Pedro J. Bondaczuk
O teatro foi, por cerca de vinte e cinco séculos, não somente o mais eficaz meio de comunicação de massa do mundo, senão o único. Exerceu, e muito bem (guardadas as devidas proporções de tempo e lugar), o papel exercido hoje, por exemplo, pela televisão, cinema, rádio, jornais e internet. Informou, instruiu, emocionou, divertiu, gerou polêmicas, fez rir e fez chorar as mais heterogêneas platéias, nos mais variados lugares.
Apesar do advento de veículos de comunicação mais rápidos e poderosos, sobrevive, galhardamente, nos dias atuais, revelando autores, atrizes, atores, diretores e cenógrafos para o cinema e a TV. O público que atrai, todavia (salvo raras exceções) é cada vez mais diminuto, levando quem trabalha no meio a ter que se desdobrar mais e mais para assegurar a sobrevivência.
Este preâmbulo (um tanto extenso), vem a propósito da realização de um festival nacional de teatro (que começou sábado passado e termina depois de amanhã), que se realiza não em alguma das praças tradicionais, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador ou Recife (o que já seria de se aplaudir de pé), mas numa cidade que raras vezes foi citada na imprensa como promotora desse tipo de evento cultural. Refiro-me a Ipatinga, no chamado Vale do Aço, em Minas Gerais.
Trata-se, sem dúvida, de louvável ato de ousadia dos promotores, num período em que a concorrência da TV, do cinema e da internet faz com que as pessoas se acomodem e deixem de prestigiar a “mãe das artes cênicas”. A ousadia se torna ainda maior com o caráter até internacional do festival, já que terá, entre grupos procedentes dos mais diversos lugares (como São Paulo, Rio de Janeiro, Guarulhos, Guapiaçu, João Pessoa e Fortaleza, além da própria Ipatinga), uma troupe vinda da Cidade do México.
Quantas idéias irão “fervilhar” nesse evento! Quantas emoções serão despertadas nos privilegiados expectadores! Quantas oportunidades para um indispensável intercâmbio cultural (entenda-se, aqui, cultura, em sua forma mais ampla, abrangendo não apenas as artes, mas costumes, tradições, memórias etc. das várias comunidades) haverá em Ipatinga até depois de amanhã!
Fiquei sabendo do evento na véspera da sua abertura, através da jornalista e atriz Cristianne de Sá (que já nos deu a honra de participar, com um poema, deste espaço Literário). Ciente da minha admiração, respeito e amor pelo teatro (já escrevi, inclusive, algumas peças que, infelizmente, se constituíram em rotundo fracasso de público), ela me convidou para esse refinado “banquete de sensibilidade”. Infelizmente, os inúmeros compromissos que tenho, me impedem de me “presentear” com esse prazer estético.
Mas você, meu paciente leitor, se tiver alguma disponibilidade, deve comparecer. Afinal, Ipatinga não é tão distante assim. Você terá, ainda, dois dias para se decidir e, se resolver ir, garanto que não irá se arrepender. Pelo contrário, caso não vá, é possível que, com o tempo, se arrependa de não ter aproveitado essa excelente chance de viver novas experiências, que sempre “valem a pena se a alma não for pequena”..
Entendo a magia do teatro como uma seta, disparada (a exemplo do que faz Cupido, na mitologia grega) por uma criança levada e atrevida, sempre a brincar com as emoções humanas. Ao contrário, porém, das flechas atiradas pelo filho de Afrodite, quem for atingido por esta não ficará perdido de amor. Terá, isto sim, súbito despertar da consciência para as misérias e grandezas do homem. Compreenderá melhor as próprias limitações, as reações, atos e sentimentos e os das demais pessoas.
Curioso, como sou, acessei o site do festival. Nesse espaço encontrei, além da programação do evento, este insólito texto, mais um poema em prosa do que propriamente uma divulgação dessa promoção cultural, redigido por Adão de Faria, intitulado “Entranhas do FTI, um anti-release” que, embora um tanto extenso, partilho com você, caríssimo leitor:
“Trincheira, rota de fuga de desterritorializados renascentes ateus, nômades, restos de mesas fartas, de poder opulento, sibilam invisíveis mortais flechas, terçã sacode febril desarmônicos corpos débeis, jorra fétido suor no escuro da mata botocuda, bateada nos recantos e rebojos borbulhantes de doce água estriada de bandeiras, baianos, franciscanos, de covarde coroa, rizomatizada no profundo negro ouro entranhado nas Gerais de horizontes recortados de ferro, quadrilátero extremo, mapeado, palmilhado, abandonado, conquistado, civilizado, esquecido, largado, inconfidente estranho, risca rota olhar de trem locomovido de fragmentos desejos inconfiguráveis, numa arte derradeira, anônima, impossível possibilidade estocástica, desafia coragem lisa, quantum mítico da estepe de singularidades, possibilidade última, antes e depois do tempo, implacável coprofágico relativo, guarda pouso de água limpa, terceira margem, onde o peixe pára, bebe doces lágrimas barrocas, escorridas cansadas de altas minas convida fecundas Semeles de norte a sul, jorrem aqui Dionísios pagãos, cristãos, expressionistas, impressionistas, modernos, pós-modernos, epistemológicos, concretistas, neo-concretistas maramonhagaras teatrantes... Travessia...!”
Lindo, não é verdade?! A propósito, Adão de Faria é diretor de teatro e coordenador do FTI. Não perca, pois, paciente leitor, este “banquete” de arte, cultura e sensibilidade. Permita que a suave seta da emoção lhe abra, de par em par, as portas da percepção e da consciência!!! Você só tem a ganhar.
