Friday, February 08, 2008

Antídotos do ódio


Pedro J. Bondaczuk

A melhor maneira de mostrarmos apreço e veneração pela vida, esse magnífico mistério que é, ao mesmo tempo, privilégio e desafio, é cultivarmos a alegria. É jamais nos deixarmos abater pelo que de ruim nos aconteça, ou ocorra ao nosso redor, mas sempre extrair lições dos sofrimentos e tragédias. É atentarmos para os pequenos episódios positivos do dia a dia que, somados, se revelam maiúsculos, mas que, muitas vezes, entregues a tolas mágoas e estúpidos rancores, não sabemos valorizar devidamente.
Viver é bom, é magnífico, é transcendental, sejam quais forem as circunstâncias. Mas devemos fazê-lo com alegria e otimismo, em cada dia, mesmo (ou principalmente) naqueles de aflição e de dor, que todos temos em nosso caminho quando menos esperamos. Nestes casos, uma postura alegre e positiva torna mais suave a travessia desses instantes ruins que –, como tudo na vida –, também são (felizmente) passageiros.
Não conheço uma única pessoa, por mais amarga e infeliz que seja, que não concorde, pelo menos da boca para fora, que a alegria é a nossa grande defesa contra todo o tipo de aflição que nos ameace. A diferença é que tais indivíduos consideram que essa condição é para os “outros”, não para eles. Ou seja, não vivem o que pregam. São dos que deixam implícito o célebre “faça o que falo, não o que faço”. Daí serem tão amargos, tão mal-humorados e tão negativos. Apostam na infelicidade e, por conseqüência, são, de fato infelizes.
A vida das grandes metrópoles, nesta época especial da História, é caracterizada, de fato, pela angústia. Torna-se cada vez mais raro surpreender-se alguém com um sorriso de genuína satisfação nos lábios. O cotidiano é composto por correrias, preocupações com contas, luta por uma posição melhor na sociedade, verdadeira batalha por esse lema, extremamente vago e de sentido ambíguo, que se denomina “vencer na vida”.
Para cada pessoa, aliás, isto tem um significado diferente. Os meios de comunicação, por outro lado, a pretexto de pintarem o quadro do que se convencionou classificar de “realidade”, passam, na verdade, contínuas mensagens negativas à população. Entendem, certos profissionais, que a comunidade está ávida somente por notícias ruins; por crimes, escândalos, aberrações sexuais e outras tantas distorções de comportamento do animal homem. Só o negativo é manchete. Por quê? Dificilmente alguém conseguirá explicar isto de maneira plausível, convincente e minimamente lógica.
O que vemos, em geral, no noticiário cotidiano, é um desfile interminável de patifarias de toda a sorte. Fica a impressão à coletividade que nada no mundo presta, que todas as pessoas são oportunistas, que a ética faliu e que as coisas estão tão ruins a ponto de serem irremediáveis, sem solução, sem chance de conserto.
Os fatos, evidentemente, não são inventados. Refletem a forma de agir de parte considerável da humanidade. O erro em que a mídia incorre é o da ênfase no negativo. Isto induz o público às generalizações. E o pior: às imitações.
A falha dos editores é passar para a sociedade só o lado vicioso e perverso do comportamento humano. Há, até, uma explicação coerente para esse procedimento. A argumentação desses profissionais é a de que, para curar determinada moléstia, se faz indispensável um diagnóstico preciso, realista e sem retoques da doença. O que se faz, no entanto, com essa atitude, levada a extremos, é desenganar o paciente.
A vida tem que ser encarada com leveza e bom-humor, sem que, com isso, percamos a seriedade e o senso de responsabilidade na execução das nossas tarefas diárias. O riso é uma válvula de escape útil e indispensável para as tensões do cotidiano. Mais do que as vitaminas, nos faz muito bem e é fator que contribui para nossa saúde física e mental.
Não se trata de fazer galhofa com as fraquezas e vulnerabilidades alheias, nem de menosprezar a quem quer que seja, mas de dar vazão à alegria e de se divertir com determinadas situações engraçadas do dia a dia. Só pessoas inteligentes e seguras de si não se levam tão a sério e têm a grandeza de rir das próprias trapalhadas.
Seriedade, no sentido construtivo, não é, pois, sinônimo de sisudez e de cara fechada, mas é o empenho e a competência na execução daquilo que precisa ser feito. Devemos, todavia, rir “para” alguém ou “com” ele, e nunca “de” quem quer que seja. O riso franco e espontâneo desanuvia qualquer ambiente e coloca todo e qualquer problema na sua devida perspectiva. É, antes de tudo, manifestação de humanidade. Afinal, o homem é o único animal que ri.
Mas se tivermos que rir de alguém, que seja de nós mesmos. Reitero que não devemos nos levar tão a sério. Quando conseguirmos rir de nós mesmos, com franqueza e espontaneidade, estaremos manifestando, sobretudo, segurança em relação ao que somos ou que fazemos.
Charles Chaplin, criador do imortal Carlitos – personagem que encantou gerações e que até hoje nos encanta com sua ingenuidade e suas trapalhadas –, afirmou, do alto da sua sabedoria, adquirida com a experiência que só os muitos anos de vida conferem às pessoas de bom-senso: “Creio no riso e nas lágrimas como antídotos contra o ódio e o terror”. E o vitorioso ator sabia, como ninguém, o que dizia.
Poucas pessoas tiveram em seu caminho tantos e tamanhos obstáculos a superar quanto ele. Teve, por exemplo, uma infância paupérrima, rude e sofrida nos arrabaldes de Londres. Quando no auge do sucesso, enfrentou, igualmente, tragédias de toda a sorte, capazes de desanimar e derrubar qualquer pessoa. Uma delas, entre tantas outras, foi a loucura da mãe. O ator foi perseguido, na época da “caça às bruxas”, nos EUA, por políticos tacanhos e fanáticos e chegou a ser expulso do país.
Mas Chaplin nunca se abateu. Valeu-se do poderoso “antídoto”, que recomendava aos outros, com eficácia e sabedoria. E viveu muitos e muitos anos, dando preciosos exemplos de bom-senso e de uma adequada e inteligente visão da vida. Afinal, o riso, o bom-humor e a alegria sempre foram, são e serão o verdadeiro elixir da eterna juventude que tanto procuramos.
Sorrir faz bem à saúde e prolonga nossa vida, conferindo-lhe luz, paz e qualidade. Portanto, quando se sentir assediado pela tristeza, preocupação, dúvida ou depressão, não hesite: sorria!!!!

No comments: