Sunday, June 22, 2008

DIRETO DO ARQUIVO


Que o avanço seja partilhado


Pedro J. Bondaczuk


As experiências do professor norte-americano, Stanley Pons, da Universidade de Utah, e do inglês Martin Fleischmann, da Universidade de Southampton, na Grã-Bretanha, que cientistas de várias outras partes do mundo (inclusive do Brasil) tentam reproduzir, podem ser o limiar de uma das maiores descobertas deste século, tão farto delas.

Trata-se da fusão nuclear controlada à temperatura ambiente. Ela pode significar uma fonte de energia inesgotável, libertando a humanidade das suas aflições atuais (e principalmente futuras), quando as principais matérias-primas, além de estarem se esgotando perigosamente (como é o caso do petróleo), são altamente poluentes e tendem, portanto, a trazer conseqüências muito nefastas, em médio prazo.

É muito importante para o Brasil, onde o setor de pesquisas sempre foi o “primo pobre” das ciências, com crônicas ausências de verbas, deter essa revolucionária tecnologia, caso esse processo seja realmente exeqüível. Há muito pesquisador que duvida disso. Descrê dessa exeqüibilidade.

Aliás, a dúvida e a permanente curiosidade são as duas principais virtudes do autêntico cientista. Se elas não existissem, provavelmente o homem ainda estaria nas cavernas, não teria descoberto sequer a maneira de produzir fogo e dependeria, exclusivamente, dos caprichos da natureza para sobreviver, em vez de usar essas forças naturais a seu serviço e sob o seu controle.

A fusão nuclear é diametralmente oposta à fissão. Esta última envolve altíssimas temperaturas e tem o inconveniente de gerar subprodutos, com uma radioatividade que se mantém ativa por séculos. Seu objetivo é partir ao meio os átomos pesados, mediante bombardeio com nêutrons, liberando, dessa maneira, a energia.

A fusão é exatamente o contrário. É um processo de “união”, de “casamento”, de “junção”. Comprime átomos leves (em geral o hidrogênio) produzindo, ao cabo do processo, elementos mais pesados. É mais ou menos o que ocorre espontaneamente no Sol e nas demais estrelas. Além de liberar uma imensa quantidade de energia, produz pouco lixo poluente.

É verdade que as expectativas podem se ver frustradas. Não está fora de propósito, por exemplo, um equívoco na avaliação da experiência realizada por Pons e Fleischmann. Mas tudo leva a crer que isso não tenha ocorrido. Que o homem esteja, de fato, no limiar de uma nova era.

O que se questiona é se esse benefício da descoberta, que deveria ser patrimônio comum de toda a humanidade, vai atingir cerca de dois terços dos homens, aqueles que vivem no chamado Terceiro Mundo, que ostentam um estágio de desenvolvimento do século passado, em termos de recursos tecnológicos, quando o terço restante já está ingressando, prematuramente, no século XXI.

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 7 de abril de 1989).

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