Saturday, September 16, 2006

O pulmão do Planeta - V


Pedro J. Bondaczuk

Pesquisas podem derrubar quase mito

Como se vê, é muito importante essa pesquisa que está sendo desenvolvida na Amazônia, para determinar a natureza, e principalmente as conseqüências, dessa alta concentração de gás carbônico sobre a maior reserva florestal do mundo. Embora esse trabalho vá consumir investimento da ordem de US$ 1 milhão, certamente vai trazer retorno, principalmente em termos de conhecimento científico.

Equipamentos bastante sofisticados estão sendo utilizados nessa tarefa, familiarizando técnicos brasileiros na sua manipulação. Entre estes, destaca-se o avião fornecido pela Nasa, dotado de sistemas de raios laser jamais utilizados no Brasil. Esses equipamentos vão permitir que os pesquisadores possam medir as freqüências diferenciadas de absorção do gás carbônico.

Esse teste, até aqui, foi feito apenas por técnicos norte-americanos, e uma única vez, na região do Caribe. Está nos planos da Nasa repeti-lo na China continental e no deserto do Saara, na África. Estudos dessa natureza, visando a determinar as conseqüências da poluição sobre o meio ambiente, tornam-se cada vez mais importantes (e até vitais) para a sobrevivência humana.

É indispensável que conheçamos, com certeza, se a natureza tem ou não algum mecanismo de defesa contra a contínua agressão que o homem exerce sobre ela. Se não tem, manda o bom senso que políticas conservacionistas sejam imediatamente adotadas, e em escala mundial, visando a deter esse autêntico suicídio do ser humano.

Além disso, as pesquisas vão permitir o esclarecimento, de uma vez por todas, do papel das florestas tropicais no processo de oxigenação da Terra. Se elas são, realmente, conforme se propala, os pulmões do mundo. Ou, se ao contrário, concorrem com os seres vivos no consumo de oxigênio.

A primeira proposta, para a realização desses estudos, já é um tanto antiga. Remonta a 1983, quando o presidente norte-americano, Ronald Reagan, esteve em visita ao Brasil. Na oportunidade, ele levantou a possibilidade do estabelecimento de um acordo científico bilateral entre os dois países, com o objetivo de pesquisar, justamente, esse até então desconhecido fenômeno.

A primeira proposta concreta, porém, foi feita no ano passado e, posteriormente, adaptada pelos pesquisadores brasileiros, para incluir o estudo das correntes de ar. As conclusões, pelo menos iniciais, deverão ser divulgadas ainda no corrente ano, provavelmente apenas no âmbito científico.

Provavelmente, contudo, em futuro não muito remoto, poderemos saber, com relativa certeza, se a Floresta Amazônica (e, por extensão, as demais florestas tropicais) atuam, de fato, como filtros contra a poluição, se são afetadas pelos poluentes (e em que medida), ou se são, na verdade, concorrentes do homem na demanda pelo oxigênio da atmosfera.

(Matéria Especial, publicada na página 21, do Correio Popular, em 27 de julho de 1985).

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