Nas entranhas da economia global
Pedro J. Bondaczuk
Liaquat Ahmed, a despeito de haver conquistado um dos mais cobiçados e disputados prêmios dos Estados Unidos, atribuído anualmente pela tradicional Universidade de Colúmbia, em Nova York, não é norte-americano. É inglês. É verdade que reside e trabalha há muitos anos nesse país, onde conquistou fama e fortuna.
Por outro lado, apesar de seu prêmio ser na categoria de História, não é historiador. Não é, sequer, escritor de profissão. É economista. Quem, pois, mais habilitado do que um homem ligado diretamente à área de finanças para escrever sobre crises financeiras globais? Poucos, certamente. E de preferência, também economistas, claro.
Mas para tanto, teriam que dispor de documentos comprobatórios e, não somente isso. Precisariam conhecer em detalhes os acontecimentos que se propusessem a relatar, penetrar nas entranhas da economia global, saber de seus personagens, datas e locais absolutamente precisos dos fatos a serem narrados, além de cifras etc.
Afinal, a proposta, neste caso, seria a de escrever um livro de História (com “H” maiúsculo) e não de “história” (ou seja, de ficção e com “h” minúsculo). Liaquat Ahmed preencheu todos esses requisitos e se deu bem. Produziu um best-seller, que continua vendendo à beça, não só nos Estados Unidos, mas em todos os países em que já foi lançado (inclusive no Brasil). Seu relato em “Os donos do dinheiro – os banqueiros que quebraram o mundo”, não só se tornou campeão de vendas, como foi mais longe: valeu-lhe o prêmio Pulitzer de 2010, na categoria “História”.
Ahmed apresenta, em seu livro, o perfil de quatro homens que, no seu entender, por meio de suas ações pessoais e profissionais, mudaram o rumo econômico mundial do século XX. Para melhor? Para os Estados Unidos, que se tornaram a superpotência da Economia que são, sim. Já para o restante do mundo... Entendo que haja sido um irreparável desastre.
Todavia, o economista, alçado à condição de historiador, não se limita a especular ou, meramente, a opinar sobre a tese que traz à baila. Longe disso. Apresenta provas incontestáveis, inquestionáveis e contundentes a propósito.
O leitor, certamente, estará, a esta altura, perguntando: “Quem são estes quatro indivíduos, com tamanho poder e influência?”. Adianto que não são ETs e nem seres imaginários. São pessoas de carne e osso, como nós. São os banqueiros Montagu Norman, do Bank of England; Èmile Moreau, do Banque de France; Hjalmar Schacht, do Reichbank e Benjamin Strong, do Federal Reserve Bank of New York.
Nenhuma análise anterior, das várias crises financeiras globais, seguiu essa trilha histórica. Ahmed mostrou, sem sombras de dúvidas, a dimensão do impacto das decisões dos banqueiros centrais (e não somente destes, mas dos demais que os sucederam) nos bolsos de cada um dos cidadãos do mundo da época em que viveram e que se reflete nos dos 6,7 bilhões de pessoas que habitam o Planeta hoje, uns mais e outros menos, obviamente, mas sem que ninguém escape.
Antes de conquistar o Pulitzer, o livro – lançado no Brasil pela Editora Campus-Elsevier – já havia sido eleito pelo Financial Times como o melhor de 2009. A conquista do prêmio, portanto, não foi nenhuma surpresa, mas mera conseqüência.
Interessantes são as diferenças de personalidade dos quatro banqueiros que, de uma forma ou de outra, foram responsáveis pela crise financeira (não somente eles, óbvio, mas também os que acataram suas determinações) que arrasou a economia mundial no decênio que se seguiu ao “crash” de 1929, na Bolsa de Valores de Nova York, tido como origem da chamada Grande Depressão, o que levou, inclusive, as grandes potências a “cambalearem” em direção à guerra.
Enquanto Montagu Norman era “neurótico e enigmático”; Èmile Moreau era “xenófobo e desconfiado”; Hjalmar Schacht era “arrogante, mas habilíssimo” e Benjamin Strong “traumatizado por dramas pessoais, mas viciado em trabalho”.
Liaquat Ahmed transita com desenvoltura pelos ambientes que descreve, mas não por acaso e nem por havê-los meramente pesquisado. Esse é, e sempre foi, o seu meio. Afinal, foi gerente de investimentos profissionais durante 25 anos, tendo trabalhado no Banco Mundial (BIRD) e sido diretor-executivo da firma Fischer Francis Trees and Watts, com sede em Nova York, onde reside e trabalha. Sabe, portanto, como ninguém do que fala.
