Biografia à altura do biografado
Pedro J. Bondaczuk
O Prêmio Nobel de Literatura Gabriel Garcia Márquez, um dos escritores mais importantes não apenas da Colômbia ou da América Latina, mas também do mundo das letras atual, acaba de ganhar extensa, meticulosa e bem-elaborada biografia, à altura da sua importância e projeção internacional. E foi escrita não por algum conterrâneo ou quem prive do seu círculo íntimo de amizades, mas por um professor inglês, Gerald Martin.
São 800 páginas de texto, que custaram 17 longos e exaustivos anos de pesquisa do autor. Este esforço, todavia, valeu a pena diante do resultado. O livro já está chegando às livrarias de todo o Brasil, lançado pela editora Ediouro. Seu preço, de R$ 89,90, é relativamente barato, já que o leitor, convenhamos, tem o que ler, tanto no que se refere à extensão, quanto (e principalmente) ao conteúdo e qualidade dessa biografia.
Gabo bem que merecia um trabalho tão bem cuidado e caprichoso. O livro, intitulado “”Garcia Márquez: uma vida exemplar” contém, além das pesquisas de Martin (extensas, rigorosas e meticulosas), várias entrevistas de personalidades importantes na vida e na trajetória literária do autor de “Cem anos de solidão” e “O amor nos tempos do cólera”, entre outros, que conviveram com ele e conhecem, portanto, seu jeito de ser e de pensar como ninguém.
A importância desse escritor, quer para a Colômbia, quer para toda a América Latina, vai muito além do seu reconhecido talento narrativo, ou seja, da Literatura que pratica ou mesmo das artes. Ganha, também, relevância política, por suas opiniões fortes e polêmicas, como jornalista (que nunca deixou de ser) e por sua militância na esquerda, que começou ainda na juventude.
Polêmico, também, é o seu fiel apoio ao líder cubano Fidel Castro, no que rema contra a maré e por causa do que tem sido intensamente criticado. Márquez, todavia, não apenas apóia o ex-guerrilheiro de Sierra Maestra, como é seu amigo pessoal (como o norte-americano Ernest Hemmingway também o foi).
Martin destaca, em seu livro, além desse aspecto, digamos, “público”, episódios não muito conhecidos da vida pessoal de Garcia Márquez. Trata, por exemplo, da infância pobre do escritor, que chegou a ser abandonado, em pequeno, pelos pais. Esse é um ponto que o biografado nunca tocou ou se o fez, foi raramente e jamais tentou dar ênfase a esse aspecto.
O biógrafo trata, também, dos vários casos amorosos de Gabo, amante inveterado, que deixou “corações partidos” por onde passou, quer na Colômbia, quer alhures. Alguns são “saborosos” e picantes, enquanto outros são triviais.
Um dos aspectos que Martin mais enfatiza é o de como a vida pessoal de Márquez influenciou em sua literatura. Vários de seus personagens de fato existiram e alguns, talvez, ainda perambulem pelas ruas de Bogotá, Cali, Medellín ou de outra grande cidade colombiana qualquer.
Esta é mais uma das tantas e preciosas lições que Gabo dá para nós, escritores. Ou seja, a de que nada soa mais verossímil, e paradoxalmente, ao mesmo tempo, fantástico, do que a realidade, notadamente aquilo que conhecemos bem, por termos vivido. O homem de letras não pode ter pudor com isso, por mais que alguns episódios vividos possam nos doer.
Sou fã incondicional de Márquez. Tenho, em minha caótica biblioteca, vários dos seus livros, muitos que sequer foram publicados no Brasil, que encomendei seguidamente a um jornalista amigo, que viajava com freqüência, a trabalho, para a Colômbia. Honestamente, se me pedissem que escolhesse o que mais gostei, não saberia fazer a escolha. Todos me agradam, informam, esclarecem e inspiram. Talvez (e notem bem, somente talvez), “Cem anos de solidão” esteja um tantinho na frente.
Para nossa frustração, Márquez anunciou, em meados de 2009, que se “aposentou” de sua vida de escritor. Garantiu que não pretende escrever (e, claro, nem publicar) mais nada, porquanto acha que já disse ao mundo tudo o que tinha a dizer. Será? Creio que não.
O escritor, inclusive, assegurou que o romance “Memórias de minhas putas tristes”, que publicou em 2004, foi sua despedida literária, o que, se for de fato para valer, será, com certeza, uma pena para aqueles que, como eu, têm paixão por literatura de qualidade.
É possível e até mesmo provável que um escritor prolífico e imaginativo, como ele, ainda tenha muito a nos revelar. Sua imensa e detalhada biografia, portanto, é importante não somente para quem deseja conhecer um dos mais talentosos e geniais romancistas do século XX e início do XXI, como episódios, pouco conhecidos, da própria história dessa nossa promissora, mas ainda tão atrasada América Latina.
