Bendita tecnologia!
Pedro J. Bondaczuk
As pessoas de mais idade, as da minha geração, por exemplo, morrem de medo da mais atualizada tecnologia de comunicação. Muitas embananam-se com a simples utilização do controle-remoto da televisão a cabo. Argumentam que têm receio de “quebrar os aparelhos”, premindo botões errados. Bobagem, claro, mas agem assim.
Um amigo escritor, por exemplo, escreve praticamente todos seus textos – ensaios, crônicas, contos e até mesmo romances – à mão. Tem um trabalhão infernal! Rascunha-os, inicialmente, à medida que vêm as idéias. Posteriormente, revisa o que escreveu, rasurando todas as páginas, acrescentando ou suprimindo parágrafos inteiros, substituindo palavras, fazendo uma rabisqueira sem fim.
A seguir, copia o texto, com as devidas modificações que faz. E torna a revisá-lo, como manda a prudência para qualquer redator que se preze, efetuando outro sem número de mudanças, e assim sucessivamente, até se dar por satisfeito. Só então, pede para a filha mais velha digitá-lo e salvá-lo no computador. Ele mesmo sequer chega perto da máquina. Não sabe nem mesmo ligá-la.
E olhem que não se trata de nenhum neófito. Já emplacou inúmeros sucessos editoriais. Eu disse-lhe, em várias ocasiões, que sua produção seria, no mínimo, o triplo da atual, caso usasse o computador, mas ele teima em não me dar ouvidos. Diz que não teria idéias para escrever se não estivesse com uma caneta nas mãos à frente de uma folha de papel em branco. Nesse aspecto, até que o entendo. Mas tudo é questão de treino, de exercício, de exaustiva repetição.
Tempos atrás, eu tinha enormes 0dificuldades para compor poemas no computador. Sempre que ficava à frente da telinha, dava-me um branco na mente e as palavras não saíam. Hoje, a menos que eu esteja na rua e surja algum poema insistindo em “nascer”, só componho utilizando-me da genial maquininha. Até porque habituei-me a escrever ouvindo ao fundo uma boa música, sempre clássica, sem a qual sinto faltar-me algo. Só componho em papel quando estou em algum bar, sala de espera ou estacionamento esperando a mulher fazer compras no shopping (coisa que detesto fazer; por isso, prefiro esperar no carro). No mais...
Fosse escrever sobre os benefícios que o computador me traz, para a minha atividade literária, certamente escreveria alentado tratado. Os textos saem sempre limpos, organizados e claros. As revisões, outrora torturantes, tornaram-se uma delícia de fazer, rápidas, limpas e imediatas. Caso bata alguma dúvida, sobre determinado detalhe do texto, nem preciso levantar-me da cadeira para esclarecer, rebuscando livros e mais livros na minha imensa e caótica biblioteca. Em outra tela, acesso o Google e, em três tempos, encontro a informação que preciso, clara, limpa, direta e de boa fonte.
E, cá para nós, como é bom trabalhar ouvindo música! Agora mesmo, ao redigir estas considerações soltas e despretensiosas, estou ouvindo belíssima seleção do tenor Enrico Caruso, no “Sonora”, magnífico serviço prestado pelo portal “Terra” aos amantes das melodias eternas, sem pátria e sem tempo.
Antigamente, se quisesse me dar a esse luxo, precisaria ligar a vitrola, escolher um LP e, ao voltar para a máquina de escrever, boa parte das idéias que tinha já havia me fugido da cabeça. Pior, vinte minutos depois, tinha que me levantar para virar o disco. O prazer tornava-se, pois, inviável. Teria que optar por uma coisa ou outra. As duas, simultaneamente, eram incompatíveis. Hoje não há esse problema.
Ressalto as facilidades proporcionadas pelo computador, porque é o equipamento que mais utilizo, do amanhecer ao anoitecer, quer no meu gabinete de trabalho, em casa, quer na redação do jornal para o qual presto serviço. Tornou-se um “casamento” indissolúvel, sem divórcio, uma relação constante e umbilical.
Não saberia o que fazer sem essa genial maquininha. Com ela, escrevo meus textos, encaminho-os a quem mos encomendou, atualizo a correspondência por e-mail, converso com amigos pelo skype, (celular só uso em ultimíssimo caso, porquanto prezo por manter ciosamente minha privacidade), leio livros que nunca supus que pudesse ler, acessando as melhores bibliotecas do Planeta, assisto filmes e vídeos e... ouço música, muita música, sempre os clássicos (e não adianta os amigos dizerem que sou esnobe por isso, pois jamais vou mudar meu gosto).
O texto de ontem, por exemplo, foi redigido ao som dos acordes das magníficas composições de Frederic Chopin, executados por uma “virtuose” russa, boa como ninguém no que faz. Hoje, delicio-me com as “canzonetas italianas” interpretadas por esse “monstro” dos palcos, que foi o tenor Enrico Caruso.
