Thursday, September 14, 2006
O pulmão do Planeta - III
Pedro J. Bondaczuk
Densa nuvem de freon a somente 3 mil metros de altura
A estranha concentração gasosa verificada na Amazônia foi descoberta em novembro de 1981. O instrumento que possibilitou sua detecção foi o Sistema Monitor de Poluição do Ar, conhecido pela sigla inglesa Maps. Ele foi transportado, na ocasião, a bordo de um dos vários ônibus espaciais norte-americanos e detectou o fenômeno não apenas sobre a Floresta Amazônica. Todavia, as nuvens mais densas estavam exatamente nessa área.
O cientista Volker Kirchoff, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), descobriu, posteriormente, algo até mais grave. Ou seja, que essas concentrações de gás carbônico, que normalmente ocorrem a altitudes que variam de 25 a 30 quilômetros na atmosfera, estavam a apenas 3 mil metros sobre a Floresta Amazônica. E que continham formações de gás freon, normalmente liberado dos produtos acondicionados em latas do tipo aerosol.
O que é mais grave, nisso tudo, é que as nuvens localizadas sobre a mata são de monóxido de carbono, quando se sabe que as plantas precisam, para a fotossíntese, de dióxido de carbono. Para a transformação de um em outro, faltaria um átomo de oxigênio em cada molécula.
Considerando que, por algum mecanismo inexplicável, essa mudança ocorresse em grande escala, a reação química iria demandar quantidade razoável desse gás que é essencial à vida. Superior, até mesmo, às quantidades liberadas no processo natural da fotossíntese.
É claro que se essa hipótese for a verdadeira, não haverá nenhum drama. A floresta, embora a princípio consumisse mais oxigênio do que o liberado, estaria atuando como uma espécie de filtro da poluição atmosférica. No final das contas, em um determinado instante, todo o monóxido estaria transformado em dióxido, acelerando a fotossíntese e, com isso, repondo na atmosfera o oxigênio.
Melhor será se a Amazônia, por alguma razão inexplicável, estiver atraindo essas nuvens de poluição. Mas isso, também, teria o seu aspecto negativo. O risco estaria no fato das substâncias poluentes da atmosfera não serem constituídas apenas do gás monóxido de carbono.
Grandes emanações sulfurosas são lançadas, também, a cada minuto, no ar, em concentrações imensas. Por exemplo, o enxofre, liberado pelas chaminés das grandes fábricas da cidade de São Paulo é num volume dez vezes superior ao que destruiu as bíblicas cidades de Sodoma e de Gomorra, no Oriente Médio, provavelmente em decorrência da erupção de algum grande vulcão localizado no chamado “cinturão de fogo” da região do Oceano Pacífico.
Se nas nuvens de poluição, pretensamente provenientes de San Francisco e de Los Angeles, esse elemento também estiver presente, a Floresta Amazônica estará correndo um grave risco: o da ocorrência da chamada “chuva ácida”, fenômeno que vem provocando a morte de diversas áreas florestais na Alemanha, nos Estados Unidos e no Canadá. O enxofre emanado das chaminés reage com o vapor de água, da atmosfera, e produz o altamente corrosivo ácido sulfúrico, letal para os vegetais.
(Matéria Especial, publicada na página 21, do Correio Popular, em 27 de julho de 1985).
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