Que falem de nós
Pedro J. Bondaczuk
Todas as pessoas públicas, principalmente as que lidam com comunicação (entre elas o escritor, claro, que é basicamente um comunicador), precisa se expor, se pretender o tão almejado e ingentemente buscado sucesso em sua atividade. É aquela história do quem não se divulga, se esconde. E “esconder-se”, nesse caso, é fazer aposta no fracasso.
Como posso divulgar algum livro meu, por melhor que este seja, se ninguém souber nem ao menos quem sou? Há, é verdade, escritores que se escondem dos holofotes, que evitam a todo o custo a imprensa, que preservam ciosamente sua privacidade e, ainda assim, transformam-se em best-sellers. Convenhamos, porém, que se trata de caso raro. Não é todo dia que aparece no cenário das letras um J.D. Salinger, para citar o escritor que age (ou pelo menos agia até morrer) assim mais em evidência na atualidade.
A regra é que nos façamos conhecidos, e o máximo que pudermos. E, claro, sob o nosso melhor ângulo. Queremos que chegue ao público apenas o nosso lado favorável, benigno, positivo. Mas esse não é o perfil que aqueles que lidam com comunicação querem explorar. Salvo exceções, o jornalista quer escândalo e revelações bombásticas (quanto mais, melhor), para atrair a atenção dos basbaques e dos medíocres, ou seja, aquilo que gostaríamos que permanecesse para sempre escondido, secreto, incógnito e que, se revelado – embora nos torne “famosos” – trará fama por um aspecto nada, nada lisonjeiro.
Alguns, de olho nessa armadilha, buscam ser os próprios divulgadores. Lançam mão do que Milan Kundera chamou de “imagologia”, ou seja, da “fabricação” de uma imagem que se imponha e iniba os arautos do escandaloso e muitas vezes até escatológico.
Salvo uma ou outra pessoa, gostamos que falem de nós. Claro, das coisas positivas, das nossas virtudes e aptidões. Escrito, então, é muito melhor. Reitero, contudo: apenas o que nos é favorável. Críticas, pertinentes e principalmente impertinentes, nos doem, machucam, ferem, irritam e desestabilizam. Notadamente se forem por escrito.
Há críticas e críticas. Há as equilibradas, objetivas, factuais, nitidamente construtivas, em que se nota a clara intenção do crítico em nos ajudar. Estas, infelizmente, são raras. As mais comuns são as mordazes, as mesquinhas, as zombeteiras, as que se valem da ironia para nos “usar”. São comuníssimas e, quando nos rebelamos (justamente) contra elas, não raro somos acusados de vaidosos e outras coisas muito piores.
Nunca consegui entender essa sanha destrutiva de muitos que têm em suas mãos poderosos instrumentos de comunicação. E quase sempre, os alvos dos ataques são pessoas que sequer conhecem, as quais julgam apenas pela aparência, se tanto, ou com base em um ou dois textos isolados, os únicos que conhecem. É muito pouco, convenhamos, para se julgar alguém.
Não vou esconder que gosto quando escrevem a meu respeito e, claro, sobre minhas virtudes e aptidões. Afinal, não sou nenhum masoquista e não gosto de sofrer. Um bom elogio, serve-me de motivação por semanas, atua como “combustível” para eu tentar empreender vôos cada vez mais altos, mesmo que esse seja baseado em algum equívoco, em algum exagero, em alguma coisa boa que julguem que eu tenha, mas que na verdade me falte.
Como escritor, não só gosto, como preciso ser divulgado. Se não for, como poderei promover meus livros? E, sem promoção, como posso despertar o interesse das editoras? E se estas não souberem de mim, e não me publicarem, como poderei chegar aos leitores? E sem leitores, que raios de escritor serei?
Aceito, também, as avaliações negativas que eventualmente fazem a meu respeito, e por escrito. As orais, entram por um ouvido e saem por outro. Apenas que neste caso há uma diferença fundamental em relação aos elogios: sou, como meu eventual crítico, igualmente jornalista. Tenho acesso, portanto, ao mesmíssimo veículo de comunicação que ele tem. E se o tal sujeito não for muito bom em argumentação, certamente sairá muito machucado da disputa.
Porquanto, a cada crítica que eu julgar descabida, corresponderá uma resposta possivelmente mais aguda do que o ataque recebido. Gosto de polêmica e nunca fugi de uma boa briga. É questão de temperamento. Não recorro à imagologia para divulgar o que sou e o que faço. Mas sou implacável com os detratores, com aqueles que se esquecem da objetividade que a autêntica crítica literária requer, para investir contra reputações (minha ou de quem quer que seja).
Embora tenha personalizado este texto, não sou o único as agir dessa maneira. Conheço inúmeros (bons) escritores que reagem da mesmíssima forma. Ou seja, que não se deixam “imolar”, como passivas ovelhinhas num matadouro, por quem é complexado e por isso só se sinta íntegro se puder demolir reputações.
Adoto aquela famosa estratégia do “falem mal, mas falem de mim”. Apenas, todavia, reitero, com um reparo: quem falar mal, tem que ser muito bom de argumentação e ter uma vida rigorosamente ilibada. Afinal, chumbo trocado não dói.