Há outras tantas tecnologias de comunicação que me encantam e tornam-me a vida mais gostosa e fácil, como, por exemplo, meu MP4, que serve, não apenas para que eu possa ouvir, no trânsito, nas salas de espera e até em estádios de futebol, nos intervalos dos jogos da minha Ponte Preta, as músicas que tanto amo, como ver vídeos e, principalmente, ler e-books. Acostumei-me à leitura nesse aparelhinho funcional, menor do que um maço de cigarros, do tamanho dos celulares mais modernos, e nunca saio de casa sem ele. Por isso, não sei o que é o tédio. Nunca perco tempo. Aproveito-o integramente, ciente de que ele é o maior capital, a verdadeira riqueza de que disponho.
Isso tudo, sem falar da televisão a cabo. O primeiro canal de TV do Brasil e da América Latina foi inaugurado em setembro de 1950, a Tupi-Difusora canal 3, quando eu tinha de sete para oito anos. A princípio, cheguei a duvidar que algum dia teria esse aparelho, que então me parecia um “milagre”, em casa. Hoje, tenho seis espalhados por todos os cômodos, um dos quais o LCD de 42 polegadas, que ocupa lugar nobilíssimo, na sala, embora não seja o mais utilizado. Houve tempos em que dispúnhamos de somente três emissoras. Hoje, graças à tecnologia dos cabos de fibra ótica e da antena parabólica, tenho mais de 600 à minha disposição, para escolher o que me aprouver assistir.
E por que escrevo tudo isso? Seria para contar vantagem para vocês? Ora, ora, ora, não sou tão esnobe assim! Trago à baila esse testemunho por uma série de motivos. Um, e não o mais importante claro, é o de motivar meus amigos mais idosos (notadamente o que é escritor de sucesso e bastante premiado) a deixarem de lado seu pavor pelas modernas tecnologias de comunicação e gozarem das facilidades que proporcionam. Outro é o de testemunhar este tempo (papel primordial do homem de letras, no meu entender). É possível que este texto sobreviva ao tempo e ao esquecimento e caia, um dia, nas mãos de algum dos pósteros do século XXII (ou XXIII, XXIV, XXX, XXV, não importa). O chato será a cara de espanto que eles certamente farão ao saberem que nos valíamos de meios tão precários (para eles, serão velharias da Idade da Pedra) para nos comunicar! Mas isso só posso imaginar. Certamente, não verei. Bendita tecnologia!
Acompanhe-me no twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
As pessoas de mais idade, as da minha geração, por exemplo, morrem de medo da mais atualizada tecnologia de comunicação. Muitas embananam-se com a simples utilização do controle-remoto da televisão a cabo. Argumentam que têm receio de “quebrar os aparelhos”, premindo botões errados. Bobagem, claro, mas agem assim.
Um amigo escritor, por exemplo, escreve praticamente todos seus textos – ensaios, crônicas, contos e até mesmo romances – à mão. Tem um trabalhão infernal! Rascunha-os, inicialmente, à medida que vêm as idéias. Posteriormente, revisa o que escreveu, rasurando todas as páginas, acrescentando ou suprimindo parágrafos inteiros, substituindo palavras, fazendo uma rabisqueira sem fim.
A seguir, copia o texto, com as devidas modificações que faz. E torna a revisá-lo, como manda a prudência para qualquer redator que se preze, efetuando outro sem número de mudanças, e assim sucessivamente, até se dar por satisfeito. Só então, pede para a filha mais velha digitá-lo e salvá-lo no computador. Ele mesmo sequer chega perto da máquina. Não sabe nem mesmo ligá-la.
E olhem que não se trata de nenhum neófito. Já emplacou inúmeros sucessos editoriais. Eu disse-lhe, em várias ocasiões, que sua produção seria, no mínimo, o triplo da atual, caso usasse o computador, mas ele teima em não me dar ouvidos. Diz que não teria idéias para escrever se não estivesse com uma caneta nas mãos à frente de uma folha de papel em branco. Nesse aspecto, até que o entendo. Mas tudo é questão de treino, de exercício, de exaustiva repetição.
Tempos atrás, eu tinha enormes 0dificuldades para compor poemas no computador. Sempre que ficava à frente da telinha, dava-me um branco na mente e as palavras não saíam. Hoje, a menos que eu esteja na rua e surja algum poema insistindo em “nascer”, só componho utilizando-me da genial maquininha. Até porque habituei-me a escrever ouvindo ao fundo uma boa música, sempre clássica, sem a qual sinto faltar-me algo. Só componho em papel quando estou em algum bar, sala de espera ou estacionamento esperando a mulher fazer compras no shopping (coisa que detesto fazer; por isso, prefiro esperar no carro). No mais...
