O escritor e a educação
Pedro J. Bondaczuk
Soa até redundante, de tão óbvio que é, mas nunca é demais enfatizar, que a educação é fundamental para o escritor, como ademais para toda a população de um País. Destaco esse personagem em especial pelo fato dele ser, simultaneamente, agente e um dos maiores beneficiários desse processo.
No primeiro caso, seus textos podem compor livros didáticos, se não no presente, pelo menos no futuro. Nesse aspecto, portanto, é tão protagonista da educação quanto o professor, guardadas, claro, as devidas proporções.
Quanto aos benefícios para o escritor, de um povo altamente educado ou pelo menos minimamente alfabetizado, estes, igualmente, são óbvios. Nossa atividade é uma das poucas que exigem habilidades específicas do nosso consumidor potencial. Ou seja, para que nosso trabalho tenha os resultados que esperamos, é indispensável que haja leitores. E, para estes existirem, é condição fundamental que as pessoas “saibam ler”. Como se vê, é uma conclusão para lá de óbvia, mas que, no entanto, muitos nem se dão conta.
O Brasil tem, atualmente, cerca de 16 milhões de analfabetos. A constatação é do Ministério de Educação, no seu “Mapa do Analfabetismo”, divulgado em outubro de 2009. Esta cifra pode ser, simultaneamente, animadora ou desalentadora, dependendo do ângulo em que venha a ser analisada. Em valores absolutos, o número dos que não sabem ler e nem escrever é desanimador. É o equivalente, por exemplo, ao dobro da população de Portugal.
Vistas, porém, pelo aspecto relativo, as cifras em questão são estimulantes e dignas de comemoração. De acordo com estimativas recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Brasil tem, atualmente, por volta de 192 milhões de habitantes. Se considerarmos que 16 milhões são analfabetos, é fácil de concluir que 176 milhões sabem ler, nem que seja um simples bilhete, ou uma placa de rua ou as fachadas das lojas. Este, portanto, é o nosso público-alvo.
Claro que se conseguirmos trazer os 16 milhões de analfabetos para o mundo dos alfabetizados, nosso potencial de leitores crescerá na proporção do nosso sucesso. A erradicação do analfabetismo, portanto, é de nosso absoluto interesse, pois só teremos a ganhar com isso e em todos os aspectos. Se não quisermos, pois, agir com “altruísmo”, nesse aspecto, sejamos, pelo menos, “egoístas”, porém pragmáticos. Empreendamos uma cruzada alfabetizadora nacional, sem descanso e nem trégua, nem que seja por puro interesse pessoal.
Claro que as coisas não são tão simples como apresentei. Por exemplo, se levarmos em conta os “analfabetos funcionais”, ou seja, aqueles que sabem juntar as letras para formar palavras, mas que não conseguem entender o significado dos textos mais simples, essa cifra dos que tecnicamente não sabem ler quase dobrará. Saltará dos 16 milhões de pessoas, para cerca de 30 milhões.
Ainda assim, todavia, estamos levando imensa vantagem sobre nossos colegas de profissão do passado. Houve tempos em que nossa taxa de analfabetismo beirava os 90%. Escritores consagrados, hoje considerados (com justiça) ícones da nossa cultura e, sobretudo, da Literatura, contavam, pois, com público consumidor de livros restritíssimo, diria ínfimo.
Publicar um livro no Brasil, no século XIX e até meados do século XX, era uma façanha para poucos (em certa medida, infelizmente, ainda é, embora por razões diferentes das daquela época). As edições eram muito pequenas e, ainda assim, não raro, encalhavam nas prateiras das livrarias. E isso ocorria não por causa da qualidade das obras, evidentemente (embora naquele tempo também houvesse “besteirol”) mas por escassez de leitores.
Quando comecei a escrever, em meados dos anos 50 do século XX, a taxa de analfabetismo no País ainda beirava os 60%. Tanto que, quando tranquei matrícula no seguindo ano de medicina e decidi seguir o jornalismo, meus parentes encararam-me com expressão de pena, achando que eu havia pirado de vez, e insinuavam que eu iria “passar fome”. Felizmente, não passei.
Mas que, naquele tempo, optar por uma carreira que dependia de leitores, em detrimento de outra, que me proporcionaria uma infinidade de clientes, tinha tudo para ser classificada como “loucura”, ah, isso tinha mesmo. É por essa razão que reafirmo o que escrevi acima: se atentarmos para as taxas de analfabetismo ainda recentes do Brasil, os números divulgados recentemente são dignos de comemoração. Ah, isso são mesmo! É só pensar um pouquinho. Mas as cifras podem melhorar. E vão, com a nossa corajosa e eficaz intervenção.
