Pedro J. Bondaczuk
As pessoas, em algumas regiões do País, utilizam uma expressão bastante pitoresca para manifestar admiração por alguém que tenha feito algo que consideram excepcional. Dizem, balançando a cabeça, para acentuar as palavras: “Esse cara não existe!”. Com isso, querem expressar que o tal sujeito é inigualável, um “fora de série” (expressão que se originou do nome de um programa de televisão do apresentador Flávio Cavalcanti e que também se popularizou).
Talvez você, caro leitor, nunca tenha ouvido alguém dizer isso. Eu não só ouvi, como inúmeras vezes me manifestei dessa mesma maneira. Por exemplo, durante a Copa do Mundo de 1958, quando Pelé fez aquele gol contra o País de Gales, em que deu um chapéu num zagueiro galês, na pequena área, antes de arrematar para as redes e repetiu a mesmíssima jogada na partida final do Mundial, contra a Suécia, naqueles históricos 5 a 2, não resisti. Exclamei, sob aplausos gerais: “Esse cara não existe!”.
Outra ocasião que me recordo ter feito essa mesma exclamação, foi em 1962. Garrincha, naquele ano, no Chile, contrariou todas as previsões dos especialistas, que duvidavam que a Seleção Brasileira chegasse às finais. Afinal, havia perdido Pelé logo no jogo de estréia, contra a então Checoslováquia (país que hoje se dividiu em dois Estados independentes: República Checa e Eslováquia).
Todavia, o Mané das pernas tortas jogou por dois (ou mais). Esbanjou raça e categoria. Com sua genialidade, conduziu o Brasil ao bicampeonato e se tornou, de quebra, um dos artilheiros desse Mundial. Após a vitória, na final, contra a mesmíssima Checolováquia, que a Seleção havia enfrentado na estréia, por 3 a 1 e vendo Garrincha comemorar a conquista como um garotinho, de tão feliz que estava, exclamei: “Esse cara não existe!”. Voltei a me expressar da mesma forma 32 anos depois, em relação a Romário, na Copa de 1994, nos Estados Unidos.
Dia desses, revendo filmes antigos de Charles Chaplin e de seu imortal personagem, o Carlitos, tornei a fazer a mesmíssima exclamação. Que gênio que foi esse sujeito na sua arte! É... de fato, esse cara não existe! Mais tarde, raciocinando a respeito, cheguei à conclusão que, neste caso, a expressão pode ser encarada em sentido literal. Pelo menos no que diz respeito à documentação.
Explico. Um dos fatos que mais intrigaram os biógrafos de Charles Chaplin foi o dele jamais ter sido registrado. Vários deles viraram todos os cartórios de registro de Londres, cidade em que ele nasceu, à procura da sua certidão de nascimento. Foram a todos eles, dos maiores aos menores mas... em vão. Não encontraram o tal registro em nenhum deles. Para efeito estatístico, portanto, Charles Chaplin não existia. Nunca existiu.
Os tais biógrafos conseguiram, é verdade, confirmar, entrevistando testemunhas, que o criador do Carlitos era filho de um alcoólatra e de uma cantora de cabaré. Seus pais, no entanto, por algum motivo (miséria, relaxo, esquecimento ou sabe-se lá que razão) jamais se deram o trabalho de registrá-lo.
Como Charles Chaplin se virou para tirar outros documentos, nenhum biógrafo nunca esclareceu. Que ele deu um jeito, é para lá de óbvio. Se não desse, não conseguiria tirar o passaporte. E sem ele, não entraria nos Estados Unidos e, consequentemente, não faria a magnífica carreira que fez em Hollywood. Jamais emergiria para o estrelato e para a glória.
Esse é mais um dos aspectos pitorescos que cercam a vida e a obra desse humorista sem igual, desse gênio da comunicação, desse paradigma de vencedor, sobre o qual venho escrevendo esta série de crônicas, à qual você, paciente leitor, certamente já se habituou, ao ensejo do 120º ano do seu nascimento, neste 2009.
Claro que não se trata de nenhuma biografia. Pessoas mais habilitadas e competentes do que eu, nesse tipo de literatura, praticamente viraram sua vida do avesso e detalharam cada episódio da sua vida. Ele não precisa, portanto, da minha pífia intervenção. Para que vocês tenham uma idéia, informo que, em uma pesquisa feita às pressas, descobri 45 biografias de Charles Chaplin!!! Esse número, com certeza, deve passar de uma centena.
Para uma pessoa, filho de um alcoólatra incorrigível com uma obscura cantora de cabaré, relegado ao abandono, criado ao deus dará nas ruas de Londres, marginalizado ao ponto de sequer contar com uma certidão de nascimento, sua trajetória de vida não é nada má, concordam? Claro que estou brincando. É exemplar, é fantástica e é merecedora de todos os adjetivos que expressem admiração.
Por isso, quando vejo os filmes de Carlitos, que não me canso de assistir (devo ter assistido mais de uma centena de vezes), não tenho como deixar de exclamar: “Esse cara não existe!”. E não penso nesses momentos, claro, no sentido literal do que exclamo. Utilizo a expressão somente no sentido admirativo que o povão consagrou.