Fosse escrever sobre os benefícios que o computador me traz, para a minha atividade literária, certamente escreveria alentado tratado. Os textos saem sempre limpos, organizados e claros. As revisões, outrora torturantes, tornaram-se uma delícia de fazer, rápidas, limpas e imediatas. Caso bata alguma dúvida, sobre determinado detalhe do texto, nem preciso levantar-me da cadeira para esclarecer, rebuscando livros e mais livros na minha imensa e caótica biblioteca. Em outra tela, acesso o Google e, em três tempos, encontro a informação que preciso, clara, limpa, direta e de boa fonte.
E, cá para nós, como é bom trabalhar ouvindo música! Agora mesmo, ao redigir estas considerações soltas e despretensiosas, estou ouvindo belíssima seleção do tenor Enrico Caruso, no “Sonora”, magnífico serviço prestado pelo portal “Terra” aos amantes das melodias eternas, sem pátria e sem tempo.
Antigamente, se quisesse me dar a esse luxo, precisaria ligar a vitrola, escolher um LP e, ao voltar para a máquina de escrever, boa parte das idéias que tinha já havia me fugido da cabeça. Pior, vinte minutos depois, tinha que me levantar para virar o disco. O prazer tornava-se, pois, inviável. Teria que optar por uma coisa ou outra. As duas, simultaneamente, eram incompatíveis. Hoje não há esse problema.
Ressalto as facilidades proporcionadas pelo computador, porque é o equipamento que mais utilizo, do amanhecer ao anoitecer, quer no meu gabinete de trabalho, em casa, quer na redação do jornal para o qual presto serviço. Tornou-se um “casamento” indissolúvel, sem divórcio, uma relação constante e umbilical.
Não saberia o que fazer sem essa genial maquininha. Com ela, escrevo meus textos, encaminho-os a quem mos encomendou, atualizo a correspondência por e-mail, converso com amigos pelo skype, (celular só uso em ultimíssimo caso, porquanto prezo por manter ciosamente minha privacidade), leio livros que nunca supus que pudesse ler, acessando as melhores bibliotecas do Planeta, assisto filmes e vídeos e... ouço música, muita música, sempre os clássicos (e não adianta os amigos dizerem que sou esnobe por isso, pois jamais vou mudar meu gosto).
O texto de ontem, por exemplo, foi redigido ao som dos acordes das magníficas composições de Frederic Chopin, executados por uma “virtuose” russa, boa como ninguém no que faz. Hoje, delicio-me com as “canzonetas italianas” interpretadas por esse “monstro” dos palcos, que foi o tenor Enrico Caruso.
Há outras tantas tecnologias de comunicação que me encantam e tornam-me a vida mais gostosa e fácil, como, por exemplo, meu MP4, que serve, não apenas para que eu possa ouvir, no trânsito, nas salas de espera e até em estádios de futebol, nos intervalos dos jogos da minha Ponte Preta, as músicas que tanto amo, como ver vídeos e, principalmente, ler e-books. Acostumei-me à leitura nesse aparelhinho funcional, menor do que um maço de cigarros, do tamanho dos celulares mais modernos, e nunca saio de casa sem ele. Por isso, não sei o que é o tédio. Nunca perco tempo. Aproveito-o integramente, ciente de que ele é o maior capital, a verdadeira riqueza de que disponho.
Isso tudo, sem falar da televisão a cabo. O primeiro canal de TV do Brasil e da América Latina foi inaugurado em setembro de 1950, a Tupi-Difusora canal 3, quando eu tinha de sete para oito anos. A princípio, cheguei a duvidar que algum dia teria esse aparelho, que então me parecia um “milagre”, em casa. Hoje, tenho seis espalhados por todos os cômodos, um dos quais o LCD de 42 polegadas, que ocupa lugar nobilíssimo, na sala, embora não seja o mais utilizado. Houve tempos em que dispúnhamos de somente três emissoras. Hoje, graças à tecnologia dos cabos de fibra ótica e da antena parabólica, tenho mais de 600 à minha disposição, para escolher o que me aprouver assistir.
E por que escrevo tudo isso? Seria para contar vantagem para vocês? Ora, ora, ora, não sou tão esnobe assim! Trago à baila esse testemunho por uma série de motivos. Um, e não o mais importante claro, é o de motivar meus amigos mais idosos (notadamente o que é escritor de sucesso e bastante premiado) a deixarem de lado seu pavor pelas modernas tecnologias de comunicação e gozarem das facilidades que proporcionam. Outro é o de testemunhar este tempo (papel primordial do homem de letras, no meu entender). É possível que este texto sobreviva ao tempo e ao esquecimento e caia, um dia, nas mãos de algum dos pósteros do século XXII (ou XXIII, XXIV, XXX, XXV, não importa). O chato será a cara de espanto que eles certamente farão ao saberem que nos valíamos de meios tão precários (para eles, serão velharias da Idade da Pedra) para nos comunicar! Mas isso só posso imaginar. Certamente, não verei. Bendita tecnologia!
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