Tuesday, September 12, 2006

O leão e a abelha




Pedro J. Bondaczuk


Os atentados de 11 de setembro de 2001 estabeleceram, pela sua violência e dramaticidade, as marcas que, certamente, irão caracterizar todo este início de milênio. Passados cinco anos da catástrofe, seus mentores permanecem impunes, enquanto milhares de inocentes perderam (e perdem diariamente) suas vidas, na tentativa, até aqui frustrada, da única superpotência mundial de retaliar a sangrenta agressão.
Poucas vezes na história (se é que houve alguma), alguém foi caçado com tanta intensidade e com tão grande e sofisticado aparato bélico quanto o líder da Al Qaeda, o saudita Osama Bin Laden. Em vão! Esse episódio pode ser ilustrado com a fábula do leão e da abelha. O chamado rei dos animais é temido e se impõe a qualquer outro do seu tamanho ou maior do que ele (inclusive o homem, em determinadas circunstâncias). Todavia, é absolutamente impotente para enfrentar o minúsculo inseto. Quando ferroado, só pode rugir, frustrado e irado e tentar, em vão, alcançar a frágil abelhinha, que o ataca como e quando quiser, impunemente.
“O mundo, certamente, jamais será o mesmo depois deste 11 de setembro de 2001", enfatizou, profeticamente, um repórter de TV, durante a cobertura desses que, sem dúvida, foram, até aqui, os maiores atentados terroristas da história, ocorridos quase que simultaneamente em Nova York e em Washington, que redundaram na destruição de dois dos maiores símbolos do capitalismo: as torres gêmeas, de 110 andares cada, do World Trade Center, o coração financeiro do mundo globalizado, e o prédio do Pentágono, ícone do maior e mais avançado sistema militar da Terra.
Quem viu, incrédulo, aquelas imagens, por mais insensível, desinformado ou alienado que seja, jamais vai conseguir esquecer as cenas de horror e insânia, testemunhadas por bilhões de pessoas através da televisão. Gente se jogando das janelas dos edifícios afetados, bombeiros e policiais se dirigindo para os prédios em chamas, talvez inconscientes de que perderiam suas vidas, no afã de salvar as do próximo. E, para culminar, as duas magníficas obras arquitetônicas ruindo fragorosamente, como frágeis castelos de cartas, numa nuvem negra de fumaça e poeira, igual à dos vulcões em erupção.
Quantos morreram na catástrofe? Seis mil pessoas? Dez mil? Vinte mil? Nunca se saberá com certeza! As cifras foram as mais diversas e conflitantes. Horror dos horrores! E, infelizmente, se tratou apenas do início de uma era de turbulências internacionais, de conseqüências imprevisíveis, em que a emoção prevalece sobre a razão. Desde então, o leão vem tentando a todo o custo retaliar a abelha, com ações tão insensatas em sua essência quanto os atentados.
Primeiro foi o Afeganistão, por dar abrigo a Osama Bin Laden. A seguir, o presidente George Bush (o filho) decidiu aproveitar o embalo para vingar o pai, que bem que tentou, mas não conseguiu, depor o iraquiano Saddam Hussein. A pretexto de que o Iraque teria armas químicas e biológicas, acusação que depois se comprovou ser incorreta, as tropas norte-americanas invadiram esse país e o lançaram na confusão e no caos, que persistem até hoje.
Está certo agir dessa maneira? É ético? É aceitável? É, pelo menos politicamente, inteligente ou aceitável? Guardadas as devidas proporções, os ataques norte-americanos quer ao Afeganistão, quer ao Iraque, baseados em vagas suposições ou em algo parecido, são, à luz da justiça, do Direito Internacional, atos terroristas até piores do que aqueles que redundaram na destruição das torres gêmeas de Nova York e de uma ala do Pentágono.
Retaliar mais quem? O Irã dos aiatolás, que parece ser o alvo da vez, com pretexto semelhante ao adotado para justificar a invasão do Iraque? A Líbia, de Muammar Khadafy? A Síria, há tempos na mira do Pentágono? O Líbano, mais uma vez arrasado, por não ter como sequer se defender? Os territórios palestinos, há décadas autêntica terra de ninguém? Provavelmente, em seu devido tempo, todos eles! Afinal, o leão não se conforma em deixar a abelha impune por sua ousadia.
Ninguém, em sã consciência, claro, nem mesmo os fanáticos que deles participam, ousa defender atentados contra pessoas inocentes, seja a que pretexto for. São atos covardes, criminosos, vis, absolutamente indefensáveis sob quaisquer aspectos. A vingança, no entanto, também é. O terrorismo atingiu, em 11 de setembro de 2001, proporções paroxísticas, sombrias, insanas e pavorosas. Se esses atos de ousadia (de loucura, seria mais apropriado dizer) fossem mostrados nas cenas de qualquer filme de catástrofe, dos tantos que há por aí e que passam na televisão, é provável que o telespectador até mesmo desligasse, irritado, o seu aparelho receptor e murmurasse, incrédulo, com seus botões: "É marmelada! Isso é impossível de acontecer!"
Pois bem, aconteceu. E a realidade, como sempre, acabou superando, em muito, a ficção. O que falta, agora, para esses malucos fanáticos, que vêem na morte de pessoas inocentes justificativa para seus delírios paranóicos ou megalomaníacos e que não relutam em sacrificar a própria vida por uma causa tão absurda e irreal, baseada unicamente na violência e na destruição? Um atentado com armas químicas ou biológicas? Uma explosão nuclear?
Violência só gera mais violência, num moto contínuo de ódio e destruição. Não seria mais surpresa para ninguém, principalmente para aqueles que se interessam por questões de segurança, se amanhã ou depois circulasse a informação que alguma facção terrorista se apossou, espetacularmente, de uma bomba nuclear, mesmo que rudimentar e de baixa potência, e a detonou em Washington, Nova York, Paris, Moscou, Berlim ou Londres. Principalmente depois que a União Soviética se esfacelou e deixou ao alcance de qualquer maluco assassino milhares de ogivas, "pedindo" para serem roubadas. Deus que nos livre de tamanha calamidade! Mas que a possibilidade existe, ninguém de bom senso pode negar.

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