Oposição deve manter-se coesa
Pedro J. Bondaczuk
A derrota do general Augusto Pinochet, no plebiscito realizado anteontem, no Chile, não se constituiu numa surpresa. Afinal, todas as pesquisas de opinião neutras, de entidades que não estavam ligadas nem à oposição e nem ao governo, previam a vitória do voto "não". O que surpreendeu, no entanto, foi o comportamento dos que desejavam ver o presidente fora do poder. Daqueles que aspiram à retomada da democracia, num país que nos anos 60 foi apontado como um modelo de sociedade democrática.
É verdade que alguns cometeram excessos nas comemorações, provocando a repressão policial. Estes, porém, foram poucos. A grande maioria da população atendeu aos apelos dos líderes opositores e se manteve serena. As pessoas preferiram ficar em casa a se expor a ataques e provocações.
Quanto às reações do principal derrotado, o general Pinochet, ainda é muito cedo para que se diga alguma coisa. Muitos observadores duvidam que ele vá aceitar o veredicto das urnas. Nós já não pensamos assim. Afinal, as regras do jogo foi ele quem fez. E a oposição, num golpe de confiança e ousadia, aceitou jogar através delas o seu futuro. E venceu uma primeira etapa.
Entendemos que o presidente deva respeitar a Constituição que ele próprio elaborou. É claro que antes de marcar eleições presidenciais diretas, em dezembro do ano que vem, ele vai estabelecer determinadas condições. Por exemplo, deve fortalecer o Conselho de Segurança Nacional, que lhe dará o poder de fato no Chile, sem os ônus inerentes ao exercício das funções de governo.
A oposição, por seu turno, não pode se dispersar. Os 16 partidos que formaram a vitoriosa coalizão têm necessidade vital de entendimento, porque sua luta não terminou com o sucesso no plebiscito, mas apenas começou. Por exemplo, sua liderança não pode e não deve descambar para o radicalismo. Precisa, mais do que nunca, de uma grande capacidade negociadora para dialogar com os militares. E se possível, deve fazer um grande empenho para neutralizar os radicais, principalmente a guerrilha esquerdista.
Os dirigentes oposicionistas demonstraram, durante a campanha, além de muita coragem, um excelente "jogo de cintura". Souberam pedir votos sem descambar para a provocação. Tiveram cabeça para conter os esquentados, que desejavam acabar com o regime na "valentona".
Espera-se que continuem agindo com o mesmo espírito público, sem vedetismos e sem permitir que as ambições pessoais se sobreponham aos interesses dos chilenos. Dessa forma, o Chile haverá de ser outra vez uma democracia modelo, de causar inveja a outros povos (e há cerca de 90 ditaduras atualmente no mundo) que não souberam conquistar em paz esse "status".
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 7 de outubro de 1988)
Pedro J. Bondaczuk
A derrota do general Augusto Pinochet, no plebiscito realizado anteontem, no Chile, não se constituiu numa surpresa. Afinal, todas as pesquisas de opinião neutras, de entidades que não estavam ligadas nem à oposição e nem ao governo, previam a vitória do voto "não". O que surpreendeu, no entanto, foi o comportamento dos que desejavam ver o presidente fora do poder. Daqueles que aspiram à retomada da democracia, num país que nos anos 60 foi apontado como um modelo de sociedade democrática.
É verdade que alguns cometeram excessos nas comemorações, provocando a repressão policial. Estes, porém, foram poucos. A grande maioria da população atendeu aos apelos dos líderes opositores e se manteve serena. As pessoas preferiram ficar em casa a se expor a ataques e provocações.
Quanto às reações do principal derrotado, o general Pinochet, ainda é muito cedo para que se diga alguma coisa. Muitos observadores duvidam que ele vá aceitar o veredicto das urnas. Nós já não pensamos assim. Afinal, as regras do jogo foi ele quem fez. E a oposição, num golpe de confiança e ousadia, aceitou jogar através delas o seu futuro. E venceu uma primeira etapa.
Entendemos que o presidente deva respeitar a Constituição que ele próprio elaborou. É claro que antes de marcar eleições presidenciais diretas, em dezembro do ano que vem, ele vai estabelecer determinadas condições. Por exemplo, deve fortalecer o Conselho de Segurança Nacional, que lhe dará o poder de fato no Chile, sem os ônus inerentes ao exercício das funções de governo.
A oposição, por seu turno, não pode se dispersar. Os 16 partidos que formaram a vitoriosa coalizão têm necessidade vital de entendimento, porque sua luta não terminou com o sucesso no plebiscito, mas apenas começou. Por exemplo, sua liderança não pode e não deve descambar para o radicalismo. Precisa, mais do que nunca, de uma grande capacidade negociadora para dialogar com os militares. E se possível, deve fazer um grande empenho para neutralizar os radicais, principalmente a guerrilha esquerdista.
Os dirigentes oposicionistas demonstraram, durante a campanha, além de muita coragem, um excelente "jogo de cintura". Souberam pedir votos sem descambar para a provocação. Tiveram cabeça para conter os esquentados, que desejavam acabar com o regime na "valentona".
Espera-se que continuem agindo com o mesmo espírito público, sem vedetismos e sem permitir que as ambições pessoais se sobreponham aos interesses dos chilenos. Dessa forma, o Chile haverá de ser outra vez uma democracia modelo, de causar inveja a outros povos (e há cerca de 90 ditaduras atualmente no mundo) que não souberam conquistar em paz esse "status".
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 7 de outubro de 1988)
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