Tuesday, June 03, 2008

Pessoas insubstituíveis


Pedro J. Bondaczuk

O beijo da pessoa amada é um dos momentos de intimidade mais profundos, mágicos, deliciosos e inesquecíveis que existem num relacionamento amoroso. Pode-se dizer que é uma das mais íntimas comunhões de dois corpos e duas almas. Ouso afirmar, até, que se trata de um “diálogo” direto, enfático e profundo entre um homem e uma mulher que se amam, sem precisar ao menos de uma só palavra.
Mais intenso e precioso o beijo se torna, porém, caso seja conquistado: se for manifestação espontânea de agrado, da pessoa a quem amamos, por nossos gestos de carinho e manifestações de respeito. E caso tenhamos a desventura de perder nosso grande amor, são os beijos trocados os momentos que nos despertam as mais ricas e preciosas recordações.
Seria, contudo, esta a maior delícia da vida? Diria que é uma delas. Se fizermos uma enquête a respeito constataremos, sem nenhuma surpresa, que nove entre dez pessoas sadias e normais responderão que nada no mundo é mais delicioso do que o amor correspondido. Ainda que sem correspondência, esse sentimento está repleto de satisfações íntimas, posto que sempre haverá a esperança de que um dia a pessoa que nosso coração elegeu como amada venha a corresponder ao que sentimos por ela.
Não é por acaso que este é o tema de predileção dos poetas. E, por mais que eles escrevam, que se esmerem em imagens e metáforas, jamais conseguirão expressar, com fidelidade, tudo o que sentem, porquanto esse sentimento é inexprimível em palavras. Outra manifestação que merece destaque são as lágrimas, eficazes válvulas de escape criadas pela natureza para amainar as emoções e evitar que façam estragos em nossa saúde.
Não fossem elas, o coração dificilmente resistiria os grandes impactos emocionais que, vira e mexe, nos acometem. São sempre bem-vindas quer em situações de angústia e desespero – aos quais acalma e alivia – quer nas de extrema alegria, ou, principalmente, de euforia. Constituem-se, por outro lado, em poderosas armas femininas.
As mulheres conseguem, de mim, tudo o que querem, quando choram. Não suporto vê-las chorar! As lágrimas estão sempre presentes nos casos de amor, reconciliando ou separando de vez os casais. Todavia, nenhum momento passado com a pessoa amada é mesquinho ou banal.
Quem ama, não esquece um só episódio desse grande amor, que dá encanto e transcendência mesmo a uma vida aparentemente pacata e vazia. Mas o instante que os amantes consideram mais marcante, é o do primeiro encontro, da primeira impressão, das primeiras palavras trocadas, do primeiro contato e, o clímax, do primeiro beijo.
É um momento que nunca mais se apaga da memória dos que se amam. O poeta cubano, Fayad Namis, compara-o aos fatos mais marcantes da história humana. Conclui que, para os amantes, é mais importante até do que a invenção da roda, a descoberta do fogo, a criação da escrita etc.
Por isso, algumas perdas que temos na vida são irreparáveis e nos deixam um imenso vazio, impossível de ser preenchido, na alma. Há pessoas que, contrariando o ditado, são, de fato, insubstituíveis em nossa estima e consideração. Mas não precisamos esquecer os que nos deixaram (ou porque morreram, ou porque se separaram de nós e as circunstâncias colocaram todo um continente de distância ou por outro motivo qualquer), quer seja a pessoa amada, quer parentes ou amigos.
Nossas saudades são livres e velozes e não se limitam nem pelo tempo e nem pelo espaço. Subitamente, sem nenhum aviso, trazem-nos à mente, mediante a recordação, essas pessoas que muito amamos e das quais nos separamos em decorrência de alguma circunstância.
Levam-nos, em suas velozes asas, de volta a períodos e lugares em que fomos felizes e que deixaram marcas indeléveis em nossos corações e mentes. E esses seres especiais, locais marcantes e episódios felizes tanto podem ser bastante remotos, da nossa infância, como recentes, de poucas horas atrás, por exemplo.
Às vezes nos deixam nostálgicos, outras, nos servem de consolo. Da minha parte, busco não sofrer com saudades. Agradeço, isto sim, a Deus, pelo privilégio de ter conhecido aquelas pessoas que me marcaram ou de haver vívido aqueles momentos jubilosos e ímpares.
Podemos, e devemos, guardá-los para sempre na memória e os homenagear com freqüência, lembrando-nos como eram e o que fizeram. É uma obrigação afetiva que temos com essas pessoas, circunstâncias e lugares. O poeta Farias de Carvalho escreveu o seguinte, neste poema de título comprido, mas de rara beleza, intitulado “Ao irmão Agostinho Caballero Martin, no seu regresso”: “Como vieste,/foste,/cavalgando uma estrela.//Agora, sim,/será certo e tranqüilo procurá-la/nos rebanhos do azul pelo infinito”. Portanto, há ou não há pessoas insubstituíveis? Claro que sim!!!

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