Monday, December 20, 2010




O livro é caro e a verba... curta

Pedro J. Bondaczuk

Gosto de colaborar com meus amigos escritores naquilo que está ao meu alcance. Nunca me recusei a fazê-lo, mesmo quando tal colaboração me exige grandes sacrifícios. Sou, a todo o momento, solicitado, por exemplo, a escrever prefácios para livros prestes a serem lançados e jamais deixei ninguém na mão. E olhem que não são poucos. São em torno de dez, em média, por ano. Claro que me sinto lisonjeado e encaro esses pedidos como manifestação de respeito intelectual e de apreço pessoal.
Fosse eu lançar tantos livros quantos os que prefacio, seria hoje dos escritores mais prolíficos com uma das mais extensas bibliografias do País. Sem exagero, já fiz mais de cem prefácios, nos últimos dez anos. O que me aborrece, porém, é o fato de, depois da publicação dessas obras, o autor não se dignar, sequer, de me presentear com um exemplar. Não são todos os que agem assim, claro. Mas a maioria...
O Talis Andrade, por exemplo, quando lançou seu livro de poesias, imediatamente me enviou um exemplar, novinho em folha, cheirando a tinta. Aliás, era o que eu esperava desse extraordinário poeta e incrível figura humana. É uma honra, para mim, participar de alguma maneira de um livro deste magnífico escritor. Por que os outros não agem da mesma maneira?
Outra reclamação que tenho a fazer (hoje estou um tanto ranzinza, não é verdade?) é que, muitos, quando me solicitam prefácio, não me encaminham sequer cópia do exemplar a ser prefaciado. Tenho me virado sem isso, na base da pura imaginação e da criatividade, mas... O risco de escrever alguma bobagem ou, no mínimo, inconveniências, é muito grande. Doravante, portanto, por favor: sempre que me fizerem este tipo de pedido, me enviem “o que” devo prefaciar, combinado?
Minhas queixas, porém, não se esgotaram. E esta, tem motivação, digamos, pecuniária. Explico. Mais do que solicitações de prefácio, recebo inúmeros pedidos para analisar livros recém-lançados, numa quantidade muito grande, acreditem, vindas de todo o Brasil. Claro que isso me deixa ainda mais lisonjeado. Chego a ficar impossível! Só que os que me fazem tal pedido cometem um pecado mortal: não me enviam o exemplar que querem que eu comente.
Quando se trata de escritor conhecido, tenho, invariavelmente, adquirido essas obras, lido para, posteriormente, comentá-las. Mas, convenhamos, é uma baita sacanagem. Fico perguntando aos meus botões se estes colegas de letras querem meus préstimos de comentarista ou meramente de cliente, de comprador dos seus livros. As duas coisas, ao mesmo tempo, são incompatíveis.
Sou consumidor compulsivo de livros. Compro, em média, dez por mês e este é meu limite. Afinal, jornalista não é nenhum nababo e, salvo honrosas exceções, não ganha lá tanto assim. A maioria (e este é o meu caso) precisa de dois ou mais empregos para se garantir. Em suma, cabe aqui, como uma luva, o título deste texto: “o livro é caro e a verba... curta”. E olhem que gasto R$ 500,00 em média por mês nas livrarias, para desespero da esposa.
Custava essa gente me enviar um exemplar? Afinal, o autor tem direito a dez deles (algumas editoras destinam vinte) para divulgação. Ah, vocês não têm meu endereço? (e esta é a argumentação de muitos). Pois bem, através desse mesmo e-mail, pelo qual vocês me fazem o pedido (e que é publicado diariamente neste espaço, no pé do índice), solicitem-no que lhes informarei. O que não posso é expô-lo publicamente na internet, e vocês, inteligentes como são, sabem, certamente, por qual razão.
Volto, pois, ao que escrevi no início destas considerações: “gosto de colaborar com meus colegas escritores”. Mas aduzo uma condição básica para isso: desde que estes colaborem, também, comigo. Os que me solicitam comentários sabem que estes serão postados não somente aqui (ou em forma de editorial, ou de crônica na minha coluna bissemanal), mas nos vários outros sites que publicam semanalmente meus textos. Será, pois, uma baita propaganda dos seus lançamentos.
E aqui cabe outra ressalva. Não faço resenhas. Estas são tarefa dos responsáveis pelo marketing das editoras. Também não faço crítica literária. Escrevo, isso sim, crônicas em que revelo a emoção que o livro me causou (se causou, claro) e as razões. Algumas editoras me encaminham (gratuitamente, por sinal) seus principais lançamentos. Jamais deixei de abordar qualquer um deles.
Outra observação cabível, e que muitos se esquecem, é que “crítica literária” é um gênero de Literatura (e dos mais complexos). Apesar do nome, não se destina apenas a deitar falação contrária sobre os livros avaliados. Tem toda uma técnica que a fundamenta (que felizmente domino, mas não considero a minha “praia”). Minhas avaliações, porém, dispensam tanto “tecnicismo”. São todas mais emocionais do que cerebrais. Daí não considerá-las (pois não são) crítica literária.
Continuo, pois, firme e forte, à disposição dos meus colegas escritores, disposto a colaborar com eles naquilo que estiver ao meu alcance. Mas com a ressalva, que faço questão de reiterar: desde que também colaborem comigo. E lembro, de novo, para deixar bastante claro: “o livro é caro e a verba... curta”.

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