Sunday, December 05, 2010




Uma terceira superpotência

Pedro J. Bondaczuk

A Europa Ocidental, ou pelo menos os doze países que compõem o atual Mercado Comum Europeu, seria uma terceira superpotência caso ocorresse a fusão política de seus integrantes, a transformando num só Estado. Esse é um sonho acalentado desde a metade da década de 60, visto inicialmente como utópico e irrealizável, dadas as divergências histórias que fizeram desse continente, protótipo da atual civilização, palco das maiores e mais selvagens batalhas dos últimos nove séculos. Esse processo de aproximação começou pelos pontos convergentes entre os europeus. Ou seja, pelos seus interesses econômicos. Em 1º de janeiro de 1958 começou a ser implementado o Tratado de Roma, a princípio timidamente, surgindo daí o MCE, hoje com o dobro dos membros originais.

Passados quase trinta anos desse projeto, visto na ocasião como mirabolante e inexequível, a Europa Ocidental detém todas as condições imagináveis para partir para a segunda fase do programa. Para a fusão pura e simples de seus componentes numa grande federação, a exemplo do que acontece com os Estados Unidos da América e com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Boa parte da população européia , que no princípio via com completo ceticismo qualquer possibilidade sequer de mútua cooperação, hoje já admite a idéia até com entusiasmo. E não é para menos.

Uma eventual potência, como a cogitada, seria de imediato a 11ª extensão territorial do Planeta, abaixo apenas da URSS (representaria 10% da área soviética), Canadá, China, EUA, Brasil, Austrália, Índia, Argentina, Sudão e Argélia. Esses Estados Unidos da Europa seriam detentores de 1,5% da porção de terra do mundo. Parece que é pouco, mas é bom que se ressalte que sua área seria virtualmente aproveitável em quase sua totalidade, o que já não ocorre com a grande maioria dos países com dimensões mais avantajadas.

Populacionalmente, o novo Estado seria o terceiro do Planeta. Perderia somente para a China, que abriga pouco mais de um quinto da humanidade e para a Índia. Superaria a União Soviética, os Estados Unidos, a Indonésia, o Brasil, o Japão, Bangladesh, o Paquistão e a Nigéria. E, o que é mais importante, com uma das taxas de analfabetismo mais baixas do mundo, com quase nula mortalidade infantil e com uma distribuição de renda invejável, digna de ser imitada.

Esse novo país seria a segunda potência econômica universal, superando a União Soviética, cujo Produto Nacional Bruto é de US$ 1,715 trilhão: e o Japão, com PNB de US$ 1,18 trilhão. Ficaria aquém, apenas, dos norte-americanos, com os US$ 3,663 trilhões de "Tio Sam".

Os Estados Unidos da Europa teriam, em resumo, uma área de 2.247.248 quilômetros quadrados, habitados por 324,5 milhões de pessoas. O Produto Nacional Bruto europeu alcançaria US$ 2,505 trilhões. Nada mau para quem há somente 41 anos terminou um feroz conflito arrasado e sem grandes perspectivas de recuperação a curto prazo. O que seria interessante, caso o projeto existente fosse implementado, é que se verificaria um refluxo do que se registrou a partir de 1492 com o descobrimento da América.

O Novo Mundo, usado durante muito tempo como mero local de degredo para os criminosos europeus, mas que foi escolhido pelos peregrinos do Mayflower como o local ideal para o exercício, sem censuras e nem perseguições, da liberdade religiosa, devolveria, acrescido de vitalidade, a influência que um dia recebeu da velha Europa. É que esse novo Estado, caso seja realmente criado (e ao nosso ver, isso é só uma questão de tempo), teria a sua Constituição inspirada na dos Estados Unidos da América do Norte. Seria a consagração dos velhos pioneiros, que com o seu espírito de liberdade e sua capacidade empreendedora, livraram a humanidade do marasmo, praticamente forjando uma nova civilização.

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 22 de janeiro de 1986)

Acompanhe-me no twitter: @bondaczuk

No comments: