Sunday, September 03, 2006

Eleições e audiência na TV


Pedro J. Bondaczuk


As eleições para os governos de Estado, para as Assembléias Legislativas e para a composição da Constituinte, estão, virtualmente, às portas, já que faltam exatas três semanas para o pleito e esse é um momento oportuno para uma avaliação de como as emissoras de televisão trataram desse importante assunto.
Do ponto de vista jornalístico, a nosso ver, o desempenho, nesta oportunidade, foi bem melhor do que em ocasiões anteriores. O que não ajudou muito, frise-se, foi a postura dos candidatos, desacostumados à prática democrática, que descambaram, na sua maioria, para agressões pessoais e acusações estéreis, certamente na falta de uma mensagem objetiva para veicular para o eleitorado.
A Rede Globo, mais uma vez, levou vantagem sobre as competidoras, com o seu bem-elaborado e variado programa “Eleições 86”. É verdade que a apresentação foi cheia de altos e baixos. Houve domingo em que teve um nível impecável, tanto no teor das matérias apresentadas, como na forma de veiculação.
Em outras oportunidades, porém, ela não deixou de ser um tanto sonolenta, como, aliás, a própria campanha nessas ocasiões. Mas, numa média geral, satisfez os objetivos, principalmente por esclarecer dúvidas do eleitor acerca do mecanismo, da natureza e da importância das eleições.
A emissora está veiculando, nos últimos dias, sucessivas chamadas, prometendo uma cobertura das mais completas sobre o próprio pleito e, principalmente, sobre as apurações das urnas. Nessa oportunidade, a agilidade é que vai contar pontos.
Quem tiver mais recursos humanos para se fazer presente numa quantidade maior de lugares, certamente haverá de conquistar a audiência do público. E, nesse aspecto, a Globo leva nítida vantagem sobre os demais canais e dispõe, inclusive, de mais experiência nesse tipo de evento.
O que é necessário de se distinguir, na atual campanha eleitoral, é a apresentação jornalística da movimentação dos candidatos da propaganda gratuita, sobre a qual as emissoras não têm qualquer responsabilidade. Ao contrário, arcam, somente, com seus ônus. Em alguns dias, as mensagens dos partidos são tão chatas e repetitivas, que o índice de receptores desligados cresce assustadoramente. Isso prejudica, com toda a certeza, a audiência dos programas que vêm depois do horário do TRE.
No tocante ao noticiário eleitoral, as apresentações estão dentro dos padrões exigidos pela lei. Todos acompanham, praticamente, um mesmo diapasão e se restringem à movimentação dos diversos postulantes aos cargos no governo e às suas reações ao sobe e desce de cada um nas pesquisas de opinião.
Debate, em São Paulo, ocorreu apenas um e, dada a característica agressiva com que o mesmo se desenvolveu, os candidatos resolveram, por conta própria, não se expor a novos riscos, para não comprometer mais a sua já desgastada imagem.
Dessa forma, o pega, previsto para acontecer na Rede Manchete, acabou sendo cancelado. Fala-se num novo confronto entre os cinco candidatos ao governo do Estado, quando faltarem somente quatro dias para a votação, mas é pouco provável que ele ocorra, de fato. Ninguém vai querer correr riscos, justo na reta final, a de chegada.
Quanto à Constituinte, as emissoras divulgaram tudo aquilo que a lei permitia a propósito do tema. Não foram apresentadas teses para debate, por causa de uma estranha proibição legal nesse sentido. Mas o “Eleições 86” apresentou, virtualmente, tudo o que havia para ser dito sobre o assunto.
Falou das Constituições brasileiras anteriores, comparou nossas cartas magnas com as de alguns países, abordou a mais antiga existente no mundo (a da Inglaterra, de 1260), e finalizou com uma matéria sobre o extraordinário exemplo de concisão do documento constitucional norte-americano.
Acusar, portanto, a televisão por alguma possível alienação de algum eleitor, será, desta feita, profunda injustiça. O veículo fez, na oportunidade, não apenas aquilo que lhe cabia, mas foi muito além, dando ao assunto a importância que ele merecia. Quem destoou, na atual campanha, infelizmente, foram os candidatos. Mas isto já é uma outra história.

(Comentário publicado na página 10, Variedades, do Correio Popular, em 25 de outubro de 1986).

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