Saturday, December 04, 2010




Por que ler?


Pedro J. Bondaczuk

Pouca coisa me dá tanta satisfação quanto ver algum amigo – não importa se presencial ou virtual – se dar bem na vida. Vibro quando algum deles consegue, por exemplo, comprar a casa própria, adquirir aquele carrão zero quilômetro que tanto cobiçava, fazer estágio em alguma universidade do exterior ou ter o orgulho de ver um filho entrar numa faculdade, entre tantas e tantas conquistas sonhadas e raramente conseguidas.

Sinto-me como se tivesse dado alguma parcela de contribuição nesse sucesso (mesmo que não tenha nenhuma) e vibro intensamente com isso. Faz parte da minha característica e do meu jeito de ser. Quem me conhece pessoalmente, sabe disso. Claro que a alegria e a vibração são maiores quando o êxito é de algum escritor. Por que? Porque á a atividade que exerço atualmente e que abracei de corpo e alma. Quando algum desses colegas de letras lança um livro novo, mesmo sabendo (e como sei!) das dificuldades que terá de distribuição e divulgação, fico eufórico, por saber da importância que isso tem para ele. É questão de realização pessoal.

Esse intróito tão prolixo é só para informar que o jornalista e escritor Eduardo Murta lança mais um livro neste sábado, 4 de dezembro. Trata-se de “Minhas Condolências à Senhora Vera", pela Editora Scriptum. O volume reúne 50 contos, escritos entre 2006 e 2010 (boa parte publicada em nosso cantinho de literatura na internet). Murta torna-se, assim, o quinto dos colunistas do Literário a lançar livro no período de existência da nossa revista literária eletrônica diária. Antes dele, Celamar Maione, Laís de Castro (que depois do lançamento se afastou do nosso convívio), Urariano Mota e eu, editor daquele espaço, havíamos superado esse desafio.

O livro de Eduardo Murta, de acordo com sinopse que recebi, traz diversidade de abordagens, indo de realismo mágico a regionalismo e ainda contendo enredos com pegada bem urbana. O lançamento será na livraria Scriptum, de Belo Horizonte, a partir das 11 horas. Quem residir em Belô e for nosso colunista ou leitor, ou quem estiver na cidade amanhã, está intimado a comparecer. E a adquirir, claro, a obra deste excelente ficcionista da nova geração da literatura brasileira, que dá continuidade à tradição de Minas Gerais de produzir para o Brasil grandes escritores.

Murta, só para lembrar, não é “marinheiro de primeira viagem”. É autor de “Tantas Histórias. Pessoas Tantas” (2006, contos, Manuscritos), “Galo - Uma Paixão Centenária” (2007, com outros autores, Editora Gutenberg, homenageando o centenário do Clube Atlético Mineiro), além de ser um dos autores de “Pelada Poética” (2010, Scriptum).

“Minhas condolências à senhora Vera” está dividido em cinco capítulos: “Dos desvãos de amar”, “Da arte de morrer”, “De minha coleção de geleiras”, “Dos cortejos da alegria” e “Dos grãos de endoidecer”. Para o professor de literatura brasileira da Universidade Federal de Campina Grande (PB), Hélder Pinheiro, a singularidade da obra pode ser observada ora na riqueza de situações e no modo como elas são abordadas, ora pelas questões colocadas a partir das ações e reações das personagens, ora pela diversidade de espaços acionados, e, finalmente, pelos diferentes tons que impregnam cada narrativa. "Creio que a obra de Eduardo Murta deveria ser lida como um livro de poemas. Eleger as histórias uma a uma, ou uma a cada dia, a cada noite. E certamente elas revelarão muitos dos desvãos da alma humana". E como revelarão!

Falar do estilo de Eduardo Murta, para os leitores do Literário, chega a ser redundante. Afinal, ele já publicou, naquele cantinho (nobre) da internet mais de 200 contos (e olhem que isso não é brincadeira, é o suficiente para preencher uns dez bons e alentados livros). Estou certo que, mesmo quem não puder comparecer ao lançamento, se interessará em adquirir a obra. E é importante que, não apenas a adquira, mas, sobretudo, a leia.

No Brasil, escrever e publicar livros ainda é uma baita aventura. Conversei a respeito com muitos escritores consagrados (alguns membros da Academia Brasileira de Letras) e a queixa foi unânime e sempre a mesma: As pessoas, no País, não gostam de ler. Por que? Bem que eu gostaria de saber. Afinal, temos tantos e tão bons escritores e relativamente tão poucos leitores.
A aversão dos brasileiros aos livros virou, até mesmo, assunto de uma das edições da influente revista britânica "The Economist", se não me falha a memória, em março de 2005. E essa reportagem permanece, cinco anos depois, tão atual quanto era na ocasião. Para a publicação, a situação precária das bibliotecas públicas e o baixo índice de leitura dos brasileiros constituem "motivo para vergonha nacional", juntamente com o crime e com as taxas de juros. E nem precisava uma revista estrangeira dizer isso. Nós, escritores, sentimos na própria carne os efeitos da aversão dos nossos patrícios pelos livros.
“Muitos brasileiros não sabem ler. Em 2000, um quarto da população com 15 anos ou mais eram analfabetos funcionais. Muitos simplesmente não querem. Apenas um adulto alfabetizado em cada três lê livros. O brasileiro médio lê 1,8 livros não-acadêmicos por ano --menos da metade do que se lê nos EUA ou na Europa. Em uma pesquisa recente sobre hábitos de leitura, os brasileiros ficaram em 27º em um ranking de 30 países, gastando 5,2 horas por semana com um livro. Os argentinos, vizinhos, ficaram em 18º”, diz a matéria do “The Economist” em determinado trecho. Mas nós, escritores, vamos mudar tudo isso, mesmo que levemos mais dez anos para motivar leitores e fazer com que tomem gosto por esta fascinante e imprescindível atividade. Você quer participar dessa cruzada? Pois comece já. Como? Digamos que, para começar, adquirindo os livros de Eduardo Murta, Celamar Maione, Urariano Mota, Laís de Castro e deste Editor. E isso só para começo. Depois... Bem, depois, o céu é o limite!


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