Monday, June 30, 2008

Culto da velocidade


Pedro J. Bondaczuk


A velocidade é um dos paradigmas do nosso tempo. Tudo tem que ser mais veloz: os veículos, os computadores, o raciocínio e as reações humanas etc.etc.etc. Há pouco tempo, por exemplo, julgava-se impossível que algum atleta rompesse a barreira dos dez segundos para a distância dos 100 metros rasos. Hoje, essa marca já é coisa do passado e, no andar da carruagem, até a metade deste século, a dos nove segundos também ficará para trás.
O mesmo ocorre para outras distâncias, em que recordes são batidos, sucessivamente, de uma competição para outra. Situação igual se verifica não somente em terra, mas também na água, nas piscinas. E no automobilismo, os carros atuais só faltam voar. Chegam, em algumas ocasiões, a passar dos 300 quilômetros por hora, sem que isso cause mais espanto a ninguém. Tornou-se normal e corriqueiro. Velocidade, portanto, é a grande meta humana em todos os campos de atividade. Velocidade e superação.
Vivemos, como se vê, numa época caracterizada pela pressa. Tudo tem que ser feito correndo, como se o mundo fosse se acabar no minuto seguinte. Assumimos mais compromissos do que nossa capacidade de cumpri-los e nos privamos até dos prazeres simples da vida, como o de beijar nosso filho, todas as noites, antes dele dormir.
Parece exagero meu, mas quem refletir só um pouquinho sobre seu cotidiano, verá que não é. Queremos viver duas vidas numa só e acabamos não vivendo, com prazer e dignidade, nenhuma. O pior é que o tempo que achamos que ganhamos, com a correria, é desperdiçado, de forma banal e boba, em conversas vazias que nada nos acrescentam, ou em barzinhos da moda, que mais nos dão tédio do que nos divertem.
Quando realizamos alguma obra reconhecidamente meritória, nossa tendência natural, até instintiva, é a do relaxamento. Queremos o sucesso imediato a qualquer custo. E quando o conseguimos, nos acomodamos. No íntimo, mesmo que não confessemos a ninguém, julgamos que cumprimos nosso papel no mundo e nos esquecemos da imensidão de coisas que precisam ser feitas por alguém.
Acreditamos ter esgotado nossa capacidade em apenas uma, duas, dez, cem ou mil obras, não importa. Todavia, nosso potencial de realização é infinito e o mundo nos desafia, amiúde, a desenvolvê-lo ao seu limite, para satisfação pessoal e bem-estar da coletividade. O que já foi feito é o que menos importa. Importa o que ainda há por fazer. Por que não tentar? Por que já nos sentimos desobrigados? Isso significa omissão.
Além da pressa, nem sempre (ou quase nunca) justificável ou, principalmente, por causa dela, vivemos cercados de perigos, do despertar até a hora de deitar para dormir outra vez. É como se caminhássemos constantemente por um campo minado, sem sequer nos darmos conta. Por isso, a cada dia que terminamos incólumes, temos que agradecer a Deus por esse privilégio.
Contudo, se estamos expostos a perigos, trata-se de um bom sinal. Indica que não estamos fugindo da vida, nos escondendo (covarde, mas inutilmente) para preservar nossa integridade física e/ou mental. Claro que devemos nos prevenir, sobretudo, dos riscos inúteis e desnecessários. Mas há situações que não comportam prevenção. Temos de enfrentá-las, atentos, e superá-las com inteligência e habilidade.
Ressalto que não sou contra a velocidade, desde que se atente para a segurança. Não me oponho à pressa, mas sim à afobação, à afoiteza, à correria desenfreada e louca, como um estouro de manada. Podemos agir com rapidez, desde que tenhamos método, organização e saibamos para onde e como ir. E, principalmente, que tenhamos o bom-senso de aproveitar devidamente o tempo que conquistarmos.
Embora não seja contrário à velocidade (com segurança) e à pressa (com método), destaco a necessidade de cultivo da paciência, virtude de pessoas muito especiais, atributo dos santos, que é, muitas vezes, confundida com preguiça. Uma caracteriza-se por saber esperar, tanto para agir, quanto para colher os frutos dessa ação. Outra é a inação, a espera que os outros façam por nós o que deveria ser da nossa competência. É o não fazer.
Para entendermos as vantagens de sermos pacientes, basta observar a natureza. Tudo nela tem o seu tempo certo: o de arar, o de semear, o de impedir que as ervas daninhas sufoquem as sementes e o de colher. E o suceder das estações? Nunca o verão vem antes do inverno. Ou a primavera antecede o outono. Há um ciclo ordenado na natureza. Tempo certo para tudo. No caso do plantio, qualquer tentativa de pular uma das etapas pode arruinar toda uma lavoura e pôr a perder o trabalho despendido. O mesmo ocorre na vida. O apressadinho corre o risco de ficar sem colheita. Compete-nos combinar pressa com paciência, mas na dose rigorosamente exata, sem mais e nem menos de qualquer desses ingredientes. É dessa combinação sensata, creiam, que nasce o sucesso.

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