Pedro J. Bondaczuk
Os intelectuais contemporâneos – salvo algumas exceções – parecem ter perdido a perspectiva da sua responsabilidade social. Pela sua própria condição cultural, deveriam ser os líderes naturais das grandes causas. Poucos atualmente são. O que temos são lideranças medíocres, pouco imaginativas, quando não corruptas e dogmáticas. Espera-se, pela condição que ostentam, que esses homens de raciocínio, com grande preparo intelectual, sejam os balizadores dos caminhos que conduzam aos avanços políticos, econômicos e sociais de seus respectivos povos, de forma a que correspondam aos progressos tecnológicos ocorridos no decorrer deste dramático século das luzes e das trevas, todo ele manchado de sangue, mormente de duas guerras mundiais e de mais de duas centenas de conflitos regionais. Não o são.
Uma parte, a ligada aos ideais de esquerda, decepcionada com o colapso do comunismo, perdeu sua bandeira predileta de luta. Por causa disso, abriu mão da utopia de uma sociedade sem classes e fechou-se em si mesma, como que numa concha, ao invés de procurar alternativas, como seria de se esperar. E não uma única, mas dez, vinte, cem, mil. Quantas a sua capacidade fosse capaz de engendrar.
A outra parte, mais conservadora, transformou o mito do "mercado" numa panacéia universal. Apregoa, aos quatro ventos, o próprio "fim da história", no sentido da prevalência absoluta do liberalismo, alçado, desde a extinção da União Soviética, à categoria de dogma. Jura que este é a solução para tudo. Evidentemente não é. Basta que se olhe ao redor, para a evolução da miséria, para a desagregação da família, para o desemprego, para a crescente violência, para mostrar que isto que aí está não é ideal nem mesmo para o mais frenético dos masoquistas.
Esses intelectuais – de esquerda e de direita – omitem-se, cada um por razões próprias, encerrando-se em uma "torre de marfim". Evitam envolver-se em qualquer causa que não seja a da autopromoção. Olham para o próprio umbigo como se fosse uma preciosidade, admirando-o, idolatrando-o, deificando-o. A palavra-chave é envolvimento. É cada pessoa fazer a sua parte, dar a sua contribuição, de acordo com a sua capacidade, à comunidade a que pertence. Este é o único sentido que a vida pode ter: o da participação. Ninguém é auto-suficiente a ponto de não precisar dos semelhantes. E tudo tem um preço. Esperam de nós a recíproca. Nosso ideal deveria ser o de nos tornarmos elos da cadeia evolutiva do homem. Não faz sentido vivermos só para nós mesmos.
O envolvimento, tanto com pessoas, quanto com causas, implica em riscos. Isto é óbvio. O escritor Michael Drury escreve a respeito: "Ninguém pode negar que envolver-se em coisas significa arriscar-se. A pessoa de que nos enamoramos pode magoar-nos terrivelmente; os amigos que discutem e que tentamos reconciliar poderão voltar-se contra nós com a sua cólera conjugada; o homem que se afoga e tentamos salvar pode arrastar-nos consigo para o fundo. Contudo, evitando dissabores e desapontamentos, tornamo-nos frios, desumanos".
O estranho é ver intelectuais comprometidos com o acúmulo de riquezas pessoais, empenhando o que de melhor possuem em um objetivo tão pífio. Ninguém mais do que eles tem capacidade para perceber o quanto essa meta é vazia e até absurda. Sequer é necessário mencionar a razão. Tais pessoas sabem. Conhecem-nas de sobejo. Albert Einstein, em seu livro "Como Vejo o Mundo", expressa: "Tenho a firme convicção de que nenhuma riqueza de bens materiais pode fazer progredir o homem, mesmo que ela esteja nas mãos de homens que demandam uma meta superior. Pode alguém imaginar Moisés, Jesus ou Gandhi armados com um saco de dinheiro?"
A resposta à questão é óbvia. Ainda há, felizmente, pessoas empenhando prestígio e credibilidade nas grandes causas sociais, embora em um número aquém do que seria desejável. Enquanto tivermos intelectuais, seguindo o exemplo deixado por Betinho, preocupados em acabar com a fome de milhões de brasileiros e em obter o resgate da cidadania para estes excluídos, nem tudo estará perdido. "Utopia", dirão os céticos e os medíocres, além dos acomodados e dos poltrões. Pode ser! Mas não deixa de ser um sonho digno de se tentar conquistar. E a vida do homem só tem sentido quando seus ideais, seus objetivos pessoais, suas expectativas, deixam de ser individuais e se tornam compartilhados, altruístas, coletivos.
