Múltipla escolha
Pedro J. Bondaczuk
A gaúcha, de descendência germânica, Lya Luft é, sem dúvida, uma escritora madura, no melhor sentido de maturidade. Aos 71 anos de idade (completará 72 em 15 de setembro), guarda, ainda, a ousadia e o intenso vigor intelectual da juventude, mas agora alia a essa característica um fator decisivo no campo das idéias e reflexões: a experiência. Conta, pois, com uma dobradinha que é irresistível.
Essa escritora, que consegue nos encantar mesmo quando trata de temas complexos e/ou dramáticos, começou sua brilhante – diria fulgurante – carreira literária como tradutora de livros. Domina, como poucos, além da língua pátria, o alemão e o inglês.
Descendente de alemães, o idioma de Goethe e de Schiller sempre lhe foi sumamente familiar. Afinal, nasceu e se criou em uma região do Rio Grande do Sul (em Santa Cruz do Sul) de colonização germânica. Essa era, pois, a língua falada em casa, com os pais, com os amigos, na rua, no mercado, na igreja etc. e, principalmente, na escola.
Com onze anos de idade, por exemplo, já mantinha estreitos vínculos emocionais com os melhores entre os melhores. Ou seja, decorava, e declamava, poemas de Goethe, de Schiller e de tantos e tantos outros relevantes poetas alemães e, o que é mais importante, no idioma original em que foram escritos.
Gosto de Lya Luft, tanto em verso, quanto em prosa. Encanta-me sua forma de escrever e, notadamente, a temática que aborda. Aprecio sua poesia vigorosa e seus contos, romances e crônicas precisos, inteligentes, intelectualmente estimulantes e altamente reflexivos.
A propósito do seu estilo, ela mesma afirmou, certa feita, até para desfazer possíveis equívocos: “Não existe essa de homem escrever com vigor e mulher escrever com fragilidade”. E não existe mesmo. Esse é um estereótipo, bastante difundido, mas que não condiz com a verdade.
Afinal, o personagem Frankenstein é criação de uma escritora, a inglesa Mary Shelley. Os melhores e mais instigantes romances de mistério e de suspense saíram da inspirada pena de Agatha Christie, que nos legou mais de 80 livros do gênero, contando histórias dos mais ardilosos e cruéis assassinos e mais astutos e competentes investigadores. Linguagem feminina? Uma ova!
Lya completou, a propósito de supostos textos “adocicados” das mulheres: “Puta que pariu, não é assim! Isso não existe! É um erro pensar assim. Eu sou uma mulher, faço tudo de mulher. Mas não sou uma mulher que necessita de ajuda de um homem. Não necessito de proteção de homem nenhum. Essas mulheres frageizinhas, que fazem esse gênero, querem mesmo é explorar seus maridos. Isso entra também na questão literária. Não existe isto de homem com escrita vigorosa, enquanto as mulheres se perdem na doçura. Eu fico puta da vida com isso. Eu quero escrever com o vigor de uma mulher. Não me interessa escrever como homem”.
Lya Luft começou sua vitoriosa carreira literária publicando poesias. Em 1964, por exemplo, lançou “Canções no limiar”. Em 1972, foi a vez de “Flauta doce”. Embora sendo poetisa vigorosa e original, ganhou destaque mesmo na ficção. Em 1978, lançou seu primeiro livro de contos, “Matéria do cotidiano” e a seguir, o primeiro volume de crônicas, “As parceiras”. Muitas outras obras vieram na seqüência.
Escrevi tudo isso, apenas para destacar o mais recente lançamento de Lya Luft, o livro de ensaio “Múltipla escolha” (Editora Record), em que a autora apresenta a vida como um cenário de teatro de marionetes, com muitas portas, que estavam ali, ou que nós desenhamos.
Algumas, se abrem. Outras, se fecham. Outras, ainda, se escancaram sobre o abismo do nada. Não falarei mais nada sobre esta obra, para não lhes tirar o prazer da leitura e da descoberta. Ou melhor, deixarei que a própria Lya encerre estas considerações, pois sabe, e faz isto, muito melhor do que eu.
Minha conterrânea afirma, na página 91 de “Múltipla escolha”: “A humanidade, capaz de coisas grandiosas no campo da artes, das descobertas científicas e da tecnologia, no campo emocional se enreda e confunde. A irracionalidade toma conta, os mitos reclamam sua parte, está feita a confusão nessa situação fundadora: competição, inveja, ressentimento e imaturidade de todos os envolvidos”. E não é o que acontece?