Pedro J. Bondaczuk
Soa até redundante, de tão óbvio que é, mas nunca é demais enfatizar, que a educação é fundamental para o escritor, como ademais para toda a população de um País. Destaco esse personagem em especial pelo fato dele ser, simultaneamente, agente e um dos maiores beneficiários desse processo.
No primeiro caso, seus textos podem compor livros didáticos, se não no presente, pelo menos no futuro. Nesse aspecto, portanto, é tão protagonista da educação quanto o professor, guardadas, claro, as devidas proporções.
Quanto aos benefícios para o escritor, de um povo altamente educado ou pelo menos minimamente alfabetizado, estes, igualmente, são óbvios. Nossa atividade é uma das poucas que exigem habilidades específicas do nosso consumidor potencial. Ou seja, para que nosso trabalho tenha os resultados que esperamos, é indispensável que haja leitores. E, para estes existirem, é condição fundamental que as pessoas “saibam ler”. Como se vê, é uma conclusão para lá de óbvia, mas que, no entanto, muitos nem se dão conta.
O Brasil tem, atualmente, cerca de 16 milhões de analfabetos. A constatação é do Ministério de Educação, no seu “Mapa do Analfabetismo”, divulgado em outubro de 2009. Esta cifra pode ser, simultaneamente, animadora ou desalentadora, dependendo do ângulo em que venha a ser analisada. Em valores absolutos, o número dos que não sabem ler e nem escrever é desanimador. É o equivalente, por exemplo, ao dobro da população de Portugal.
Vistas, porém, pelo aspecto relativo, as cifras em questão são estimulantes e dignas de comemoração. De acordo com estimativas recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Brasil tem, atualmente, por volta de 192 milhões de habitantes. Se considerarmos que 16 milhões são analfabetos, é fácil de concluir que 176 milhões sabem ler, nem que seja um simples bilhete, ou uma placa de rua ou as fachadas das lojas. Este, portanto, é o nosso público-alvo.
Claro que se conseguirmos trazer os 16 milhões de analfabetos para o mundo dos alfabetizados, nosso potencial de leitores crescerá na proporção do nosso sucesso. A erradicação do analfabetismo, portanto, é de nosso absoluto interesse, pois só teremos a ganhar com isso e em todos os aspectos. Se não quisermos, pois, agir com “altruísmo”, nesse aspecto, sejamos, pelo menos, “egoístas”, porém pragmáticos. Empreendamos uma cruzada alfabetizadora nacional, sem descanso e nem trégua, nem que seja por puro interesse pessoal.
Claro que as coisas não são tão simples como apresentei. Por exemplo, se levarmos em conta os “analfabetos funcionais”, ou seja, aqueles que sabem juntar as letras para formar palavras, mas que não conseguem entender o significado dos textos mais simples, essa cifra dos que tecnicamente não sabem ler quase dobrará. Saltará dos 16 milhões de pessoas, para cerca de 30 milhões.
Ainda assim, todavia, estamos levando imensa vantagem sobre nossos colegas de profissão do passado. Houve tempos em que nossa taxa de analfabetismo beirava os 90%. Escritores consagrados, hoje considerados (com justiça) ícones da nossa cultura e, sobretudo, da Literatura, contavam, pois, com público consumidor de livros restritíssimo, diria ínfimo.
Publicar um livro no Brasil, no século XIX e até meados do século XX, era uma façanha para poucos (em certa medida, infelizmente, ainda é, embora por razões diferentes das daquela época). As edições eram muito pequenas e, ainda assim, não raro, encalhavam nas prateiras das livrarias. E isso ocorria não por causa da qualidade das obras, evidentemente (embora naquele tempo também houvesse “besteirol”) mas por escassez de leitores.
Quando comecei a escrever, em meados dos anos 50 do século XX, a taxa de analfabetismo no País ainda beirava os 60%. Tanto que, quando tranquei matrícula no seguindo ano de medicina e decidi seguir o jornalismo, meus parentes encararam-me com expressão de pena, achando que eu havia pirado de vez, e insinuavam que eu iria “passar fome”. Felizmente, não passei.
Mas que, naquele tempo, optar por uma carreira que dependia de leitores, em detrimento de outra, que me proporcionaria uma infinidade de clientes, tinha tudo para ser classificada como “loucura”, ah, isso tinha mesmo. É por essa razão que reafirmo o que escrevi acima: se atentarmos para as taxas de analfabetismo ainda recentes do Brasil, os números divulgados recentemente são dignos de comemoração. Ah, isso são mesmo! É só pensar um pouquinho. Mas as cifras podem melhorar. E vão, com a nossa corajosa e eficaz intervenção.
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