E quando estivermos indefesos?
Pedro J. Bondaczuk
Como a nossa realidade, a dos adultos, é interpretada por uma criança? Certamente não é da mesma forma como a interpretamos. Costumamos justificar nossas atitudes, principalmente as mais incoerentes, em vez de buscar agir com maior coerência. O que as crianças acham da nossa hipocrisia, da nossa ganância, do nosso falso joguinho em que são as aparências que contam e, principalmente, da nossa incoerência?
Não percebem nada disso? Aceitam tudo como natural? Não sabem distinguir o certo do errado? Caso pudéssemos retornar à pureza e inocência da infância, poderíamos avaliar tudo isso com espírito crítico. Todavia, já não nos lembramos mais do que pensávamos a respeito quando meninos. E mesmo que lembrássemos, dificilmente expressaríamos tais observações, pelo menos em público, por receio de cairmos em ridículo.
Esperar que uma criança escreva a respeito e seja devidamente entendida não vai adiantar. Por mais talentosa e precoce que ela venha a ser, não saberá se expressar com a devida clareza e objetividade.
E se um adulto mandar todos às favas, lembrar o que achava das atitudes das pessoas ditas “maduras” e, mesmo correndo o risco de ser ridicularizado, fizer essas revelações, com a franqueza e integridade infantis? Difícil? Claro que é! Impossível? Não, não e não.
Pois foi isso o que o escritor britânico Lewis Carroll (pseudônimo de Charles Lutwidge Dodgson), que também era matemático (aliás, professor de matemática em Oxford e fotógrafo nas horas vagas) fez.
Seu grande sucesso editorial, tido e havido como um dos maiores clássicos da literatura infantil, “Alice no país das maravilhas”, extrapola essa condição. Caroll vale-se da criança que todos trazemos em nós para nos mostrar quão ridículo é, às vezes, o nosso comportamento. Serve-se da capacidade infantil para observar como é de fato a realidade, mas com a ingenuidade de um menino, sem disfarces ou meios termos. Claro que não faz isso explicitamente. Nem se atreveria a tanto.
Imbuído desse ânimo, torna evidentes nas entrelinhas aspectos absurdos e incoerentes das nossas ações e relacionamentos. Só nós não percebemos (ou fingimos não perceber) isso. O livro foi dedicado a uma garotinha, Alice Liddell, daí o seu título.
Essa dedicatória, aliás, dá-me excelente pretexto para demonstrar, mediante um exemplo real, o quanto o comportamento adulto pode descambar (e amiúde descamba) para a malícia, o preconceito, a pressa em fazer juízos de tudo e de todos, mediante julgamentos precipitados e não raro irresponsáveis.
Li, não faz muito, num determinado blog, que prefiro não identificar, um texto que era um primor de virulência e maledicência, atacando Lewis Carroll, a pretexto dele ser, supostamente, pedófilo. O autor desse terrível bla-bla-blá (aliás, bem escrito) aponta, como “prova”, o fato de entre os pertences do escritor, haverem sido encontrados vários álbuns de fotografias de lindas meninas (entre as quais a de Alice Liddell, a quem dedicou seu célebre livro).
Não era, é bom que se esclareça, nenhuma coleção de fotos pornográficas ou que sequer dessem a mais pálida impressão disso. Eram imagens inocentes, artísticas até, absolutamente normais. E no entanto...
Santo Deus, o cara morreu em 27 de janeiro de 1898 e 112 anos após, vem um sujeito qualquer, que só sabe dele aquilo que leu (e, pelo visto, mal e porcamente) e faz uma ilação tão monstruosa e covarde, pois a vítima não tem a mais remota chance de defesa da sua reputação! Isso me enoja e me revolta. Que prova esse sujeito tem da alegada pedofilia de Lewis Carroll? Os álbuns com fotos de menininhas?
Ora, ora, ora...Eu também, se me decidisse a colecionar fotografias, colecionaria as de lindas e inocentes meninas. Ou esse sujeito prefere as de marmanjos? Problema dele! Todavia, ter, mesmo que remotamente, o mínimo pensamento com conotações sexuais face às imagens dessas crianças é, na minha visão de mundo, de uma sordidez, de uma monstruosidade e de uma baixeza inconcebíveis e a toda prova.
É coisa de louco varrido, de tarado perigoso que deve ser afastado para sempre da sociedade e confinado num hospício. Sei que há quem aja assim. Mas... Imagens de menininhas inocentes são a mais pura expressão da beleza sem mácula, em toda sua glória e esplendor. São poesia viva que nenhum poeta consegue igualar.
Quando destaco, amiúde, que a fama é perigosa e o sucesso uma armadilha, penso, também, nesse aspecto: de como meus atos e gostos serão interpretados e julgados por algum babaca qualquer, de mente poluída, doentia e corrompida, décadas ou, quem sabe, séculos após a minha morte, quando não tiver, óbvio, a menor chance de defender minha reputação.
