Monday, March 17, 2008

Pena de morte em Roma - I


Pedro J. Bondaczuk

A crucificação, penalidade usada pelos romanos para matar Jesus Cristo, era aplicada em delitos que Roma pretendia conter através do exemplo, como os casos de assassinatos com agravantes, assaltos e, principalmente, subversão de caráter político


As formas de execução da pena de morte variaram muito através dos tempos, de acordo com a época e o lugar. Todavia, em geral, sempre existiu resistência, por parte daqueles que eram encarregados da sua aplicação, salvo uma ou outra exceção. Claro que existiram carrascos que apreciavam a sua tarefa, mesmo não se constituindo na maioria.
Uma das maneiras mais conhecidas de aplicação do castigo máximo contra sentenciados, utilizada na Antigüidade, foi a crucificação romana, principalmente por ter sido esse o meio pelo qual Jesus Cristo foi executado. Dezenas de milhares de pessoas sofreram este tipo de penalidade, que era aplicado, em geral, para punir delitos muito graves, ou quando as autoridades pretendiam que o castigo viesse a servir de exemplo para a população, para inibir os que estivessem tentados a agir de uma determinada forma delituosa, ou subversiva, a desistir da idéia.
Apesar de tanta gente ter sido crucificada, até há 20 anos, nenhum resto mortal, de alguém que tivesse sido morto dessa maneira, havia sido encontrado. Tudo o que se conhecia a respeito eram relatos incompletos, de diversas fontes, sem o devido rigor pretendido pelos historiadores.
Em 1968, no entanto, o acaso fez com que isso viesse a ser corrigido. Na parte de Jerusalém antes dominada pelos jordanianos, e que havia passado ao controle de Israel, após a Guerra dos Seis Dias, de 1967, arqueólogos encontraram um ossário antiqüíssimo, com os corpos de três indivíduos que haviam sido crucificados. Dessa maneira, foi possível fazer-se uma reconstituição pelo menos melhor, com maior exatidão científica, sobre a forma com que se dava essa espécie de execução.

As razões da pena

Várias hipóteses foram levantadas para tentar explicar o por quê dos romanos executarem os sentenciados à morte dessa forma, e não de outras, como vários outros povos faziam, como a forca, o estrangulamento ou a decapitação (embora esta última, em certas circunstâncias, também fosse razoavelmente utilizada).
O império de Roma era muito vasto e abrangia imensa variedade de povos, línguas, costumes e tradições. Muitas dessas populações submetidas ao seu jugo nutria arraigados e profundos sentimentos nacionalistas. Para manter intacta toda aquela imensidão territorial sob razoável controle, a metrópole utilizava, em caráter permanente, um contingente de 300 mil soldados, altamente disciplinados e treinados para essa função.
Em geral, mesmo nas províncias mais remotas, os delitos eram julgados pelo sofisticado aparato judiciário romano. Ao contrário de tantos outros tribunais, o réu tinha assegurado seu direito de ampla defesa. Portanto, quando condenado à pena capital, raramente restava qualquer dúvida sobre a sua culpa. Os juízes (salvo exceções, já que nada é perfeito), tomavam suas decisões com base, rigorosamente, nas provas.
No entanto, em alguns poucos lugares, eram impossíveis os julgamentos como em Roma e na maior parte das suas distantes províncias. Eles tinham que ser sumários, principalmente quando ocorriam sedições. Um desses casos, por exemplo, foi o que ficou conhecido como a Guerra dos Gladiadores.
No ano 73 a C., Spartacus sublevou os escravos da metrópole. Sua coragem e seu instintivo senso guerreiro, em pouco tempo, chegaram a colocar em risco a estabilidade política de todo o império. Sob a sua liderança, pessoas maltrapilhas, subnutridas e mal-armadas, conseguiram vencer batalhas importantes contra a mais sofisticada e melhor aparelhada “máquina de guerra” do Planeta de então.
Quando Spartacus foi, finalmente, vencido por Crasso, um ano depois de ter iniciado o seu levante, teria que ser punido de uma forma que todos vissem e que, acima de tudo, desestimulasse novas rebeliões. Por isso ele, e seus seguidores mais chegados, foram crucificados.
A crucificação foi aplicada em vários crimes semelhantes. A princípio, não era utilizada para punir delitos comuns, como roubos e assassinatos. Não, pelo menos, na metrópole. Mas nas províncias ela se tornou necessária, com o passar do tempo, em vista do crescimento da criminalidade e, principalmente, das diversas ocorrências de levantes, de povos que aspiravam à conquista da independência.
Outro ponto que os historiadores têm ressaltado, a esse respeito, se refere à repugnância dos soldados romanos de matar pessoas desarmadas e indefesas, mesmo que fossem bandidos de grande periculosidade. Na cruz, pelo menos, o condenado não morria nas mãos de nenhum carrasco, embora fosse uma pena cruel e dolorosa, pela agonia a que o executado era submetido. Para tornar o castigo “menos bárbaro”, em geral o crucificado era dopado, com vinho contendo ópio. Morria anestesiado, por sufocação.

(CONTINUA)

1 comment:

Juziane said...

A matéria está excelente!!!!gostaria muito de saber de quais fontes as informaçoes foram retiradas, pois estou fazendo um artigo sobre o tema, e elas me seriam muito úteis.