Saturday, November 17, 2007

Nas garras da ilusão


Pedro J. Bondaczuk


Misterioso pó das estrelas,
fortuita combinação de aminoácidos,
solitário cigano do cosmos,
junco de contradições e circunstâncias.

Cobaia fértil, que se multiplica
mais e mais, com estonteante velocidade,
encerrada em minúscula esfera azul
da qual busca, em vão, se evadir.

Este é o homem, atado, na caverna de Platão,
que vislumbra sombras (entende-as reais).
Ilusão! Tudo, tudo no mundo é ilusão,
fantasias, desejos, sonhos e nada mais.

Sonha ser eterno e indestrutível,
julga-se todo-poderoso e forte,
oscila do sublime ao terrível,
mas é impotente e frágil face à morte.

Num simulacro de comunicação,
cria metáforas, símbolos, alegoria,
mas o resultado é a imensa solidão
e esta realidade atroz, banal e fria.

Grandeza! Busco, com afã, grandeza!
Caminhos, verdades, racional explicação.
Crio, com palavras, arremedos de beleza.
Tentativa vã! Mentiras! É mera ilusão!

(Poema composto em São Caetano do Sul, em 17 de fevereiro de 1964).

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