Pedro J. Bondaczuk
O advento e a evolução dos meios de comunicação de massa – e isso não é novidade para ninguém – se constituem na única e genuína revolução do século XX. Este fantástico aparato comunicativo à disposição do homem moderno "virou o mundo pelo avesso". Para as ondas de rádio e imagens de televisão, por exemplo, não existem fronteiras. Essa possibilidade de falar instantaneamente com qualquer parte do Planeta e de emitir e receber imagens tornou mais difícil a tarefa dos tiranos, dos ditadores de todos os tipos, dos charlatães que vendem a felicidade em pílulas. Daí terem sido reduzidas, em especial a partir dos anos 80, as ditaduras por todas as partes, mormente na América Latina.
Claro que esse não foi o único fator para o advento da democracia em Estados tradicionalmente fechados e com feudalismo disfarçado – em algumas partes ainda muito incipiente e carregada dos vícios do caudilhismo –, havendo outros interesses em jogo, cuja menção não cabe aqui, já que o tema de que queremos tratar não é exatamente este. Apesar de todos os benefícios que a suposta era da informação total trouxe à humanidade, não posso deixar de dar razão ao desabafo do escritor norte-americano Daniel Robert, que diz: "A comunicação está doente de presunção".
Não se pode confundir o meio com a mensagem. Os veículos à disposição dos povos são, de fato, revolucionários. O teor daquilo que transmitem é que merece reparos e contestações. Quem os utiliza quase nunca está preparado para falar com um público tão amplo que tais meios atingem. Pegue o leitor um jornal (longe de ser o veículo mais popular e mais ágil), qualquer um deles, seja de que tendência ideológica for. Leia um editorial a esmo, ou um dos artigos publicados. Leu? Deu para notar o tom arrogante, presunçoso, com ares de "dono da verdade" com que o tema foi abordado? Qual o preparo desse "fazedor de cabeças" para tentar modificar uma realidade cujo alcance não atina? Nem sempre (ou quase nunca) o que parece de fato é. E não é apenas na área opinativa que jornais, revistas, emissoras de rádio e de televisão esbanjam presunção.
Outro escritor norte-americano, Josh Billings, fez uma observação pertinente, sobre um comportamento que todos já notamos, embora poucos tenham coragem, ou espaço nos meios de comunicação, para expressar. Afirma: "Existem pessoas tão afeitas ao exagero que não sabem dizer a verdade sem mentir". Estaríamos aptos a interpretar os fatos dos quais tomamos conhecimento, para julgar as ações das pessoas que nos rodeiam, para afirmar que sabemos exatamente como é tudo o que nos cerca com neutralidade e isenção? Duvido! Somos frutos da educação que recebemos e das tendências que trazemos do berço e que nos acompanham pela vida afora. Ninguém tem a garantia de que a sua formação foi impecável, sem falhas, lacunas ou distorções. Somos homens do nosso tempo, influenciados por idéias alheias, com a cabeça repleta de conceitos, preceitos e preconceitos.
O professor norte-americano Stephen Greenblatt observou, em um artigo publicado na imprensa do seu país em 1991: "Nossas palavras estão cheias de vestígios que sequer compreendemos completamente quando falamos de vozes que existiram no passado e silenciaram, estão mortas. Nossas vidas estão cheias das presenças fantasmagóricas de nossos ancestrais, de nossos pais, de nossos avós, das figuras que nos tocam e em relação às quais tentamos nos situar".
Nós, que temos a responsabilidade de decisão nos meios de comunicação --- me incluo nesse meio, por ser profissional de imprensa --- fornecemos ao público, do alto da nossa presunção, salvo raras exceções (impossíveis de distinguir da regra), "versões" em vez de "informações". Parodiando Antônio Vieira, "amamos vidros, cuidando que sejam diamantes". Não podemos nunca nos acomodar e achar que somos auto-suficientes. Nossa reflexão, reciclagem de métodos de colheita e transmissão de notícias e evolução mental e intelectual devem ser permanentes, mensais, diárias, horárias se possível. Umberto Eco indaga: "É possível abstrairmos nossa condição de intérpretes, historicamente situados, e vermos a obra como um cristal?" Na teoria, sim.
Mas para tanto, é preciso desenvolver e exercitar a cada instante da vida um aguçado espírito crítico. Adotar o comportamento científico de não aceitar nenhuma idéia ou conceito aprioristicamente, sem questionamento, deixando sempre um saudável espaço para a dúvida. Porquanto, como observou Manuel Bandeira (e os poetas têm uma percepção mais clara da realidade pela sua própria condição), "somos duplamente prisioneiros: de nós mesmos e do tempo em que vivemos". Deixemos de presunção.
