Thursday, September 21, 2006
Homem e natureza
Pedro J. Bondaczuk
As pessoas deveriam atentar para a natureza, procurar estudar e entender suas leis e agir de conformidade a elas. “Devemos buscar o mesmo tipo de processo em todos os seus campos. Devemos supor que a mesma classe de leis está por trás da estrutura do cristal e da estrutura da sociedade”. Essa afirmação não é minha, mas de um dos mais ecléticos, ativos e importantes pesquisadores do século passado, Gregory Bateson.
Dia desses, comentei com os amigos do nosso já famoso cenáculo (nosso grupo informal, que se reúne, periodicamente, num bar da cidade, para falar de tudo e de todos, e sobre o qual já escrevi em várias crônicas), a respeito das idéias desse renomado cientista. Ninguém o conhecia. Decepcionado, abordei, com entusiasmo redobrado, algumas das suas teorias e conclusões. Fiquei pasmo com o fato de um intelectual de tamanha envergadura, com uma obra de tanta relevância, ser ilustre desconhecido de pessoas cultas e razoavelmente bem-informadas, como os meus companheiros de reflexão.
Gregory Bateson, para os que o desconhecem, foi antropólogo, biólogo, naturalista, etólogo (estudioso do comportamento), sociólogo e cibernético. Filho do cientista britânico William Bateson, pioneiro da genética, foi um dos mais importantes estudiosos de organização social do século XX. Praticamente em todas essas disciplinas a que se dedicou, deu uma contribuição transcendental e inovadora. Parte importante do seu pensamento se encontra em seus livros “Passos para uma ecologia da mente” (1972) e “Espírito e Natureza” (1970), que tive o privilégio de ler.
Antes de se tornar expoente da contracultura, nos anos 60, nas décadas de 20 e 30 ocupou-se de antropologia, em Bali, e ajudou a fundar a ciência cibernética. Especialista, também, em Teoria da Comunicação, uma das suas teses mais polêmicas, controvertidas e famosas é a que garante ser possível, ao homem, a comunicação direta e inteligente com qualquer animal, desde que consiga interpretar (e reproduzir) corretamente a sua “linguagem”.
Nos esquecemos, via de regra, de que somos meras partes integrantes da natureza, e não seus senhores, como amiúde achamos, com empáfia e arrogância. A cada espécie que destruirmos, mesmo que nos pareça inútil e dispensável, estaremos contribuindo para o desequilíbrio natural deste nosso restrito mundinho. Os recursos do Planeta não são infinitos, inexauríveis, como equivocada e irresponsavelmente pensamos. O próprio solo, por mais fértil que pareça ser, se exaure e perde a sua fertilidade em pouco tempo, caso não seja utilizado de forma moderada, equilibrada e racional. Sem se dar conta, o homem continua semeando desertos por onde passa. Até quando?!!! Só Deus sabe.
Desde o início do processo de industrialização, em meados do século XIX, está em marcha um dos processos mais estúpidos, irracionais e (ao que tudo indica) irreversíveis de agressão ao meio-ambiente. Florestas inteiras já foram devastadas para a exploração de madeira, para lavouras de baixa produção, ou simplesmente para fazer carvão. E a devastação continua a todo o vapor, agora na Amazônia, onde áreas imensas, do tamanho até de alguns países, são consumidas todos os anos pelo fogo, sem que ninguém faça nada para conter tamanha destruição.
Inúmeros mananciais da preciosa e escassa água potável já foram irremediavelmente poluídos, sem possibilidades de recuperação e, em pouquíssimos anos, farão muita falta a milhões, provavelmente bilhões de pessoas. Os escapamentos dos veículos automotores lançam, diariamente, milhões de toneladas de gases tóxicos na atmosfera, que não se perdem no vácuo como os estúpidos parecem pensar, mas permanecem sobre nós – comprometendo a nossa saúde e minando nossas resistências – como crescentes ameaças à vida.
Fenômenos como o buraco na camada de ozônio (que nos protege dos mortais raios ultravioletas) e o efeito-estufa, para citar apenas dois dos mais perceptíveis desequilíbrios da natureza provocados pela ação humana, tendem a modificar, perigosamente, o clima terrestre, de forma irreversível, com resultados certamente catastróficos.
O homem, como se vê, não busca, em absoluto, entender a natureza (da qual é parte integrante, como outra qualquer), não procura compreender suas inflexíveis leis e dessa forma, tê-la como aliada, e não como inflexível vingadora que é. Age, isso sim, em sentido completamente contrário. As conseqüências dessa insensatez, dessa loucura humana, conclui-se, nem o mais apocalíptico dos profetas é capaz de prever com exatidão, em todo o seu alcance e abrangência.
Por tudo isso – reitero – as pessoas deveriam conhecer melhor e, sobretudo, difundir, as idéias de Gregory Bateson. Ou seja, deveriam pensar o mundo sob enfoque holístico, como um todo e jamais separá-lo em partes. Ou, como ele cansou de dizer, “para recuperar nosso lugar no mundo natural, antes que seja tarde demais, devemos abandonar nossa visão simplista e quantitativa da ciência e aprender ‘a pensar como a natureza’”. Pergunto: isso seria possível nas circunstâncias atuais? E atrevo-me a responder, desolado e pessimista: não, não e não!
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