Os intelectuais contemporâneos – salvo algumas exceções – parecem ter perdido a perspectiva da sua responsabilidade social. Pela sua própria condição cultural, deveriam ser os líderes naturais das grandes causas. Poucos atualmente são. O que temos são lideranças medíocres, pouco imaginativas, quando não corruptas e dogmáticas. Espera-se, pela condição que ostentam, que esses homens de raciocínio, com grande preparo intelectual, sejam os balizadores dos caminhos que conduzam aos avanços políticos, econômicos e sociais de seus respectivos povos, de forma a que correspondam aos progressos tecnológicos ocorridos no decorrer deste dramático século das luzes e das trevas, todo ele manchado de sangue, mormente de duas guerras mundiais e de mais de duas centenas de conflitos regionais. Não o são.
Uma parte, a ligada aos ideais de esquerda, decepcionada com o colapso do comunismo, perdeu sua bandeira predileta de luta. Por causa disso, abriu mão da utopia de uma sociedade sem classes e fechou-se em si mesma, como que numa concha, ao invés de procurar alternativas, como seria de se esperar. E não uma única, mas dez, vinte, cem, mil. Quantas a sua capacidade fosse capaz de engendrar.
A outra parte, mais conservadora, transformou o mito do "mercado" numa panacéia universal. Apregoa, aos quatro ventos, o próprio "fim da história", no sentido da prevalência absoluta do liberalismo, alçado, desde a extinção da União Soviética, à categoria de dogma. Jura que este é a solução para tudo. Evidentemente não é. Basta que se olhe ao redor, para a evolução da miséria, para a desagregação da família, para o desemprego, para a crescente violência, para mostrar que isto que aí está não é ideal nem mesmo para o mais frenético dos masoquistas.
Esses intelectuais – de esquerda e de direita – omitem-se, cada um por razões próprias, encerrando-se em uma "torre de marfim". Evitam envolver-se em qualquer causa que não seja a da autopromoção. Olham para o próprio umbigo como se fosse uma preciosidade, admirando-o, idolatrando-o, deificando-o. A palavra-chave é envolvimento. É cada pessoa fazer a sua parte, dar a sua contribuição, de acordo com a sua capacidade, à comunidade a que pertence. Este é o único sentido que a vida pode ter: o da participação. Ninguém é auto-suficiente a ponto de não precisar dos semelhantes. E tudo tem um preço. Esperam de nós a recíproca. Nosso ideal deveria ser o de nos tornarmos elos da cadeia evolutiva do homem. Não faz sentido vivermos só para nós mesmos.
O envolvimento, tanto com pessoas, quanto com causas, implica em riscos. Isto é óbvio. O escritor Michael Drury escreve a respeito: "Ninguém pode negar que envolver-se em coisas significa arriscar-se. A pessoa de que nos enamoramos pode magoar-nos terrivelmente; os amigos que discutem e que tentamos reconciliar poderão voltar-se contra nós com a sua cólera conjugada; o homem que se afoga e tentamos salvar pode arrastar-nos consigo para o fundo. Contudo, evitando dissabores e desapontamentos, tornamo-nos frios, desumanos".
O estranho é ver intelectuais comprometidos com o acúmulo de riquezas pessoais, empenhando o que de melhor possuem em um objetivo tão pífio. Ninguém mais do que eles tem capacidade para perceber o quanto essa meta é vazia e até absurda. Sequer é necessário mencionar a razão. Tais pessoas sabem. Conhecem-nas de sobejo. Albert Einstein, em seu livro "Como Vejo o Mundo", expressa: "Tenho a firme convicção de que nenhuma riqueza de bens materiais pode fazer progredir o homem, mesmo que ela esteja nas mãos de homens que demandam uma meta superior. Pode alguém imaginar Moisés, Jesus ou Gandhi armados com um saco de dinheiro?"
A resposta à questão é óbvia. Ainda há, felizmente, pessoas empenhando prestígio e credibilidade nas grandes causas sociais, embora em um número aquém do que seria desejável. Enquanto tivermos intelectuais, seguindo o exemplo deixado por Betinho, preocupados em acabar com a fome de milhões de brasileiros e em obter o resgate da cidadania para estes excluídos, nem tudo estará perdido. "Utopia", dirão os céticos e os medíocres, além dos acomodados e dos poltrões. Pode ser! Mas não deixa de ser um sonho digno de se tentar conquistar. E a vida do homem só tem sentido quando seus ideais, seus objetivos pessoais, suas expectativas, deixam de ser individuais e se tornam compartilhados, altruístas, coletivos.
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