O advento e a evolução dos meios de comunicação de massa – e isso não é novidade para ninguém – se constituem na única e genuína revolução do século XX. Este fantástico aparato comunicativo à disposição do homem moderno "virou o mundo pelo avesso". Para as ondas de rádio e imagens de televisão, por exemplo, não existem fronteiras. Essa possibilidade de falar instantaneamente com qualquer parte do Planeta e de emitir e receber imagens tornou mais difícil a tarefa dos tiranos, dos ditadores de todos os tipos, dos charlatães que vendem a felicidade em pílulas. Daí terem sido reduzidas, em especial a partir dos anos 80, as ditaduras por todas as partes, mormente na América Latina.
Claro que esse não foi o único fator para o advento da democracia em Estados tradicionalmente fechados e com feudalismo disfarçado – em algumas partes ainda muito incipiente e carregada dos vícios do caudilhismo –, havendo outros interesses em jogo, cuja menção não cabe aqui, já que o tema de que queremos tratar não é exatamente este. Apesar de todos os benefícios que a suposta era da informação total trouxe à humanidade, não posso deixar de dar razão ao desabafo do escritor norte-americano Daniel Robert, que diz: "A comunicação está doente de presunção".
Não se pode confundir o meio com a mensagem. Os veículos à disposição dos povos são, de fato, revolucionários. O teor daquilo que transmitem é que merece reparos e contestações. Quem os utiliza quase nunca está preparado para falar com um público tão amplo que tais meios atingem. Pegue o leitor um jornal (longe de ser o veículo mais popular e mais ágil), qualquer um deles, seja de que tendência ideológica for. Leia um editorial a esmo, ou um dos artigos publicados. Leu? Deu para notar o tom arrogante, presunçoso, com ares de "dono da verdade" com que o tema foi abordado? Qual o preparo desse "fazedor de cabeças" para tentar modificar uma realidade cujo alcance não atina? Nem sempre (ou quase nunca) o que parece de fato é. E não é apenas na área opinativa que jornais, revistas, emissoras de rádio e de televisão esbanjam presunção.
Outro escritor norte-americano, Josh Billings, fez uma observação pertinente, sobre um comportamento que todos já notamos, embora poucos tenham coragem, ou espaço nos meios de comunicação, para expressar. Afirma: "Existem pessoas tão afeitas ao exagero que não sabem dizer a verdade sem mentir". Estaríamos aptos a interpretar os fatos dos quais tomamos conhecimento, para julgar as ações das pessoas que nos rodeiam, para afirmar que sabemos exatamente como é tudo o que nos cerca com neutralidade e isenção? Duvido! Somos frutos da educação que recebemos e das tendências que trazemos do berço e que nos acompanham pela vida afora. Ninguém tem a garantia de que a sua formação foi impecável, sem falhas, lacunas ou distorções. Somos homens do nosso tempo, influenciados por idéias alheias, com a cabeça repleta de conceitos, preceitos e preconceitos.
O professor norte-americano Stephen Greenblatt observou, em um artigo publicado na imprensa do seu país em 1991: "Nossas palavras estão cheias de vestígios que sequer compreendemos completamente quando falamos de vozes que existiram no passado e silenciaram, estão mortas. Nossas vidas estão cheias das presenças fantasmagóricas de nossos ancestrais, de nossos pais, de nossos avós, das figuras que nos tocam e em relação às quais tentamos nos situar".
Nós, que temos a responsabilidade de decisão nos meios de comunicação --- me incluo nesse meio, por ser profissional de imprensa --- fornecemos ao público, do alto da nossa presunção, salvo raras exceções (impossíveis de distinguir da regra), "versões" em vez de "informações". Parodiando Antônio Vieira, "amamos vidros, cuidando que sejam diamantes". Não podemos nunca nos acomodar e achar que somos auto-suficientes. Nossa reflexão, reciclagem de métodos de colheita e transmissão de notícias e evolução mental e intelectual devem ser permanentes, mensais, diárias, horárias se possível. Umberto Eco indaga: "É possível abstrairmos nossa condição de intérpretes, historicamente situados, e vermos a obra como um cristal?" Na teoria, sim.
Mas para tanto, é preciso desenvolver e exercitar a cada instante da vida um aguçado espírito crítico. Adotar o comportamento científico de não aceitar nenhuma idéia ou conceito aprioristicamente, sem questionamento, deixando sempre um saudável espaço para a dúvida. Porquanto, como observou Manuel Bandeira (e os poetas têm uma percepção mais clara da realidade pela sua própria condição), "somos duplamente prisioneiros: de nós mesmos e do tempo em que vivemos". Deixemos de presunção.
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