Saturday, December 25, 2010




Os gigantes caem

Pedro J. Bondaczuk

A literatura não é composta, apenas, de livros de ficção, ou de poesia, ou de ensaios contendo múltiplas reflexões sobre a vida. Obras de auto-ajuda, por exemplo, compõem, hoje, cerca de 30% dos catálogos das editoras e fazem muito sucesso. Igualmente as de cunho técnico são muito procuradas, versando sobre informática, Tecnologia da Informação, economia, finanças e vida empresarial. E é exatamente sobre este tema que faço, hoje, algumas considerações, mais especificamente, sobre o novo livro do badalado (com todos os méritos) consultor norte-americano, Jim Colins.
As empresas e corporações têm “vidas” relativamente curtas, via de regra, de apenas duas gerações ou até menos. Raras são as que conseguem completar um centenário por maior que seja seu capital, organização e mercado.
Qual é o motivo disso acontecer? Na verdade, não há um único e solitário. Existem vários e variam de empresa para empresa. É o que o livro “Como as gigantes caem”, de Jim Colins (lançamento da Editora Campus) trata. O autor busca detectar e, sobretudo, explicar quais são as causas dessa derrocada e fornece dicas para evitar que isso ocorra.
Como tudo na vida, as empresas e corporações passam, também, por fases. Nascem, crescem, se desenvolvem, declinam e... morrem. Algumas após décadas, outras, sequer chegam a completar o primeiro aniversário. Poucas, pouquíssimas mundo afora logram a façanha de fazer cem anos ou mais.
A primeira fase de uma empresa ou corporação, a mais difícil, é, obviamente a da criação, ou implantação. Levantamento recente, divulgado pela Junta Comercial do Estado de São Paulo dá conta que são raros os empreendimentos (comerciais ou industriais, não importa) que conseguem sobreviver aos dois primeiros anos de fundação. Isso ocorre tanto no Brasil quanto (presumo) em qualquer parte do mundo. Quantos negócios abertos com entusiasmo e vigor não fracassam com apenas seis meses! São muitos e muitos, podem crer.
Superada essa primeira etapa (para os que conseguem essa façanha, claro), vem o período da expansão. Depois que os negócios engrenam, e os lucros (grandes motores de qualquer empreendimento) crescem, os empresários descobrem que poderiam ganhar muito mais caso expandissem suas empresas. Alguns fazem-no com capitais próprios e outros recorrem a empréstimos bancários, ou lançamento de ações nas bolsas, para esse fim. Para divulgar seus produtos (ou serviços) lançam sólidas campanhas publicitárias. Além disso, ampliam instalações, expandem mercados e, em boa parte dos casos, abrem novas filiais.
Passado um tempo, que nunca é igual para todos, vem a etapa da consolidação. A marca fixa-se na cabeça do consumidor. As vendas podem ou não crescer. Todavia, não declinam. As empresas adquirem estabilidade no mercado.
Aí, chega-se ao ponto crítico. Das decisões tomadas nessa etapa vão depender os rumos que os empreendimentos irão tomar. Uns optam por promover novas expansões, não raro para o exterior. Outros, no entanto, marcam passo, acomodam-se e findam por abrir brechas para a concorrência, que abocanha preciosas fatias da sua clientela que os administradores julgavam cativas, garantidas, intocáveis.
Para muitas empresas e corporações, nessas circunstâncias, pode surgir o que muitos temem, mas que não se previnem para evitar: o declínio. Há as que optam por fusões com outras companhias similares e saem, pelo menos por algum tempo, fortalecidas. Outros, todavia, preferem remar sozinhos, mesmo que contra a correnteza. E, invariavelmente, se dão mal.
A esse propósito, o livro de Colins traz elementos muito importantes para reflexão. Há perguntas essenciais que se impõem, como: “há como perceber o início dessa derrocada? Quais são os principais sinais indicativos dela? Há como evitar esse declínio? De que forma? Até que ponto determinada empresa tem a possibilidade de errar? Quais medidas, principalmente financeiras, seria preciso adotar para salvar o empreendimento do fracasso e da falência?”
Colins avalia tudo isso à luz de dados concretos. Esboça um panorama pouco comum em obras desse tipo, ao apresentar uma série de exemplos de empresas que fracassaram e não das que saíram mais fortes e competitivas dessas crises. Enfatiza, e comprova, que esses fracassos foram motivados pelo fato dos seus “comandantes” não terem percebido a tempo o “sinal vermelho” indicando perigo, o declínio, a queda da lucratividade e, por conseqüência, não haverem adotado medidas saneadoras que poderiam evitar a derrocada.
Ressalto, para quem não o conhece, a relevância do autor de “Como os gigantes caem”. Jim Colins é, na atualidade, um dos pensadores do mundo dos negócios mais acatados e respeitados, quer nos Estados Unidos, quer no cenário internacional. É autor de livros clássicos do gênero, como “Feitas para durar e empresas feitas para vencer”, entre tantas outras. Muitos consideram-no, até, o legítimo sucessor do já lendário Peter Drucker, tido e havido como o maior teórico dos negócios em todos os tempos.
Casado com uma atleta de triatlo, mudou-se, no início dos anos 90, para a cidadezinha de Boulder, no Colorado, onde presta assessoria empresarial. E escreve livros, claro, colecionando best-sellers um atrás do outro.
Uma das constatações de Colins, que deveria servir de alerta para todos os administradores, é a de que “empresas poderosas não entram em declínio porque se acomodam. Elas se tornam tão arrogantes que acreditam que todas suas iniciativas serão infalíveis”. E não serão, evidentemente.
E qual a principal conclusão do livro? Bem, ela pode (e deve), principalmente, alertar empreendedores e administradores, seu público-alvo: é a de que, não importa quanto uma empresa ou corporação seja bem-sucedida, ela sempre pode cair (e as razões dessa queda podem ser inúmeras) e até desaparecer (o que, infelizmente, é muito mais comum do que se pensa).

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