O teatro foi, por cerca de vinte e cinco séculos, não somente o mais eficaz meio de comunicação de massa do mundo, senão o único. Exerceu, e muito bem (guardadas as devidas proporções de tempo e lugar), o papel exercido hoje, por exemplo, pela televisão, cinema, rádio, jornais e internet. Informou, instruiu, emocionou, divertiu, gerou polêmicas, fez rir e fez chorar as mais heterogêneas platéias, nos mais variados lugares.
Apesar do advento de veículos de comunicação mais rápidos e poderosos, sobrevive, galhardamente, nos dias atuais, revelando autores, atrizes, atores, diretores e cenógrafos para o cinema e a TV. O público que atrai, todavia (salvo raras exceções) é cada vez mais diminuto, levando quem trabalha no meio a ter que se desdobrar mais e mais para assegurar a sobrevivência.
Este preâmbulo (um tanto extenso), vem a propósito da realização de um festival nacional de teatro (que começou sábado passado e termina depois de amanhã), que se realiza não em alguma das praças tradicionais, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador ou Recife (o que já seria de se aplaudir de pé), mas numa cidade que raras vezes foi citada na imprensa como promotora desse tipo de evento cultural. Refiro-me a Ipatinga, no chamado Vale do Aço, em Minas Gerais.
Trata-se, sem dúvida, de louvável ato de ousadia dos promotores, num período em que a concorrência da TV, do cinema e da internet faz com que as pessoas se acomodem e deixem de prestigiar a “mãe das artes cênicas”. A ousadia se torna ainda maior com o caráter até internacional do festival, já que terá, entre grupos procedentes dos mais diversos lugares (como São Paulo, Rio de Janeiro, Guarulhos, Guapiaçu, João Pessoa e Fortaleza, além da própria Ipatinga), uma troupe vinda da Cidade do México.
Quantas idéias irão “fervilhar” nesse evento! Quantas emoções serão despertadas nos privilegiados expectadores! Quantas oportunidades para um indispensável intercâmbio cultural (entenda-se, aqui, cultura, em sua forma mais ampla, abrangendo não apenas as artes, mas costumes, tradições, memórias etc. das várias comunidades) haverá em Ipatinga até depois de amanhã!
Fiquei sabendo do evento na véspera da sua abertura, através da jornalista e atriz Cristianne de Sá (que já nos deu a honra de participar, com um poema, deste espaço Literário). Ciente da minha admiração, respeito e amor pelo teatro (já escrevi, inclusive, algumas peças que, infelizmente, se constituíram em rotundo fracasso de público), ela me convidou para esse refinado “banquete de sensibilidade”. Infelizmente, os inúmeros compromissos que tenho, me impedem de me “presentear” com esse prazer estético.
Mas você, meu paciente leitor, se tiver alguma disponibilidade, deve comparecer. Afinal, Ipatinga não é tão distante assim. Você terá, ainda, dois dias para se decidir e, se resolver ir, garanto que não irá se arrepender. Pelo contrário, caso não vá, é possível que, com o tempo, se arrependa de não ter aproveitado essa excelente chance de viver novas experiências, que sempre “valem a pena se a alma não for pequena”..
Entendo a magia do teatro como uma seta, disparada (a exemplo do que faz Cupido, na mitologia grega) por uma criança levada e atrevida, sempre a brincar com as emoções humanas. Ao contrário, porém, das flechas atiradas pelo filho de Afrodite, quem for atingido por esta não ficará perdido de amor. Terá, isto sim, súbito despertar da consciência para as misérias e grandezas do homem. Compreenderá melhor as próprias limitações, as reações, atos e sentimentos e os das demais pessoas.
Curioso, como sou, acessei o site do festival. Nesse espaço encontrei, além da programação do evento, este insólito texto, mais um poema em prosa do que propriamente uma divulgação dessa promoção cultural, redigido por Adão de Faria, intitulado “Entranhas do FTI, um anti-release” que, embora um tanto extenso, partilho com você, caríssimo leitor:
“Trincheira, rota de fuga de desterritorializados renascentes ateus, nômades, restos de mesas fartas, de poder opulento, sibilam invisíveis mortais flechas, terçã sacode febril desarmônicos corpos débeis, jorra fétido suor no escuro da mata botocuda, bateada nos recantos e rebojos borbulhantes de doce água estriada de bandeiras, baianos, franciscanos, de covarde coroa, rizomatizada no profundo negro ouro entranhado nas Gerais de horizontes recortados de ferro, quadrilátero extremo, mapeado, palmilhado, abandonado, conquistado, civilizado, esquecido, largado, inconfidente estranho, risca rota olhar de trem locomovido de fragmentos desejos inconfiguráveis, numa arte derradeira, anônima, impossível possibilidade estocástica, desafia coragem lisa, quantum mítico da estepe de singularidades, possibilidade última, antes e depois do tempo, implacável coprofágico relativo, guarda pouso de água limpa, terceira margem, onde o peixe pára, bebe doces lágrimas barrocas, escorridas cansadas de altas minas convida fecundas Semeles de norte a sul, jorrem aqui Dionísios pagãos, cristãos, expressionistas, impressionistas, modernos, pós-modernos, epistemológicos, concretistas, neo-concretistas maramonhagaras teatrantes... Travessia...!”
Lindo, não é verdade?! A propósito, Adão de Faria é diretor de teatro e coordenador do FTI. Não perca, pois, paciente leitor, este “banquete” de arte, cultura e sensibilidade. Permita que a suave seta da emoção lhe abra, de par em par, as portas da percepção e da consciência!!! Você só tem a ganhar.
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