Tuesday, March 18, 2008

Pena de morte em Roma - II


Pedro J. Bondaczuk

(CONTINUAÇÃO)

Aplicação só em casos extremos

A sociedade romana era toda erigida num sistema escravagista. A mão-de-obra escrava era absolutamente indispensável para o império. Por esta razão, os juízes, sempre que podiam, evitavam de punir alguém com a morte. Preferiam suprimir sua liberdade.
Em geral, os condenados eram enviados para as galés, ou seja, para os navios (mercantes ou militares), onde serviam de forças-motrizes para as embarcações, como remadores, enquanto tivessem energia para isso e o escorbuto, a subnutrição e os maus-tratos não os matassem.
Os menos afortunados eram mandados para os autênticos infernos das minas de enxofre, onde suas vidas não valiam um vintém. Os delinqüentes ligados à nobreza eram, por sua vez, degredados, ou seja, expulsos dos limites de Roma, por um determinado período ou para sempre, dependendo da gravidade do delito que haviam cometido.
A cruz era destinada, portanto, a casos muito especiais. Como para os bandoleiros, por exemplo, que ousavam assaltar as caravanas militares que transportavam valores recolhidos nas províncias para a metrópole. Ou para os agitadores políticos, que congregavam, em torno de suas idéias, em geral separatistas, verdadeiras multidões.
Jesus Cristo foi enquadrado (a contragosto) neste último caso por Pôncio Pilatos, embora tivesse sido condenado à crucificação mais para agradar à liderança religiosa judia daquele tempo. Foi uma condenação ostensivamente política. As autoridades romanas sentiam que fermentava na Judéia um forte movimento pela independência. Por essa razão, buscavam contar, sempre que podiam, com alianças influentes locais, às quais procuravam não desagradar, pois se elas se unissem aos rebeldes, a força militar precisaria ser utilizada.
Essa forma de execução, aliás, era muito usada na Judéia. Tanto é que existiu em Jerusalém até mesmo um lugar apropriado para isso. Era uma colina, de formação rochosa, bastante escarpada e triste. Era ali que os ladrões, assassinos e sediciosos eram executados, em presença de muita gente, para que a punição desestimulasse a prática de novos delitos.
Os judeus denominaram esse sítio de Gólgota. Para os romanos, ele chamava-se Calvário. As duas expressões, todavia, tinham o mesmo significado, só que em línguas diferentes. Queriam dizer “lugar sem vegetação”. Ou, por analogia, “cabeça pelada”, ou “crânio calvo” ou então, como chamaríamos em nossa gíria atual, “careca”.

(CONTINUA)

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