar de poesia a vida cotidiana”. E, acrescentaríamos: só a consciência confere à ciência a sua grandiosidade e transcendência, tornando a nossa vida mais útil, produtiva, agradável e, sobretudo, equilibrada.

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