Acompanhe-me no twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
A gaúcha, de descendência germânica, Lya Luft é, sem dúvida, uma escritora madura, no melhor sentido de maturidade. Aos 71 anos de idade (completará 72 em 15 de setembro), guarda, ainda, a ousadia e o intenso vigor intelectual da juventude, mas agora alia a essa característica um fator decisivo no campo das idéias e reflexões: a experiência. Conta, pois, com uma dobradinha que é irresistível.
Essa escritora, que consegue nos encantar mesmo quando trata de temas complexos e/ou dramáticos, começou sua brilhante – diria fulgurante – carreira literária como tradutora de livros. Domina, como poucos, além da língua pátria, o alemão e o inglês.
Descendente de alemães, o idioma de Goethe e de Schiller sempre lhe foi sumamente familiar. Afinal, nasceu e se criou em uma região do Rio Grande do Sul (em Santa Cruz do Sul) de colonização germânica. Essa era, pois, a língua falada em casa, com os pais, com os amigos, na rua, no mercado, na igreja etc. e, principalmente, na escola.
Com onze anos de idade, por exemplo, já mantinha estreitos vínculos emocionais com os melhores entre os melhores. Ou seja, decorava, e declamava, poemas de Goethe, de Schiller e de tantos e tantos outros relevantes poetas alemães e, o que é mais importante, no idioma original em que foram escritos.
Gosto de Lya Luft, tanto em verso, quanto em prosa. Encanta-me sua forma de escrever e, notadamente, a temática que aborda. Aprecio sua poesia vigorosa e seus contos, romances e crônicas precisos, inteligentes, intelectualmente estimulantes e altamente reflexivos.
A propósito do seu estilo, ela mesma afirmou, certa feita, até para desfazer possíveis equívocos: “Não existe essa de homem escrever com vigor e mulher escrever com fragilidade”. E não existe mesmo. Esse é um estereótipo, bastante difundido, mas que não condiz com a verdade.
Afinal, o personagem Frankenstein é criação de uma escritora, a inglesa Mary Shelley. Os melhores e mais instigantes romances de mistério e de suspense saíram da inspirada pena de Agatha Christie, que nos legou mais de 80 livros do gênero, contando histórias dos mais ardilosos e cruéis assassinos e mais astutos e competentes investigadores. Linguagem feminina? Uma ova!
Lya completou, a propósito de supostos textos “adocicados” das mulheres: “Puta que pariu, não é assim! Isso não existe! É um erro pensar assim. Eu sou uma mulher, faço tudo de mulher. Mas não sou uma mulher que necessita de ajuda de um homem. Não necessito de proteção de homem nenhum. Essas mulheres frageizinhas, que fazem esse gênero, querem mesmo é explorar seus maridos. Isso entra também na questão literária. Não existe isto de homem com escrita vigorosa, enquanto as mulheres se perdem na doçura. Eu fico puta da vida com isso. Eu quero escrever com o vigor de uma mulher. Não me interessa escrever como homem”.
Lya Luft começou sua vitoriosa carreira literária publicando poesias. Em 1964, por exemplo, lançou “Canções no limiar”. Em 1972, foi a vez de “Flauta doce”. Embora sendo poetisa vigorosa e original, ganhou destaque mesmo na ficção. Em 1978, lançou seu primeiro livro de contos, “Matéria do cotidiano” e a seguir, o primeiro volume de crônicas, “As parceiras”. Muitas outras obras vieram na seqüência.
Escrevi tudo isso, apenas para destacar o mais recente lançamento de Lya Luft, o livro de ensaio “Múltipla escolha” (Editora Record), em que a autora apresenta a vida como um cenário de teatro de marionetes, com muitas portas, que estavam ali, ou que nós desenhamos.
Algumas, se abrem. Outras, se fecham. Outras, ainda, se escancaram sobre o abismo do nada. Não falarei mais nada sobre esta obra, para não lhes tirar o prazer da leitura e da descoberta. Ou melhor, deixarei que a própria Lya encerre estas considerações, pois sabe, e faz isto, muito melhor do que eu.
Minha conterrânea afirma, na página 91 de “Múltipla escolha”: “A humanidade, capaz de coisas grandiosas no campo da artes, das descobertas científicas e da tecnologia, no campo emocional se enreda e confunde. A irracionalidade toma conta, os mitos reclamam sua parte, está feita a confusão nessa situação fundadora: competição, inveja, ressentimento e imaturidade de todos os envolvidos”. E não é o que acontece?
Acompanhe-me no twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment