Wednesday, September 13, 2006

O pulmão do Planeta - II



Pedro J. Bondaczuk

Como ocorre o ciclo do carbono na natureza

Antoine Laurent Lavoisier, o químico francês considerado um dos criadores da química moderna, concluiu, em sua “Lei da Conservação da Matéria”: “Na natureza, nada se cria e nada se perde, tudo se transforma”. Isso ocorre, também, com todo o material orgânico, necessariamente dotado do elemento carbono. Esta substância é essencial à vida, quer animal, quer vegetal. Portanto, quanto mais seres vivos existirem, maior será a demanda por carbono no Planeta.

Mas o ar e a água representam enorme reservatório natural desse elemento, na forma de dióxido de carbono. Este, por sua vez, é a matéria-prima da fotossíntese das plantas, embora para o homem se constitua em subproduto da respiração. Ou seja, aquilo que os pulmões expelem, após a inalação de oxigênio – que seria como que um combustível utilizado pelo organismo humano para a queima do açúcar, gerador da energia que impulsiona os músculos e, assim, produz toda a sua atividade motora – é indispensável aos vegetais. Animal e planta, dessa forma, estabelecem um equilíbrio gasoso, impedindo que haja excesso de um dos dois gases.

A fotossíntese é a transformação, efetuada pelas plantas verdes, dotadas de clorofila, do dióxido de carbono, associado à água, em açúcar, em presença da luz. Esse processo é fundamental para o delicado mecanismo que possibilita a vida na Terra. É que o metabolismo vegetal é o único processo natural conhecido no qual, a partir de uma substância inorgânica, forma-se outra, orgânica. A fotossíntese contém, portanto, energia biologicamente utilizável. Por isso a vida depende dela, direta ou indiretamente.

Hoje sabemos que os primeiros seres vivos surgiram no Planeta há pelo menos dois milhões de anos. Se a substância orgânica não pudesse ser decomposta, em determinado estágio da sua trajetória histórica, a Terra ficaria totalmente coberta por espessa capa de plantas mortas. A conseqüência imediata disso seria a extinção de toda espécie de vida. E é fácil de se explicar a razão.

Como o carbono não seria devolvido à natureza, num certo momento, suas reservas ficariam exauridas. Ainda mais quando se sabe que as plantas assimilam, na fotossíntese, em termos quantitativos, muito mais esse elemento do que seu metabolismo necessita. E a reposição da matéria orgânica, em conseqüência, via de regra, é menor.

Mas a natureza tem mecanismos de autodefesa funcionando com perfeição. É dotada de vários seres capazes de decompor as substâncias vegetais mortas. Com isso, as reservas de carbono são constantemente renovadas, num interminável processo cíclico. Toda substância orgânica, mesmo as minerais (como o carvão e o petróleo) subordina-se, em princípio, a esse fenômeno. É decomposta e devolvida a esse “reservatório”.

Isso também acontece com as reservas de oxigênio. Esse gás, no processo de fotossíntese, é liberado como subproduto, renovando a camada gasosa da atmosfera. Por isso, a maior capa vegetal do Planeta (portanto, onde ocorre, com maior intensidade, a fotossíntese) é considerada o “pulmão” da Terra. Só que agindo de forma inversa à ação do pulmão humano. Ou seja, em vez de expelir dióxido de carbono, absorve-o. Em contraposição, expele o precioso (para os animais) oxigênio


(Matéria Especial, publicada na página 21, do Correio Popular, em 27 de julho de 1985).
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