Acompanhe-me no twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
O Prêmio Nobel de Literatura Gabriel Garcia Márquez, um dos escritores mais importantes não apenas da Colômbia ou da América Latina, mas também do mundo das letras atual, acaba de ganhar extensa, meticulosa e bem-elaborada biografia, à altura da sua importância e projeção internacional. E foi escrita não por algum conterrâneo ou quem prive do seu círculo íntimo de amizades, mas por um professor inglês, Gerald Martin.
São 800 páginas de texto, que custaram 17 longos e exaustivos anos de pesquisa do autor. Este esforço, todavia, valeu a pena diante do resultado. O livro já está chegando às livrarias de todo o Brasil, lançado pela editora Ediouro. Seu preço, de R$ 89,90, é relativamente barato, já que o leitor, convenhamos, tem o que ler, tanto no que se refere à extensão, quanto (e principalmente) ao conteúdo e qualidade dessa biografia.
Gabo bem que merecia um trabalho tão bem cuidado e caprichoso. O livro, intitulado “”Garcia Márquez: uma vida exemplar” contém, além das pesquisas de Martin (extensas, rigorosas e meticulosas), várias entrevistas de personalidades importantes na vida e na trajetória literária do autor de “Cem anos de solidão” e “O amor nos tempos do cólera”, entre outros, que conviveram com ele e conhecem, portanto, seu jeito de ser e de pensar como ninguém.
A importância desse escritor, quer para a Colômbia, quer para toda a América Latina, vai muito além do seu reconhecido talento narrativo, ou seja, da Literatura que pratica ou mesmo das artes. Ganha, também, relevância política, por suas opiniões fortes e polêmicas, como jornalista (que nunca deixou de ser) e por sua militância na esquerda, que começou ainda na juventude.
Polêmico, também, é o seu fiel apoio ao líder cubano Fidel Castro, no que rema contra a maré e por causa do que tem sido intensamente criticado. Márquez, todavia, não apenas apóia o ex-guerrilheiro de Sierra Maestra, como é seu amigo pessoal (como o norte-americano Ernest Hemmingway também o foi).
Martin destaca, em seu livro, além desse aspecto, digamos, “público”, episódios não muito conhecidos da vida pessoal de Garcia Márquez. Trata, por exemplo, da infância pobre do escritor, que chegou a ser abandonado, em pequeno, pelos pais. Esse é um ponto que o biografado nunca tocou ou se o fez, foi raramente e jamais tentou dar ênfase a esse aspecto.
O biógrafo trata, também, dos vários casos amorosos de Gabo, amante inveterado, que deixou “corações partidos” por onde passou, quer na Colômbia, quer alhures. Alguns são “saborosos” e picantes, enquanto outros são triviais.
Um dos aspectos que Martin mais enfatiza é o de como a vida pessoal de Márquez influenciou em sua literatura. Vários de seus personagens de fato existiram e alguns, talvez, ainda perambulem pelas ruas de Bogotá, Cali, Medellín ou de outra grande cidade colombiana qualquer.
Esta é mais uma das tantas e preciosas lições que Gabo dá para nós, escritores. Ou seja, a de que nada soa mais verossímil, e paradoxalmente, ao mesmo tempo, fantástico, do que a realidade, notadamente aquilo que conhecemos bem, por termos vivido. O homem de letras não pode ter pudor com isso, por mais que alguns episódios vividos possam nos doer.
Sou fã incondicional de Márquez. Tenho, em minha caótica biblioteca, vários dos seus livros, muitos que sequer foram publicados no Brasil, que encomendei seguidamente a um jornalista amigo, que viajava com freqüência, a trabalho, para a Colômbia. Honestamente, se me pedissem que escolhesse o que mais gostei, não saberia fazer a escolha. Todos me agradam, informam, esclarecem e inspiram. Talvez (e notem bem, somente talvez), “Cem anos de solidão” esteja um tantinho na frente.
Para nossa frustração, Márquez anunciou, em meados de 2009, que se “aposentou” de sua vida de escritor. Garantiu que não pretende escrever (e, claro, nem publicar) mais nada, porquanto acha que já disse ao mundo tudo o que tinha a dizer. Será? Creio que não.
O escritor, inclusive, assegurou que o romance “Memórias de minhas putas tristes”, que publicou em 2004, foi sua despedida literária, o que, se for de fato para valer, será, com certeza, uma pena para aqueles que, como eu, têm paixão por literatura de qualidade.
É possível e até mesmo provável que um escritor prolífico e imaginativo, como ele, ainda tenha muito a nos revelar. Sua imensa e detalhada biografia, portanto, é importante não somente para quem deseja conhecer um dos mais talentosos e geniais romancistas do século XX e início do XXI, como episódios, pouco conhecidos, da própria história dessa nossa promissora, mas ainda tão atrasada América Latina.
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