Pedro J. Bondaczuk
Como a nossa realidade, a dos adultos, é interpretada por uma criança? Certamente não é da mesma forma como a interpretamos. Costumamos justificar nossas atitudes, principalmente as mais incoerentes, em vez de buscar agir com maior coerência. O que as crianças acham da nossa hipocrisia, da nossa ganância, do nosso falso joguinho em que são as aparências que contam e, principalmente, da nossa incoerência?
Não percebem nada disso? Aceitam tudo como natural? Não sabem distinguir o certo do errado? Caso pudéssemos retornar à pureza e inocência da infância, poderíamos avaliar tudo isso com espírito crítico. Todavia, já não nos lembramos mais do que pensávamos a respeito quando meninos. E mesmo que lembrássemos, dificilmente expressaríamos tais observações, pelo menos em público, por receio de cairmos em ridículo.
Esperar que uma criança escreva a respeito e seja devidamente entendida não vai adiantar. Por mais talentosa e precoce que ela venha a ser, não saberá se expressar com a devida clareza e objetividade.
E se um adulto mandar todos às favas, lembrar o que achava das atitudes das pessoas ditas “maduras” e, mesmo correndo o risco de ser ridicularizado, fizer essas revelações, com a franqueza e integridade infantis? Difícil? Claro que é! Impossível? Não, não e não.
Pois foi isso o que o escritor britânico Lewis Carroll (pseudônimo de Charles Lutwidge Dodgson), que também era matemático (aliás, professor de matemática em Oxford e fotógrafo nas horas vagas) fez.
Seu grande sucesso editorial, tido e havido como um dos maiores clássicos da literatura infantil, “Alice no país das maravilhas”, extrapola essa condição. Caroll vale-se da criança que todos trazemos em nós para nos mostrar quão ridículo é, às vezes, o nosso comportamento. Serve-se da capacidade infantil para observar como é de fato a realidade, mas com a ingenuidade de um menino, sem disfarces ou meios termos. Claro que não faz isso explicitamente. Nem se atreveria a tanto.
Imbuído desse ânimo, torna evidentes nas entrelinhas aspectos absurdos e incoerentes das nossas ações e relacionamentos. Só nós não percebemos (ou fingimos não perceber) isso. O livro foi dedicado a uma garotinha, Alice Liddell, daí o seu título.
Essa dedicatória, aliás, dá-me excelente pretexto para demonstrar, mediante um exemplo real, o quanto o comportamento adulto pode descambar (e amiúde descamba) para a malícia, o preconceito, a pressa em fazer juízos de tudo e de todos, mediante julgamentos precipitados e não raro irresponsáveis.
Li, não faz muito, num determinado blog, que prefiro não identificar, um texto que era um primor de virulência e maledicência, atacando Lewis Carroll, a pretexto dele ser, supostamente, pedófilo. O autor desse terrível bla-bla-blá (aliás, bem escrito) aponta, como “prova”, o fato de entre os pertences do escritor, haverem sido encontrados vários álbuns de fotografias de lindas meninas (entre as quais a de Alice Liddell, a quem dedicou seu célebre livro).
Não era, é bom que se esclareça, nenhuma coleção de fotos pornográficas ou que sequer dessem a mais pálida impressão disso. Eram imagens inocentes, artísticas até, absolutamente normais. E no entanto...
Santo Deus, o cara morreu em 27 de janeiro de 1898 e 112 anos após, vem um sujeito qualquer, que só sabe dele aquilo que leu (e, pelo visto, mal e porcamente) e faz uma ilação tão monstruosa e covarde, pois a vítima não tem a mais remota chance de defesa da sua reputação! Isso me enoja e me revolta. Que prova esse sujeito tem da alegada pedofilia de Lewis Carroll? Os álbuns com fotos de menininhas?
Ora, ora, ora...Eu também, se me decidisse a colecionar fotografias, colecionaria as de lindas e inocentes meninas. Ou esse sujeito prefere as de marmanjos? Problema dele! Todavia, ter, mesmo que remotamente, o mínimo pensamento com conotações sexuais face às imagens dessas crianças é, na minha visão de mundo, de uma sordidez, de uma monstruosidade e de uma baixeza inconcebíveis e a toda prova.
É coisa de louco varrido, de tarado perigoso que deve ser afastado para sempre da sociedade e confinado num hospício. Sei que há quem aja assim. Mas... Imagens de menininhas inocentes são a mais pura expressão da beleza sem mácula, em toda sua glória e esplendor. São poesia viva que nenhum poeta consegue igualar.
Quando destaco, amiúde, que a fama é perigosa e o sucesso uma armadilha, penso, também, nesse aspecto: de como meus atos e gostos serão interpretados e julgados por algum babaca qualquer, de mente poluída, doentia e corrompida, décadas ou, quem sabe, séculos após a minha morte, quando não tiver, óbvio, a menor chance de defender minha reputação.
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