Pedro J. Bondaczuk
Todas as pessoas públicas, principalmente as que lidam com comunicação (entre elas o escritor, claro, que é basicamente um comunicador), precisa se expor, se pretender o tão almejado e ingentemente buscado sucesso em sua atividade. É aquela história do quem não se divulga, se esconde. E “esconder-se”, nesse caso, é fazer aposta no fracasso.
Como posso divulgar algum livro meu, por melhor que este seja, se ninguém souber nem ao menos quem sou? Há, é verdade, escritores que se escondem dos holofotes, que evitam a todo o custo a imprensa, que preservam ciosamente sua privacidade e, ainda assim, transformam-se em best-sellers. Convenhamos, porém, que se trata de caso raro. Não é todo dia que aparece no cenário das letras um J.D. Salinger, para citar o escritor que age (ou pelo menos agia até morrer) assim mais em evidência na atualidade.
A regra é que nos façamos conhecidos, e o máximo que pudermos. E, claro, sob o nosso melhor ângulo. Queremos que chegue ao público apenas o nosso lado favorável, benigno, positivo. Mas esse não é o perfil que aqueles que lidam com comunicação querem explorar. Salvo exceções, o jornalista quer escândalo e revelações bombásticas (quanto mais, melhor), para atrair a atenção dos basbaques e dos medíocres, ou seja, aquilo que gostaríamos que permanecesse para sempre escondido, secreto, incógnito e que, se revelado – embora nos torne “famosos” – trará fama por um aspecto nada, nada lisonjeiro.
Alguns, de olho nessa armadilha, buscam ser os próprios divulgadores. Lançam mão do que Milan Kundera chamou de “imagologia”, ou seja, da “fabricação” de uma imagem que se imponha e iniba os arautos do escandaloso e muitas vezes até escatológico.
Salvo uma ou outra pessoa, gostamos que falem de nós. Claro, das coisas positivas, das nossas virtudes e aptidões. Escrito, então, é muito melhor. Reitero, contudo: apenas o que nos é favorável. Críticas, pertinentes e principalmente impertinentes, nos doem, machucam, ferem, irritam e desestabilizam. Notadamente se forem por escrito.
Há críticas e críticas. Há as equilibradas, objetivas, factuais, nitidamente construtivas, em que se nota a clara intenção do crítico em nos ajudar. Estas, infelizmente, são raras. As mais comuns são as mordazes, as mesquinhas, as zombeteiras, as que se valem da ironia para nos “usar”. São comuníssimas e, quando nos rebelamos (justamente) contra elas, não raro somos acusados de vaidosos e outras coisas muito piores.
Nunca consegui entender essa sanha destrutiva de muitos que têm em suas mãos poderosos instrumentos de comunicação. E quase sempre, os alvos dos ataques são pessoas que sequer conhecem, as quais julgam apenas pela aparência, se tanto, ou com base em um ou dois textos isolados, os únicos que conhecem. É muito pouco, convenhamos, para se julgar alguém.
Não vou esconder que gosto quando escrevem a meu respeito e, claro, sobre minhas virtudes e aptidões. Afinal, não sou nenhum masoquista e não gosto de sofrer. Um bom elogio, serve-me de motivação por semanas, atua como “combustível” para eu tentar empreender vôos cada vez mais altos, mesmo que esse seja baseado em algum equívoco, em algum exagero, em alguma coisa boa que julguem que eu tenha, mas que na verdade me falte.
Como escritor, não só gosto, como preciso ser divulgado. Se não for, como poderei promover meus livros? E, sem promoção, como posso despertar o interesse das editoras? E se estas não souberem de mim, e não me publicarem, como poderei chegar aos leitores? E sem leitores, que raios de escritor serei?
Aceito, também, as avaliações negativas que eventualmente fazem a meu respeito, e por escrito. As orais, entram por um ouvido e saem por outro. Apenas que neste caso há uma diferença fundamental em relação aos elogios: sou, como meu eventual crítico, igualmente jornalista. Tenho acesso, portanto, ao mesmíssimo veículo de comunicação que ele tem. E se o tal sujeito não for muito bom em argumentação, certamente sairá muito machucado da disputa.
Porquanto, a cada crítica que eu julgar descabida, corresponderá uma resposta possivelmente mais aguda do que o ataque recebido. Gosto de polêmica e nunca fugi de uma boa briga. É questão de temperamento. Não recorro à imagologia para divulgar o que sou e o que faço. Mas sou implacável com os detratores, com aqueles que se esquecem da objetividade que a autêntica crítica literária requer, para investir contra reputações (minha ou de quem quer que seja).
Embora tenha personalizado este texto, não sou o único as agir dessa maneira. Conheço inúmeros (bons) escritores que reagem da mesmíssima forma. Ou seja, que não se deixam “imolar”, como passivas ovelhinhas num matadouro, por quem é complexado e por isso só se sinta íntegro se puder demolir reputações.
Adoto aquela famosa estratégia do “falem mal, mas falem de mim”. Apenas, todavia, reitero, com um reparo: quem falar mal, tem que ser muito bom de argumentação e ter uma vida rigorosamente ilibada. Afinal, chumbo trocado não dói.
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