Pedro J. Bondaczuk
Liaquat Ahmed, a despeito de haver conquistado um dos mais cobiçados e disputados prêmios dos Estados Unidos, atribuído anualmente pela tradicional Universidade de Colúmbia, em Nova York, não é norte-americano. É inglês. É verdade que reside e trabalha há muitos anos nesse país, onde conquistou fama e fortuna.
Por outro lado, apesar de seu prêmio ser na categoria de História, não é historiador. Não é, sequer, escritor de profissão. É economista. Quem, pois, mais habilitado do que um homem ligado diretamente à área de finanças para escrever sobre crises financeiras globais? Poucos, certamente. E de preferência, também economistas, claro.
Mas para tanto, teriam que dispor de documentos comprobatórios e, não somente isso. Precisariam conhecer em detalhes os acontecimentos que se propusessem a relatar, penetrar nas entranhas da economia global, saber de seus personagens, datas e locais absolutamente precisos dos fatos a serem narrados, além de cifras etc.
Afinal, a proposta, neste caso, seria a de escrever um livro de História (com “H” maiúsculo) e não de “história” (ou seja, de ficção e com “h” minúsculo). Liaquat Ahmed preencheu todos esses requisitos e se deu bem. Produziu um best-seller, que continua vendendo à beça, não só nos Estados Unidos, mas em todos os países em que já foi lançado (inclusive no Brasil). Seu relato em “Os donos do dinheiro – os banqueiros que quebraram o mundo”, não só se tornou campeão de vendas, como foi mais longe: valeu-lhe o prêmio Pulitzer de 2010, na categoria “História”.
Ahmed apresenta, em seu livro, o perfil de quatro homens que, no seu entender, por meio de suas ações pessoais e profissionais, mudaram o rumo econômico mundial do século XX. Para melhor? Para os Estados Unidos, que se tornaram a superpotência da Economia que são, sim. Já para o restante do mundo... Entendo que haja sido um irreparável desastre.
Todavia, o economista, alçado à condição de historiador, não se limita a especular ou, meramente, a opinar sobre a tese que traz à baila. Longe disso. Apresenta provas incontestáveis, inquestionáveis e contundentes a propósito.
O leitor, certamente, estará, a esta altura, perguntando: “Quem são estes quatro indivíduos, com tamanho poder e influência?”. Adianto que não são ETs e nem seres imaginários. São pessoas de carne e osso, como nós. São os banqueiros Montagu Norman, do Bank of England; Èmile Moreau, do Banque de France; Hjalmar Schacht, do Reichbank e Benjamin Strong, do Federal Reserve Bank of New York.
Nenhuma análise anterior, das várias crises financeiras globais, seguiu essa trilha histórica. Ahmed mostrou, sem sombras de dúvidas, a dimensão do impacto das decisões dos banqueiros centrais (e não somente destes, mas dos demais que os sucederam) nos bolsos de cada um dos cidadãos do mundo da época em que viveram e que se reflete nos dos 6,7 bilhões de pessoas que habitam o Planeta hoje, uns mais e outros menos, obviamente, mas sem que ninguém escape.
Antes de conquistar o Pulitzer, o livro – lançado no Brasil pela Editora Campus-Elsevier – já havia sido eleito pelo Financial Times como o melhor de 2009. A conquista do prêmio, portanto, não foi nenhuma surpresa, mas mera conseqüência.
Interessantes são as diferenças de personalidade dos quatro banqueiros que, de uma forma ou de outra, foram responsáveis pela crise financeira (não somente eles, óbvio, mas também os que acataram suas determinações) que arrasou a economia mundial no decênio que se seguiu ao “crash” de 1929, na Bolsa de Valores de Nova York, tido como origem da chamada Grande Depressão, o que levou, inclusive, as grandes potências a “cambalearem” em direção à guerra.
Enquanto Montagu Norman era “neurótico e enigmático”; Èmile Moreau era “xenófobo e desconfiado”; Hjalmar Schacht era “arrogante, mas habilíssimo” e Benjamin Strong “traumatizado por dramas pessoais, mas viciado em trabalho”.
Liaquat Ahmed transita com desenvoltura pelos ambientes que descreve, mas não por acaso e nem por havê-los meramente pesquisado. Esse é, e sempre foi, o seu meio. Afinal, foi gerente de investimentos profissionais durante 25 anos, tendo trabalhado no Banco Mundial (BIRD) e sido diretor-executivo da firma Fischer Francis Trees and Watts, com sede em Nova York, onde reside e trabalha. Sabe, portanto, como ninguém do que fala.
Acompanhe-me no twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment