Sunday, December 19, 2010




Reação de Pinochet é uma incógnita

Pedro J. Bondaczuk

O Chile e a comunidade internacional em peso vivem a grande expectativa da véspera do plebiscito chileno, a ser realizado amanhã, que vai determinar se o general Augusto Pinochet terá ou não seu mandato estendido até 1997. No que foi realizado em 1980, e que instituiu o atual sistema, se falou muito em fraude. Nada indica que o de agora possa vir a ser melhor, a despeito da oposição ter tido até espaço para propaganda em horário gratuito de televisão e feito comícios públicos em Santiago, encerrados, via de regra, mediante imensa pancadaria.

Os oposicionistas sempre foram tratados assim, desde 1973: com violência. Duas perguntas ressaltam acerca do referendo. A primeira é: a votação e, mais do que ela, a apuração, serão limpas, a salvo de "mágicas"? A segunda refere-se a se Pinochet largará ou não o poder em caso de vitória dos adversários do regime.

O general chileno uso, nesta campanha recém-encerrada, um tom desusadamente conciliador diante do eleitorado. Chegou inclusive a pedir perdão à população por seus "eventuais" erros. Sói que muitos, mesmo que tivessem essa virtude tão recomendada por Cristo e estivessem dispostos a relevar tais falhas, não poderiam agir assim. São os "desaparecidos", que ninguém sabe o quanto são, mas se desconfia que sejam muitos. A Anistia Internacional dispõe de relatórios concisos a esse respeito.

Aliás, por falar nessa entidade, queremos abrir um parêntese para destacar que a sua seção brasileira acaba de ser agraciada, mui justamente, com o "Prêmio Wladimir Herzog" de jornalismo, por sua luta pela defesa dos direitos humanos. A AI realiza, hoje, na Rua Harmonia, 899, Vila Madalena, em São Paulo, uma coletiva de imprensa, quando o seu primeiro presidente no Brasil, Carlos Alberto Idoeta, vai comunicar o lançamento mundial do "Informe 88" do órgão. Nesse documento, será possível saber-se a quantas andam os direitos humanos por este Planeta dividido e, por conseqüência, também no Chile.

Mas pelo noticiário que tivemos a oportunidade de veicular neste espaço, nos últimos tempos, e pelas análises feitas por observadores, o regime do general Pinochet ainda deixa muito, muitíssimo a desejar nesse aspecto. A oposição acredita que "vai ganhar e levar" o plebiscito. Ou seja, que irá conseguir uma abertura política através do método pacífico do voto. É claro que quem crê nisso é a liderança opositora moderada.

A radical, aposta na violência do governo e promete retrucar na mesma medida. Faltam um pouco mais de 24 horas para que o mundo saiba se Pinochet mudou ou não de atitude. Seu ex-companheiro de farda, general Alejandro Rios Valdívia, num pronunciamento que fez em 23 de março de 1987, achava que não mudaria naquela ocasião. Ele disse, então: "Sinto dizer que o general Pinochet não está num estado mental ou psíquico normal. E um homem que não está num estado psíquico normal, pode tomar qualquer caminho". Oxalá esse oficial esteja errado.

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 4 de outubro de 1988)

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