Sunday, September 13, 2009

DIRETO DO ARQUIVO


O Brasil pode lucrar

Pedro J. Bondaczuk

A Opep, através de seus membros mais ricos, decidiu abrir uma confrontação total com os produtores independentes de petróleo, especialmente com os dois do Mar do Norte, Grã-Bretanha e Noruega. O primeiro já aceitou o desafio, avisando que qualquer que seja a conseqüência, em termos de depressão de preços, não irá diminuir a sua extração petrolífera. O segundo, parece mais conciliador e disposto a uma composição. A propalada guerra pela conquista do mercado está, portanto, aberta e vencerá quem tiver maior cacife. O certo é que uma crise de proporções enormes é inevitável neste momento.

Desde sexta-feira passada a cotação do barril de petróleo vem despencando nas principais bolsas desse produto no mundo. O ministro saudita, xeque Ahmed Yamani, ajudou a colocar um pouco mais de lenha nessa já enorme fogueira, declarando que os preços chegarão em breve a US$ 15. Ministros da Opep, reunidos ontem, no Kuwait, avançaram um pouco mais nas ameaças. Garantiram que, a continuar nessa escalada, dentro de dias ninguém irá pagar mais do que US$ 13 pelo barril de petróleo.

E o Brasil, o que terá a ver com tudo isso? Depende da extensão da presente crise e principalmente da sua duração. Se ela deprimir bastante os preços e se prolongar por mais de um ano, nosso País pode lucrar alguma coisa. Caso contrário, a longo prazo, poderemos arcar com algumas conseqüências desagradáveis. Sobretudo, será muito importante para os brasileiros saber quem sairá vencedor dessa guerra. Caso seja a Opep, que viu, desde 1982, sua participação no mercado internacional ser reduzida de dois para um terço das exportações, a cotação do barril pode, com a maior facilidade, ascender a US$ 70 até o final da década. Se os independentes ganharem a batalha, certamente serão mais moderados e nos darão tempo para respirar.

O Brasil, ao contrário dos dois "choques do petróleo" ocorridos em 1974 e 1980, desta vez está até numa situação privilegiada. Segundo a Petrobrás, em mais três anos, mantendo o ritmo de nossas extrações atuais, seremos auto-suficientes nesse produto. Mesmo que ocorra algum eventual corte no nosso fornecimento, o País não ficará paralisado. Com o que extrai e contando com a alternativa do álcool, poderá continuar tocando suas atividades normalmente. Para nós, portanto, o ideal seria que o confronto não se decidisse logo. Que ambas as partes continuassem inundando o mercado de petróleo, deprimindo, em conseqüência, seus preços.

Teríamos a chance de aproveitar esse momento favorável até para estocar, se assim nossas autoridades responsáveis pelo setor decidissem. Como reservatórios, poderiam ser utilizados os poços tornados improdutivos do Recôncavo Baiano, a exemplo daquilo que foi feito nos Estados Unidos. E não parar de prospectar novas jazidas. Mesmo que isso implicasse em crescentes investimentos. Essa matéria-prima, como o leitor sabe, é esgotável. As reservas mundiais, na melhor das hipóteses, são suficientes para mais duas ou três décadas. Isso se o consumo for parcimonioso. No início dos anos 90, os países que possuírem petróleo serão, certamente, privilegiados. E tudo indica que nós estaremos nesse seleto clube.

É certo que um desequilíbrio no sistema financeiro mundial não é desejável para ninguém. Mas se vier a ocorrer, será mera decorrência dos riscos que os banqueiros que emprestaram ao Terceiro Mundo (sem muito critério, diga-se de passagem) os petrodólares dos países árabes, assumiram um dia, certamente conscientes do que estavam fazendo. É claro que tais empréstimos não foram nenhum ato de benemerência, como hoje eles desejam dar a entender. Eles visaram ao lucro, enorme, colossal, quase incalculável. Para tais aventureiros, a máxima de George Friedman cai como uma luva: "Não há lucro sem risco, não há ganho sem custo, não há desfrute sem esforço".

(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 25 de janeiro de 1986)

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