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As pessoas, em algumas regiões do País, utilizam uma expressão bastante pitoresca para manifestar admiração por alguém que tenha feito algo que consideram excepcional. Dizem, balançando a cabeça, para acentuar as palavras: “Esse cara não existe!”. Com isso, querem expressar que o tal sujeito é inigualável, um “fora de série” (expressão que se originou do nome de um programa de televisão do apresentador Flávio Cavalcanti e que também se popularizou).
Talvez você, caro leitor, nunca tenha ouvido alguém dizer isso. Eu não só ouvi, como inúmeras vezes me manifestei dessa mesma maneira. Por exemplo, durante a Copa do Mundo de 1958, quando Pelé fez aquele gol contra o País de Gales, em que deu um chapéu num zagueiro galês, na pequena área, antes de arrematar para as redes e repetiu a mesmíssima jogada na partida final do Mundial, contra a Suécia, naqueles históricos 5 a 2, não resisti. Exclamei, sob aplausos gerais: “Esse cara não existe!”.
Outra ocasião que me recordo ter feito essa mesma exclamação, foi em 1962. Garrincha, naquele ano, no Chile, contrariou todas as previsões dos especialistas, que duvidavam que a Seleção Brasileira chegasse às finais. Afinal, havia perdido Pelé logo no jogo de estréia, contra a então Checoslováquia (país que hoje se dividiu em dois Estados independentes: República Checa e Eslováquia).
Todavia, o Mané das pernas tortas jogou por dois (ou mais). Esbanjou raça e categoria. Com sua genialidade, conduziu o Brasil ao bicampeonato e se tornou, de quebra, um dos artilheiros desse Mundial. Após a vitória, na final, contra a mesmíssima Checolováquia, que a Seleção havia enfrentado na estréia, por 3 a 1 e vendo Garrincha comemorar a conquista como um garotinho, de tão feliz que estava, exclamei: “Esse cara não existe!”. Voltei a me expressar da mesma forma 32 anos depois, em relação a Romário, na Copa de 1994, nos Estados Unidos.
Dia desses, revendo filmes antigos de Charles Chaplin e de seu imortal personagem, o Carlitos, tornei a fazer a mesmíssima exclamação. Que gênio que foi esse sujeito na sua arte! É... de fato, esse cara não existe! Mais tarde, raciocinando a respeito, cheguei à conclusão que, neste caso, a expressão pode ser encarada em sentido literal. Pelo menos no que diz respeito à documentação.
Explico. Um dos fatos que mais intrigaram os biógrafos de Charles Chaplin foi o dele jamais ter sido registrado. Vários deles viraram todos os cartórios de registro de Londres, cidade em que ele nasceu, à procura da sua certidão de nascimento. Foram a todos eles, dos maiores aos menores mas... em vão. Não encontraram o tal registro em nenhum deles. Para efeito estatístico, portanto, Charles Chaplin não existia. Nunca existiu.
Os tais biógrafos conseguiram, é verdade, confirmar, entrevistando testemunhas, que o criador do Carlitos era filho de um alcoólatra e de uma cantora de cabaré. Seus pais, no entanto, por algum motivo (miséria, relaxo, esquecimento ou sabe-se lá que razão) jamais se deram o trabalho de registrá-lo.
Como Charles Chaplin se virou para tirar outros documentos, nenhum biógrafo nunca esclareceu. Que ele deu um jeito, é para lá de óbvio. Se não desse, não conseguiria tirar o passaporte. E sem ele, não entraria nos Estados Unidos e, consequentemente, não faria a magnífica carreira que fez em Hollywood. Jamais emergiria para o estrelato e para a glória.
Esse é mais um dos aspectos pitorescos que cercam a vida e a obra desse humorista sem igual, desse gênio da comunicação, desse paradigma de vencedor, sobre o qual venho escrevendo esta série de crônicas, à qual você, paciente leitor, certamente já se habituou, ao ensejo do 120º ano do seu nascimento, neste 2009.
Claro que não se trata de nenhuma biografia. Pessoas mais habilitadas e competentes do que eu, nesse tipo de literatura, praticamente viraram sua vida do avesso e detalharam cada episódio da sua vida. Ele não precisa, portanto, da minha pífia intervenção. Para que vocês tenham uma idéia, informo que, em uma pesquisa feita às pressas, descobri 45 biografias de Charles Chaplin!!! Esse número, com certeza, deve passar de uma centena.
Para uma pessoa, filho de um alcoólatra incorrigível com uma obscura cantora de cabaré, relegado ao abandono, criado ao deus dará nas ruas de Londres, marginalizado ao ponto de sequer contar com uma certidão de nascimento, sua trajetória de vida não é nada má, concordam? Claro que estou brincando. É exemplar, é fantástica e é merecedora de todos os adjetivos que expressem admiração.
Por isso, quando vejo os filmes de Carlitos, que não me canso de assistir (devo ter assistido mais de uma centena de vezes), não tenho como deixar de exclamar: “Esse cara não existe!”. E não penso nesses momentos, claro, no sentido literal do que exclamo. Utilizo a expressão somente no sentido admirativo que o povão consagrou.
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